Esta edição da Janela Publicitária foi publicada originalmente no jornal Monitor Mercantil.
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TV e povão inspiram Abrahão a criar campanha do Nojento.

Marcos Abrahão, ao lado dos nojentos Tião Macalé e Marina (vestida de Xuxa), e do RTV da Pass, Renato Ruzzi.

Tive a oportunidade de conhecer Marcos Abrahão, criador na agência Pass da campanha do "Nojento" e o publicitário que mais tem surpreendido e sacudido este tempestuoso mercado de ilusões com suas paródias humorísticas para as ofertas dos Supermercados Disco.
Antes de conhecê-lo havíamos trocado algumas palavras por telefone e, por telefone mesmo sentir de cara que Marcos Abrahão deveria ser, no mínimo, uma pessoa muito sensível e educada. Dito e feito, Marcos me atendeu justo no mesmo momento em que recebia, comprado pela própria Pass, um exemplar do Dicionário de Símbolos de Jean Ghevalier e Alain Gheebrant, que a José Olympio acabara de tirar do forno. Observei sua biblioteca e, meninos, eu vi uma imensa coleção de anuários internacionais, enciclopédias sobre assuntos os mais variados possíveis, revistas de arte e dicionários de fazer babar muito diretor de criação de agências da melhor qualidade que temos por aqui.
Este quase biólogo de 28 anos, que há 9 começou a trabalhar no Disco como auxiliar de serviços gerais para manter sua família, é, há 5 anos, o responsável pela redação de todas as peças do Grupo Disco e, apesar do estrondoso sucesso de sua última criação - o Nojento -, encara com total simplicidade e humildade (coisa que mais falta a certos outros criadores) o sucesso de seus comerciais.
Tidos como geniais por pessoas como o também celebrado baiano Nizan Guanaes, os comerciais de Marcos têm proporcionado muita alegria quando aparecem no vídeo com seu humor irreverente. Eles também estão trazendo muita felicidade para os atores Marina e Tião, para todo o pessoal do Disco e da Pass Propaganda e, evidentemente, para o próprio Marcos, que já possui dados demonstrativos da excepcional aceitação e favorecimento da imagem da empresa.
Marcos confessa que, quando teve a ideia de criar o "Nojento", ele, na verdade, estava em um momento muito triste de sua vida.
"Minha mãe estava muito doente e, repentinamente me deu uma sensação de perda, de vazio, de solidão muito grande. Eu já havia perdido o meu pai, e foi como se a vida estivesse me levando tudo o que ainda me restava de bom, de um tempo em que nossa família se sentava à frente da televisão para nos deliciarmos com os programas humorísticos da época. Meu pai admirava muito o Tião Macalé desde o tempo em que ele chamava a Marina de crioula difícil. Assim, eu busquei nos personagens do Tião e Marina resgatar um tempo feliz, muito feliz de minha vida e da vida de milhares de brasileiros. E vou continuar por tempo ainda indeterminado levando ao público do Disco esta mesma alegria que tanto eles e acredito que todos nós estamos precisando".
Marcos é plenamente consciente de sua condição de "peixe-fora-da-água", por, só agora, depois de muito tempo, ter tido a oportunidade de mostrar um de seus trabalhos.
"Se a diretoria do Disco aprovasse o que eu tenho dentro daquelas gavetas", diz ele, "aí é que o mercado, que me tem como de fora, iria se surpreender. Mas, veja vem, neste departamento eu trato de tudo que se refere a redação. Textos de cartas, de ofertas, de promoções, enfim, o que o Grupo Disco precisar em matéria de texto eu faço. Sou um apaixonado pelas palavras e, confesso que elas me fascinam tanto que eu prefiro ficar lendo durante o meu horário de almoço do que ficar marcando almoço por aí para tentar fazer relações públicas de mim e do meu trabalho. Pode ser que eu até esteja errado, mas tenho me envolvido mais é com Gabriel Garcia Marques e Jorge Amado, como autores de cabeceira, mesmo. Já li cinco vezes Mar Morto. Admiro como eles tratam a palavra com tanta simplicidade. Eu entro em verdadeiro devaneio com síntese de raciocínio e delírio literário de Garcia Marques, por exemplo no espetacular "Cândido Erendira e sua avó desalmada", Para mim, pessoas como eles na literatura, ou Caetano Veloso e Milton Nascimento na música, são os verdadeiros gênios da criação pela grandiosidade dos textos e enredos que são capazes de formular."
Mas todo o sucesso da campanha do Nojento ainda não trouxe para Marcos a equiparação do status publicitário que o sucesso normalmente traz.
"Eu não tenho a situação financeira que muito redator tem, mas acredito que, com talento ainda chegarei lá". Na minha realidade, eu tenho mesmo de enfrentar um ônibus e, diariamente, sair da Tijuca para trabalhar em São Cristóvão. Fico no ônibus observando as pessoas do povo e me identifico com elas, na medida em que temos os mesmos problemas financeiros. Agora, o que é terrível para mim é que gosto de teatro e adoraria ter dinheiro para poder assistir a boas peças, bons filmes. Hoje, tanto o teatro quanto o cinema estão muito caros para as pessoas sem muito poder aquisitivo.
Afirmando ser um "filho da televisão", Marcos vê este veículo como a invenção do século e a salvação da pátria dos menos privilegiados.
"Além da função social do veículo, que poderia ser mais bem explorada pelas redes de televisão, eu acho que televisão hoje é a principal diversão da classe em que vivo. Eu, por exemplo, curto tudo. Em casa, quando acordado, estou também com ela ligada. E o que mais gosto de assistir são os filmes. Se não fosse a televisão, eu pergunto como é que o pobre - que é a grande massa deste País - poderia ter acesso à cultura ou mesmo assistir a filmes de grandes produções e ao trabalho de incríveis diretores? "Eu me inspiro na televisão para desenvolver o meu trabalho, assim como nas pessoas que como eu, andam de ônibus".
Agora, fica para os teóricos explicarem como é que o "Nojento" conseguiu tanto sucesso também entre os intelectuais e os outros publicitários, a ponto de vários criadores comentarem conosco que "gostariam de ter criado aquelas peças". São os mistérios da genialidade. (M.B.)

Janela da Criação

A chamada continua valendo para os criadores-poetas e os poetas­criadores!
Dia 29 de março, o Clube de Criação vai apresentar, no Zanty, a Noite da Poesia. Quem está cuidando do acontecimento, pelo lado dos poetas, é Ulisses Santos (JWT: 529-5520) e pelo lado do CCRJ, é Sérgio de Paula (Giovanni: 293-0159).
Quem for criador de propaganda e quiser apresentar seus melhores poemas deve entrar em contato com um dos dois urgentemente.
• Índio quer agência. A Funai vai abrir dia 3 de março uma concorrência para a escolha das suas novas agências. O Edital está à disposição no Ministério do Interior. Quanto à verba, sempre se dará um jeitinho.

• Delano D'Avila, diretor de criação da Provarejo, nos escreve comentando que "existem oportunidades imperdíveis", e que na maioria delas, "as circunstâncias" não deixam os anúncios criados para elas saírem do rough. Este porém não foi o caso do bem sacado anúncio que a agência criou para a Mesbla Veículos, veiculado no carnaval, e aqui reproduzido. Pelo que dá para perceber na carta de Delano (com um dramático "batalhamos e conseguimos"), houve um grande mérito do atendimento de José Luís Bartolo e Paulo Rezende vendendo a veiculação. Mas que valeu a pena, pois a divisão de veículos da Mesbla foi uma das pouquíssimas empresas que tiveram a inteligência de aproveitar o período de carnaval para se destacarem na mídia impressa.
A criação do anúncio foi do Delano e do Fred Coutinho, com foto de Ricardo Elkind.

• Alberto Novo Cabaleiro Jr., que já foi da Estrutural, Premium, SGB, TV Rio etc, está agora na Bahia, como diretor de atendimento da agência Pejota. Segundo Nélson Cadena, do jornal A Tarde, dizem que será o maior salário do atendimento na Bahia.
• A Giovanni/Módulo espera levar um total de 12 milhões de visitantes às 18 filiais da Casa Mattos nos meses de fevereiro e abril, com a campanha criada por Humberto Barra e Edmilson Vieira da Silva, e que utiliza a atriz Cristina Mullins. No momento está no ar o filme "Volta às Aulas ". A seguir entrará o "As aulas começaram".
• Marcelo Silva, diretor de criação da Premium, e Lula Vieira, diretor de criação da VS Escala, representaram os publicitários no júri das Escolas de Samba do 1º grupo deste ano, julgando Fantasia e Alegorias/Adereços, respectivamente.