“Já é permitido reconhecermos que o Clubhouse é meio chato ou ainda pega mal?”. A pergunta foi feita na última semana, no Facebook, pelo premiado criativo brasileiro Adriano Matos, atraíndo uma série de manifestações de apoio. Cansativo, insuportável, tédio, só tem caga regra, disseram alguns. “Parece quando você está no busão e tem alguém ouvindo recado de voz”, criticou outro.
Ainda exclusivo para donos de iPhone, o Clubhouse, incensado pela mídia como o novo furacão das redes sociais — já foram mais de dez milhões de downloads mundiais — está longe, porém, de ser uma unanimidade.
Como ainda se apresenta como versão beta, ou seja, experimental, o Clubhouse ainda não permite uma previsão segura se será mesmo uma coqueluche ou motivo de esquecimento em poucos meses.
O diretor de comerciais Bruno Miguel, que mantém a sala Empresários Brasileiros nos Estados Unidos (EBEU) e já somou mais de 21 mil pessoas em suas reuniões na plataforma, entende as críticas ao Clubhouse. Miguel admite: “A maioria das salas não tem a menor estrutura para aproveitar a possibilidade de interagir”.
Curiosamente, o publicitário identifica a falha exatamente na ausência do que as rádios já aprenderam a fazer: ter um bom comunicador no comando do horário. “Faz muita falta um condutor com o dinamismo do rádio, que saiba que não pode deixar silêncio entre as falas”, destacou Miguel, com a experiência de quem também já foi ator. Ele comenta que, quando o Clubhouse assume o formato palestra, onde apenas poucos falam e muitos escutam, repete-se a mesma fórmula de tantas outras plataformas pré-existentes. “As pessoas falam muito. E se você não tiver muito conteúdo relevante para justificar que seja só áudio, acaba mesmo ficando chato”, alerta Bruno Miguel.
Um dos que vêem com bons olhos (ou seria “ouvem com bons ouvidos”?) o Clubhouse é o empresário e jornalista José Antônio “Josa” do Nascimento Brito, presidente da Associação das Emissoras de Rádio e Televisão do Rio de Janeiro, entidade que começa também a avaliar os possíveis impactos da novidade no meio rádio.
Diz Josa que o Clubhouse indica que existe um futuro extraordinariamente promissor nas plataformas de áudio. “O Clubhouse foi um exemplo incrível da importância da voz. Se falava muito que internet era digital com imagem. Pela primeira vez apareceu uma novidade com apenas voz. Não é TikTok ou Instagram. É áudio puro e simples. E mostra que as rádios terão um papel decisivo na montagem das suas plataformas de áudio”, diz o executivo, indicando que as emissoras agora precisam pensar mais nos ambientes digitais que irão criar. De qualquer forma, Nascimento Brito não acredita que o Clubhouse venha a afetar a audiência do rádio.
Não é por acaso. Uma restrição que pode prejudicar o Clubhouse é o seu limite atual de 5.000 usuários simultâneos por sala. A Rádio Tupi, conta seu VP Tuffy Habib, chega a ter, no Show do Clóvis Monteiro, mais de 400 mil ouvintes simultâneos. Postagens de influenciadores no Instagram podem alcançar milhões de seguidores. Com uma certa distância, naturalmente, lembra a febre do Second Life, onde todo anunciante queria estar, até descobrir que a plataforma travava com mais de 50 usuários simultaneamente. Nem Custo por Mil, o tal CPM, dava para calcular.
O Clubhouse valerá o investimento? Vamos aguardar os comentários dos leitores.
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