Nove meses depois de a Janela já ter chamado a atenção para a concorrência milionária da fundação Funpec, do Rio Grande do Norte, que teve como única participante — e natural vencedora — a agência Fields, o Ministério Público Federal (MPF) resolveu abrir investigação sobre o processo.
Na época, relatamos que a verba para a campanha “Sífilis Não” havia sido repassada à Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura (Funpec) pelo Ministério da Saúde, cuja conta, não coincidentemente, estava com a própria Fields.
O valor chamava a atenção pelo seu gigantismo, considerando-se o tema, sendo, por exemplo, 2,5 vezes maior que os R$ 20 milhões anuais licitados pelo Ministério da Cultura. E pela curiosidade de uma campanha supostamente de alcance nacional ser assinada por uma fundação cultural de Natal que jamais havia tido iniciativa semelhante.
Esta semana, o MPF emitiu nota informando que o Inquérito Civil Público nº 1.28.000.0001862/2018-51, que avaliará a aplicação daquela verba, está sob os cuidados do procurador da República Kleber Martins.
A Funpec se defendeu emitindo comunicado, sem citar que a Fields360 foi a única concorrente, mas citando que ela “foi a vencedora, em razão de ter atendido a todos os pré-requisitos estabelecidos no edital”.
A polêmica acabou ganhando corpo nas últimas semanas por conta de o mercado publicitário local — apoiado pelo jornal Tribuna do Norte, de Natal — protestar por uma verba de tal monta ter sido repassada para uma agência de Brasília sem ninguém da região ter tomado conhecimento.
A Tribuna do Norte, por exemplo, em uma de suas matérias, denuncia que a Fields teria produzido uma série para internet, com 10 episódios, ao custo de R$ 4,1 milhões, mas que cada episódio foi assistido em média por apenas 699 pessoas. A campanha está no site “sifilisnao.com.br“. Como parte das ações, a Fields produziu um evento, a “Festa da Prevenção”, cujo vídeo no Youtube — produzido pela Bicho Folha Filmes — foi assistido por 132 pessoas até o fechamento desta matéria.
Fizeram parte da subcomissão técnica Luiz Carlos Costa, Antônio Augusto Brentano e Washington Luiz de Lima Ezaki.
Brentano é figura carimbada em concorrências de publicidade na área federal, ora sendo sorteado, ora ficando como suplente, na formação de diversas subcomissões técnicas. Pelas atas da Funpec, nesta concorrência estaria representando o Ministério da Justiça. Mas, em 5 de junho de 2018, portaria deste Ministério registrava a sua exoneração do cargo de chefe da Assessoria de Comunicação Social. Em agosto de 2018, ele aparecia como membro de outra subcomissão técnica, a da concorrência de publicidade do Ministério do Desenvolvimento Social, entre os profissionais ligados a este órgão. Mas pouco depois, em novembro daquele ano, era citado em documentos de Brasília como chefe da Assessoria de Comunicação Social do INSS. E, em 15 de abril último, assumiu a chefia da Comunicação no Ministério da Saúde. Curiosamente, seu nome ainda aparece como coordenador-geral de Comunicação Esportiva no site do Ministério da Cidadania.
Washington Ezaki, em seu perfil do Linkedin, se apresenta como assessor parlamentar do Deputado Distrital Robério Negreiros Câmara Legislativa do Distrito Federal. Em 2015, ele assinava como diretor do Departamento de Gestão Interna do Ministério do Esporte. Em 2017, foi nomeado coordenador de Promoção e Eventos do Ministério da Saúde.
A Janela não conseguiu, até o momento, maiores informações sobre Luiz Carlos Costa.
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