Alçada ao status de Subsecretaria, a área de Promoção de Eventos da Prefeitura do Rio, entregue a Rodrigo de Castro (foto), já começou a passar por muitas mudanças em 2018. Em entrevista à Janela, o executivo garante que haverá mais novidades em 2019, como uma busca de integrar em uma mesma plataforma digital os órgãos municipais, estaduais e federais, para que a aprovação de um evento no Rio consiga ser obtida em apenas 24 horas.
Janela – O que mudou na relação da Prefeitura do Rio com o setor de Promo e Live Marketing, a partir da nova estrutura da Subsecretaria de Promoção de Eventos?
Rodrigo de Castro – Na gestão anterior, a aprovação dos eventos era responsabilidade da Secretaria de Ordem Pública porque o foco estava apenas no ordenamento da cidade. Talvez, por isso, essa área nunca tenha ido ao patamar de secretaria ou subsecretaria. O que aconteceu agora nesta gestão foi um avanço. Me incomodava muito ter o poder de autorizar um evento e simplesmente ficar dentro de uma sala, deixando que os órgãos operacionais é que fossem para a rua acompanhar.
Hoje eu tenho os órgãos operacionais, como a CET-Rio, a Guarda Municipal, a Comlurb, todos jogando junto comigo. Todos entendendo a importância que um evento tem para a cidade. E eu estou junto deles para acompanhar os desafios que eles têm para diminuir os impactos que todo evento gera no seu entorno.
Como Subsecretaria, ganhamos não só a obrigação de liberar como a de promover a realização de eventos na cidade. O que é fundamental, já que, no momento de austeridade que a Prefeitura vive — em que a gente não tem o investimento direto para colocar no patrocínio dos eventos — precisamos contar com a parceria de patrocinadores.
O Roberto Medina, que defendeu a existência de um Calendário de Janeiro a Janeiro, comentou há pouco tempo que o projeto não prosseguiu porque não teve o aporte financeiro dos órgãos federais, estaduais e municipais. Mas hoje a gente já vê se desenhar um calendário natural, pela própria vocação da cidade, tendo as empresas patrocinadoras como parceiras.
E por que as empresas antes não se mobilizavam a ajudar? Porque talvez faltasse segurança e respaldo de que a coisa iria mesmo acontecer. Hoje, quando uma empresa promotora de eventos, como, por exemplo, a Dream Factory, chega ao patrocinador, ela vai estar junto com o subsecretário de eventos garantindo que o projeto foi aprovado e a prefeitura não vai criar nenhuma dificuldade para ele acontecer.
Estamos sempre considerando as parcerias para viabilizar as ativações. Veja o caso da 99, apoiadora da Árvore do Rio. Para ela topar, em contrapartida, me pediu a liberação de fazer ativações na orla, no Parque Madureira… Isso é o que eu chamo de parceria. E a gente tem colaborado para elas acontecerem.
J – Você está falando dos grandes eventos. Mas há muita reclamação das empresas promotoras sobre a dificuldade de realizar os pequenos e médios. Por exemplo, uma feira temática, uma ação promocional. Conseguir a liberação na prefeitura sempre foi infernal. Como essa mudança favorece o pequeno e médio produtor, o pequeno e médio patrocinador?
RC – Eu admito que, quando a liberação ficava na Secretaria de Ordem Pública, havia uma tendência maior pelo não do que pelo sim, porque evento traz o peso de ser algo que foge à rotina e à normalidade de uma cidade. Hoje, na minha Subsecretaria, eu trato não só de um Rock in Rio, mas da autorização para uma feira de artesanato.
Isso faz com que a gente tenha um volume de trabalho muito grande, mas permite que a gente consiga olhar a questão não só do viés do ordenamento público.
Existem ainda barreiras a se transpor? Existem. Por isso a gente tem feito um gesto claro de trazer as associações de moradores para resolver conosco as questões que envolvam eventos em áreas públicas.
Para o morador de um bairro, é difícil ele aceitar que se feche uma rua inteira para fazer um evento como um festival de jazz, como fizemos recentemente na Dias Ferreira. Pode não parecer, mas o carioca é muito conservador. Até a maneira com que ele se expressa votando mostra isso. Mas o carioca é festeiro e gosta de eventos. E o diálogo é, para mim, o melhor maneira para se suplantar os problemas.
Veja o caso da inauguração da loja conceito das Havaianas, na Garcia D’Ávila. Se eu deixasse o evento restrito à loja, receberia uma enxurrada de reclamações. Mas quando você aprova trazer o palco para a rua, dando o acesso para mais gente, o morador pode se sentir parte do que está acontecendo ali. É uma questão de pertencimento, que precisamos compreender e estimular.
J – O que falta para o carioca ter a cabeça dos americanos, que aceitam o fechamento de longos trechos de avenidas importantes, como a 5ª, em Nova York, para o desfile de chapéus na Páscoa, ou a 6ª para uma festa regional como o Brazilian Day? Uma campanha publicitária de conscientização?
RC – Uma campanha seria sim um bom caminho. Falei antes do Roberto Medina e um grande mérito que ele tem é ser incansavelmente defenson de fazer as coisas no Rio de Janeiro. É isso que a gente tenta passar para os moradores da cidade. Não é melhor a gente ter um evento bacana na Praça Nossa Senhora da Paz, ordeiro, sem nenhum prejuízo a ninguém, a ter a praça abandonada, entregue a moradores de rua?
O grande desafio é achar o meio termo do que se pode ou não permitir.
Veja a polêmica sobre os excessos dos blocos de rua. Aconteceu de eles deixarem o carioca sem a sensação do pertencimento que havia antes. Os moradores dos vários bairros acabaram percebendo que os megablocos deixaram de ser a diversão que nasceu para o público local, para serem eventos meramente comerciais, voltados para uma multidão que vem de outros bairros e outras cidades.
Temos que achar o meio termo. Não queremos ver ninguém infeliz. Eu quero ajudar a cidade a fomentar os grande eventos e os eventos médios e pequenos sem criar descontentamento na população.
E o planejamento é o que ajuda a isso acontecer, como foi no caso de fecharmos o Aterro do Flamengo para colocar um carro de Fórmula 1 nele. Com todo o operacional funcionou, tudo planejado, minimizamos os transtornos para a população e todo mundo saiu feliz.
J – A meta da Subsecretaria é conseguir aprovar um evento em quanto tempo?
RC – Hoje eu afirmo que a burocracia para a aprovação de um evento não está na Prefeitura. Por isso é que, num primeiro momento, eu relutei de participar de qualquer movimento do setor por desburocratização, se não eu iria trazer para mim uma responsabilidade de que a nossa burocracia existe. Mas veja que o próprio jornal O Globo reconheceu recentemente que o site Carioca Digital, que hoje centraliza o cadatramento dos eventos do Rio, funciona bem.
O meu maior problema é que a liberação de um evento não depende exclusivamente do alvará da Prefeitura. Para mim seria muito fácil liberar o alvará, condicionando, porém, à apresentação do alvará do Corpo de Bombeiros, que é um órgão estadual, e, se o evento for em área tombada, à liberação do Iphan, que é um órgão federal.
Meu sonho, a minha meta — e isso é um projeto que precisava do timing certo, que agora a gente está alcançando –, é colocar todo mundo — órgãos municipais, estaduais e federais — em um ambiente só, numa plataforma digital só.
Isso requer duas coisas. Primeiro, investimento em tecnologia, que atualmente é até uma coisa mais fácil. Segundo, o mais difícil: diálogo político. Como o lado que já estava estabelecido há dois anos, nos últimos meses a Prefeitura do Rio tomou a iniciativa de abrir a comunicação com os novos governos estadual e federal. Já começamos as conversas com o deputado Otávio Leite, que foi anunciado pelo Governador Wilson Witzel para a Secretaria de Turismo do Estado. E também com Gutemberg Fonseca, confirmado para a Secretaria de Governo, para fazer essa desburocratização acontecer.
Além disso, vale lembrar que todo o setor de eventos citava Iphan como uma pedra no sapato. Mas agora estamos conversando, reconhecendo que é importante o órgão ser ouvido. Claro que a gente precisa respeitar as áreas tombadas, elas fazem parte da nossa cultura e da nossa história. Por isso queremos colocar o Iphan nessa plataforma digital, para que os laudos dele também saiam online.
Quando isso acontecer, eu afirmo pra você que, em 24 horas, qualquer pessoa poderá tirar uma autorização para fazer um evento no Rio.
J – A imprensa registrou recentemente a existência de uma queda de braço política entre o chefe da Casa Civil, Paulo Messina, ao qual está subordinada a Subsecretaria de Promoção de Eventos, e a Riotur. Como fica a área de eventos no meio dessa briga?
RC – Há dois anos sempre me perguntam isso e eu tenho que fazer uma defesa do nosso chefe da Casa Civil, Paulo Messina. Ele nunca me deu qualquer tipo de missão de implementar política pública que venha a esvaziar a Riotur. Eu recebi sim, por parte do secretário, a missão de que os eventos no Rio venham a impactar de forma positiva a economia, gerando mais arrecadação de impostos para a Prefeitura. E eu, como gestor, estou sempre lembrando a ele que a gente não pode só pensar na arrecadação, a cidade precisa dos eventos porque é uma vocação natural nossa. E como fazer isso? Com uma política alinhada à política de turismo.
Eu posso garantir que, hoje, não existe nenhuma disputa política minha, como subsecretário de eventos, com a Riotur. Eu desejo de que a Riotur foque as suas políticas no turismo, porque, com isso, a gente está ajudando a indústria do entretenimento, a rede hoteleira — que tem andado em baixa depois da Olimpíada — e tudo isso ajuda a aumentar a arrecadação para o município.
J – Mas tanto a área de desburocratização como de inventivo aos eventos não estava com a RioEventos, que foi esvaziada das suas funções ao se ligar à Riotur?
RC – De fato, isso poderia ter sido implementado na RioEventos. Só que hoje, estruturalmente, a RioEventos está dando suporte à Riotur. Então não adiantava levar as funções da Subsecretaria para a RioEventos sem dar ao órgão uma estrutura física e pessoal. Antes, o município tinha uma Riotur estruturada e uma RioEventos estruturada. Com os cortes de pessoal e de orçamento que o prefeito precisou implementar quando assumiu, como reflexo das dívidas que foram deixadas pela gestão anterior, tivemos que juntar estruturalmente os dois órgãos.
E por que a RioEventos não pode acabar? Porque hoje ela é que fornece a estrutura de empresa para receber os aportes financeiros do Ministério do Turismo e de patrocinadores para a Riotur. Pouca gente sabe, mas a administração anterior da Riotur deixou sérios problemas administrativos que impedem o órgão a receber aqueles aportes. Hoje, o que é investido em turismo na cidade entra pela RioEventos.
J – A quem cabe buscar para o Rio de Janeiro os grandes congressos e grandes feiras, que atraem com eles o turista de negócios?
RC – É um esforço de mão dupla. A missão da nossa Subsecretaria é não permitir que os poucos eventos que estão aqui — e essa foi uma missão bem definida pelo prefeito para mim — não saiam daqui. E tentar trazer de volta as que saíram, com Abras, Arnold Classic e ExpoSíndico. Mas precisamos também da manutenção da política de turismo, para evitar o fechamento dos hotéis por falta de ocupação. Afinal, queremos que o turista venha para o evento mas que usufrua dos bens turístico da cidade. Eu e a Riotur precisamos estar o tempo todo casados para que isso aconteça. Sozinhos, nenhum de nós vai conseguir.
Isso, claro, esbarra também no relacionamento com o Governo do Estado. Eu estou me propondo a aproveitar essa interlocução que já foi aberta com a gestão nova a entrar também em questões que afetam as feiras, como a do ICMS. Até hoje, é cobrada uma antecipação do ICMS do expositor que vem de fora, o que é um absurdo e desestimula muito a realização de feiras de negócios na cidade. A gente tem a palavra do novo governador de que vai entrar nessa pauta. Eu estou disposto a continuar sendo um elo nessa negociação política entre os interesses do empresário de eventos do município com o poder estadual, para juntos suplantarmos todas as dificuldades para os eventos acontecerem aqui.
J – E o que a Subsecretaria pode fazer para mudar a imagem de violência e insegurança da cidade, que também desestimula a vinda de eventos para o Rio?
RC – Segurança é uma prerrogativa do Estado, não do Município. A gente não tem como resolver. Mas tem como ajudar a minimizar. Por isso, temos mantido parceria de informações com a Polícia Militar, que é estadual. A gente conseguiu, com a ajuda da PM, acabar com uma quadrilha — formada por bolivianos e venezuelanos — que fazia roubos de celulares dentro de eventos no Rio, mesmo os eventos privados tendo a sua própria segurança privada. Com muita informação passada pelos órgãos da prefeitura, a Polícia Militar conseguiu chegar neles.
No Villa Mix, evento que foi para 30 mil pessoas, a gente inaugurou um sistema de operação de câmeras integrado com o Core. Havia uma picape de monitoramento com câmera no teto circulando pela região. Ao mesmo tempo, instalamos no topo do Hotel Marriot do Parque Olímpico uma câmera de alta precisão. Com o apoio de tecnologia, a gente pode ajudar a monitorar o entorno e as movimentações dos grandes eventos. Integrados com a PM, estamos cuidando tanto da segurança quanto do ordenamento público, como trânsito, ambulantes, e tudo o mais que possa causar transtorno para a população.
A cada grande evento, realizamos pelo menos seis reuniões integradas previamente, planejando como a Guarda Municipal pode apoiar a ação da Polícia Militar.
Temos feito um esforço sobre-humano para aumentar a sensação de segurança para quem vem de fora da cidade. O Rio estava próximo de perder um congresso que colocaria aqui 25 mil turistas. Pois conseguimos montar uma operação e a chegada desses visitantes envolverá a Guarda Municipal e agentes de trânsito fazendo a escolta no trajeto entre os aeroportos e a região dos hotéis de Jacarepaguá, onde vão ficar. O mesmo que fizemos quando vieram aqui os executivos do UFC. Nossos efetivos são muito reduzidos. Mas eu garanto que, com planejamento, a gente vai sempre conseguir resultados.