Lançada no final de 2016, a campanha “Gente boa também mata” está gerando uma avalanche de protestos nas redes sociais, a ponto de um deputado, Ricardo Tripoli (SP), líder do PSDB na Câmara, já ter postado que pediu a sua retirada imediata do ar.
Com o objetivo nobre de alertar que mesmo pessoas de bem podem causar acidentes de trânsito, as peças foram encomendadas a uma das agências mais premiadas de Brasília, a nova/sb — que atende a Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência da República — para um esforço que foi submetido e aprovado pelos representantes de diversos ministérios: Transportes, Portos e Aviação Civil, Cidades, Justiça e Cidadania, e Saúde, além da Polícia Rodoviária Federal, ligada ao Ministério da Justiça, que assina os materiais e pagou pela veiculação, através de sua agência Link Propaganda.
“Pior campanha dos últimos tempos. Além de abobalhar a bondade, mistura uma avaliação moral das pessoas com a questão das mortes no trânsito”, reclamou um internauta. “Tive de ler 10x para entender… muitos entenderão errado, associando quem resgata animais aos acidentes”, protestou outro.
O site “Sensacionalista” também deu a sua cacetada, sugerindo que os criativos da campanha mataram os brasileiros de vergonha, e propondo novos slogans como “Cortar aposentadoria também mata”, “Reduzir investimento em educação também mata” e “Corrupção também mata”.
Na nova/sb, soubemos que a agência não está autorizada a se manifestar, função que a Secom tomou para si. No entanto, a resposta do órgão às críticas foi burocrática, sem entrar na polêmica, apenas explicando o briefing, ou seja, “o objetivo do governo é chamar a atenção para atitudes que até mesmo pessoas comuns podem ter ao volante, sem avaliar as consequências”.
Diz ainda o governo que a campanha será em etapas e, nesta primeira, “o objetivo é chocar e chamar atenção para as práticas que geram acidentes involuntários por pessoas que não têm perfil de risco. Em sua segunda fase, a campanha explica de forma mais didática os cuidados para se evitar os problemas ao conduzir veículo automotor”, segundo o comunicado oficial.
A agência, no release distribuído à imprensa antes da polêmica, não chegou a divulgar a ficha técnica do trabalho. Mas a Janela descobriu que entre os criativos estão o redator Gera Oliveira e o diretor de arte Humberto Cunha, que, no último Colunistas Brasília, se destacou por ter sido o diretor de arte mais premiado do concurso.