Janela Publicitária    
 
  Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
 

Janela Publicitária - Edição de 05/JUL/1991
Marcio Ehrlich

 

Esta edição da Janela Publicitária foi publicada originalmente no jornal Monitor Mercantil.
O seu conteúdo foi escaneado e transcrito para ficar à disposição de consultas pela internet.

Procura-se um candidato desesperadamente no Rio

A falta de candidatos à eleição da ABP, que deveria ter ocorrido no último dia 1º, fez o presidente da associação, Elysio Pires, desistir da sua isenção no processo para iniciar gestões que permitam, no dia 1º de agosto, a presença de pelo menos um candidato à sua sucessão.
Nos próximos dias, Elysio Pires estará entrando em contato com as demais lideranças publicitárias cariocas para definir o que parece ser o grande vácuo da questão: O que o mercado espera da ABP?
Enquanto esta simples pergunta não for respondida com um mínimo de consenso pelos publicitários cariocas, não se poderá definir, com precisão, qual o perfil do publicitário capaz de dirigir a associação.
Este tema também foi assunto de debates entre alguns publicitários cariocas que se preocuparam em levantar nomes para compor uma chapa para o último dia 1º. Segundo soubemos, eles também tiveram - como em todas as eleições da ABP - uma reunião em torno de Luiz Macedo, presidente da MPM, maior agência de propaganda do país, a eminência parda óbvia de qualquer processo de eleição publicitária.
As cartas colocadas na mesa não foram muito diferentes de em outras oportunidades. Afinal, lideranças não surgem a toda hora, e quem já dirigiu alguma vez uma associação de classe é sempre carta boa para uma nova aposta.
Nesta reunião, porém, logo de cara, alguns nomes foram descartados: Clementino Fraga Neto, da Pubblicità & Esquire, porque é o atual presidente do Sindicato das Agências. Jomar Pereira da Silva, da Expressão, porque preside a ABM. E Valdir Siqueira, da VS Escala, porque ainda está presidindo a ABAP-Rio. A ABP não pode estar tão mal que precise de um presidente que a divida com outra entidade.
Entre os presidenciáveis, Edeson Coelho teve que ficar de fora porque Roberto Duailibi o quer agora exclusivamente para tocar a DPZ-Rio. Armando Strozenberg, da Contemporânea, que teria um bom perfil para presidir a ABP, recusou o convite, por não se sentir disponível, no momento, para esta responsabilidade. Outro nome cotado foi o de Paulo Giovanni, presidente da Giovanni & Associados, que inclusive tem bom trânsito em Brasília. Mas este aumento de tarefas no Planalto também o está ocupando em demasia.
Como o provável candidato deverá sair da linha de executivos de agências, aqui estão nomes que vão entrar nas especulações: Eduardo Domingues, da Caio; Euler Matheus, da MPM; Roberto Bahiense, da Pubblicità & Esquire; e John Hoyle, da Standard.
Considerando-se que não deverão surgir candidaturas independentes das negociações oficiais, dificilmente o próximo presidente da ABP não estará entre estes quatro nomes.

Elysio critica Collor na festa da ABP

Foram precisos 14 anos de atuação como colunistas publicitários para que nós, da Janela, ouvíssemos, pela primeira vez em público, um dirigente do setor fazer críticas ao governo federal.
Foi o que aconteceu esta quinta-feira, quando o presidente da ABP - Associação Brasileira de Propaganda, Elysio Pires, subiu ao pódio para abrir a festa de entrega do Prêmio Comunicação 91, promovido pela entidade.
Surpreendida, a plateia formada por outros empresários e dirigentes cariocas de propaganda praticamente não reagiu. Nem a favor nem contra. Ninguém interrompeu com aplausos ou vaias. Assim como, ao final, se ouviram nada mais que os cumprimentos de praxe. Uma reação bem razoável para quem parecia não saber se tinha ou não este direito de exteriorizar publicamente alguma crítica ao governo.
Como as palavras de Elysio Pires são bastante claras - inclusive a respeito dos homenageados da festa: a McCann Erickson, a Rede Manchete, a Brastemp e o prefeito Marcello Alencar - o melhor é vocês mesmos lerem o discurso:

Há doze anos consecutivos, a ABP reúne neste almoço empresários e profissionais de propaganda para, na justa homenagem aos agraciados, abrir um momento de reflexão sobre o ano anterior.
Nem o histórico e colorido otimismo dos publicitários conseguiu transformar 1990 em um bom ano. E para esvaziar os mais renitentes otimistas aí está em toda a sua glória sinistra, o primeiro semestre de 1991.
Temos todos vividos os últimos 16 meses sob a égide de um governo que usa a comunicação com aparente competência na vã esperança de que as promessas jamais serão cobradas e de que discurso e ação poderão marchar eternamente por caminhos divergentes.
A interferência explícita e indesejada do Estado na vida de cada cidadão, gerando inseguranças e angústias de pacote em pacote, atingiu um nível que nenhum general de plantão jamais sonhou nos anos negros da ditadura militar.
A livre concorrência, o mais eficaz Código de Defesa do Consumidor, foi substituído pelo controle de preços que inibe a competição e estimula a corrupção.
Com o pretexto de atingir o objetivo desejado por todos de controlar a inflação aplicou-se mais uma vez o recurso primário do congelamento de preços.
Para "organizar" a economia, os preços são divididos pelo gerente de produto oficial em liberados, vigiados e controlados.
O mercado continua aguardando a medida provisória milagrosa que faça uma empresa continuar vendendo produtos por preço inferior ao seu custo e - o mais surrealista - continuar anunciando esse produto.
Se a presença salvadora do Estado desse algum resultado o Muro estaria de pé, Gorbachov e Yeltsin não existiriam e a Polônia não teria transformado, esta semana, o edifício do Partido Comunista na sede da Bolsa de Valores de Varsóvia.
Mas, nem todas as notícias dos últimos 18 meses são tão desagradáveis. Os pilotos brasileiros não param de subir nos pódios de todo o mundo e os eternos adversários das house-agencies, todas nascidas à sombra dos 20% da lei, estão comemorando a estranha doença que está liquidando uma a uma, da cervejaria ao supermercado.
Temos bons motivos para comemorar 1990 no trabalho de cada um dos nossos homenageados.
A McCann foi escolhida a Agência do Ano de 1990 e talvez pudesse ter sido a Agência do Ano em vários dos seus 56 anos de Brasil. Quantos dos melhores profissionais do país, vários aqui presentes, não passaram pela "escola" da McCann. A performance da McCann tem a ver com a sua tradição mas, tem também, certamente, muito do profissionalismo desse exemplo de macaniano que é o Jens Olesen, que nesse sua segunda estada no Brasil levou a McCann aos seus melhores momentos no país; nos fazendo, inevitavelmente, lembrar da figura de Armando Moraes Sarmento. Parabéns Jens, tenho a premonição que você vai repetir o caminho do nosso Armando.
Durante o último Festival Brasileiro do Filme Publicitário um anunciante mostrou toda a sua disposição de apostar nas suas agências e estimular a criatividade das suas equipes.
As peças publicitárias da Brastemp, especialmente a magnífica e premiada campanha de uma máquina de 1º mundo - a Brastemp Mondial, levaram a Diretoria e o Conselho da ABP a escolher unanimemente, como aliás sempre foram feitas as escolhas de todos os premiados com Prêmio Comunicação, a Brastemp como anunciante do ano. Que o Dr. Wagner Denys, Diretor de Marketing da Brastemp, transmita ao Dr. Ywens Freitag, que hoje se encontra no exterior e a toda a diretoria da Brastemp, os nossos cumprimentos pelo seu relacionamento ético e estimulante com suas agências.
Ao Adolpho Bloch, quero declarar que a escolha da Rede Manchete foi a opção pelo óbvio. Os diretores e conselheiros da ABP sabiam que 1990 não foi para a Manchete apenas o ano desta obra bonita, empolgante, original e sedutora que é Pantanal. Foi o ano da consolidação da Rede, das mini séries, do jornalismo moderno e responsável do Jornal da Manchete e da novidade provocante do Documento Especial. Peço licença ao Adolpho para cumprimentar daqui o símbolo dessa equipe, meu querido companheiro Expedito Grossi.
Mas, a melhor notícia para esta cidade em 1990 foi, com certeza, a sua redescoberta. A convicção de que era possível voltar àquele Rio cantado por todos os poetas do Braguinha a Tom Jobim.
E o responsável pela saída da falência para a confiança no futuro é o prefeito de todos nós, independente de nossas preferências político-partidárias.
Prefeito Marcello Alencar, pelo renascer da esperança no coração de todos os cariocas receba hoje o nosso carinho e o nosso abraço. Muito obrigado.

MKTMIX

• ABRIL SE PADRONIZA - A partir da edição 1187 de Veja, a Editora Abril passará a gravar os seus cilindros de impressão no sistema Helíoklischograph - HK (gravação eletromecânica), passando a utilizar fotolitos ao invés de fotofilmes. Com a passagem de Veja para HK, a Abril estará utilizando fotolitos para todas as suas publicações,
• FORTIFICANTE DE MEMÓRIA - Os pais de Rogério Steinberg - Jacob e Clara Steinberg ­ doaram todos os móveis que foram da Estrutural para mobiliar a Associação Nacional Memória da Propaganda, que Aurea Helena Silveira está dirigindo no Rio. A entidade começa a funcionar na Rua Sambaiba, 472, no Leblon, com o telefone 511-2979, e já conta com cerca de 7.000 comerciais veiculados desde a década de 50 até os dias de hoje, mais livros e revistas especializadas sobre a história da propaganda brasileira, muitos dos quais, aliás, doados pela Dinâmica de Comunicação, este colunista e Marcia Brito.