Esta coluna era integrante da Edição Mensal Especial da Janela Publicitária, publicada no jornal Monitor Mercantil.
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Bombril: menos uma utilidade
Pelo menos na nova campanha do Bombril, aquela que pergunta se você sabe por que as mulheres demoram tanto para se arrumar... Pois é, fiquei vendo esta nova mensagem enquanto pensava nas antigas campanhas dessa esponjinha de aço, como elas eram inovadoras, criativas, posicionadas, simples, diretas e bem feitas. E, melhor que tudo isso, eram anti-machistas já que não tratavam a mulher nem como idiota nem como objeto do consumo masculino. Mulher ali era uma consumidora inteligente e capaz da melhor escolha na hora da compra do produto.
Ninguém se esqueceu ainda do Carlos Moreno, garoto-Bombril, que por tantos anos deu credibilidade à marca e trouxe o novo conceito do modelo masculino, bem menos autoritário e paternalista, aos comerciais.
Me lembro que o Washington Olivetto, criador da campanha do Bombril, descobriu na época, final dos anos 70, que o machão brasileiro tão presente na telinha tinha cansado o coração feminino e estava em baixa. Em seu lugar, surgia uma figura mais humana como preferida por nove entre dez mulheres que se prezassem. Humana com agá maiúsculo que muitos, aliás, chamaram de figura mais feminina, acho que eu também, mas que era a novidade que se apresentava com bom Ibope entre as consumidoras do lar.
Como a propaganda está sempre copiando a vida, lá veio o desajeitado garoto-Bombril mexer com as expectativas femininas, especialmente as das donas de casa. E fez o maior sucesso. Caiu feito luva nas mensagens de produtos de limpeza, até então metidas a científicas, cheias de letras e siglas diferenciando a fórmula do produto, coisa que dona de casa nenhuma se interessava por saber.
E as campanhas do Bombril se sucederam em qualidade, bom senso e muito prêmio, um atrás do outro reconhecendo o belo trabalho das agências - DPZ e W Brasil - que tinham a conta do Bombril.
Por tudo isso que não dá pra ver agora a nova mensagem desse produto. Quando a vi pela primeira vez até fiquei intrigada com a pergunta que vem logo ao início do comercial: “Você sabe por que as mulheres levam tanto tempo para se arrumar?" Sem dúvida é verdade que as mulheres levam muito tempo para se arrumar. Como é verdade também que nunca ninguém tinha pensado na resposta a tal pergunta. Mas o próprio comercial responde. E apela. Diz que levamos tanto tempo para nos arrumar porque com Bombril na pia gastamos menos tempo na cozinha... Uau! Doeu no ouvido, mas doeu muito mais no coração, na moral, no orgulho, no tempo perdido na luta pela evolução e pela liberdade da gente.
Fiquei danada! As mulheres levam sim muito tempo para se arrumar. Mas levam esse tempo todo porque é complicado. Tem cabelo, maquiagem, roupa, sensualidade, beleza, sapato, lingerie... O diabo. Depois, porque sempre que vão se arrumar as mulheres ficam inseguras, têm dificuldade de escolher tudo isso que citei aí na outra linha. Também levam mais tempo porque as mulheres na verdade não se vestem para elas mesmas. Nem para os homens, como muitos pensam. As mulheres se vestem para as outras mulheres. Para competir com elas, para superá-las, para chamar a atenção das outras e ser a melhor da noite. E mais: tem ainda a esperança do milagre, da transformação, de conseguir naquele momento a varinha de condão que vai trazer beleza, elegância e sensualidade. Enfim, uma tarefa que acontece movida bem mais por motivos psicológicos do que propriamente por questões práticas como pode parecer. E você quer que não demore um bocado? O que então o Bombril tem a ver com isso? Absolutamente naaaaada!!!!
Pode perguntar da Zona Norte a Zona Sul, do Norte ao Nordeste, a mais ingênua dona de casa ou mais perfeccionista empregada doméstica. Bombril é ótima esponja de aço, ajuda muito na limpeza e chega!
A pergunta é boa. Dá até para ficar pensando nela. Mas a resposta é desastrosa e falsa. Não resiste à mais rápida reflexão. Mas é a nova campanha do Bombril, não é? Então só resta procurar saber: Cadê o Carlos Moreno? E o velho Olivetto, meu Deus, cadê?
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