Janela Publicitária    
 
  Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
 

Janela Publicitária - Edição de 13/ABR/1991
Marcio Ehrlich

 

Esta edição da Janela Publicitária foi publicada originalmente no jornal Monitor Mercantil.
O seu conteúdo foi escaneado e transcrito para ficar à disposição de consultas pela internet.

ABP convoca sócios para mudar Estatutos

O presidente da ABP-Associação Brasileira de Propaganda, Elysio Pires, está convocando os associados da entidade para uma Assembleia Geral Extraordinária, no próximo dia 8 de maio, às 18 horas, na sede da Avenida Rio Branco, 14/17º andar.
O objetivo da reunião é modernizar a ABP. E, pra conseguir isto, o Estatuto deverá ser mudado. O projeto de reforma está à disposição dos sócios para exame, na própria sede da ABP.
Como a convocação chegou a esta coluna em cima da hora do fechamento, vamos deixar para detalhar estas mudanças numa próxima edição. De qualquer modo, Elysio deixa claro que o projeto de reforma teve cinco princípios:
1 - Atualização de linguagem.
2 - Eliminação de compromissos e promessas que parecem fugir à nossa realidade.
3 - Mais clara definição de responsabilidades e atribuições dos associados eleitos para os cargos diretivos.
4 - Incorporação à ABP da categoria de sócios estagiários (estudantes).
5 - Simplificação da estrutura diretiva da ABP.
Como o atual Estatuto exige, a convocação das 18 horas é para um mínimo de uma quarta parte dos sócios quites. Mas a reunião não corre o risco de não acontecer. Meia hora depois há uma segunda chamada, e a Assembleia se instalará com quem estiver lá, sejam quantos forem.
E quem não for depois não vai poder reclamar.

A realidade mudou. E agora, o que fazer nas associações

Que publicitário representa o que é a propaganda brasileira atualmente?
Esta pergunta surgiu na minha cabeça depois de acompanhar noticias, vindas de São Paulo, do desencanto de Petrônio Corrêa, o presidente da MPM - maior agência brasileira em faturamento ­ com seus colegas, os empresários da propaganda, quando entram em pauta os problemas da atividade e, em particular, da entidade que os representa, a ABAP-Associação Brasileira de Agências de Propaganda.
O questionamento de Petrônio se devia à convocação que recebeu da atual diretoria da associação - presidida por Luís Celso de Piratininga - para se candidatar à sucessão, como chapa única. Tentando montar uma chapa, ele só recebia desculpas de compromissos excessivos dos demais publicitários para não participarem. E apenas depois de botar a boca no mundo é que Petrônio conseguiu apoio - pelo menos em promessas - para consolidar uma chapa.
É claro que estas dificuldades têm uma significação maior que serem reflexo de uma crise econômica no setor publicitário que estaria "ocupando mais os diretores das agências com seu próprio negócio".
Mais parece que as associações de propaganda ­ assim como muitas entidades de classe atualmente - não estão conseguindo convencer seus membros da importância que elas possam ter, para merecerem receber deles algum tipo de envolvimento.
No caso da propaganda, então, a crise das associações é notável. Cada vez mais fica clara a defasagem entre os ideais defendidos pelas entidades e a realidade que o mercado vem praticando.
Por exemplo: sob o Governo Collor, a lei 4.680 (que já não vinha com boa saúde) foi fortemente metralhada, e jogada em agonia irreversível para a morte absoluta. Apesar disto, os atuais líderes eleitos da propaganda brasileira ainda insistem em acreditar que isto não é verdade, e sempre que possível se manifestam em defesa do cumprimento da lei.
Quer dizer, eles até devem saber que a lei não é mais representativa da realidade, mas alguma força oculta leva a que não admitam isto, como se fosse possível o negócio da propaganda ser comparado ao que foi como ideal na década de 60.
Mas o que se vê na propaganda brasileira, hoje, é bem diferente. A concorrência da Vasp, então, decidida esta semana, foi de uma realidade acachapante.
A cobiçadíssima verba de 7 a 10 milhões de dólares da empresa aérea foi parar na DM-9, uma das agências mais indiscutivelmente ativas do momento. Principalmente porque seu diretor Nizan Guanaes, além do excelente currículo criativo, jogou a legislação e as normas éticas tradicionais da propaganda para o alto e aceitou a proposta de apresentar campanha especulativa, de produzir um comercial para concorrer, de abrir mão dos honorários de 15% de produção e de negociar os 20% de veiculação em troca de arriscar a ganhar um percentual - talvez de até 30% - sobre os ganhos que a Vasp vier a ter como resultado da campanha que a agência criar.
E mesmo sabendo das heterodoxas exigências de Wagner Canhedo, presidente da Vasp, outras três agências do maior respeito ficaram até o final como pretendentes à conta: a Salles, a Artplan e a Propeg.
A realidade, hoje, é, também, aceitar sem qualquer disfarce a parceria com house-agencies, para ter acesso a anunciantes de porte. Estão ai a Contemporânea, a W/Brasil e a Talent - três agências importantíssimas da nossa atual propaganda ­ para provar isto em relação à Antarctica, que continua com sua house Progress para veicular os comerciais que as outras criarem. A atual campanha de refrigerantes da empresa foi criada pela Contemporânea e, enquanto isso, a Antarctica está estudando com a W/Brasil, de Washington Olivetto, e a Talent, de Júlio Ribeiro, inclusive campanhas para suas cervejas.
Talvez seja um bom momento para os líderes da propaganda repensarem os caminhos das suas entidades, como está fazendo no momento a ABP (veja matéria acima).
A última coisa que a atividade publicitária precisa, neste momento de dificuldades, é de entidades de classe apenas formais. Afinal, as associações existem para representar a atividade.
Não o contrário.