Janela Publicitária    
 
  Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
 

Marketing & Publicidade - Edição de 21/AGO/1988
Marcio Ehrlich

 

Esta edição da coluna "Marketing & Publicidade" foi publicada originalmente no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro.
O seu conteúdo foi escaneado e transcrito para ficar à disposição de consultas pela internet.

Promoções já viram coleções

Kapa - Bolacha de Chopp
A BOLACHA PROMOCIONAL DA KAPA, a principal fornecedora do setor.

No Rio de Janeiro, todos os domingos pela manhã (hoje, inclusive, até às 12h30min), um grupo de pessoas dos mais variados níveis e idades se reúne em uma ala da Feirinha dos Colecionadores no Passeio Público, para trocar e comprar latas vazias de cerveja, latas vazias de refrigerantes, bolachas usadas ou novas de chope e mexedores promocionais de drinques.
Semanalmente, dezenas de latas coloridas e bolachas trocam de mãos, atraindo a atenção até dos tradicionais colecionadores de selos que iniciaram a Feirinha naquele local.
O mais notável, porém, é o material estrangeiro que por lá circula, demonstrando o quanto em todo o mundo são gigantescos os investimentos que a indústria de bebidas coloca nestes produtos, como geradores de um grande retorno promocional.
Não é à toa que uma associação como a BCCA-Beer Can Collectors of America tem inscritos mais de 30 mil sócios em todo o mundo, levando as imagens das marcas para fronteiras que poucas peças promocionais conseguiriam.
Livros e mais livros são publicados internacionalmente, reproduzindo os designs das latas, rótulos, bolachas e demais peças promocionais do gênero, estabelecendo inclusive suas cotações para colecionadores.
Se a situação chegou a este ponto na Europa e nos Estados Unidos, é porque tais peças são consideradas bastante eficientes pelas indústrias do setor, que continuam produzindo-as em larga escala.
A comparação com a situação brasileira, então, é imediata. Por que, no Brasil, a indústria ainda não utiliza as latas e as bolachas como efetivo material promocional?
Citando um exemplo do lado de lá. Praticamente todas as fábricas de refrigerantes americanas aproveitam as suas latas para passar mensagens promocionais aos consumidores, ou mesmo como veículos de suas próprias promoções. Se o assunto do momento são as Olimpíadas de Seul, as latas passam a sair com citações sobre os esportes olímpicos. Sem dúvida, quando a Copa do Mundo for nos Estados Unidos, todas as latas de refrigerantes terão suas citações ou promoções sobre futebol.
A Pepsi e a Coca chegam a incluir nas latas slogans típicos de propaganda comparativa, cada uma provocando o outro concorrente. Afinal, que melhor momento para atingir o consumidor que no momento exato em que ele está utilizando o produto?
Outro exemplo interessante que encontrei numa lata da Feirinha do Passeio (quem quiser pode ir até lá ver, hoje), lembra as promoções que temos aqui com as chapinhas. Naquela, o fundo interno da lata continha a impressão de um código. E toda a explicação da promoção vinha impressa na própria lata: bastava o consumidor, depois de beber o refrigerante, comparar o código encontrado no fundo com a lista dos códigos impressos para saber o que estaria ganhando.
Bolacha desenhada por Jaguar para a Skol
SKOL — Um clássico das bolachas brasileiras: a série de signos desenhada por Jaguar.
Já na área de cervejas, as bolachas sofisticaram-se a ponto de hoje até reforçarem a comunicação institucional da indústria cervejeira, fazendo parte de toda a sua estratégia de comunicação de marketing. A Kaiser, da alemã BrauAg, está agora com uma série, até visualmente simples, impressa em apenas duas cores, mas na qual cada bolacha traz informações diferentes sobre cerveja em geral e sobre a empresa. Outra marca alemã, Berliner Kindl, tem investido bastante na produção das bolachas, como investiria em uma campanha publicitária, a ponto de soltar uma série, reproduzindo em policromia fotografias de modelos trajados tipicamente através dos últimos séculos, todos eles, é claro, tomando a sua cervejinha. Este caso, a bolacha é utilizada inteligentemente para demonstrar a tradição que a marca tem.
Enfim, as bolachas de chope são produzidas com a mesma atenção e a mesma frequência que as demais peças de comunicação publicitária e promocional.
No Brasil, porém, os colecionadores de latas referem que não chega a 40 o número de exemplares diferentes das marcas brasileira até hoje, E o principal fabricante de bolachas de chope do país, Antônio de Oliveira, da Kapa, lamenta que indústrias encomendem tão poucas variedades de bolachas, e ainda tenham diminuído os seus investimentos nesta peça promocional. Aqui, diz ele, as bolachas vão sendo usadas pelos bares e restaurantes até praticamente apodrecerem, e os próprios clientes reclamarem.
Ele lembra que, comparativamente com outros materiais promocionais, o custo da bolacha é irrisório, ainda mais quando se leva em conta a sua duração. Hoje, a impressão de uma bolacha em duas cores fica em torno de Cz$ 6,50 a unidade. Na Kapa, as bolachas são impressas em rotativa, em papel cartão especial para absorver o líquido sem deixar escorrer, e durar mais tempo. Na Europa, já é comum a impressão em offset, para permitir o uso da policromia.
Pelos números frequentemente divulgados pela própria indústria, o mercado de cerveja e de refrigerantes em lata no Brasil é bastante grande para que se dispensem as bolachas e as latas como formas eficientes do processo promocional.
Se as agências de propaganda, e de promoções acordarem para esta brecha, verão inclusive como é desafiador e gratificante criar rótulos de latas e bolachas de chopes competitivas, variadas e informativas.
Com certeza, elas vão atrair ainda mais o consumidor. E o que também é incrível: em seguida, elas serão avidamente disputadas e admiradas por colecionadores brasileiros e de todo o mundo.

Correção: na coluna seguinte, em 28/08, corrigimos o nome do diretor da Kapa, para Antônio de Carvalho.

SGB ignora boato de fusão

A SGB acaba de ser vítima do ataque mais misterioso que assisti em 11 anos de colunismo publicitário.
Esta semana, me foi entregue (não sei se por correio ou portador, já que o envelope, como as centenas que me chegam, foi descartado), um release em papel timbrado xerocado da SGB, "desmentindo oficialmente os recentes boatos de que a empresa estaria sendo adquirida pela Fama Propaganda e Promoções (house-agency do grupo Globex)". O release, em cujo rodapé havia a citação de que fora "preparado por José Manuel Furtado", citava ainda que "segundo Nelson Sirotsky, diretor da SGB, tais boatos devem ter sido gerados devido à recente reaproximação da SGB com a Globex, no sentido de algumas contas do Grupo voltarem a ser atendidas pela agência". Finalmente, falava que, sendo a SGB, "uma das 15 maiores agências do país, obtendo desempenhos significativos nos últimos anos", isto contrariaria qualquer intenção de descontinuidade por parte de seus atuais administradores".
É claro que entrei imediatamente em contato com Nelson Sirotsky, para saber que contas seriam estas.
Para minha surpresa, ele declarou assustado que não enviaria ou liberara release algum com este teor. Muito pelo contrário, garantiu que nem haveria sentido, já que a SGB "está passando por uma excelente fase de renovação e de crescimento no Rio, mantendo, inclusive, um ótimo relacionamento com a conta do Grupo Arapuã", que também é capitaneado por uma rede de varejo.
Teria, então o release vindo da SGB de São Paulo, sem passar pelo Rio?
Menos de cinco minutos depois, a resposta. José Manuel Furtado, assessor de imprensa da SGB em São Paulo, negava também a autoria do envio, lembrando que em seus releases, seu nome vem acompanhado do número de registro no Ministério do Trabalho, prática que é obrigatória em São Paulo para os profissionais do setor.
Num verdadeiro trabalho detetivesco, concluímos que o release veio mesmo do Rio de Janeiro. A xerox é do papel timbrado do escritório do Rio (com o endereço da Rua 19 de Fevereiro em primeiro lugar, enquanto o papel paulista vem com o endereço de lá na frente). Além disto, o telefone dado para contatos com José Manuel foi o 541-6787, do Rio.
Mesmo sem ter saído oficialmente do setor de Assessoria de Imprensa da SGB, o release sem dúvida foi preparado por profissional, provavelmente não jornalista de imprensa diária, mas vindo de RP ou propaganda, pois, apesar do texto bem estruturado, tem vícios como colocar o nome do cliente todo em caixa alta, e não abrir espaço no início do parágrafo (em jornalismo isto não é feito). Por outro lado, tendo sido (bem) datilografado em máquina elétrica corretiva, o RP misterioso seguramente teve a colaboração de alguma secretária profissional.
Até o fechamento da coluna, não havia sido solucionado o mistério: quem, dentro da SGB, soltou ou ajudou a soltar o release?
Qual o objetivo de não comunicar à cúpula da agência, se o texto é claramente favorável à empresa? Quantos jornalistas mais teriam recebido este release?
E não deixa de surgir a especulação: o que teria acontecido se este colunista publicasse o "desmentido oficial" sem telefonar antes para a agência, como costuma acontecer normalmente na imprensa?
Quem será o Barão Negro que sobrevoa, à noite, os releases da SGB?

Ah, meu Rio, até o doce estás perdendo?

No último Boletim da Abap, o diretor executivo da entidade e colunista publicitário Fernando Reis publica uma nota melancólica sobre um agonizante anunciante carioca. Por mais triste que seja, porém, merece a republicação, nem que seja como alerta para nos agitar na reativação das empresas daqui.
"SACO AZUL, CINTA ENCARNADA".
No meu tempo de Rio (põe tempo nisso!), só havia duas marcas de açúcar: "Pérola" e "Neve". As outras não contavam.
Leio agora, no Globo, que o Instituto do Açúcar e do Álcool (não tinha acabado?!) vai leiloar a marca' 'Açúcar Pérola", fechar a indústria, pagar aos mil funcionários, vender os bens e liquidar todas as dívidas.
A indústria vem dando um prejuízo danado (estimado em Cz$ 2,5 bilhões até o fim do ano).
A gente fica matutando, com a sensação esquisita de que lhe tiraram parte de sua infância. E eu me pergunto como é que um produto que chegou a ter um descomunal "share of market" e um slogan tão popularizado como o "saco azul, cinta encarnada" pôde morrer, num mercado com o potencial do Rio de Janeiro?! Má administração? Marketing caolho? Alguém me diz que foi tudo junto, inclusive a má qualidade do produto, todo empedrado, o que permitiu que o Açúcar União (leia-se Coopersucar, leia-se S. Paulo) invadir vitoriosamente as prateleiras das gôndolas dos supermercados cariocas.
Não resta dúvida: final melancólico de mais um capítulo da super novela: A estatização no Brasil. "
N.R.: suspiro...

MKT MIX

NAS AGÊNCIAS

• A Speroni está completando 4 anos de atividades, chegando a 40 funcionários. Agora, a agência acaba de reforçar a sua criação, contratando dois profissionais premiados: o redator Cláudio Ortman (ex­Estrutural, Salles e Giovanni) e o diretor de arte Antônio Cláudio "Kakau" (ex-TV Manchete, Esquire e Standard).
A Speroni começou especializada em turismo. Agora, atende contas de informática, construção civil, revenda de automóveis, moda e diversas outras indústrias.
• A MPM divulgou seu balanço pelos jornais. A receita bruta da agência, no primeiro semestre, encerrado em 30 de junho último, foi de Cz$ 710,8 milhões, com um lucro líquido de Cz$ 112,3 milhões. Só em imobilizado, a maior agência do país, que não tem sede própria, tem Cz$ 126,3 milhões.
• A Leo Burnett está distribuindo seu relatório de atividades, no qual diz que é uma agência internacional, mas também uma agência nacional, já que opera aqui desde 1975, tendo 89 profissionais na equipe, sendo 88 deles brasileiros. A agência relata ter tido um faturamento em 1987 de Cz$ 990 milhões, crescendo (em valores reais) 21% sobre o ano anterior. Hoje ela se coloca como a 15ª maior agência em atividade no Brasil.
Entre seus clientes estão Philip Morris (Galaxy, por exemplo), Bayer, Scania, Diners, Yamaha, Seiko, Kellog's, Avis e Velho Barreiro, num total de 28 produtos.

GENTE

• Willy Kautz, que esteve os últimos 11 anos na McCann Brasil, tendo atuado nas áreas de mídia, operações e atendimento dos escritórios do Rio e de São Paulo, passou a ser o vice-presidente diretor de mídia da McCann México, fazendo parte também do comitê executivo e operacional da agência.
• O Grupo UFE-União Fabril Exportadora, do Rio, decidiu tornar-se uma empresa mais agressiva, e contratou o empresário Gilberto Rabello para a função de diretor de marketing e novos projetos.
• Fernando Vasconcelos deixou a presidência do Sindicato dos Publicitários de Brasília, por ter sido promovido a superintendente comercial do Jornal do Brasil -Sucursal Brasília. Em carta a seus companheiros de entidade, Fernando esclareceu que o novo cargo o obriga, na maioria das vezes, a posições empresariais, ferindo, com isso, os princípios que o permitiriam continuar à frente do sindicato dos publicitários.

NOS ANUNCIANTES

Confident, da Stafford Miller• A Stafford MiIler, fabricante de Corega e Sensodyne, este um produto líder de mercado no segmento de dentifrícios para tratamento da hipersensibilidade dentária, está lançando, no Rio de Janeiro, Confident, um creme dental para fumantes, e que contém flúor.
O produto, que também tira manchas de café e chá dos dentes, foi lançado nos mercados testes de Curitiba e Porto Alegre, com sucesso. Ele estará à venda em farmácias e supermercados.
• A Philco está anunciando o lançamento de um rádio­relógio digital que, pela primeira vez no Brasil, permite ao usuário saber se o rádio está programado para despertar ou desligar automaticamente no horário marcado. O modelo entra no mercado em setembro e ainda tem outra vantagem que, particularmente, acho a melhor: uma tecla especial ativa uma memória, fazendo com que o relógio volte a despertar nove minutos após o último toque, permitindo uma sonequinha a mais.
• A Philips começou a fornecer às indústrias brasileiras de televisores (é isso mesmo, ela fornece também para seus concorrentes), os novos cinescópios FST, os Flat Square Tubes, que são as novíssimas telas quadradas e planas, que aumentam a área de visão da tela e diminuem as distorções que acontecem nos cantos dos televisores comuns. A empresa garante que, além disso, os tubos FST permitem uma focalização mais eficiente, com maior nitidez da imagem. Os aparelhos com os novos tubos — que já são comuns na Europa, Estados Unidos e Japão — devem chegar ao mercado ainda este semestre.
• A Playtoy Diversões está se promovendo como empresa especializada em mini-parques para eventos, e para desenvolver projetos de urnas promocionais, fachadas e bonecos de fibras. Ela vai expor seus produtos na II ExpoShopping, que ocorre de 21 a 24 de agosto no Hotel Nacional. A Playtoy é que mantém os parquinhos com aqueles brinquedos caríssimos que os filhos da gente ficam querendo andar no São Conrado Fashion Mall, no Tijuca Off-Shopping, no Shopping 45 e no Plazashopping.

E NO MAIS

• A ABM - Associação Brasileira de Marketing vai realizar, no próximo dia 25 de agosto, das 9 às 13:30, no Salão Atlântico do Copacabana Palace, o debate "O Marketing da Moda II: Sobrevivência à Crise", com 15 debatedores. As inscrições custam, até dia 24, Cz$ 2 mil para sócios e Cz$ 4 mil para não-sócios. Depois aumenta.
• E a ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing apresenta, no dia 1º de setembro, às 19 horas, no Rio Othon Palace Hotel, os áudio-visuais dos premiados no Top de Marketing deste ano.
• A Facha - Faculdade Hélio Alonso está lançando o Prêmio Inovação em Relações Públicas 1988, para escolher os melhores trabalhos em empresas, instituições, agências e/ou assessorias externas de relações públicas. O Regulamento do concurso está à disposição na faculdade, que fica na Rua Muniz Barreto 51, em Botafogo, das 13 às 17 horas. Os prêmios serão conferidos às categorias Campanha Comunitária, Campanha Institucional, Campanha de Público Interno, Imagem Empresarial, Inovação Empresarial, Participação Especial, Profissional do Ano e Renovação em Relações Públicas.

CONTOS & CONTAS

Genilson Gonzaga

A fábula dos porcos assados

Esta história está circulando no mercado. Vejam que interessante.
Faculdade de Administração Champagnat
Introdução à Teoria Geral da Administração
1º período
Professor: Haroldo Nogueira Marmo

Certa vez aconteceu um incêndio num bosque onde se encontravam alguns porcos. Estes foram assados pelo incêndio. Os homens, acostumados a comer carne crua, experimentaram e acharam delicioso. Logo, toda vez que queriam comer porcos assados, incendiavam um bosque, até que descobriram um novo método.
Mas o que eu quero contar é o que aconteceu quando tentaram mudar o sistema para implantar um novo.
Fazia tempo que as coisas não iam bem; às vezes os animais ficavam queimados ou parcialmente crus; outras, de tal maneira queimados, que era impossível utilizá-los. Como era um procedimento montado em grande escala, preocupava muito a todos, porque, se "o Sistema" falhava, as perdas ocasionadas eram grandes.
Milhões eram os que se alimentavam de carne assada e também muitos milhões eram os que tinham ocupação nessa tarefa.
Portanto, o Sistema simplesmente não podia falhar. Mas, curiosamente, à medida que se fazia em maiores escalas, mais apareciam falhas e maiores perdas parecia causar. Em razão das deficiências, aumentavam as queixas. Já era um clamor geral a necessidade de reformar profundamente o Sistema. Tanto assim que todos os anos se realizavam congressos, seminários, as conferências, as jornadas. É assim sempre.
As causas do fracasso do sistema, segundo os especialistas, deviam se atribuir ou à indisciplina dos porcos que não permaneciam onde deviam, informações meteorológicas que não acertavam o lugar, o momento e a quantidade de chuvas, ou...
As causas eram — como se vê — difíceis de se determinar porque, na verdade, o sistema para assar porcos era muito complexo. Fora montada uma grande estrutura; uma grande maquinaria com inúmeras variáveis fora institucionalizada.
Havia indivíduos dedicados a acender os incendiadores, que ao mesmo tempo eram especialistas de setores (incendiadores da Zona Norte, da Zona Oeste, etc., incendiadores noturnos, diurnos, com especialização matutina e vespertina, incendiador de verão, de inverno, com disputas jurídicas sobre o outono e a primavera).
Havia especialistas em vento: Os anemotécnicos. Havia um diretor-geral de Florestação Incendiável, uma comissão Nacional de Treinamento Profissional em Porcologia, um Instituto de Cultura e Técnicas Alimentícia (Iscuta) e o Bodrio (Bureau Orientador de Reformas Ingneo-Operativas).
O Bodrio era tão grande que tinha inspetor de reforma para cada sete mil porcos, aproximadamente. E era precisamente o Bodrio que propiciava anualmente os congressos, os seminários, as conferências e as jornadas. Mas isso só parecia servir para incrementar o Bodrio em burocracia.
Tinha-se projetado e encontrava-se em pleno crescimento a formação de novos bosques e selvas, seguindo as últimas indicações técnicas (em regiões escolhidas segundo determinada orientação, onde era reduzida a percentagem de umidade.
Havia milhões de pessoas trabalhando na preparação dos bosques que logo teriam que ser incendiados. Havia especialistas na Europa e nos Estados Unidos estudando a importação das melhores madeiras, árvores, sementes de melhores e mais potentes fogos, estudando ideias operativas, (por exemplo, como fazer buracos para que neles caíssem os porcos).
Havia também grandes instalações para manter os porcos antes do incêndio, mecanismo para deixá-los sair no momento oportuno, técnicas em sua alimentação etc.
Havia construção de estábulos para os porcos. Professores formadores de especialistas na construção de estábulos para os porcos. Universidades que formavam os professores formadores dos especialistas nas construções de estábulos para os porcos.
Investigadores que forneciam o fruto do seu trabalho às universidades que preparavam os professores formadores dos especialistas na construção de estábulos para os porcos, etc.
As soluções que os congressos sugeriam eram, por exemplo, aplicar triangularmente o fogo após a V-a-l pela velocidade do vento sul, soltar os porcos 15 minutos antes do fogo promédio da floresta alcançar 48%, outros diziam que era para orientar a direção do fogo e assim por diante.
E não é preciso falar que poucos especialistas estavam de acordo entre si e que cada um tinha investigações e dados para provar suas afirmações.
Um dia um incendiador categoria SO/DDM/VCH (isto é, um incendiador de bosque especialista sudoeste, diurno, matutino com licenciatura em verão chuvoso) chamado João Sentido-Comum falou que o problema era muito fácil de resolver.
Tudo consistia, segundo ele, primeiramente em matar o porco escolhido, limpando e cortando adequadamente o animal e, colocando-o, posteriormente, numa jaula metálica ou armação sobre as brasas, até que o efeito do calor não das chamas o assasse ao ponto.
Ciente, o diretor-geral de Assamento mandou chamá-lo e perguntou que coisas esquisitas andavam falando por ali e, depois de ouvi-lo, disse:
"O que o senhor fala está bem, mas somente na teoria. Não vai dar certo na prática. Pior ainda, é impraticável. Vamos ver o que o senhor faria com os anemotécnicos, no caso de se adaptar o que sugere?"
"Não sei", respondeu João.
"Onde vai pôr os acendedores das diversas especialidades?"
"Não sei".
"E os especialistas em madeiras, em semente? E os desenhistas de estábulos de sete andares, com máquinas limpadoras e perfumadoras automáticas?"
"Não sei".
"E os indivíduos que foram a estrangeiro para se especializar durante anos e cuja formação custou tanto ao País? Vou pô-los para limpar porquinhos?"
"Não sei".
"E os que tem se especializado todos esses anos em participar de congressos, seminários e jornadas para reforma e melhoramento do sistema? Se o que você fala resolver tudo, o que faço com eles?"
"Não sei".
"O senhor percebe agora que a sua solução não é a que todos nós necessitamos? O senhor acredita que, se tudo fosse tão simples, os nossos especialistas não teriam achado a solução antes? Veja só. Que autores falam isso? Que autoridade pode avaliar sua sugestão? O senhor, por certo, imagina que eu não posso dizer aos engenheiros em anemotécnica que é questão de pôr brasinhas em chamas. O que eu faço com os bosques já preparados, ao ponto de serem queimados, que somente possuem madeira apta para o fogo — em conjunto, cujas árvores não produzem frutos, cuja falta de folhas faz com que não prestem para dar sombra? O que faço? Diga-me?"
"Não sei".
"Diga-me: O senhor engenheiro em Porcopirotécnica, o Sr. J. C. da Figuração não é uma extraordinária personalidade científica?"
"Sim. Parece que sim".
"Bem. O simples fato de possuir valiosos conhecimentos e ampla experiência, indica que o "sistema" é bom. E o que faço com indivíduo tão valiosos? Viu? O senhor tem que trazer solução para certos problemas. Por exemplo, como fazer melhor anemotécnicos, como conseguir mais rapidamente acendedores do Oeste (que é a nossa maior dificuldade), como fazer estábulos de oito andares ou mais, em lugares de sete, como até agora? Tem que melhorar o que temos e não mudá-lo.
Tragam-me sua proposta para que nossos bolsistas na Europa custem menos ou mostre-me como fazer uma boa revista para a análise profunda do problema da reforma do "Assamento". Isto é o que necessitamos. Isto é o que o País necessita. Ao senhor, falta-lhe sensatez, sentido comum. Diga-me, por exemplo, o que faço com o meu bom amigo (e parente), o Presidente da Comissão para o Estudo do Aproveitamento Integral dos Resíduos do ex-Bosque? Realmente, eu estou perplexo. Falou João. Bem. Agora que o senhor conhece bem o problema, não diga por aí que o senhor conserta tudo. Agora o senhor vê que o problema é mais sério e não tão simples como o senhor imaginava. Tanto os de baixo como os de fora dizem: "Eu conserto tudo". Mas tem de estar dentro para conhecer os problemas e saber as dificuldades. Agora, entre nós, recomendo-lhe que não insista com sua ideia, porque isso poderia trazer problemas para o senhor no seu cargo. Não por mim, eu falo pelo seu próprio bem, porque eu o compreendo, ou entendo o seu posicionamento, mas o senhor sabe que pode encontrar outro superior menos compreensivo. O senhor sabe como são, às vezes, não é?"
João Sentido-Comum, coitado, não falou "a".
Sem despedir-se, meio assustado e meio atordoado, com a sensação de estar caminhando de cabeça para baixo, saiu e nunca mais ninguém o viu. Não se sabe para onde foi. Por isso é que fala que, nessas Tarefas de Reformas e de melhoria no Sistema, falta o Sentido Comum.

NOTAS:

1 - Traduzido por Guallazzi, I. L., professor assistente — Academia da Força Aérea.
2 - Artigo originalmente publicado em "Juicio A La Escuela Cirigliano, Forcade Tlisch Editorial Humanitas Buenos Aires, 1979".
3 - Observação do jornal que publicou a fábula: "Trata-se de um trabalho exclusivamente fictício. Qualquer semelhança com pessoas, coisas ou algum órgão público, terá sido mera coincidência".
Falta Marketing também.