Janela Publicitária    
 
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A Fenêtre é a cobertura da Janela Publicitária em Cannes.
 

16 de junho de 2009, terça-feira

David LubarsDAVID LUBARS, O HOMEM COM A MISSÃO.

David Lubars (foto à direita) tem 50 anos. Chegou a Nova Iorque para trabalhar como diretor de criação da BBDO em 2004. Antes, fez parte do Dream Team da Fallon de Minneapolis.
Na época da troca, iniciou o que a CNN chamou de um “Extreme Makeover” na BBDO, referência direta ao célebre programa de televisão onde uma pessoa faz uma uma série de cirurgias plásticas complicadas.
A BBDO era chamada de “A mais Americana das Agências”.
Talvez porque suas campanhas, com celebridades, garotos-propaganda e jingles reconhecidos em qualquer esquina fossem sempre um sucesso entre os americanos. Eram populares e davam recall. Então para quê mudar?
“Porque o mundo mudou, pare pra pensar que daqui a 2 anos todo mundo vai ter banda larga!”, dizia Lubars ao New York Times, na ocasião.
Era preciso se adiantar. E isso adiantou.
No ano passado, a BBDO foi a rede de agências mais premiada em Cannes e BBDO NY foi não só a agência mais premiada deste festival como, pelo terceiro ano consecutivo, a agência mais premiada do mundo segundo o Gunn Report.
Isso deu mais do que legitimidade ao convite para Lubars ser o presidente do Júri este ano.
Com a palavra, o homem com a missão de conduzir o Festival de Cannes, num ano com muito menos dinheiro e muito mais expectativa.

FABIO SEIDL: A gente já conhece o que faz David Lubars, o criativo. Já sabemos o que você fez dentro da publicidade. Mas e depois que você bate o ponto? O que você curte fazer fora do trabalho?

DAVID LUBARS: Ultimamente o que mais tenho feito fora do trabalho é compor músicas com meus dois filhos adolescentes. A gente tem gravado muita coisa no programa Garage Band. É incrivelmente divertido e como eles são ótimos compositores, sempre tem material bom pra gente trabalhar.

Relembre alguns dos trabalhos premiados da BBDO em Cannes. Este, o case HBO Voyeur.

FS: Falando em adolescentes, quando é que você decidiu que queria ser publicitário? Como é que você foi parar nessa vida?

DL: Meu pai era do mercado nos anos 60. Eu tinha sete ou oito anos e ia com ele para o trabalho durante as férias. Ele me deixava sentado no chão com um monte de canetinhas coloridas e um bloco de papel. Aquilo começou a me parecer uma boa maneira de ganhar a vida. As pessoas podiam fumar nos escritórios naquela época e eu me lembro uma vez de ter ido ao banheiro e passar pelo escritório de alguém e sentir um cheiro de um cigarro diferente, uma fumaça que eu não reconhecia. Era na DDB em 1968, eu acho. Quando eu virei adolescente, claro, entendi o que era aquilo. Era uma indústria diferente naquela época.

FS: Quais foram os melhores e piores momentos da sua carreira?

DL: Olha, eu não sou muito obcecado pelo sucesso das coisas que eu faço. Minha maneira de trabalhar tem sido simplesmente manter a consistência, sem muitos picos, nem períodos de baixa. Meu lema para sobre criatividade é o “Keep on Keepin’ On” (algo como “Continue continuando”). Smokey Robinson, Bob Dylan, John Lennon e muitos outros já escreveram músicas usando esse verso. E tem muita sabedoria aí.

FS: Você está esperando o quê de Cannes este ano? Dá para esperar alguma surpresa justamente por esse estarmos vivendo um ano complicado?

Outro trabalho premiado da BBDO em Cannes: O filme Cegonha, para o site Monster
DL: Nós já sabiamos que teríamos menos inscrições este ano, mas que a qualidade do que o festival vai mostrar não cairia. A verdade é: as pessoas vão continuar inscrevendo o mesmo número de peças brilhantes que eles sempre tiveram. Por outro lado, provavelmente teremos menos trabalhos questionáveis e, francamente, menos material fraco que as pessoas normalmente inscrevem. Quando tínhamos cerca de 20 mil inscrições, normalmente umas 200 eram premiadas. E essas 200 peças boas certamente foram inscritas em Cannes este ano. Só para lembrar como Cannes ainda é importante: no ano passado, clientes de todo o mundo tiveram que fazer cortes e conseguir mais com menos. Seguindo a lógica, tudo que eles criaram teve que aparecer muito mais. Dentro dessa ótica, Cannes poderá ser visto como, prioritariamente, um jeito de se usar a força da criatividade nesse caminho, acelerar e ver o que o poder das ideias podem fazer nessa estrada cheia de buracos que é a economia no momento.

FS: E o Brasil, David? Você já esteve por aqui algumas vezes. Qual a sua impressão sobre o país e a publicidade daqui?

DL: Se eu tivesse que escolher um país no mundo, o Brasil seria um dos meus favoritos. Em publicidade e futebol, o Brasil sempre mostra muito refinamento e inteligência. A qualidade do melhor trabalho feito por aí faz com que eu me sinta bem. É fácil reconhecer algumas coisas viscerais que falam comigo, mesmo se é para um produto que nunca usei antes. No ano passado, o Marcello Serpa recebeu um prêmio pelo conjunto da sua obra (Lifetime Achievement Award) no Clio e ele ainda não chegou nem na metade da vida dele. Isso mostra que as pessoas no mundo todo estão prestando atenção: o Brasil está fazendo um grande trabalho.

O filme Pré-Histórico, para Fedex

O redator Fabio Seidl é o enviado (com todo o respeito) especial da Janela em Cannes 2009.