• Opinião, por Alice Cidaco: a publicidade ainda reforça o padrão idealizado das mães?

    O Dia das Mães passou e, com isso, um debate sobre a representatividade na publicidade segue em pauta. Segundo dados do VisualGPS, ferramenta de pesquisa da iStock, no BRasil, seis em cada 10 mulheres afirmam que ainda não se veem representadas de forma real nas campanhas publicitárias.

    As homenagens veiculadas na data, embora bem intencionada, reforça padrões idealizados da maternidade, deixando de lado a diversidade de perfis e vivências que existem no país?

    De olho nisso, a Janela convidou Alice Cidaco, Diretora de Negócios e Operações da Propeg – mãe do João Pedro e da Malu – para além de dar a sua opinião, apresentar o lado da publicidade.

     

    “Ao ser convidada pelo Janela para escrever sobre a representatividade da mulher nas campanhas de dia da Mães fiz um exercício rápido do que me vem à mente ao pensar nas peças publicitárias deste dia.

    Será que estamos mudando ou a representação feminina ainda trabalha com os clichês históricos que essa data carrega?

    O fato é que no discurso talvez a nossa resposta seja que sim, que vemos evolução. E não posso discordar totalmente dessa afirmação. Afinal temos visto um aumento, liderado principalmente por grandes marcas, que têm usado essa data para construir abordagens mais humanas, reais e até mesmo dos conflitos que existem ao entrarmos nessa jornada como mães. E mais, até mesmo a diminuição de retratos absurdos de “dona do lar” que não são mais aceitos pela sociedade.

    Porém, percebo que esse movimento ainda é lento perante o massivo número de anúncios diariamente veiculados em que temos vestígios claros das clássicas abordagens que retratam a mãe com uma função unilateral de cuidadora dos filhos e da casa.

    Reproduzir arquétipos e estereótipos “pré-estabelecidos”, sem nos aprofundarmos nas mudanças que vêm acontecendo sobre o papel da mulher na sociedade, é pegar um caminho simplista demais para retratar a complexidade que é ser mãe e mulher. Isso afasta do target e acabamos perdendo todos, mercado e consumidor.

    Representar corpos diferentes, papéis múltiplos, cores, belezas e padrões variados, não só em datas específicas como essa, validam não só a existência dessa diversidade como também começamos a construir a percepção e aceitação na sociedade.

    Quanto mais enxergamos essas representações diversas na vida real mais a indústria publicitária terá referências múltiplas para se alimentar e representar nas suas criações, amplificando e potencializando assim esses exemplos reais. Criaremos um ciclo de amplificação benéfico e que se retroalimenta.

    O último ponto que trago para reflexão, que talvez não seja novidade para muitos e pode soar óbvio demais, é que para diversificarmos a representação das mães nesta data comercial, precisamos ter mais mulheres nesse processo criativo. Afinal, como falar com mulheres sem termos mulheres nesse processo.

    Soa óbvio realmente, né?!

    Apesar de termos um aumento no número de mulheres em agências, poucas ainda estão em papel decisório relevante.

    Acredito estarmos num movimento favorável de maior abertura para essa discussão e de mudanças mais concretas. Sou exemplo disso, pois estou num cargo de liderança em uma agência que tem mais de 60% em cargos de liderança.

    A evolução é notável se compararmos a anos atrás, mas ainda há muito a construir.

    Somos responsáveis por inspirar, moldar, gerar desejo, criar costumes. Que usemos esse nosso “poder” para construir um mundo mais inclusivo, diverso e representativo. E que a mudança comece dentro de casa.

    Publicidade

    Renata Suter

    Jornalista

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