Esta edição da Janela Publicitária foi publicada originalmente no jornal Monitor Mercantil.
O seu conteúdo foi escaneado e transcrito para ficar à disposição de consultas pela internet.
Código do Consumidor vai precisar de consumidores
A promessa da entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor em março do ano que vem continua sendo um assunto que não sai da ordem do dia de qualquer empresa que trabalhe com produtos de consumo.
O número mais recente da revista SuperHiper, que é o órgão oficial das empresas brasileiras de supermercados, saiu com uma matéria enorme discutindo o Código, pra prevenir os seus associados. Afinal de contas, cada vez mais os supermercados vendem de tudo, de motocicleta até palito de dentes, e é muito alta a possibilidade de cair nas costas deles o peso da nova justiça.
Eu aqui, como comentarista, não consigo entrar de cara na alegria de que, com o Código, todos os problemas do consumidor brasileiro estarão resolvidos antes mesmo de acontecerem.
Nem tanto por causa do Código em si, mas porque, para haver defesa do consumidor, é preciso que o consumidor tenha antes a consciência de que tem seus direitos e merece ser respeitado. E, quando não for respeitado, pode usar a justiça pra se defender.
E essa consciência de consumidor no sentido completo da palavra, não é uma coisa fácil de se conseguir do brasileiro, que mal tem consciência de que é cidadão, e está mais do que acostumado com relações de mercado marginais, ou pouco organizadas, como feiras livres, camelôs, muambeiros, colegas de escritório, produtos sem nota, produto sem marca e por ai em diante.
Brasileiro não lê tudo o que vem nas embalagens e dificilmente lê manuais de instrução dos produtos que compra.
Tirando bula de remédio, é claro, porque ai é literatura nacional.
Mesmo quem faz compras em supermercados não é de saber qual empresa fabrica este ou aquele produto. Pouca gente sabe que a Gessy Lever tem mais de uma marca de sabão em pó colocada lado a lado na prateleira do supermercado. E menos ainda tem ideia de quais são as diferenças entre eles.
Tudo isso sem falar que o brasileiro tem a maior vergonha de reclamar, pra não ser tachado de chato.
Não vai ser só com o Código entrando em vigor que essas atitudes do brasileiro vão mudar. Fica até uma sugestão aqui pra uma campanha de alguma associação de consumidores alertando as pessoas dos direitos que elas vão passar a ter.
Agora, se depender dos supermercadistas, vai sobrar mesmo e para os fabricantes, despreparados, que vão ter que ser organizar. Vejam só algumas das coisinhas que a Associação Brasileira de Supermercados sugere aos seus sócios, pra eles se precaverem:
Primeiro, escolherem melhor os seus fornecedores, evitando produtos não facilmente identificáveis por ausência de marca ou registros no CGC e no órgão de fiscalização competente, como o Dinal.
Mais: controlar rigorosamente a qualidade dos produtos in natura, como frutas e verduras, porque a responsabilidade sobre eles será do próprio supermercado, e não do consumidor.
Outra: formar um banco de dados com as queixas mais constantes dos consumidores para exercer pressão sobre os fornecedores.
E vejam só essa: descartar fornecedores de mercadorias com erros constantes de peso, embalagens pouco resistentes e outros problemas que possam dar margem a reclamações.
... Bom, se tudo isso der certo, vai ser ótimo.
Que venha 1991!
E olha só que estou eu aqui mais uma vez chegando na última coluna do ano junto com vocês, que estão me lendo em casa e no escritório.
Pela primeira vez em muitos anos eu jurei que não vou fazer a gracinha de dizer que o ano seguinte vai ser melhor porque piorar o país não pode.
Todo ano eu falo isso e queimo a língua na castanha quente do Natal seguinte, quando eu olho pra trás e vejo pra onde é que a gente andou.
Mas não dá pra falar muito hoje, porque no Brasil, véspera de festa, festa é.
E se festa é, a véspera da véspera também.
91 esta aí, batendo na porta da gente, e avisando, que nem o Roberto Carlos de todo fim de ano, que daqui pra frente tudo vai ser diferente.
Você vai aprender a ser consumidor, com o código todinho feito em sua defesa; o publicitário vai aprender de vez que o seu orgulho não vale nada e não é só com gravata colorida que vai deixar o cliente feliz; e o cliente que não sabe e nunca procurou saber o que o consumidor pensa ele, vai ter que mudar.
E neste cáustico caos brasileiros, o bom é isso, da gente não poder ter certeza de nada. Só de que é preciso a gente estar sempre, mas sempre se perguntando se a solução de ontem serve pra hoje. E se a de hoje vai servir pra amanhã.
É preciso ser artista, em tudo o que a gente faz.
Que venha 91.
E um lembrete: a vocação do artista não é deixar as coisas apenas suportáveis.
Vamos todos continuar vivos em 91.
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Novidades nas Prateleiras
Pela continência civil
Segundo a Johnson & Johnson, nada menos que 3,5% da população sofre de descontrole sobre a eliminação de urina ou fezes, ou seja, a chamada incontinência.
Sem qualquer metáfora ao pavor vivido pelos brasileiros perante as violências urbana e econômica, em 120 milhões de pessoas, já são 4,2 milhões que não conseguem se conter.
Para este batalhão de brasileiros a empresa está lançando a linha de absorventes descartáveis "Bem Estar", que vem em apresentações separadas para incontinências de leve a moderada e de moderada a severa, sendo esta última com absorvência 50% superior.
Os absorventes "Bem Estar" são produzidos em tamanho único e vendidos em embalagens com 6 unidades. A agência da J&J para este lançamento é a Young & Rubicam.
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