• Infoglobo mexe na cúpula da revista Época

    Amigos da Janela contam que o Infoglobo teria acabado de demitir boa parte da cúpula da revista Época. Motivo: a matéria “Coach Bolsonaro”, em que o jornalista João Paulo Saconi passou-se por gay e gravou todo o treinamento que recebeu de Heloísa Bolsonaro, mulher do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e nora do presidente da República.

    Como toda notícia que envolve mudanças de equipe, corre também no mercado a versão de que a saída da cúpula da Época não teria sido iniciativa do Infoglobo, mas dos próprios profissionais, em protesto pelo pedido de desculpas da empresa. Teriam saído a diretora de redação, Daniela Pinheiro, o redator-chefe, Plínio Fraga, e o editor Marcelo Coppola.

    Em nota divulgada ontem (16), o Infoglobo reconheceu o “erro” — o que a redação não admitia. Foi uma “decisão editorial equivocada”, disseram.

    A matéria foi publicada na última de época, dia 13. Segundo a nota do Infoglobo, a revista errou ao “tomar Heloísa Bolsonaro como pessoa pública ao participar de seu coaching on-line”. Antes das desculpas do Infoglobo, a redação chegou a emitir esta justificativa para a correção na publicação da matéria:

    “ÉPOCA reafirma o respeito à ética e a retidão dos procedimentos jornalísticos que sempre pautaram as publicações da revista. A reportagem em questão não recorreu a subterfúgios ou mentiras para relatar de maneira objetiva — a bem do interesse do leitor — um serviço oferecido publicamente, com cobrança de taxas divulgadas nas redes sociais”.

    Vamos aguardar para saber qual é a versão correta.

    Veja abaixo o pedido de desculpas do Infoglobo

    Como toda atividade humana, o jornalismo não é imune a erros. Os controles existem, são eficientes na maior parte das vezes, mas há casos em que uma sucessão de eventos na cadeia que vai da pauta à publicação de uma reportagem produz um equívoco.Foi o que aconteceu com a reportagem “O coaching on-line de Heloisa Bolsonaro: as lições que podem ajudar Eduardo a ser embaixador”, publicada na última sexta-feira. ÉPOCA se norteia pelos Princípios Editoriais do Grupo Globo, de conhecimento dos leitores e de suas fontes desde 2011. Mas, ao decidir publicar a reportagem, a revista errou, sem dolo, na interpretação de uma série deles.

    É certo que em sua seção II, item 2, letra “h”, está dito: “A privacidade das pessoas será respeitada, especialmente em seu lar e em seu lugar de trabalho. A menos que esteja agindo contra a lei, ninguém será obrigado a participar de reportagens”. A letra “i” da mesma seção abre a seguinte exceção: “Pessoas públicas – celebridades, artistas, políticos, autoridades religiosas, servidores públicos em cargos de direção, atletas e líderes empresariais, entre outros – por definição abdicam em larga medida de seu direito à privacidade. Além disso, aspectos de suas vidas privadas podem ser relevantes para o julgamento de suas vidas públicas e para a definição de suas personalidades e estilos de vida e, por isso, merecem atenção. Cada caso é um caso, e a decisão a respeito, como sempre, deve ser tomada após reflexão, de preferência que envolva o maior número possível de pessoas.

    O erro da revista foi tomar Heloisa Bolsonaro como pessoa pública ao participar de seu coaching on-line. Heloisa leva, porém, uma vida discreta, não participa de atividades públicas e desempenha sua profissão de acordo com a lei. Não pode, portanto, ser considerada uma figura pública. Foi um erro de interpretação que só com a repercussão negativa da reportagem se tornou evidente para a revista.

    Em sua seção 1, item 1, letra “r”, os Princípios Editoriais do Grupo Globo determinam: “Quando uma decisão editorial provocar questionamentos relevantes, abrangentes e legítimos, os motivos que levaram a tal decisão devem ser esclarecidos”. E o preâmbulo da mesma seção estabelece com clareza: “Não ha´ fórmula, e nem jamais haverá, que torne o jornalismo imune a erros. Quando eles acontecem, e´ obrigação do veículo corrigi-los de maneira transparente”.

    É ao que visa esta Carta aos Leitores. Explicar o que levou à decisão editorial equivocada, reconhecer publicamente o erro e pedir desculpas a Heloisa Bolsonaro e aos leitores de ÉPOCA.

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    Marcio Ehrlich

    Jornalista, publicitário e ator eventual. Escreve sobre publicidade desde 15 de julho de 1977, com passagens por jornais, revistas, rádios e tvs como Tribuna da Imprensa, O Globo, Última Hora, Jornal do Commercio, Monitor Mercantil, Rádio JB, Rádio Tupi FM, TV S e TV E.

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