Esta coluna era integrante da Edição Mensal Especial da Janela Publicitária, publicada no jornal Monitor Mercantil.
O seu conteúdo foi escaneado e transcrito para ficar à disposição de consultas pela internet.
De baratas, inseticidas e vovó.
Comerciais de baratas já vimos aos montes. Quase todos cheios de explicações sobre novas fórmulas eficazes e imbatíveis contra insetos. Se a gente acreditasse mesmo nos comerciais de inseticidas, ou melhor, se os inseticidas fossem tão extraordinários quanto avisam suas mensagens, sem dúvida já não haveria mais insetos no planeta. Especialmente as abomináveis baratas.
Infelizmente, ou felizmente para o tal equilíbrio ecológico, esses bichinhos continuam aí apesar das miraculosas fórmulas apregoadas pelos comerciais. Parece que até em muito maior quantidade, quantidade maior que a suportável, maior pelo menos que a tolerância de uma mulher.
Mulher não gosta de insetos. Existem até umas mais corajosas do que outras. Mas mulher não gosta mesmo é de barata. Não gosta é pouco. Mulher tem horror de barata. Tem pânico. Tem nojo. Tem medo. Tem repulsa. Tem paranoia. Tem qualquer coisa. Mas tem. Duvido que exista uma mulher que fique indiferente à presença de uma barata. Há até as que matam baratas. Corajosas essas. Há as que gritam. Histéricas sem dúvida. As que sobem em cadeiras. Medrosas demais. As que saem do lugar onde uma estiver. Algum bom senso essas tem. E há as que paralisam completamente, perdem a ação e fazem um lindo estado de choque. Covardes essas aí. Enfim, não convide mulheres e baratas para a mesma mesa. Você ganhará uma inimiga mortal. E não será a barata.
O que fazem, pois os comerciais de inseticidas. Fazem exatamente isso. Misturam mulher e barata na telinha, na mesma historinha que tem o comercial. Eu estava olhando o novo comercial do Matox. Um produto pouco famoso com um nome no mínimo insinuante - que lembra morte iminente (das baratas) - que aparece num comercial medíocre, mal realizado, sem grandes artimanhas comunicativas, truques ou sequer efeitos especiais. Um comercial que seria apenas mais um se não estivesse cheio de baratas. E puseram as baratas ali de propósito. Quer dizer, baratas como estratégia de comunicação, de emoção, de susto, de impacto, tratamento de choque para o publico feminino. E faz logo um belo efeito. Eu, que me incluo no grupo das covardes, as que perdem a ação diante de uma barata, levei logo o choque e me interessei de imediato para saber o que aquela gente queria colocando baratas descarada e repulsivamente na telinha da casa da gente. E fiquei logo também interessada no produto, o tal Matox que, diz o locutor, matam baratas imediatamente porque as contamina com sei lá o quê. Ela, a barata, contaminada, leva o veneno para o ninho (existe ninhos de baratas? elas têm vida social?) e ali contamina todas as outras. Pronto, avisa o comercial. Morrem aos milhares, borbotões de baratas mortas de pernas para cima, verdadeiro cataclismo entre a espécie. Historinha do Matox.
Acabar com as baratas do planeta é um sonho sonhado por quase todas as mulheres. Ainda apenas sonhado. Até porque quanto mais a gente vê elas morrerem mais elas aparecem, traiçoeiras, de onde a gente menos espera. Um recente especial sobre baratas na televisão explicava que elas são mais rápidas que os humanos e que raciocinam, ou melhor, processam a informação com extrema agilidade. Um horror! Por isso é que nunca conseguimos matá-las na primeira sapatada.
Já vovó gostava de explicar o pavor que mulheres sentem de baratas dizendo que em outras eras elas eram enormes, com cerca de um metro de comprimento ("dá prá ser feliz pensando nisso") e comiam criancinhas e rações. É bem capaz essa ser verdade.
Enfim, tudo isso prá dizer que o Matox - produto que dissemina uma verdadeira epidemia mortal entre as baratas - acertou em cheio na ideia de assustar as mulheres. O susto aguça a atenção. A atenção faz ver melhor a mensagem. E vendo melhor a mensagem a dona de casa grava o nome do produto. Depois sai por aí comprando Matox e nem sabe o porquê. Só vovó explica!
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