| 
                                             
   11 de junho de 2008, quarta-feira 
             
            2 ½ PERGUNTAS PARA RICARDO MONTEIRO, 
              DA EURO RSCG 
             O português Ricardo Monteiro começou a carreira do 
              outro lado do balcão, como anunciante. Veio da Unilever e 
              depois, na BBDO, iniciou sua carreira como atendimento. Hoje é 
              CEO da Euro RSCG para América Latina e Portugal, país 
              que vai representar como jurado na categoria Press de Cannes este 
              ano.  
            FABIO SEIDL: De alguns anos para cá Portugal tem tido 
              uma certa frequência de leões em Cannes, o que o você 
              tem visto de reflexos disso no mercado? 
            RICARDO MONTEIRO: Na realidade, a participação 
              de Portugal sempre é pouco numerosa. Em toda sua história, 
              Portugal não ganhou muitos Leões. Este ano, todas 
              as agências de Portugal inscreveram 297 trabalhos em todas 
              as categorias... Só a F/ Nazca, no Brasil, mandou mais de 
              230. Bom, quer isso dizer que o país é pequeno, que 
              nossa publicidade é ruim ou pouco criativa?? Nada disso. 
              O mercado publicitário português é cinco vezes 
              menor que o brasileiro mas vossa população é 
              18 vezes maior.  
              Nosso gasto publicitário per capita é bem superior 
              ao do Brasil. E Portugal é hoje um país bem de primeiro 
              mundo e nossa publicidade tem acompanhado esse surto de desenvolvimento. 
               
              Mas, como em outros países - Itália, Alemanha, Espanha, 
              Bélgica, Canadá e outros - nossos clientes só 
              estão preocupados com eficácia.  
              A criatividade pura não é um objetivo. A eficácia 
              comercial é muito mais valorizada. Cannes, New York, Clio, 
              são notas de rodapé na vida de um cliente. 
              O retorno ao investimento publicitário, esse sim, é 
              importante. 
            FS: Na sua função, você trabalha entre 
              a Europa e a América Latina. Qual a diferença que 
              sente em relação a expectativa ou o impacto do festival 
              nos países por onde passa? 
            RM: Há mais semelhança entre a realidade publicitária 
              argentina e a inglesa que entre ela e a brasileira. Entre o trabalho 
              chileno e o mexicano a semelhança é a mesma que entre 
              um gato e um rato. Então, não dá para estabelecer 
              um paralelo.  
              Mas posso dizer que o Brasil se beneficia ainda do financiamento 
              proporcionado pelo modelo único de negócio em que 
              as agências se encontram protegidas na compra de mídia, 
              se beneficiando de margens de lucro fora do padrão internacional. 
               
              E protegidas da concorrência externa, porque importar publicidade 
              para o Brasil paga direitos proibitivos.  
              Seus profissionais auferem salários dos mais elevados do 
              mundo. Tudo isso não vai mudar amanhã. Mas é 
              insustentável. E por isso se continua vivendo essa "bolha" 
              publicitária brasileira que lhes permite inscrever... 10% 
              de todos os trabalhos de Cannes.  
              Ora, o Brasil não representa 10% da publicidade feita no 
              mundo. Talvez por isso, o Festival é importantissimo aí 
              (é auto-promoção) e na Argentina (é 
              promoção no estrangeiro que traz trabalho para agências 
              argentinas). Mas é muito, muito menos importante junto dos 
              públicos europeus e norte-americanos. Na Inglaterra - que, 
              no entanto, é o país com melhor publicidade no mundo 
              - os festivais se aceitam como alegria para os publicitários 
              mas não são, de forma alguma, considerados como forma 
              última de credibilização. É o que conta 
              mesmo na hora de ganhar conta e cobrar do cliente - pelo trabalho, 
              não pela mídia. 
            FS: E o que você viu, fora da categoria que vai julgar, 
              que acha que mereça leão? 
            RM: Ainda não vi o trabalho de outras categorias. 
              Do que vi, a Argentina terá outro bom ano. O Brasil.... veremos. 
              Inglaterra excepcional. Como sempre. 
             
            O redator Fabio 
              Seidl é o enviado (com todo o respeito) especial da Janela 
              em Cannes 2008.  
               
                                             
                                              |