Esta coluna era integrante da Edição Mensal Especial da Janela Publicitária, publicada no jornal Monitor Mercantil.
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Criação carioca se manifesta durante o Festival de Cannes
Diariamente, durante o Festival de Cannes, como já acontece há quatro anos, circulou para a delegação brasileira uma edição especial do Caderno Propaganda & Marketing, editada por este colunista. Em todas as edições, tanto o Clube de Criação do Rio quanto o de São Paulo tinham um espaço livre para os criadores convidados de cada um destes mercados se manifestarem sobre o evento.
A seguir estão as cinco colaborações que a coluna do CCRJ teve durante o festival:
E as produtoras?
Essa é minha segunda participação no Festival de Cannes. Anteriormente na Intervalo Produções, agora na Tec Cine. Ambas, produtoras de comerciais do Rio de Janeiro.
No ano passado, tivemos poucas produtoras cariocas representadas no Festival. Esse ano, a delegação carioca triplicou, tanto em número de criativos quanto de produtores, até por que nasceram novas agências e produtoras no Rio de Janeiro. Aliás, este é mais um sinal muito positivo, pois mostra uma retomada do mercado carioca, com a possibilidade de surgirem novos negócios.
Para um profissional de produtora, estar em Cannes traz inúmeras possibilidades de informações: contato com a propaganda do mundo todo, intercâmbio entre os profissionais, contato com os clientes. Já percebi que tendo um conhecimento maior do que se está produzindo nas categorias em que o mercado da gente atua, podemos apresentar sugestões mais pertinentes para os problemas dos nossos clientes, o que dá mais segurança e credibilidade na hora de uma agência optar por uma produtora ou outra. Parece que a cada dia isso fica mais claro, tanto para as agências quanto para as produtoras.
Só estou sentindo a falta aqui dos-profissionais de RTVC, que pelo volume de trabalho acabam ficando presos nas suas agências. Isso é uma pena, pois são eles que devem ter o discernimento do que é um bom filme e precisam cada vez mais estar em contato com a informação do que se está fazendo no mundo.
Espero que no ano que vem as agências percebam que também tem que investir nesses profissionais e mandem um número maior de RTVCs a Cannes.
Mário Nakamura
Diretor de atendimento da produtora Tec-Cine |
Categoria Cérebro
Cannes já teve seu ano dos macacos, dos cachorros, das formigas, dos mais variados bichos, das trilhas com ópera ou com What a wonderful world, e agora está vivendo seu Ano do Cérebro.
Cérebros se chocando para criticar a prática do boxe, Cérebro feito de mulheres nuas para a revista Sexy, Cérebros de alta qualidade, concebidos por Cérebros de alta criatividade e julgados por Cérebros que, até agora, estão sendo devidamente utilizados. O shortlist do Press and Poster está de altíssima qualidade, parece exposição no MOMA. E o Brasil está fazendo muito bonito nessa exposição, com mais de 15% do total de selecionados e a conquista de 18 leões. Mas o mais importante é que este ano está mais nítida a existência de critério e coerência no júri. Parabéns aos que estão com seus leões, aos que estão no shortlist e aos que, mesmo não estando no shortlit, trouxeram ao festival um nível de trabalho que habilitou o Brasil a ter uma performance tão expressiva. Vencida esta etapa, vamos ver o que nos reserva o júri de filmes. Se este ano o sucesso no primeiro julgamento não se tornar, como vinha acontecendo nos últimos anos, um pretexto para o encolhimento de nossos leões nos filmes, estaremos testemunhando um momento histórico. Não para o Brasil, mas para o próprio festival, que voltará a ser visto - esperamos todos como um evento menos político. Com mais Cérebro e, consequentemente, muito mais categoria.
Adilson Xavier
Vice-Presidente e Diretor de Criação da Giovanni |
Roupas, sapatos e muito poucos acessórios.
Estava eu vendo muitos e muitos filmes e poucas e poucas médias boas em categorias quando, essa manhã, subo ao auditório A para ver roupas, sapatos e acessórios.
Minha vida mudou, o sol brilhou e a felicidade até existe. Logo no começo, uma campanha brilhante de Hush Puppies. Logo depois, Mônica Selles numa perseguição de tênis pelas ruas no filme de Nike. Alguns Nikes depois, lobo mau e três porquinhos.
Passa o tempo e meia dúzia de orientais ridículos e lá vem Diesel, Levis e chuteira Predator da Adidas. Um filme bacana do tênis Dharma tira algumas risadas da plateia que lotava as poltronas, o chão, a entrada e todo o espaço vago do pequeno auditório A.
Tinha até uma campanha oriental (não sei se japonesa ou coreana) de roupa casual engraçadíssima. Mais alguns Levis, um filme de Mizuno brilhante que arrancou aplausos e risos de todos e lá vamos em frente. Cheguei à conclusão que, se tirássemos alguns orientais e todos os italianos do rolo, pretenciosos e péssimos, teríamos já quase um short list da categoria.
Filmes como esses, reunidos todos em uma categoria com muita coisa boa e poucas ideias descartáveis dão a sensação de que todo o esforço para vir até aqui, passar uma semana enfurnado no Palais é pouco. De tarde vou ver farmacêuticos. Ai, caramba, depois de ver essa categoria, vai ser duro.
Gustavo Bastos
Presidente e diretor de criação da GR.3 |
Por que surpresa?
O Rio de Janeiro entrou só com 26 filmes no festival. Dez por cento das inscrições brasileiras. Resultado: nenhum finalista.
É pra ter surpresa? O Rio é uma cidade que há anos não preserva as pessoas de criação, que vive exportando pessoas de criação e produção para outros estados. Onde as agências não investem em criação.
Como é que a gente vai poder consertar isso? Fazendo como em São Paulo, onde as agências investem. Os dirigentes da propaganda carioca vão ter que criar condições para que seus profissionais de criação possam crescer. Isso interessa a eles. As agências de São Paulo crescem por quê? Criação forte interessa tanto às agências quanto aos clientes.
O Rio sempre foi um centro absolutamente criativo. Muita gente já foi para São Paulo e não é mais na volta deles que temos que pensar e sim em acreditar na base, nessa garotada que está começando. O dirigente carioca tem que voltar a acreditar que precisa investir na criação. Estimular que seus criadores viajem, se informem se preparem, se equipem.
A agência toda, do boy ao dono, tem que tentar colocar pra fora as soluções mais criativas. O atendimento tem que correr junto com a criação, para não apenas aprovar uma campanha, mas aprovar a melhor, a mais criativa, a mais atrevida dentro do que for pertinente para o cliente. E isso não acontece no Rio. Talvez o fato de termos perdido tantas indústrias acabou tomando a gente menos competitiva.
As agências do Rio têm que voltar a entender que o diferencial de uma agencia está na sua criação. Ninguém entrega a conta pra uma agência por causa da mídia.
Chico Abreia
Vice-presidente de criação da Artplan. |
A virada do Rio de Janeiro
A delegação desse ano deve ser uma das mais numerosas que o Rio já trouxe para Cannes. E infelizmente, foi uma das piores performances. Uma performance que não combina com os grandes talentos que a gente tem. O que pode estar acontecendo? Eu vejo no Rio de Janeiro uma recuperação do mercado, uma euforia nas agências, troca-troca, uma geração nova e talentosa chegando.
(Fiquei feliz de ver boa parte dessas garotada aqui em Cannes).
Tem muita gente criando, virando noite, correndo atrás do melhor anúncio, do grande filme. Vejo os dirigentes investindo cada vez mais em criação, pagando melhores salários, formando grande equipe. Vejo os clientes querendo boas ideias, diferentes, inusitadas. Vejo muita coisa boa vindo por aí.
Onde eu quero chegar com isso tudo? É que eu acredito muito numa virada do Rio de Janeiro. Aliás, acredito não. Ela já está acontecendo. Ela acontece todo dia de manhã, quando eu chego na Salles e vejo a meninada com uma vontade de criar contagiante.
Quando eu ligo pra Contemporânea às 11 da noite e tá todo mundo lá. Quando encontra a galera da DPZ cheia de gás.
Talento a gente a sabe que tem.
(Quantos cariocas estão brilhando em SP?).
Vontade então nem se fala. E com essa recuperação que já começou a aparecer, uma performance como a desse ano tem tudo pra nunca mais acontecer.
Otimista, sim. Por que não?
Rodolfo Sampaio
Redator da Salles/DMB&B. |
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