Edeson Ernesto Coelho foi de agência, de anunciante e de veículo em mais de 50 anos de atividade no mercado publicitário. E nos deixou esta segunda-feira, 27/03, aos 93 anos de idade, enquanto dormia, por falência múltipla dos órgãos, após ser diagnosticado com câncer nos rins.
Sempre com um humor muitíssimo afiado, Edeson deixou muita história folclórica no mercado que, se non é vero é bene trovato. Como a de ter dito a um prospect, cujo investimento publicitário era curtíssimo, que “com essa sua verba, o máximo que eu posso fazer é espalhar um boato”.
Aliás, leitor, se você conhece outras histórias creditadas ao Edeson Coelho, conte lá em baixo nos comentários.
Edeson nasceu em 31 de maio de 1929, em uma fazenda de café em São Paulo. Começou profissionalmente como propagandista de laboratório até fazer um curso de propaganda na então Associação Paulista de Propaganda (APP). Com 18 anos, em 1947, Italo Eboli, diretor da McCann-Erickson, em São Paulo, o levou para a agência para iniciar como revisor da redação, apostando em seu talento. Na época, não existiam duplas de criação. Redação e arte eram separadas na agência.
A partir daí, Edeson transitou em diferentes funções, em idas e vindas entre São Paulo e Rio de Janeiro.
Em agência, passou pelo escritório carioca da Arco-Artusi como redator, pela Dória e Associados, em São Paulo; pela Standard-SP, como diretor-geral (1968-1971); Lab; MPM; DPZ (em 1973 e depois novamente em 91, até 2001, sempre como Diretor Geral do Rio); Salles (1979 a 1982).
Em veículo, pela Rádio Globo como assistente de publicidade; pelo Reader’s Digest, como gerente de circulação e promoções (1953); pelo Jornal do Brasil como diretor comercial; pela TV Tupi, canal 4, em São Paulo (onde criou o programa “O Céu é o Limite”); pela revista Senhor; pelo jornal carioca Correio da Manhã; pela Rede Globo, canal 5, em São Paulo; e pela revista Time (1978).
Em anunciante, foi do departamento de publicidade da loja de varejo Sears (1952-1953) e diretor da Ford (1966-1968).
No meio associativo, em 1961, foi vice-presidente da ABP-Associação Brasileira de Propaganda, na gestão de Caio Domingues. Na época, participou da criação do Instituto Verificador de Circulação (IVC). Ainda na ABP, de 1979 a 1981 foi presidente.
Edeson recebeu várias homenagens, em vida. Em 1959, foi eleito Publicitário do Ano pela ABP, entidade quem em 1986, também o distinguiu com uma Homenagem Especial. E, novamente, Publicitário do Ano da ABP em 1993, mesmo título, naquele ano, pelo XII Prêmio Colunistas Rio de Janeiro. O Colunistas também concedeu a Edeson o Prêmio Contribuição Profissional, em 2012, “como reconhecimento à sua contribuição para o desenvolvimento da atividade publicitária no mercado carioca, ao longo da sua carreira profissional”.
Em 2004, Edeson deu uma entrevista ao CPDOC da Fundação Getúlio Vargas e à ABP (que pode ser lida aqui) e que, logo nos primeiros segundos, falando da sua infância, soltou que sua avó “era 100% analfabeta, como a mãe do Lula”.
Edeson deixa, como viúva, Norma Peixoto, além do filho, Rodolfo Coelho — de seu primeiro casamento com Dulce –, nora e 3 netos. Seu velório acontece no Crematório da Penitência, no Caju, na terça-feira, 28/03, a partir das 12:00h.
Minha história com o Edeson
Em 1979, a Janela já tinha dois anos de publicação e estava no auge.
Em um papo com o Edeson, ele me contou que já havia tentado umas duas vezes ser presidente da ABP e nunca era eleito. Em um mercado sisudo, seguramente sua personalidade divertida assustava as lideranças mais antigas para um cargo de tamanho destaque na época.
Eu acreditava muito na capacidade de Edeson e, a algumas semanas da eleição, falei com ele: vem aqui no meu escritório.
Lá se foi o Edeson para Botafogo, onde funcionava a Janela e a minha empresa de RP, a Dinâmica.
Juntamos os telefones que cada um de nós tinha de todas as lideranças do mercado e eu, pessoalmente, saí ligando para cada uma dizendo: “Estou na chapa que o Edeson Coelho está montando para disputar a ABP e vou dar esta matéria na sexta-feira. Queria saber se posso botar o seu nome apoiando?”
Aí passava a ligação para o Edeson, que contava seus planos para a entidade.
Resultado: mais de 30 nomes do Rio e do Brasil aceitaram apoiar. E na sexta-feira, o lançamento da candidatura, com a lista dos apoiadores — com gigantes como Mauro Salles, Geraldo Alonso e Luiz Macedo –, foi publicada na Janela.
Não teve para mais ninguém. Edeson foi eleito, eu fiquei como diretor de comunicação da ABP, e a gestão foi espetacular, inclusive lançando o Prêmio Comunicação, que a ABP manteve por várias décadas. (Marcio Ehrlich)
Deus conforte todos
Puxa, Marcio, aqui de Hannover eu me informo das coisas o mercado publiciario lendo a sua Janela . Tem muita terminologia nela que eu não entendo, como as novas designações para alguns cargos em agencias, em que os títulos são abundantes e absurdos, para definir funções que sempre existiram – e bem – com seus nomes simples. Aqui de longe eu não posso fazer outra coisa a não ser rir, até com uma certa dose de pena dos “homenageados” com estas funções.
Mas infelizmente sua coluna tambem traz noticias absurdamente tristes, como esta do falecimento do Edeson Coelho.
Creio que como todo publicitario eu tambem tive minha historia com ele.
Não vou conta-la na integra para não ser chato nem parecer bravateiro.
Mas nos anos noventa (creio que por volta de 1998) eu andava meio chateado com a Artplan (na realidade sem razão alguma) , creio que de alguma forma isto vazou e foi o suficiente para o Edeson Coelho me convidar para um almoço em Ipanema a que se seguiu no dia seguine uma reunião na DPZ onde ele era o diretor geral . Já contei aqui que desde meu inicio em publicidade eu tinha um certo “furor” pela DPZ e o que se aproximava (no meu entender) era um possivel convite para o cargo de prospecção de contas na agencia, o que eu já fazia na Artplan.
Esta reunião foi com toda a diretoria da DPZ quando o Edeson Coelho me apresentou e… disse que eu estava sendo convidado para asssumir a direção geral da agencia Caio Domingues, que a DPZ tinha acabado de acrescentar ao seu porffólio . O que o Edeson Coelho não sabia é que eu não simpatizava nem um pouco com a Caio. Não gostava de sua localização (ali, quase na Lapa) e alem disto tinha um profundo ressentiemnto por um “claquement de table” durante uma concorrencia para o atedimento da conta da Petrobras (a qual eu participei) , quando na “Proposta de Preços” que era imutavel, já que a comissão por Lei das agencias era de 20% a Caio colocou 5% (!!!!!) . Isto provocou uma quebra de paradigmas e a partir daí a comissão de 20% foi literalmente para o espaço .E ainda não pousou até hoje, pelo que sei.
Bem, ali estava eu murcho como uma ameixa sem saber o que dizer , pois a proposta não me agradava nem um pouco Trabalhar na DPZ era uma coisa, na Caio era outra.
Salvou-me (como num filme de capa e espada de Tyrone Power) a chegada intespestiva do Mauricio Chulam, irmão do Lionel Chulam sócio do Roberto Medina, que literalmente forçou a porta da reunião e me disse que eu estava sendo aguardadao com urgencia na Artplan. Pedi desculpas e sai correndo, para uma reunião com o Roberto Medina e o Lionel, quando meu contrato de trabalho foi totalmente revisto .
Dois dias depois eu almocei novamente com o Edeson Coelho no clima mais fúnebre que jamais encontrei em um almoço, para me desculpar e abrir mão do convite.
Creio que a publicidade, o Rio de Janeiro e o Brasil acabam de perder um de seus maiores expoentes , talvez seu maior profissional.
Antonio Accioly
Gozador emérito.
Perdia o Cliente mas jamais a piada.
Oportunista mais inoportuno que conheci.
Irreverente por natureza.
Cara simplesmente adorável, singular.
Lembro-me de uma primeira reunião com o novo Cliente quando logo de início o Edeson fez a seguinte pergunta ao mesmo:
“O que o senhor fez ou ainda faz para perder tanto dinheiro ?”
O desfecho não conto mas o episódio foi delirante.
Edeson maravilhoso.
Edeson era conhecido pelos seus comentários rápidos, engraçados e pertinentes.
Aconteceu um, comigo, em torno de 2008.
Em 2007, Ernani “Naninho” Gouvêa e eu conquistamos a conta do Hospital Pró-Cardíaco.
Na época, Edeson estava morando em Botafogo e o encontrei no caixa eletrônico do Itaú na Rua Voluntários da Pátria.
Ele perguntou: “O que está fazendo…?”
Respondi: “Estou com a conta do Hospital Pró-Cardíaco.”
Edeson, na hora: “É permuta…?”
Trabalhava com ele na DPZ e um dia fomos convidados pelo Bank of America para apresentar a agência visando um possivel atendimento da conta da Vasco Licenciamentos que havia fechado um acordo com o clube. Importante ressaltar que o conhecimento que o Edeson ou a agencia têm (no presente mesmo) do negócio de futebol é zero.
Chegamos ao banco e fomos recebidos pelo presidente, brasileiro, vascaíno e tarado por futebol, que foi logo abrindo os seus planos: promover diversos torneios internacionais, com o Vasco jogando contra as melhores equipes da Europa. “Vocês tem experiência em realizar estes eventos pelo mundo?
“Não fazemos outra coisa!” disparou o Edeson ante a minha cara aparvalhada e começou a citar as maravilhosas coisas que poderíamos fazer juntos e que ele inventava numa velocidade ultrassônica.
O cliente se apaixonou imediatamente e fez a ultima pergunta: ” Vocês organizariam o Torrneio Ramon de Carranza no Brasil?”. (Um dos maiores torneios de futebol e que, claro, quem conhece o bê-á-bá do futebol conhece).
Edeson fez um muxoxo como se fosse a coisa mais simples do mundo e sorriu.
Ganhamos a conta.
No elevador Edeson me pergunta:” Ricardo, o que é aquele negócio de CARRANCA que eles falaram?
Estive ao lado do Edeson na DPZ por 20 anos . Não perdia a piada nunca.
Inteligência muito acima da média .
Aprendi com ele a administração do tempo . Pode ser rápido ou mesmo lento. Só não perca de vista o objetivo . Inspiração 24h com ele por perto.
São trocentas histórias . A do boato é verdade. Eu estava na mesma reunião . Era um prospect de água mineral .
Foi ele que me inspirou a me apresentar como o L da DPZ.
Descanse em paz , amigo.