A versão asiática da revista Campaign é que levantou a questão: precisamos olhar com cuidado os vídeos de OOH falsos que estão se espalhando pela internet.
Em matéria da Campaing Asia na última semana, a CSO da McCann Londres, Mel Arrow, chamou a atenção para dois casos que viralizaram na internet recentemente: o das bolsas Jacquemus, em Paris, e o da Maybelline, no metrô de Londres.
Pra quem ainda não viu, na publicidade da Maybelline, um trem de metrô circulava com cílios gigantes na frente, que passavam por uma escovinha de rímel igualmente gigante, tendo na parede um enorme outdoor da marca.
No caso da Jacquemus, bolsas Bambino trafegavam na capital francesa, como se fossem automóveis, com toda a tranquilidade, passando exatamente perto da marca pintada no chão.
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Em seu texto, aliás, Mel Arrow sequer chegou a citar — talvez por não ter visto — o caso que aconteceu no Brasil, com a Adidas colocando seus tênis para cruzar com os bondes no alto dos Arcos da Lapa.
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Todos eles tiveram uma coisa em comum: levaram milhares de pessoas a compartilhar as imagens, elogiando efusivamente que fantásticas foram as interferências daquelas marcas nas cidades em que as filmagens teriam acontecido.
E as três precisaram que profissionais de comunicação se manifestassem, assustados, alertando aos demais que tudo se tratava de CGI, ou seja, Computer Graphic Imagery, ou simplesmente Computação Gráfica, como chamamos em português.
Aparentemente, o termo Fake OOH, ou FOOH, foi lançado pelo próprio autor das peças da Jacquemus e da Maybelline, Ian Padgham, um californiano vivendo na França e com uma incrível capacidade de geração de imagens digitais.
Padgham chegou a afirmar que “numa época em que experimentamos e compartilhamos tudo online, as campanhas FOOH podem acabar sendo a maior tendência em publicidade online”.
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Apesar de se declarar empolgada com o potencial dos FOOH, a diretora da McCann lembrou em seu depoimento para a Campaign Asia que essa tendência quebra a confiança que o consumidor precisa ter na publicidade. Não por acaso, ela destaca, não faltaram comentários desapontados por quem descobriu depois que as imagens não eram reais. “A magia se perdeu”, citou a publicitária.
Quando vemos tanta discussão nas redes sociais e na mídia sobre fake news — a ponto de o G1 ter uma editoria “Fato ou Fake” –, além de o Congresso Nacional estar debatendo uma Lei das Fake News (PL n° 2630, de 2020), como fica a publicidade fake?
Marco “Pernil” Giannelli, chief creative officer da AlmapBBDO, uma das mais premiadas agências brasileiras, comentou com a Janela que qualquer novidade, como as capacidades atuais da computação gráfica, sempre trará questionamentos e diferentes pontos de vista, com argumentos contra ou a favor.
“Essas discussões são muito positivas. No entanto, acho que jamais devemos censurar a criatividade e imaginação de quem cria conteúdos tão interessantes e eficientes para as marcas. Sim, talvez haja a necessidade de uma regulamentação para isso. Mas espero que ela não acabe com a graça e o encanto de tantas ideias incríveis que temos visto recentemente”, afirmou o criativo.
É claro que, em um mundo ideal, como em todas as situações de compartilhamento de notícias falsas, o consumidor deveria verificar se houve outras versões daquela história circulando pela internet. Ou seja, há outras provas de que aquilo realmente aconteceu?
Este jornalista mesmo, quando começou a circular no Brasil o vídeo da Adidas, alertou em comentários que apenas o canal da marca exibira aquela mesma tomada de câmera. E que estranhamente — proposital ou falha? — uma das meninas do grupo que aparecia na postagem, como se estivesse gravando a cena em seu celular, usava uma camiseta com que logo nas costas? Da própria Adidas!!