O Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu abrir processo contra a regional Rio de Janeiro do Serviço Social do Comércio (Sesc), acatando denúncia do Conselho Fiscal federal da própria entidade. Segundo os preâmbulos do acórdão aprovado por unanimidade pela órgão, houve “falhas em procedimentos licitatórios” e também nas “contratações de serviços não condizentes com a missão institucional do Sesc, durante o exercício de 2017, sob o valor estimado de R$ 100.000.000,00” (veja o texto completo da publicação do Acórdão no rodapé desta matéria).
Entre as irregularidades detectadas está o pagamento de R$ 91,2 milhões para a empresa P.I. Representações de Veículos Publicitários, Promoções e Marketing Ltda. “sem a documentação comprobatória na prestação de contas”. Segundo fontes do mercado em conversa com a Janela, o valor teria sido pago à PI porque ela atuava como bureau de mídia, fechando pacotes de veiculação, para revendê-los para o Sesc Rio. Neste montante de R$ 91,2 milhões, revelam nossas fontes, pelo menos R$ 40 milhões teriam sido negociados com o grupo Infoglobo.
O Tribunal de Contas da União também questionou o fato de o Sesc Rio ter estabelecido uma verba de R$ 110 milhões para a concorrência de publicidade nº 17/63470, realizada também em 2017 — e que foi ganha pela agência Nova/SB –, sem justificar o porquê de precisar daquele valor para se comunicar.
Na época, a Janela fez matéria apontando que, naquela concorrência, realizada em agosto de 2017, apareceram apenas as agências NBS e Nova/SB. Como citamos, a pouca participação teria se devido à descrença do mercado no Sesc e no Senac Rio, que, anteriormente, por duas vezes seguidas, haviam cancelado o processo, deixando as participantes Giacometti, Script e Staff com as mãos abanando.
Ainda de acordo com os amigos da Janela, a verba real do Sesc Rio nunca chegou aos R$ 110 milhões licitados. O valor aplicado pela instituição em comunicação estaria hoje na faixa anual de R$ 25-30 milhões.
Área promocional também em jogo
Os problemas do Sesc Rio não estão restritos à publicidade. A investigação do TCU se estenderá às relações da regional carioca do Serviço Social do Comércio com advogados e com sua agência de promoções. O contrato 43.782 firmado com a One Stop Promoção e Comunicação Total Ltda., diz o TCU, também está sem documentação que comprove onde foram utilizados os valores de R$ 31,4 milhões.
Em contato com a Nova/SB, seus advogados destacaram para a Janela que o nome da agência está envolvido apenas por ela ter sido a vencedora da concorrência. A investigação, esclarecem, se refere a um momento anterior ao da contratação, referindo-se à falta de explicação para a composição da verba licitada.
Tentamos contato com a One Stop, mas seus telefones não atendem nem Rio nem em São Paulo. Vale lembrar que a agência de promoções era ligada ao Grupo Total, o mesmo que controlava a agência Fischer. O grupo, após uma série de problemas financeiros, hoje se encontra inativo.
A P.I. Representações, de São Paulo, que tem como sócios Francisco Tornelli, Marcelo Cazzo e Valmyr Luiz Mateoli, está em home-office e, apesar de telefones também não atenderem, através de sua assessoria contábil, a Nobilis, a Janela conseguiu o retorno da área jurídica, que enviou o seguinte comunicado:
“A PI esclarece que todos os recursos objeto da contratação com o Sesc e o Senac foram utilizados para a promoção dos interesses das próprias entidades do Sistema S, na aquisição de espaços de mídia. Inclusive, houve longo processo de prestação de contas, nos anos de 2018 e 2019, e a atual gestão das entidades do Sistema S, por meio de suas equipes técnicas, reconheceu que não há irregularidades. Foi apresentada comprovação cabal da prestação dos serviços e a PI está à inteira disposição das autoridades para qualquer esclarecimento que seja necessário”.
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Página 349 da Seção 1 do DOU de 27/11/2020
ACÓRDÃO Nº 13260/2020 – TCU – 2ª Câmara Considerando que o presente processo trata de representação formulada pelo Conselho Fiscal do Serviço Social do Comércio (Sesc), nos termos do art. 237, III, do RITCU, sobre os indícios de irregularidade na Administração Regional do Serviço Social do Comércio no Estado do Rio de Janeiro (Sesc-ARRJ) diante das falhas em procedimentos licitatórios e das contratações de serviços não condizentes com a missão institucional do Sesc, durante o exercício de 2017, sob o valor estimado de R$ 100.000.000,00; |