Exatamente 50 anos atrás, em 19/01/1972, 24 profissionais de 16 agências se reuniram no Rio de Janeiro para fundar o “Clube dos Media-Rio”, representando a atividade que, em algum momento dessa história, mudou de nome para “Mídia”. Foram eles:
• Abaeté: José Antônio Leão Ramos • Alcântara Machado: Walter do Nascimento Dias • Aroldo Araújo: Manoel Tato • Benson: Maria Salomé Gimenez • Denison: Antônio Luiz Accioly Netto • Grant: Mario Rezende • Herald: Leda Maria Branda • JMM: Carlos Martins Castro • J.W.Thompson: Gualter Leão, Altair T. Silveira , Carlos Azevedo, Marçal Saback, Zamila Azulay e Ulisses Santos • Labor: Alcina Machado • MPM: Roberto Rodrigues (não compareceu, mas enviou telegrama corroborando a idéia) • Mario Provenzano: Mario Provenzano • Mauro Salles/Interamericana: Luiz Carlos Pimentel e Maria da Conceição • McCann Erickson: Altino João de Barros, Manuel Costa e Heitor Perez • SGB: Luciano Guimarães • S.J.Mello: Mario Aragão • Standard, Ogilvy & Mather: Mario Makoto |
A data vai ser comemorada pela entidade durante todo este ano de 2022, conta para a Janela o atual presidente do GM-Rio, Antonio Jorge Alaby Pinheiro.
Além de todas as suas comunicações já estarem acompanhadas de um selo que cita os 50 anos, o GM-Rio pensa em — se a Covid-19 não atrapalhar os planos — fazer uma grande festa em conjunto com a comemoração do Dia do Mídia, festejado em 21 de junho.
Além disso, diz Antonio Jorge, continuarão sendo realizaos os Mix de Mídia — virtuais ou presenciais — para “ampliar a relevância dos profissionais de mídia no negócio de comunicação neste novo cenário”.
O que mudou de lá para cá?
A Janela aproveitou a data para pedir depoimentos a alguns profissionais de mídia do Rio sobre o que era ser mídia nos anos 1970 e o que é agora, em 2022.
E, ao final, conseguimos um depoimento histórico de Antônio Luis Accioly Neto, a única testemunha viva daquele momento de fundação, 50 anos atrás, com os bastidores do que aconteceu.
E se você, leitor, viveu essa transição, fique à vontade para também deixarem seu depoimento nos comentários, logo ao final da matéria.
FÁTIMA RENDEIRO, ex-presidente
Se fizermos a comparação do cenário midiático dos anos 70 com os tempos atuais, a principal constatação é que, no ecossistema midiático contemporâneo, os meios exclusivamente massivos perderam poder e controle. E isso se deve ao fato de que, mais do que nunca, o conhecimento e a informação crescem de forma exponencial e se propagam de forma fragmentada. Hoje, é impossível atuar de forma isolada. Portanto, diálogo e colaboração são as palavras do momento.
Em 1972 enviávamos cartas pelo correio; hoje mandamos mensagens de áudio e vídeo pelos aplicativos. Cartas eram longas, porque as oportunidades de contato eram espaçadas no tempo. Mensagens são curtas, porque a interação é rápida. Em 2022, os profissionais de mídia precisam conhecer o ecossistema e entender os negócios que ajudam a promover, otimizando a utilização dos recursos à disposição (tal qual em 1972).
Ou seja, de lá para cá, nada mudou, mas o esforço para conhecer tudo é muito maior e as áreas de conhecimento requerido se multiplicaram. Melhor trabalhar em equipe
LUIZ FERNANDO NOVAES, ex-presidente
Em meados dos anos 70, já formado no curso de Comunicação Social na UFF, comecei minha carreira em propaganda.
A mídia veio meio por acaso para cobrir a ausência de uma profissional que saiu, de repente, para uma agência maior (eu trabalhava no atendimento).
Meus patrões achavam que eu podia “quebrar o galho” por conhecer bem veículo (trabalhei por um ano na área comercial do Pasquim).
Ao começar a dominar o processo de informação que resultava em planos de mídia, nunca mais deixei de ser apaixonado pela profissão.
É fascinante e desafiador.
Não tenho dúvidas de que a área de mídia vem sendo e continuará sendo a de maior número de transformações na propaganda.
A incessante busca de análises de comportamento do consumidor, processos cada dia mais sofisticados e ágeis no alcance de resultados da comunicação, avanço da tecnologia e muito mais…
São infindáveis os caminhos percorridos por um bom plano de mídia.
A profissão sempre esteve, por absoluta necessidade, em constante evolução.
Comemorar os 50 anos do Grupo de Mídia do Rio de Janeiro é privilégio para mim.
Como participante de várias diretorias e presidente nos anos 90, fui um pouco como testemunha dessa bela história de crescimento e reconhecimento da profissão.
Que venham mais 50 anos. O profissional de mídia está, como sempre, curioso e preparado para o desafio.
MYRNA LOURO
Na verdade, nem posso falar com propriedade sobre a diferença entre o que era preciso para ser mídia em 1972 em comparação com os dias de hoje. Ingressei como estagiária na área em 1988!
O entendimento do crescimento do consumo digital que assistimos nos últimos dois anos, potencializado pela pandemia, é um caminho sem volta.
Apesar da importância de toda a tecnologia e as informações instantâneas dando suporte, transformando e alavancando o mercado de comunicação atual, entendo que a essência da excelência do trabalho de mídia é o conhecimento técnico em linha com a atual jornada do consumidor e suas expectativas.
Estar antenado as ferramenta e métricas, ON e OFF e acesso à dados é fundamental.
Mídia é o interface entre planos de marketing, ideias criativas e nosso consumidor final. Transformando mensagens, comerciais ou não, em ação afetiva, escolhas, mudanças de comportamento, vendas!
É igual, sendo diferente. Sempre!
YARA MILITÃO
E assim se passaram 50 anos da fundação do Grupo de Mídia, um profissional jogado na garagem, sem a menor importância.
Muita luta, muitos cursos, palestras, eventos profissionais e esse profissional conseguiu mostrar que ele não era uma calculadora, e sim uma máquina de ideias, se aprimorou, pesquisou, se infiltrou na criação, no atendimento e no cliente.
Provou que muito além do On e do Off, existe um pensamento estratégico, hoje reconhecido.
ANTÔNIO LUIS ACCIOLY NETO
É importante lembrar que em 1972 os meios de comunicação eram absurdamente diferentes.
A quase totalidade das rádios era em AM e tinham um alcance definido pelas extensões de suas ondas. Então havia as rádios de ondas curtas – que alcançavam quase todo o território nacional – como a Radio Nacional, a Radio Globo ou a Rádio Tupi (para falar apenas nas rádios existentes no Rio de Janeiro),com seus programas de auditório, além das rádios de ondas médias e longas, estas de alcance muito reduzido (em geral musicas de discos).
As revistas eram os chamados veículos de “cobertura nacional”, como O Cruzeiro, Manchete e iniciando naquela época Veja.
As televisões eram locais, cada estado tinha uma profusão de canais (de 3 a 6 ) com seu próprio “cast” de novelas ao vivo, telejornais, programas humorísticos e raros canais de televisão passavam os grandes programas de audiência gravados em tapes, uma geringonça do tamanho de uma pasta 007 que eram levados de avião de uma cidade para outra. Raros canais de TV usavam desta tecnologia, em geral usando programas da TV Globo do Rio (como Chacrinha, Dercy Gonçalves, Ted Boy Marino) , TV Tupi (Como Flavio Cavalcanti ou a novela O Direito de Nascer) , claro, nem pensar em “Cobertura Nacional” ou NET. A Embratel estava começando e um canal de TV conseguir espaço para transmitir – por exemplo – uma partida de futebol nacionalmente era um feito excepcional.
Quando se desejava uma presença mais substantiva em uma cidade usava-se o Out Door e era um milagre a colagem começar na data certa e – mais – terminar quando desejado, se a empresa não vendesse o mesmo local 2 vezes na mesma quinzena. Era necessário fazer visitas periódicas às cidades para conferir a colagem e raras agencias se dispunham a pagar estas viagens.
Mas o mais importante era o Media (assim mesmo, com “e” que é a grafia certa) que normalmente era requisitado no setor de administração e finanças da empresa, “por saber fazer contas”, já que media era mesmo feita pelos clientes ou pelos contatos das contas.
Como a maioria dos clientes do Rio de Janeiro eram os grandes varejos como Ducal, Bemoreira, Tonelux, Ponto Frio, Garson, Tele Rio ou as imobiliárias do porte da Veplan ou Sergio Dourado e estes clientes normalmente faziam seus anúncios de página inteira, usando enormes clichês de zinco ou chumbo (alguns eram de plástico) eu dizia que “para ser media bastava ser forte e ter um braço comprido, para correr das clicherias para os jornais nos sábados levando os anúncios”.
Foi diante deste quadro que a agência em que eu trabalhava (Denison) começou a conquistar contas chamadas industriais, de cobertura nacional, como Cerveja Brahma, Guaraná Brahma, refrigeradores Kelvinator , Simca do Brasil e eu percebi que eu pouco ou nada conhecia de “Media Nacional”, já que até então a Denison era uma agencia basicamente voltada ao varejo.
Foi diante deste quadro que eu resolvi arriscar uma cartada – na época ousada – e chamar todos os medias do Rio de janeiro para conversarem sobre uma evolução em seu aprimoramento técnico. Para surpresa minha todos – absolutamente todos, uns 30 ou mais – compareceram a este primeiro encontro realizado no auditório da sede da ABP (Associação Brasileira de Propaganda) e depois de minha argumentação sobre a importância de se assinar (comprar) pesquisas, se discutir técnicas de cobertura e programação, negociações com os veículos (das quais muitas vezes os medias nem participavam) decidiu-se criar o “Clube dos Media” (assim mesmo, até por que a palavra “media” já é plural de “medium” – o meio). Quando o “Clube” começou a tomar fôlego os medias de São Paulo que já costumavam se reunir em almoços para confraternizar aderiram e chamaram a atenção de que “Clube” precisaria ter estatutos registrados e outras burocracias, daí se mudar o nome para “Grupo de Media”.
Diante desta analogia toda, da importância que os media passaram a desempenhar no planejamento de publicidade, compra de espaço, negociação de preços e a revolução causada pelo advento da informática e sua presença no mundo de hoje, é impossível fazer um paralelismo entre o que era a “media” de 1972 e o que é a “media” de 2022.
Que saudades do querido Gualter Leão me contando histórias incríveis dos anos dourados da propaganda em 60 e 70 qdo eu comecei na Assessor na metade dos anos 80.