• Trabalhar demais é antiprodutivo, por Rynaldo Gondim

    Você trabalha demais? A empresa para a qual trabalha, exige que estenda o seu horário? Por que ainda temos a sensação de quanto mais dedicamos de nosso tempo, mais teremos sucesso e reconhecimento? Em matéria publicada na revista Exame neste mês de outubro, Marcelo Melchior fala sobre isso e, imediatamente, pensei em convidar um publicitário para falar sobre o assunto.

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    Rynaldo Gondim foi o profissional escolhido para falar a respeito. Ele conta, baseado no dia a dia da carreira de – enorme – sucesso que construiu, o quanto trabalhar em excesso é antiprodutivo. Vale conhecer a experiência de quem chegou a correr risco por se colocar além do limite pelo excesso de trabalho.

     

    “Inspirada em uma matéria da Exame com o Marcelo Melchior, o CEO da Nestlé que vai embora, todo dia, pontualmente, às 18 horas, a querida Renata Suter me pediu para escrever um texto para a Janela abordando o assunto trabalho x qualidade de vida. Bom, aqui vamos nós.

    Eu tinha 20 anos quando eu e meu amigo, Heleno Bernardi, assumimos a criação de uma pequena agência no centro do Rio de Janeiro. Éramos a única dupla. Nosso critério, ainda em amadurecimento, era bom. Então colocávamos o sarrafo bem alto para nós mesmos. O que exigia passar a vida dentro da agência, chegando cedo e indo embora de madrugada. Todo santo dia. Sabíamos o que queríamos fazer, mas, naquela época, não sabíamos muito bem como fazer. Daí a necessidade de trabalhar tanto. Em uma dessas madrugadas, eu estava tão cansado que dormi em pé, apoiado em uma grande impressora. A máquina escorregou e não fosse o reflexo extraordinário do Heleno, teríamos eu e a tal impressora atravessado uma parede de vidro, voado por vinte andares e virado matéria do jornal O Dia, estatelados na calçada da Rio Branco.

    Se hoje em dia eu trabalho menos é porque no começo da carreira trabalhei demais.
    Foi para reduzir o tempo de angústia que fiquei obstinado em ficar mais rápido. O pânico é bastante inspirador.

    Quinze anos depois desse episódio com a impressora, eu era redator da AlmapBBDO. Meu critério estava formado e eu havia ganho um bocado de velocidade. Mesmo com o nível de exigência de uma agência de alta performance, raramente, eu saia depois das 20 horas. No fim do meu primeiro ano de Almap, meu chefe e hoje meu amigo, Luiz Sanches veio conversar comigo:

    – Rynaldo, você ganhou muitos prêmios esse ano só resolvendo JOBs. Imagine se você se dedicasse em criar campanhas proativas, o quanto de prêmio que você poderia ganhar. Os clientes costumam aprovar ideias ótimas quando recebem algo que não estão esperando.
    – Isso é uma ordem ou uma sugestão, chefe?
    – Uma sugestão.
    – Então, eu prefiro continuar fazendo apenas JOBs.

    Essas tais ideias proativas tinham como objetivo final ganhar leões no festival de Cannes. Um prêmio que nessa época eu já não valorizava mais. O que eu queria mesmo era fazer campanhas populares, que viravam assunto nas ruas. Quando isso resultava em um troféu do Profissionais do Ano, eu ficava agradecido.  E assim continuei sendo um dos poucos criativos da Almap a sair antes das 8 da noite.

    Já faz muito tempo que eu detesto trabalhar à noite. Só trabalho nos fins de semana ou feriados quando é absolutamente necessário. E desde que me tornei chefe evito ao máximo pedir que minha equipe trabalhe fora do horário de trabalho.

    Os criativos mais jovens são muito diferentes dos criativos da minha geração. E muito mais esperto que nós em muitos aspectos. Eles exigem que o horário de trabalho seja respeitado e, de modo geral, preferem trabalhar remotamente. E isso pode se tornar uma vantagem não só em relação à qualidade de vida, mas também em relação à qualidade de trabalho.

    Eu acredito piamente no que o Washington Olivetto defendia: publicitário tem que ter tempo para ler, ver filme, ouvir música e ir no boteco com os amigos. Quem mora na agência começa a ficar auto referente e dificilmente consegue chegar em um daqueles insights humanos que imediatamente encontram ressonância no consumidor. Para um publicitário, trabalhar demais é antiprodutivo.”

    Rynaldo Gondim
    CCO Suno United Creators

    Renata Suter

    Jornalista, Renata Suter é editora da Janela Publicitária

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