Você já baixou as calças para algum cliente? Pois muita gente já. A gracinha do “Baixamos as calças” ou “Baixamos as calcinhas” foi encontrada em pelo menos 25 diferentes fotos de vitrines, outdoors ou posts de internet, em uma pesquisa que fizemos no Google.
Em meio à profusão, nos despertou a curiosidade: quem terá sido o primeiro a fazer a piada no varejo? E, como é possível que, já sendo tão surrada, tanta gente ainda continue usando? Chega a impressionar, inclusive, que outros tantos, no Twitter e em seus blogs, continuem curtindo e compartilhando.
O registro comprovado mais antigo que encontramos no Google foi de 2012, no Blog da MGLCom, agência de Santa Bárbara d’Oeste, no interior de São Paulo, contando orgulhosa sobre o trabalho feito para a loja Angelo Vertti, em outdoor, site, e-mail marketing, Facebook e vitrine de loja. É a imagem ao centro da ilustração principal da matéria.
Mas nos surpreendemos ao descobrir, no meio de um texto do jornalista baiano Walmir Rosario, em matéria no Jornal da Bahia Online, a citação de a piada existir há mais de 60 anos. Conta Rosário: “na década de 1960, a loja Grauçá Modas promovia uma interessante campanha publicitária em Ilhéus e Itabuna. Dizia a peça mais ou menos assim: “Baixamos as calças para você”. Essa campanha foi veiculada no rádio, serviços de som e peças impressas em cartazes e jornais. Foi uma das grandes sacadas de Antônio Badaró naquela época”.
Infelizmente, não há qualquer registro do trabalho da já desaparecida loja batizada com o nome de um caranguejo da região. Aliás, nem o registro preciso de quem tenha sido Antônio Badaró. Terá sido a Grauçá a primeira a baixar as calças?
Em tempos do politicamente correto, nem dá para dizer que a piada é machista, porque, como mostra nossa ilustração acima, também foi usada por mulheres, as irmãs Isabella e Stella Marcolino, sócias na grife Mundo Marcolina, com elas próprias (!) como modelos. Fora as versões envolvendo as calcinhas, que reproduzimos na montagem abaixo.
O que dizem os criativos
Para Gustavo Bastos, redator e diretor de criação da agência 11:21, conhecido autor de títulos usando o humor, em situações como esta, “a primeira vez que sai pode até ser uma boa piada, mas a partir da segunda, quem chupou é que é a piada”.
Talvez seja mesmo característica dos novos tempos de redes sociais, onde memes se multiplicam. Como diz Bastos, “a internet faz as ideias circularem e muitas vezes voltam recicladas como se fossem novas, porque a turma da chupada está de olho e pensa que o que está nas redes não tem dono. Vê uma vitrine engraçada, um meme, um anúncio, e usa sem vergonha nenhuma”.
Ricardinho Weitsman, diretor de criação da WMcCann no Rio, apesar de se declarar “absolutamente a favor do humor”, considera que não tem mais espaço pra esse tipo de piada.
“Os tempos mudaram e a gente aprendeu que muita coisa que pode ser engraçada também pode ser ofensiva, machista ou sexista. A cultura do meme veio pra ficar sim, mas assim como piada e propaganda pode ser bom ou ruim, pertinente ou nenhum pouco pertinente. Cabe ter discernimento. Acho que posso dizer, como criativo, que tento evoluir todo dia um pouquinho. Em vez de usar a mão para baixar as calças, que tal usar a mão pra colocar na consciência?”, comenta Weitsman.
Outro que critica esse excesso de cópias da mesma piada é o redator Marcos Silveira, ex-diretor de criação da agência Doctor, que tinha como característica levar o humor sempre que possível a seus anúncios.
Silveira reconhece que não param de acontecer transformações no universo da publicidade, e cita a chegada de nova rede, a Gravvitya, que permite que pessoas “aluguem” o próprio feed para anunciantes para receber parte da receita da publicidade ao opte por ver propagandas em sua linha do tempo.
Silveira acrescenta que “nesse turbilhão de inovações de forma e tecnologia, me surpreende a carente falta de inovação de conteúdo. Cada vez mais os produtos e serviços se parecem, e cada vez mais a comunicação fará a diferença. E aquelas marcas que se comunicarem de forma diferente, inovadora e surpreendente estarão à frente na guerra de mercado. Se 10 produtos iguais se comunicarem de formas iguais, qual o produto fará diferença na escolha do consumidor?”
O redator completa: “Penso que o valor da nossa profissão está em diferenciar produtos e serviços cada vez mais iguais. Sem isso não temos valor. Sem isso, somos dispensáveis. E muito menos merecemos ser remunerados. Trouxa do anunciante que paga.”
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