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              de junho de 2009, quarta-feira 
             
            SHOW DO BILHÃO. 
             Agnello 
              Dias (foto à direita) é um dos poucos criativos que 
              pode dizer que criou uma campanha que mobilizou um país de 
              mais de 1 bilhão de pessoas. E não vendeu mais sabonetes, 
              nem mais carros, nem mais refrigerantes. Mas uma atitude. 
             
            Ele é um dos criativos que criou o case Lead India, para o 
            jornal Times of India. Grand Prix de Direct e Leão de Titanium 
            em Cannes no ano passado (veja à esquerda), uma das ações 
            mais inspiradores da década. Recentemente, Agnello se desligou 
            da vice-presidência da JWT para abrir a sua própria agência, 
            a Taproot India.  
            Pouco antes de embarcar para ser jurado da categoria Filmes em Cannes, 
            ele conversou com a Fenêtre. 
            FABIO SEIDL: Antes de mais nada, o seu nome é bem brasileiro. 
              Você é de Goa ou tem parentes por lá? 
             AGNELLO DIAS: Sou de Goa! Goa era uma região da 
              Índia dominada pelos portugueses e não pelos britânicos. 
              E a gente conseguiu nossa independência de Portugal uns bons 
              15 anos antes que os ingleses saíssem do resto da Índia. 
            FS: A Índia tem melhorado tanto em publicidade nos últimos 
              anos. Pelo menos é o que a gente tem visto nos festivais 
              internacionais. Primeiro com a Ogilvy Mumbai, liderada pelo Pyush 
              Pandei. Depois com a JWT, onde você era o CCO, e outras agências, 
              como a McCann, Leo e Contract. Qual tem sido o “efeito Cannes” 
              no mercado indiano? 
            AD: Eu não sei exatamente o porquê, mas os 
              festivais de publicidade, especialmente Cannes, têm chamado 
              muita atenção na Índia e recebido uma grande 
              cobertura da TV. E principalmente, agora temos um grande número 
              de sites que cobrem o mercado: revistas, jornais, programas de TV 
              e suplementos de grandes jornais. Isso tem crescido nos últimos 
              anos, alcançando em impactando toda a comunidade publicitária 
              e de marketing em todo o país 
               
              FS: E porque você acha que a Índia vive esse “boom” 
              criativo? 
            AD: Bem, acho que aí são três razões: 
              1) Da virada do século até o ano passado, a publicidade 
              tem andando na crista da onda do crescimento econômico indiano. 
              Então as agências tem mais dinheiro para inscrever 
              em prêmios. E mais inscrições nos levaram a 
              entender melhor o quê e como inscrever. 
              2) A indústria aqui está vendo a sua primeira geração 
              de criativos que cresceram na era de uma mídia mais aberta 
              (após a chegada da TV a cabo e por satélite) e tem 
              assistido a melhor publicidade do mundo quase que diariamente.  
              3) O mundo está mais aberto a novos visuais, sons, linguagens, 
              gostos do oriente e isso aconteceu numa época em que a Índia 
              está à frente das de uma novo momento da Ásia. 
              O que antes era visto como exótico e curioso, agora é 
              visto como algo atraente e maravilhoso. 
            
            FS: É verdade. Nossa novela das oito aqui que o diga…A 
              Índia, assim como o Brasil é um país grande, 
              com muita gente diferente, várias culturas e, também, 
              pouco dinheiro. Como é que vocês trabalham com isso 
              na hora de criar. Como é lidar com diferentes etnias, dialetos 
              e pouca verba? 
            AD: Eu gostaria muito de ter uma resposta inteligente para 
              esta pergunta, mas a a verdade é que a gente não faz 
              nada de diferente do que eu imagino que vocês façam 
              no Brasil: nós ralamos a nossa bunda. Nossos comerciais mais 
              famosos como os de Happydent (acima, à esquerda), Fevicol 
              (acima, à direita) ou até as campanhas de Nike foram 
              produzidas com orçamentos que mal cobririam o cachê 
              dos diretores em outros países. Então nós temos 
              que ser os ingênuos e trabalhar muito bem essa ingenuidade 
              porque não existe maneira de usar nossas cabeças para 
              aumentar essas verbas. E as imperfeições que possam 
              vir a aparecer acabam passando por baixo de um rolo compressor de 
              paixão pela publicidade. 
            
               
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 Gêmeas, da JWT, Leão de Prata em 2008 
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            FS: A Índia, assim como Brasil, tem um trabalho muito 
              forte em mídia impressa, mas assim como o Brasil, mais uma 
              vez, em filme, nem sempre a Índia tem apresentado um trabalho 
              que encante os jurados dos festivais. E essa é justamente 
              a categoria que você vai julgar. Como está a criatividade 
              indiana nas peças para TV atualmente? 
            AD: Acho que as campanhas de mídia impressa dependem 
              muito mais da criação das agências do que os 
              filmes, que dependem da produtora, do diretor e vários outros 
              profissionais que são terceirizados pela agência. Então 
              a tendência é que, quando o trabalho é mais 
              controlado, é mais fácil do resultado sair como a 
              agência imaginou e de evoluir mais. 
            FS: Como é a relação do mercado publicitário 
              indiano e a indústria cinematográfica de Bollywood, 
              principalmente agora que uma produção feita na Índia 
              (Quem Quer Ser Milionário) recebeu o Oscar de melhor filme? 
            AD: Ultimamente, muitos talentos começaram a migrar 
              da publicidade para Bollywood e o contrário não tem 
              mais acontecido, embora alguns diretores e produtoras de cinema 
              continuem fazendo as duas coisas. 
            FS: Obrigado, Agnello. Até Cannes e boa sorte com a nova 
              agência. 
             
            O redator Fabio 
              Seidl é o enviado (com todo o respeito) especial da Janela 
              em Cannes 2009.  
               
                                             
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