21
de junho de 2005, quarta: A Fenêtre mostra o que ninguém
mais mostra!
OPENING
GALA: A FESTA CARETA MAIS LOUCONA DE CANNES
A impressão que se tem quando se chega no Opening Gala é
a que acabamos de chegar no casamento daquela sua tia encalhada.
Jamais você diria que é uma festa com essa gente prafrentex
que é a galera de publicidade. Aí você descobre
que pelo menos as mulheres, diferente da festa dos Youngs Holandeses
que fui na segunda, vieram. Vieram fugidas das enfermeiras do Lar
da Vovó Feliz, mas vieram.
Aí você resolve comer pra dar aquela forrada, já
que nem lembrou de tomar Engov nem nada. O briefing para o buffet
do Carlton, provavelmente era para ser o mais fiel ao festival possível.
E como os caras não podem servir milhões de categorias
de anúncios a ponto de você não conseguir acompanhar,
servem milhões de categorias de comida.
Tinha de tudo: francesa, árabe, chinesa, japonesa, mexicana,
zimbabueana.
Acho que eles quiseram representar o mundo todo no rega-bofe. Dentro
dessa lógica, o Brasil deveria ser o cachorrinho quente de
festa de criança que tinha por lá. Você já
comeu caviar com cachorro quente? Ah, então precisa vir à
Cannes.
Você
come e vai beber. Quem comanda a pista, o mais pé de valsa,
é o cara que acabou de apresentar a cerimônia de Radio,
Media & Outdoor, com seu estilo meio John Travolta, meio Genival
Lacerda.
De repente a festa parece melhorar e você ainda está
no primeiro copo. Ah, é verdade, acabou o jogo da Suécia
e da Inglaterra. Tinha uma turma vendo na praia ali ao lado. Aí
meus amigos as suecas (ah, as suecas) e todas as outras louras que
a gente acha que são suecas para ficar mais divertido começam
a dominar aquilo.
Elas
estão descontroladas. Toca uma música brasileira que
ninguém nunca ouviu no Brasil (uma mulher com sotaque gemendo
canta Em cima, em cima, embaixo, embaixo, assim...Samba de Janeiro...).
Assim como alguns anúncios que a gente vê por aí,
deve ter sido criada só para gringo ver.
Uma das suecas aparece com um bambu muito grosso (não me
pergunte da onde ela tirou isso) e começa a fazer a dança
da cordinha, imortalizada por esse baluarte da nossa cultura, o
grande É o Tchan.
Diante da oportunidade ímpar de passar por situações
vexatórias, um grupo de japoneses e afins se apresentar.
Japonês se amarra nessas coisas. Aí eles passam debaixo
do bambu, caem, dançam como se não houvesse amanhã,
vão dar cambalhota e ficam mostrando o cofrinho, uma beleza.
Alguém puxa um trenzinho que esbarra num cidadão que
dançava loucamente uma música do ABBA, derruba a figura
da mesa e ele vai parar na praia.
Na tentativa de acompanhar o ritmo frenético da rapaziada,
você bebe um pouco e claro, precisa ir ao banheiro. Só
que uma das portas do banheiro não é o banheiro, é
um lugar reservado onde quatro ou seis gringos resolveram se amar
no sentido nheco-nheco hardcore style da palavra. Ninguém
te convida para participar. Você sai dali. Mas aí te
chamam para ir para a festa dos Youngs ali do lado. Pode ser uma
boa.
A ESBÓRNIA DOS YOUNGS
A
primeira impressão que se tem ao chegar na festa dos Youngs
é a de que ela é aquela mesa das crianças que
fazem nos chatíssimos almoços de família. Mas
não é. O pessoal é mais animado, as músicas
são menos óbvias e você fica sem entender porque
fazem uma festa separada para os Youngs.
Repara também que os Youngs são enganados. Dão
para eles um cartãozinho escrito VIP, que não dá
direito a entrar na Ilha de Caras, nem de comer tudo aquilo que
tem na festa do lado. Só servem lá umas empadinhas
e dão alguns tiquetezinhos de bebida. Isso, na cabeça
de quem arma essas festas deve ser o equivalente a VIP para um Young.
As Youngettes, poucas, é que dominam a festa. O papo é
mais bacana e o clima também. Ainda há salvação
para o futuro da Publicidade.
RITMO, RITMO DE FESTA
Na
festa de Gala, veja a foto acima à esquerda, o mineiro mais
carioca da publicidade, Dan Zechinelli (RC), encontra a diretora
Gláucia Nogueira (Net Filmes) e o pernambucano Carlos Renato
(Arcos).
Na foto acima à direita, Alê Braga, da McCann Rio reencontra
o ex-colega Pedro Prado, agora na F/Nazca. Aproveitou para mostrar
o exame de DNA que comprova que parecem, mas, afinal, não
são irmãos.
Aqui, do lado direito, o young carioca Leo Claret (F/Nazca), chegando
na festa dos Youngs. Estava amarradão com a sua estréia
no festival.
DE BARRADO A CARRASCO DO BRASIL E CAMPEÃO
Fabio Seidl, o Ronaldo Fenômeno de
Cannes.
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Fabio Seidl, ainda com o uniforme do futebol, cheio de areia, imundo
feito um porco, alheio aos olhares de novo da sala de imprensa, mas
escrevendo para contar como tá isso aqui. É galera,
o pessoal montou o time do Brasil, pedi pra jogar, mas fecharam tudo
lá em São Paulo e não deu. Aí, ironia
do destino, o Brasil foi jogar com Portugal. Que me aceitou no time.
Confesso que no início, não foi uma sensação
muito legal. Mas ganhamos de 4x2.
Nossa gloriosa “equipa”, como se diz lá em Portugal,
passou também pela Holanda que tinha a espantosa marca de 27
gols em 4 jogos, vencemos a laranja mecânica publicitária,
que eu até agora desconfio que eram os ogros do filme Senhor
dos Anéis disfarçados de publicitários, por 8x6.
A final, com o México, acabou 3x1 para Portugal, consagrado
como Campeão de Cannes.
Esta noite, na cerimônia de entrega de Press & Cyber, subiremos
ao palco para receber do CEO da Adidas o troféu e as medalhas.
Para homenagear esta união Brasil-Portugal, vou subir com a
camisa do Vasco da Gama.
Para o pessoal de Portugal que lê a coluna, nosso time era na
verdade um bando de malucos que mal se conhecia: Fred Saldanha (Grey)
com 3 graus de miopia, jogando sem óculos na baliza, Nuno Jerônimo
(BBDO), o Tomás e o Vasco da Partners, o Pedro e Ricardo, da
Bates. O argentino El Loco Chacho (Leo Burnett) jogou alguns minutos
ontem, mas de ressaca, não conseguiu entrar em campo hoje.
Na frente, à lá Ronaldo (o Fenômeno, não
o Cristiano), este vosso amigo. Obrigado a todos pela força.
E se o Scolari precisar, estamos aí.
N.R.: Fabio, olhando assim pela sua foto, você
não está um pouco gordo? (M.E.)
OUTDOOR, RADIO & MEDIA LIONS
Você
acha que ganhar um leão de bronze é superimportante,
certo? Pois é, mas a organização do festival
parece a cada ano dar um jeito de apertar os pobres Bronzes na cerimônia
de entrega. Agora eles passam todos de uma vez, antes de começar
a categoria, como se fossem aqueles créditos de final de
filme e separados por país.
Engraçado foi ver que alguém descobriu que tinha ganho
leão de bronze só naquela hora e começou a
gritar e pular no auditório, o que fez o apresentador comentar:
“Imagina a reação de quem vai subir aqui para
ganhar ouro.”
Mas até que não houve grandes salamaleques. A curiosidade
é que no palco subiram dois brasileiros exportados: Rodrigo
Butori, da Ground Zero Los Angeles que faturou com o cartaz de Do
You See Music? Para Virgin e Ícaro Dória da Saatchi
NY, que ganhou com a campanha de Stuff It.
A Saatchi aliás lidera até agora a corrida para network
do ano. Até aqui, passaram o rodo.
No mais a cerimônia foi ágil e boa. Um bom início
para hoje, quando temos Press e no final da semana, com Film.
ORELHADA
Você comanda uma agência que ganha um prêmio importante
para uma campanha em Cannes. Qual a carreira você daria para
esta peça nos outros festivais? Inscreveria, certo? Então
puxa pela memória e você vai sacar que uma recente
campanha (gringa) que fez sucesso em Cannes não apareceu
mais em outros festivais.
O motivo? Pela orelhada que eu peguei ontem em Cannes, a campanha
não tinha autorização do cliente para ser veiculada
e o anunciante, depois da exposição que teve no festival,
resolveu falar. O caso teria sido resolvido e abafado. Mas a campanha
não foi mais inscrita em lugar nenhum depois de Cannes.
Pode ser só intriga. Mas veio de alguém muito perto
do júri e não deixa de ser estranho.
NO ELEVADOR
Encontro
o grande diretor de arte da NBS, Marcelo Noronha, entrando no elevador.
- Fala, Noronha!
- Fala, Fabinho!
- Bom te ver cara, tá gostando?
- Quanto tempo, mermão. Tô correndo ali para ver uns
filmes, vai lá?
- Não dá cara, depois a gente se fala então.
Posso tirar uma foto tua pra mandar pra Fenêtre?
- Pô, cara, eu não saio bem em foto...
- Sabe o que é? Se eu não tiro foto da galera o Marcio
Ehrlich me enche o saco.
- Mas...
Click.
- Peraí você já tirou? Aqui no elevador? Vou
ficar esquisitão, mete um Photoshop nisso aí para
eu ficar com uma cara bonita.
- Pode deixar, Noronha, vou fazer o melhor que eu puder.
VARIG, VARIG, VARIG
A orelha da turma do Varig deve continuar ardendo. Ainda tem gente
chegando atrasado ao festival por causa da companhia. Vários
eram jornalistas que começaram a cobertura do evento só
ontem.
FALANDO
EM PALESTRA
Hoje tem um dos meus ídolos falando aqui em Cannes. John
Cleese, do Monty Phyton, vai apresentar o seminário The Art
of Football, organizado pelo cineasta alemão Hermann Vaske.
No filme que Vaske vai apresentar tem uma mão da brasileira
Margarida Filmes, que filmou alguns trechos que se passam no Brasil.
TU NÃO TRABALHA NÃO, FABIO?
É verdade, ainda não falei dos filmes e o já,
já, teremos o short list. Não vou mentir. Tá
chato pra cacete o long list. Muita coisa, fico imaginando como
fica o critério (leia-se saco) do júri depois de cento
e tantos filmes de carro ainda tenho que ver mais 250. Fora as outras
categorias. Claro que é legal para ver as categorias em que
atuam seus clientes, mas tem sido um massacre. O que se comenta
também é que quem chegou como favorito a GP foram
o Choir, da Honda e o Evolution, da Guiness. Mas esse feeling é
meio furado. Aplausos ou vaias nos auditórios no Palais nunca
ganharam leão para ninguém. Vamos ver.
NÃO FALEI PARTICIPAÇÂO
DO BRASIL.
E precisa falar? O clima aqui não tá nada legal.
OBRIGADO!
Galera ligada na Fenêtre: Mario Barreto (Imagina), Marco Leal
e Antonio Páscoa (McCann), Rui Oliveira (Meios e Publicidade)
e Sérgio Cardoso (Cine). Valeu pelas mensagens! Imagino que
vocês saibam que tem uma Copa do Mundo rolando que é
bem mais interessante do que isso aqui, né?
As Notícias do Dia
por Marcio Ehrlich
Com 9 Leões, Brasil também cai
em Cyber
A premiação Cyber Lions repetiu o retrato de mau
desempenho do Brasil no Festival de Cannes 2006. Contra 23 Leões
conquistados em 2005, o país ficou este ano com apenas 9
prêmios. A DM9DDB, que ano passado chegou a receber o título
de Agência do Ano da categoria, garantiu 3 dos 9 Leões.
O país com melhor desempenho no Cyber Lions foram os Estados
Unidos, com 25 troféus, entre os quais dois GPs. A Inglaterra
veio em seguida, com 12 Leões, deixando o Brasil em terceiro.
Vejam a relação dos brasileiros premiados:
Ouro:
- "Crash", da DM9DDB para Itaú Seguros
- "Oops", da Euro RSCG 4D para Poliflor da Reckitt Benckiser
- "Water Purifier", da AgênciaClick para Multibras
- Brastemp
- "Scroll", da F/Nazca S&S para Panela T-Fal da Arno.
Prata:
- "Paths", da Publicis para General Motors
- "Shake",da Agência Click para Sexy Magazine da
Editora Peixes.
Bronze:
- "Lesson 13", da DM9DDB para Cia Athletica
- "Dog", da LoV, para Mitsubishi Eclipse 2006
- "Zzzzzzzzz", da DM9DDB para Acesso de Internet da Telefônica.
Infelizmente, este ano, a organização do festival
não incluiu na relação dos concorrentes o endereço
da Internet onde as peças poderiam ser vistas. Espera-se,
porém, que até esta quinta-feira os trabalhos estejam
reproduzidos no site oficial do Cannes Lions.
Giovanni recusa Leão de Bronze
Aconteceu
a primeira polêmica envolvendo o Brasil no Festival de Cannes
2006. A Giovanni está distribuindo o seguinte release:
"A Giovanni,FCB não receberá o Leão
de Bronze conquistado em Cannes com a campanha "Ovo/Chupeta/Feto/Ursinho",
criada para o IPAS. A agência já pediu a exclusão
das peças do Festival. A ONG IPAS não é cliente
da Giovanni,FCB, e as peças foram criadas e inscritas em
Cannes por profissionais que não estão mais no quadro
de funcionários e à revelia da direção
geral da agência. Vale ressaltar que a Giovanni,FCB não
assinou esta campanha e nunca apoiou a causa a que ela se refere."
Leão da ONG Ipas gera batalha de comunicados
A campanha da ONG Ipas, que havia conseguido um Leão de
Bronze em Press, recusado pela Giovanni FCB, continuou gerando polêmica
ao longo do dia.
A assessoria de imprensa da agência Santa Clara, do ex-diretor
de criação da Giovanni São Paulo, Fernando
Campos, distribuiu o seguinte comunicado, para responder ao comunicado
inicial da Giovanni:
COMUNICADO DA SANTA CLARA
A propósito do comunicado expedido na manha desta quarta-feira
pela Giovanni FCB, a respeito da devoluçao do Leao de bronze
conquistado em Cannes, o publicitário Fernando Campos, ex-diretor
de criaçao da agência tem a esclarecer que:
(1) A informaçao de que a peça para a ONG Ipas foi
inscrita “à revelia da direçao da agência”
é improcedente, visto que para ser encaminhada para o Festival
de Cannes o material teve de ser autorizado pela direçao
geral da agência no Brasil. A peça recebeu também
aprovaçao da FCB internacional, tanto que consta no portfólio
mundial da rede, o FCB World Creative;
(2) A ONG Ipas fez parte, sim, da carteira de clientes da agência,
sendo que as reunioes eram realizadas no escritório da Giovanni
em Sao Paulo, com o conhecimento de toda a diretoria;
(3) Embora nao entenda os motivos que levaram a agência a
tomar esta decisao diante da conquista de um prêmio tao importante,
o publicitário afirma que a Giovanni tem todo o direito de
devolvê-lo.
Em
seguida, a assessoria de imprensa da Giovanni FCB distribuiu um
novo comunicado, com o qual pretende encerrar a polêmica:
COMUNICADO DA GIOVANNI
A Giovanni,FCB, através de sua assessoria de imprensa, esclarece
de forma definitiva os motivos pelos quais recusou o Leão
de Bronze no Festival de Cannes para a ONG Ipas.
A agência compreende a frustração dos criativos
envolvidos na campanha e sabe da importância da conquista
de um Leão para esses profissionais. No entanto, a direção
geral da agência mantém a afirmativa de que a inscrição
da campanha “Chupeta/Urso/Feto/Ovo” foi autorizada pela
diretoria de criação do escritório de São
Paulo, que pela representatividade do cargo tem autonomia para selecionar
e inscrever as campanhas criadas para os clientes da Giovanni,FCB.
À diretoria financeira cabe apenas a autorização
dos custos relacionados ao Festival, não tendo acesso ou
discernimento sobre as peças selecionadas pelos diretores
de criação.
Da mesma forma, a diretoria de criação tem autonomia
para enviar ao portfólio mundial da FCB as principais peças
criadas para os clientes no Brasil. Geralmente, as peças
não são submetidas à autorização
da direção geral.
Apesar de atender várias ONGs e ter um departamento de Responsabilidade
Social Corporativa, não consta e nunca constou na relação
de clientes da Giovanni,FCB, a instituição Ipas.
Se algumas reuniões foram realizadas nas dependências
do escritório em São Paulo, ocorreram sem o conhecimento
da direção geral. Provavelmente pelo fato de a responsável
pela instituição ser mãe de um dos autores
da campanha. É comum os funcionários da agência
receberem fornecedores (produtoras, veículos, etc), e a direção
geral não costuma ter controle de todos que visitam o escritório.
A Giovanni,FCB recusa este Leão, firme na sua postura de
que a ética vale mais do que qualquer premiação,
por mais importante que seja. E deseja boa sorte aos seus ex-criativos
para que possam conquistar novas premiações, desde
que legítimas.
PARA QUEM VAI O LEÃO?
O que todo o mercado está se perguntando é se o fato
de a campanha ter sido criada por profissionais que já deixaram
a agência é motivo suficiente para a a Giovanni FCB
recusar o Leão.
Claro que não pode ser isso.
Pelas informações que chegaram à Janela, por
trás da decisão está o questionamento que grupos
católicos tradicionalistas teriam feito à diretoria
da Giovanni FCB por ela estar assinando peças de publicidade
defendendo o aborto. Como esta é uma bandeira que não
interessa à diretoria da agência agitar -- com todo
o direito que, afinal, ela tem de estabelecer o seu policy --, não
teria restado à Giovanni FCB outra alternativa que publicamente
repudiar a campanha, deixando claro, nas últimas palavras
do seu comunicado original, que "nunca apoiou a causa a que
ela se refere".
Até o momento, a organização do festival não
se manifestou para confirmar ou não o cancelamento da premiação,
se é que isso é possível, já que considerar
as peças criativas foi uma decisão do júri
e não dos organizadores.
Se a questão for a origem do pagamento da inscrição
das peças, seria possível os criativos envolvidos
reembolsarem a Giovanni FCB e retirarem o nome da agência
da ficha técnica, passando a assinar a campanha como free-lancers?
Vamos aguardar pra saber.
O redator Fabio
Seidl é o enviado (com todo o respeito) especial da Janela
em Cannes 2006.
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