Nessas comemorações dos 50 anos do Jornal Nacional, pouco se falou da participação do Banco Nacional no começo da vida do programa da Rede Globo.
Conversando com Lula Vieira e Emílio Cerri, dois criativos que trabalhavam, nas décadas de 60 e 70, na agência JMM, responsável pela conta do banco, eles admitem que faz sentido a Globo não citar, até porque, diferentemente do que muita gente lembra, o jornalístico nasceu primeiro, dentro da vontade — como se falou nestas comemorações do cinquentenário — de Walter Clark e José Bonifácio “Boni” Sobrinho de que a Globo tivesse um programa para falar com todo o Brasil simultaneamente.
“O começo do JN tanto não tem nada a ver com o banco, que a Globo tinha o Jornal Nacional na faixa das 20:00h e o Jornal Internacional na das 22”, cita Lula.
A oportunidade de levar o Banco Nacional a assinar o patrocínio, meses depois de o JN já estar no ar, foi capitaneada por João Moacyr de Medeiros, presidente da JMM, e seu diretor Cid Pacheco. E só aconteceu depois de infindáveis reuniões dentro da Globo — e outras tantas entrando pela madrugada no restaurante Antonio’s, do Leblon –, tendo também a participação dos profissionais de atendimento Raimundo Araujo e Francisco Socorro.
Demorou até que, finalmente, chegassem a um número e conseguissem convencer a família Magalhães Pinto e Manoel Maria de Vasconcelos, diretor de Marketing do Nacional, a investir a maior fortuna que a Globo receberia na época.
“Ninguém sabe o quanto era de verdade, só se falava que era muito, mas muito dinheiro. Mas um dos pontos de convencimento teria sido de que o custo por brasileiro atingido compensaria, sendo de um cruzeiro novo”, cita Vieira.
Reza a lenda que, quando foram afinal assinar o contrato, Walter Clark, mais os diretores da JMM e do Banco Nacional detonaram pelo menos cinco garrafas de escocês.
Lula também lembra que demorou a entender o porquê de Armando Nogueira, um dos criadores do Jornal Nacional, lhe tratar tão friamente. Até descobrir que o jornalista foi radicalmente contra a venda do patrocínio, por achar que os espectadores poderiam acreditar que o programa seria do banco, não da emissora.
Não por acaso, para não deixar dúvidas, vendida a participação, antes de o JN entrar no ar, rodava uma chamada criada por Lula Vieira e produzida por Joaquim Três Rios com a locução: “O Banco Nacional de Minas Gerais e as empresas do Grupo Nacional anunciam mais uma emissão jornalística da Rede Globo”, junto com a marca do banco, criada pelo designer Aluísio Magalhães e as marcas das inúmeras empresas do conglomerado.
A chegada dos redatores Lula Vieira e Emílio Cerri — mais o diretor de arte Marcelo Martinez — à JMM já era pelo crescimento que o banco vinha tendo na agência.
Estar tão fortemente na TV exigiu da JMM um esforço para a criação — por esta trinca — de uma série grande de comerciais para o “banco do guarda-chuva”. E enorme trabalho braçal para o produtor de RTVC da agência, um certo Francisco Abreia, que até pouco tempo antes era atendimento da conta das Casas Masson (“usando gravatinha estreita”, revela Lula Vieira), mas queria trabalhar na criação.
“Chico Abreia chegou a passar vários dias dormindo dentro da produtora PPP — Persin Perrin Produções –, para finalizar a série de 12 filmes ‘José, você é um santo’, que entrava no ar durante o JN”, rememora Emílio Cerri.
O tal José, personagem central da série, como gerente do Banco Nacional, era vivido por nada menos que o ator Mauro Faccio Gonçalves, que mais tarde entraria na trupe de Renato Aragão e se tornaria nacionalmente conhecido como Zacarias. A campanha teve também, como atores, outros nomes que ficariam famosos, como Flavio Migliaccio.
O José se tornou imagem tão marcante dos comerciais do Banco Nacional que Mauro Gonçalves participou como o maestro que encerra o primeiro comercial colorido do cliente, veiculado em 1971, na época do Natal, e que acabaria imortalizando a canção “Quero ver você não chorar”, criada pelo jinglista paulista Edson “Passarinho” Borges de Abrantes.
Comercial dirigido por quem? Pelo próprio RTVC da JMM, Chico Abreia, já antecipando o premiado diretor que se tornaria.
O Banco Nacional existiu até 1995. Depois de dificuldades financeiras, sofrendo intervenção do Banco Central, acabou tendo seus ativos e clientes transferidos para a União de Bancos Brasileiros, o Unibanco, hoje pertencente ao Itaú.
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