Janela Publicitária    
 
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Janela Publicitária - Edição de 05/SET/2014
Marcio Ehrlich

 

Prêmio Comunicação 2014, da ABP, será entregue em outubro

A Associação Brasileira de Propaganda – ABP marcou para o dia 29 de outubro a festa de entrega dos diplomas do que ela identifica como o seu mais importante evento: o Prêmio Comunicação 2014, que chega ao seu 35º ano. A premiação, criada em 1979, durante a gestão de Edeson Coelho como presidente da ABP, acontecerá, como tem sido nos últimos anos, em um almoço no Golden Room do Hotel Copacabana Palace.
Estes foram os escolhidos pela diretoria da entidade, com as respectivas justificativas:
Carlos Henrique Schroder, da Rede Globo, Personalidade do Ano da ABP
• Personalidade do Ano: Carlos Henrique Schroder
Pelo seu excepcional desempenho à frente da maior rede de televisão aberta do país.
De forma absolutamente competente e corajosa deu continuidade à política de inovação da emissora, rompendo barreiras, quebrando paradigmas, mesmo quando significava assumir riscos para a liderança da emissora.
O resultado de seu trabalho e perseverança foi traduzido na continuidade da liderança na audiência, com a elevação do padrão de qualidade da programação, na modernização da imagem da emissora, na criatividade e inovação dos conteúdos, no aumento de receita publicitária, na rentabilidade e, principalmente, na preservação e manutenção de uma política editorial ética e imparcial.
• Anunciante do Ano: Banco Itaú
Pela sua excepcional atuação no setor bancário, pela consistência estratégico-criativa no setor de comunicação de marketing e pela competência em adicionar valor emocional à sua marca, consolidando o gestual que a identifica nacionalmente. Destacam-se também sua presença marcante nas duas maiores cidades do país com as inconfundíveis bicicletas laranjas e sua atuação exemplar durante a Copa do Mundo, com o tema "Mostra tua força, Brasil!", cujo jingle se sobressaiu durante o evento. Por tudo isso e com todos os méritos, uma das marcas mais valiosas de nosso país.
• Veículo do Ano: SporTV
Pela qualidade da sua programação, consolidando sua posição de liderança como emissora esportiva em TV por assinatura.
Em 2014 o SporTV se destacou com a excepcional cobertura da Copa do Mundo em todas as frentes, desde a posição de câmeras exclusivas na transmissão dos jogos até a deslumbrante estrutura de seu Estúdio na Ilha Fiscal, as entrevistas nacionais e internacionais, matérias e programas inovadores de grande sucesso como “Extraordinários”, os talentos estreantes descobertos pelo "Passaporte SporTV", a convocação de ex-campeões mundiais de várias nacionalidades para debater os jogos e a ousadia de atravessar todas as noites com o "Madrugada SporTV", são exemplos mais do que suficientes para colocar vocês no ponto mais alto do pódio.
• Agência do Ano: Havas Worldwide
Pela performance dos seus 480 profissionais, resultando em 18 novos clientes e pelos significativos investimentos do grupo no Brasil, que incluem a vitória na concorrência que trouxe de volta ao mercado de agências a house PA Publicidade do Grupo Pão de Açúcar, a expansão de sua abrangência multiplataforma para nove empresas dedicadas a áreas como Digital, Social, Life, Esporte, Entretenimento, Mobile e a implantação de uma nova sede, com 5.000 metros quadrados, em São Paulo.
• Homenagem Especial: Bomnegócio.Com
Pela coragem de investir em uma nova categoria de produtos e serviços on line e pela memorável campanha de comunicação, que uniu personagens que vão de Supla a Maradona, e se tornou referência no mercado brasileiro, provando que o humor pode ser inteligente e popular ao mesmo tempo e que a ousadia continua sendo um bom negócio.

A Espanha, vista pela brasileira Jadna Rodrigues: A Crise

Em uma série de artigos exclusivos para a Janela, a diretora da premiada agência carioca Tapioca, Jadna Rodrigues, fala sobre a Espanha, país onde está morando enquanto faz seu mestrado em Comunicação Corporativa na EAE Business School de Madri.

Crise espanhola X Crise brasileira: tem diferença?

Jadna Rodrigues
Quando decidi vir fazer o mestrado em Comunicação Corporativa em Madrid não foram poucas as pessoas no Brasil que me disseram que seria um excelente momento, considerando a crise que a Espanha enfrentava. Visto pelo outro lado do oceano e sem conhecimento de causa, parecia que tudo seria muito simples e que com a dificuldade financeira que a Espanha enfrentava, dinheiro não seria o problema. Tudo seria a preço de banana!  A sensação que dava é que ao chegar aqui, eu iria poder fazer uma festa com as minhas economias e que a vida seria um desbunde . Alguns também me lembravam que eu teria que ser forte para enfrentar o período, pois poderia encontrar um país pesado, triste, desestimulado, desanimado e vazio de esperança.
É claro que a minha decisão por vir passou por outros motivos – de crescimento profissional, inclusive – e nunca pela facilidade de me dar bem em um país em condições econômicas pouco favoráveis. Se fosse apenas por isto, poderia ter optado por algum país vizinho e estaria mais perto de casa. E ainda bem que este não foi meu principal motivo. Porque seria um ledo engano.
A referência de crise econômica para nós – filhos de um país em desenvolvimento – passa longe do que é realmente este momento para uma nação desenvolvida, tendo por trás o apoio da Comunidade Europeia. E isto, além de começar a perceber no dia a dia, ficou comprovado logo nos primeiros dias de aula.

A crise não assusta vocês?

Minha turma é composta por 25 alunos, sendo alguns de países latino-americanos como Uruguai, Chile, Equador, Venezuela, Colômbia e Guatemala. Após se apresentar, o professor da disciplina “Sociedade da Informação e Opinião Pública” nos perguntou sobre a nossa impressão naqueles primeiros dias em Madrid. Nós, estrangeiros, fomos unânimes em responder que a cidade era muito bacana de seu viver e estávamos surpreendentemente encantados com tudo o que estávamos vendo e vivendo.  Estávamos pensando que encontraríamos um país caótico, sob uma grave crise, mas ainda não podíamos notar nada além de estar num país europeu, com toda a tradição do Velho Mundo.
E o professor insistiu: “Mas a crise não assusta vocês?” E a resposta também foi unânime: “Crise? A gente não está vendo crise aqui. Crise para a gente é outra coisa”. E assim, começamos a traçar paralelos entre a realidades socioeconômicas vividas pelos países latino-americanos e a Espanha. E travou-se uma discussão que ocupou quase todo o tempo da aula. Os espanhóis, inclusive o professor, querendo nos explicar o que era crise na versão deles e a gente tentando dizer que eles não sabem o que é crise de verdade.
Mendicância? Sim, tem. Mas é muito menor e menos visível do que vimos no nosso cotidiano brasileiro e limita-se mais aos grandes centros. Desemprego para nós é não ter emprego. O que ele chamam de desemprego é trabalho de baixa qualificação – que é a ocupação de quase 50% dos brasileiros. Isto sem comparar inflação, alta de juros,  qualidade de serviços.
Por fim, o professor finalizou: “ok, não há termos de comparação entre a crise de países em desenvolvimento com a de um país desenvolvido. Na verdade, a crise da Espanha é moral, é uma crise de valores”.
Isto porque a referência para eles é quem? Alemanha, França, Noruega, Dinamarca... Sob este ponto de vista, como disse o brilhante intelectual e destacado representante do pensamento crítico latino-americano, o espanhol Ruy Mauro Marini, “Portugal e Espanha estão na periferia dos países capitalistas”.
Confesso que não vi nenhuma facilidade neste “país em crise.” O custo é vida é bastante semelhante ao do Rio de Janeiro – só que em euros. Vi facilidade, sim, em outras coisas que eu nunca tinha experimentado rotineiramente: a qualidade dos serviços.  Quando preciso utilizar serviços públicos, faço o agendamento pela internet e na hora marcada tem um profissional à minha disposição para me atender. Não tem fila. Sei exatamente a hora que preciso sair de casa para chegar com pontualidade às aulas porque o transporte público funciona – e no tempo preciso. Posso usar meu celular onde quiser e caminhar à noite pelas ruas sem medo de ser roubada e a polícia parece onipresente.

Sem comparação com a América Latina

Sim, o estado de ânimo dos espanhóis está baixo, assim como sua autoestima. Percebo a população desanimada e desacreditada. Mas, estes sentimentos têm origem na austeridade sentida pelos cortes de salários e ajustes econômicos surgidos na crise da economia mundial em 2008 e, principalmente, na queda do padrão de qualidade dos serviços de transporte, saúde e educação que eles chegaram a ter – e, segundo os próprios já não é mais a mesma – e eles querem mais. Mas, isto, nem de longe pode ser comparado aos serviços públicos que são prestados nos países latino-americanos.
Pode não sobrar dinheiro para eles ostentarem, mas não falta para se viver com qualidade de vida – e de alto padrão. Digo isto incluindo as sagradas férias de verão porque em agosto, aqui em Madrid, só ficam os turistas incautos. Na maioria das portas do comércio está a plaquinha: “Cerrado por vacaciones de verano”. E as cidades litorâneas da Europa estão abarrotadas de espanhóis. O que eles reclamam é da excelência na prestação de serviços que sequer conseguimos chegar a atingir, daí a nossa dificuldade de enxergar a crise espanhola. Para nós, chega a parecer que eles estão reclamando de barriga cheia.
Não quero traçar um paralelo entre o Brasil e a Espanha. Longe de mim fazer isto. Os dois países têm suas virtudes e suas mazelas. Quando concluir o meu mestrado, quero logo voltar para casa. Coisa boa é a casa da gente! O que quero dizer é que está redondamente enganado quem pensa que a Espanha está na bancarrota e vivendo uma situação caótica. Não existe a mínima possibilidade de fazer comparações. Mas vivendo aqui, estou aprendendo que crise pode ter sentidos diferentes. Depende do ponto de vista.