Janela Publicitária    
 
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Na Web desde 12/07/1996.
 

Janela Publicitária - Edição de 16/MAR/1990
Marcio Ehrlich

 

Esta edição da Janela Publicitária foi publicada originalmente no jornal Monitor Mercantil.
O seu conteúdo foi escaneado e transcrito para ficar à disposição de consultas pela internet.

Pra onde vai o Clube de Criação em 1990?

José Monserrat e J.G.de Araujo Jorge
História do Clube: Monserrat e Galvão entregam a J.G.de Araujo Jorge a placa de Sócio Honorário

Muito bem, o homem já tomou posse, hoje de manhã deve ter feito o seu pronunciamento sobre o novo pacote e está mais do que na hora de o ano começar. Ao menos até a semana santa.
Foi justamente pensando nisso que me deu a vontade de levantar, com as tantas associações profissionais da propaganda carioca, o que elas esperam dos seus sócios em 1990.
É isso mesmo, não é o que os sócios esperam delas não, mas o contrário.
Por coincidência, esta semana o Clube de Criação do Rio soltava as cordas do seu movimento eleitoral, preparando-se para a escolha do sucessor de Mauro Matos no dia 7 de abril, mais uma vez enchendo o auditório do Centro Empresarial Rio, em Botafogo.
Henrique Meyer, motor de popa do Clube de Criação carioca, convocou, e fui eu esta quarta-feira ao Zanty, inclusive levando orgulhoso minha carteirinha de sócio devidamente caretada pelo fotógrafo das estrelas cariocas Handam.
Fui, imaginando que veria dezenas de criadores lançando chapas e debatendo acaloradamente ideias como na última eleição, há menos de um mês da escolha.
Nada. Não mais que os trinta Zantyanos da Artplan, DPZ, Contemporânea e Almap/BBDO (sendo que apenas três do sexo feminino) formavam a resistência do Clube, dedicando-se a beber galhardamente seus caros chopes e seus mais caros uísques em papos agradáveis - ah!, as sacadas brilhantes! -, mas nitidamente de expectativa sobre quem se ofereceria primeiro a colocar os guizos no gato.
Gustavo Bastos, candidato natural pela grande votação de 1989, num canto me respondia por que não se relançava: "eu hein, depois do ano passado, aprendi a ficar quieto e esperar..."
Henrique Meyer, outro a quem sempre perguntam por que não assume de vez a presidência do Clube, explica com discrição, modéstia e proverbial sabedoria: "presidente do Clube tem que ser de agência. E de agência grande. Senão no primeiro cartaz o Clube fecha"

Mauro Matos
Mauro Matos deixa o CCRJ com a paz de um bom trabalho

No final, chamei o Mauro Matos pra mesa, pra saber o que é isso de o Rio de Janeiro ter por aí uns 800 criadores, 400 serem hoje sócios do Clube, 300 irem às eleições e cada vez menos romperem a inércia de ir aos eventos do Clube, que - justiça seja feita - a turma do Mauro bem procurou fazer.
Pra começar, nosso Mauro diz que termina o mandato tranquilo, com o arrependimento apenas de não ter dito o que o Washington Olivetto disse em São Paulo no começo da sua gestão no Clube paulista, que ia dedicar ao clube 5 minutos do seu super ocupado dia.
Todos os porquês dessa tranquilidade ele (aprendeu com o Collor?) prometeu que vai dizer de uma vez só no dia da eleição, quando prestar contas do mandato. Mas fez questão de não concordar com quem andou comentando que os encontros do Clube, aqueles Nós da Criação que aconteceram na Cândido Mendes, tenham sido mal sucedidos.
Na profundidade bíblica dos amantes do copo, flor radiante do espírito, definiu: "O carioca gosta de um fracasso".
E voou: "a gente aqui vai pra festa dizendo 'tomara que dê tudo errado', 'nada disso adianta nada!". Hardy Har Har era carioca, é claro. Oh dia, oh vida, oh azar.
Ali na mesa; com a boa companhia ainda do Pedro Bulcão, o homem da Cine-C, a gente ia concluindo que o carioca não consegue conviver com a sua criatividade, com os seus brilhos. "O criador carioca não sabe acreditar no criador carioca", fechava Mauro Matos enquanto a gente descobria que do chopp só restava a espuma na parede dos copos e do uísque só ficara o gelo.
Mas nem a boca seca impedia a ele lembrar que tinha ganho dois Leões com a pequena produtora carioca Anda-luz. Nem assim alguém acreditou mais na Anda-luz. E a pequena produtora carioca fechou.
Tá legal, e daí?
Tudo isso vai sobrar pro Clube. Não. Já sobrou.
E o Mauro mesmo conclui que a primeira coisa que o Clube tem que fazer é redescobrir o que ele é.
A base para o Clube funcionar, Mauro garante que vai deixar. Ele chega a dizer até que foi nisso é que ele se preocupou durante seu ano. Cadastrou gente, abriu para pequenas agências, botou a Tânia, organizou a zorra.
Agora, Mauro acha que o criador carioca tem que responder a duas perguntas:
Primeira: se quer que exista o Clube.

História do Clube: a luta pelo Cartaz de Cinema

Segunda: se quiser que exista, então para quê?
É quase como começar do zero. Esquecer tudo o que o Clube fez porque os tempos são outros.
Aqui pra nós, duvido que metade da atual diretoria, de qualquer das últimas diretorias, saiba tudo o que diz nos Estatutos do Clube de Criação.
Que fará a maioria dos criadores cariocas.
Por isso é que valeria ­ e o Mauro Matos concordar empolgadamente com isso - convocar uma Constituinte para o Clube de Criador do Rio. Com representantes escolhidos pelos criadores, com discussões abertas, e com a vontade de encontrar saídas para que os papos sobre o que está acontecendo com o Clube de Criação possam ser alguma coisa mais do que papos sobre o que está acontecendo com o Clube de Criação.
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Grupo de Mídia, Grupo de Atendimento, CDF, Apro, ABP, Abap, Sindicato etc, preparem-se, que ainda vem a vez de vocês.