• História: Dia do Mídia nasceu há 40 anos com Aroldo Araujo

    Aroldo Araujo, criador do Dia do Mídia

    Na semana em que várias festas do mercado comemoram o Dia do Mídia, vale lembrar que foi exatamente há 40 anos, em 21 de junho de 1977, que a Câmara dos Deputados dava o primeiro passo para aprovar o Projeto de Lei nº 3804, do Deputado Darcílio Ayres, que criava, como foi chamado na época, o “Dia Nacional do Mídia”. Naquele dia, o projeto foi apresentado em plenário, propondo que a comemoração acontecesse “anualmente a 21 de dezembro”.

    Em 23 de agosto de 1977 o projeto, com relatoria do Deputado Eloy Lenzi, seguiu para a Comissão de Constituição e Justiça (a famosa CCJ), que o declarou constitucional, finalmente, em 3 de maio de 1978, liberando para que passasse a ser comemorado a partir daquele ano.

    Fernando Vasconcelos, que participou com Aroldo Araujo, em Brasília, do projeto de criação do "Dia do Mídia".
    Fernando Vasconcelos, que participou com Aroldo Araujo, em Brasília, do projeto de criação do “Dia do Mídia”.

    O jornalista Fernando Vasconcelos, que à época comandava a área comercial do Jornal de Brasília, cliente da agência carioca Aroldo Araujo Propaganda, foi testemunha da história. E lembra que foi exatamente o publicitário Aroldo Araujo o autor da ideia de que deveria haver um dia para homenagear o profissional de mídia, na cola do que ele já havia emplacado com o “Dia do Contato”, em 21 de outubro. Aroldo, que na época já pensava em ações de RP para seus clientes, queria uma forma de aproximar os profissionais de mídia do seu cliente Jornal de Brasília, concorrente do todo poderoso Correio Braziliense, do grupo dos Associados. A ideia foi apresentada ao diretor-presidente do jornal, Jaime Câmara, que decidiu encampar o movimento, colocando Vasconcelos à frente para tocar o projeto pelo veículo. O lançamento público aconteceu em 27 de abril de 1977, quando Jaime Câmara Jr. apresentou a iniciativa durante o Seminário de Reciclagem de Mídia promovido pela Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), no Teatro Brigadeiro, em São Paulo.

    Antonio Luis Accioly Netto, primeiro presidente do "Grupo dos Media"
    Antonio Luis Accioly Netto, primeiro presidente do “Grupo dos Media”

    Outro que testemunhou a história — antes até de ela chegar em Brasília — foi Antonio Luis Accioly Netto, quando era mídia da SGB e presidente do “Grupo dos Media” — como os profissionais se chamavam naqueles tempos. No começo de tudo, Aroldo o procurou, conta ele, um dos fundadores do GM (que, aliás, nasceu como “Clube dos Media” e só depois virou “Grupo”), pedindo o apoio dos mídias cariocas:

    – Segundo Aroldo, o mídia era um profissional de extremo valor numa agencia de publicidade, mas muito desacreditado e até desprezado. Ele queria valorizar estes profissionais, mas tinha visto em São Paulo que a ideia havia sido amplamente rechaçada pelas agências de publicidade e, principalmente, pelos próprios profissionais da área. Eles achavam um absurdo alguém que não era da área de mídia, ou seja, dono de agência, se intrometer no assunto e ainda criar um Dia do Midia, pois “mídia não precisava de dia algum”.

    Accioly levou Aroldo a defender sua ideia para os membros do “Grupo dos Media” do Rio, que acabaram dando o aval para ele seguir em frente, independente da opinião dos companheiros paulistas.

    Jaime Câmara Jr. encampou o projeto de Aroldo Araujo pelo Jornal de Brasília.
    Jaime Câmara Jr. encampou o projeto de Aroldo Araujo pelo Jornal de Brasília.

    Enfim, apoiado pelos mídias cariocas e pelo Jornal de Brasília, Aroldo passou a ter várias reuniões com os deputados, intermediadas por Fernando Vasconcelos. No processo, a Central de Outdoor, presidida por Carlos Alberto Nanô também se associou. E o Dia do Mídia virou uma realidade, com a data modificada para 21 de junho porque alguém lembrou que 21 de dezembro ficaria muito próximo do dia 4 de dezembro, considerado o Dia da Propaganda.

    Vasconcelos explica que 21 de junho acabou escolhido em função de ser o dia do solstício de inverno -– quando o sol atinge a maior distância da terra e marca o início da estação fria –- sendo considerada a noite mais longa do ano, “em homenagem a esse profissional, que costuma esticar seu dia para conseguir completar sua rica e importante atividade”.

    Anúncio da agência Aroldo Araujo festejando a inclusão do verbete "Mídia" no Dicionário Aurélio.
    Anúncio da agência Aroldo Araujo festejando a inclusão do verbete “Mídia” no Dicionário Aurélio.

    Aprovado o Dia do Mídia, Aroldo Araujo não parou. Foi atrás do dicionarista Aurélio Buarque de Holanda e conseguiu a inclusão do verbete “Mídia” no hoje chamado “Dicionário Aurélio”. Na edição atual do livro, está lá, no item 5, como sendo “por aproximação, o Profissional que atua na mídia”, já que “Mídia”, por sua vez, é “Todo o suporte de difusão de informação (rádio, televisão, imprensa, publicação na Internet, videograma, satélite de telecomunicação, etc.”.

    De lá para cá, gerações se passaram e os próprios mídias esqueceram quem começou toda essa história. O cearense que escolheu o Rio para trabalhar, Aroldo Araujo — que completa 80 anos no próximo dia 1º de agosto, — fechou sua agência em outubro de 2015 depois de 51 anos de atuação. E hoje trabalha como consultor.

    Fernando Vasconcelos continua na ativa com sua empresa de representação Meio & Mídia e, como colunista publicitário, escrevendo seu site e organizando o Prêmio Colunistas Brasília. E Antonio Luis Accioly Netto, depois de ter passado por outras agências como Artplan, Denison e Norton, e por veículos como Jornal do Brasil, toca hoje sua empresa de representação Intermoda.

    Curiosamente, lembra o próprio Accioly, os mesmos mídias de São Paulo que na época rejeitaram a ideia, gradativamente foram aderindo a ela:

    – Posso afirmar que, atualmente, o Dia do Mídia é uma data mais valorizada do que o Dia da Propaganda, ou qualquer outro “dia” ligado à área de publicidade. Vide os outdoors que costumam ser espalhados pela cidade, anúncios de jornais e revistas e filmes para TV.

    Marcio Ehrlich

    Jornalista, publicitário e ator eventual. Escreve sobre publicidade desde 15 de julho de 1977, com passagens por jornais, revistas, rádios e tvs como Tribuna da Imprensa, O Globo, Última Hora, Jornal do Commercio, Monitor Mercantil, Rádio JB, Rádio Tupi FM, TV S e TV E.

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