Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
A Fenêtre é a cobertura da Janela Publicitária em Cannes.
20 de junho de
2011, segunda-feira
UMA COLUNA
DE SEGUNDA
O litoral do sul da França está parecendo o piscinão
de Ramos em véspera de Carnaval. É muita gente.
Hoje cedo tinha tanta fila pra se credenciar que encontrei o Rodolfo
Sampaio, da MoMa. Quando ele entrou na fila, ainda não tinha
nenhum shortlist, no meio da fila tinha 3 finalistas e quando pegou
o crachá já tinha oito candidatos a leão. É
sério.
Teve uma russa que entrou no Palais virgem, entrou na fila namorando,
casou quando pegou o crachá e quando foi assistir a primeira
palestra, já estava na hora de ir pro aniversário
de 15 anos da filha.
MUVUCANNES
Toda esse mundaréu de gente, claro, tem um preço.
A exposição das peças no Palais está
muito mal ajambrada.
As peças de Press e Outdoor até que foram preservadas,
mas categorias como Direct, Promo e Media ficou meio labiríntica,
com peças expostas em becos e com um espaço mínimo
de distância pra parede.
Encontrei peças do Brasil e da Argentina por exemplo, rasgadas,
faltando pedaço, e até as placas indicativas das categorias
estavam jogadas no chão.
A internet não funciona direito, cai, fica pedindo senha,
tá triste.
Nem a sala de imprensa se safa do caos tecnológico.
Deve ser porque tá muito baratinho vir pra cá e a
inscrição tá quase de graça, né?
PALESTRA
DO MEIO DAS PRINTS
As palestras estão tão concorridas que a organização
colocou um telão no meio das exposições para
a turma acompanhar o que rola nos auditórios.
Como se já não tivesse pouca coisa amontoada lá.
Estou reclamando, mas foi como consegui assistir a Arianna Huffington,
do Huffington Post. Uma das melhores palestras até o momento,
pela objetividade e clareza sobre suas ideias.
Basicamente, Arianna avaliou o que chama de "fase adulta"
da internet, dizendo que algumas marcas e veículos ainda
estão em fase de amadurecimento, mas que o conteúdo
e parte do público já vive um momento mais evoluído.
E mostrou exemplos de onde isso pode chegar. Excelente.
ENTENDEU OU QUER QUE EU DESENHE?
Além
da muvuca, também tá rolando barraco.
Fui a duas conferências de imprensa e vi jornalistas (!) estrangeiros
pressionando o júri e questionando porque ganhou uma peça
e não ganhou outra. Porque coisas que levaram Grand Prix
no Festival X e não chegou a shortlist em Cannes.
Lá pelas tantas, o presidente do júri de PR, o americano
Dave Senay, começou a se irritar.
Rebateu cases premiados do próprio país, dizendo que
eram ideias repetidas e ainda repetiu o que eu já vinha escutando:
as agências não estão sabendo inscrever.
Chegou a se levantar e mostar um desenho de uma pirâmide explicando
o que ele considerava um critério para peças, de Relações
Públicas.
"Gerar buzz, publicidade gratuita, isso é tão
básico quanto escovar os dentes. O que as peças precisam
é ter atitude e o objetivo é mudar o comportamento
do público. Mais de 1/3 das peças que vimos aqui vieram
em categorias erradas."
Um colega do júri pediu a palavra:
"Como podemos confiar nas informações de que
uma ação gerou zilhões de dólares em
mídia espontânea? Como pode uma agência que cria
uma peça de propaganda querer ganhar um prêmio em PR
ou Promoção?"
EU NÃO ENTENDO
Cá entre nós, eu, que não sou autoridade em
coisíssima nenhuma, discordo.
Foi Cannes quem criou esse monstro da peça que se transforma
em 14 inscrições.
Que criou subcategorias tão específicas que ninguém
entende mais como inscrever.
Que começou a premiar flyers em categorias de outdoor e instalações
em categoria de marketing direto.
E isso gerou um modelo de cases e pranchas de apresentação
com tanta explicação que ninguém tem saco de
ler. Fica parecendo um festival de planejamento.
Se esse era para ser um "festival de criatividade", como
se chama agora e não de "publicidade" como antes
tinha sido batizado, porque não acabar com as subcategorias?
Afinal, ideia é ideia, não tem tamanho.
Aí, em direct só entra direct. Em outdoor só
entra outdoor.
Não entra, por exemplo, "poster" com texto ou imagem
que não dá para ver de longe.
E aí, o que for bom, leva.
Mas isso, claro, é uma utopia e, com muita autocrítica,
beira a ingenuidade.
Por um motivo simples: dá menos dinheiro.
O
PRIMEIRO E O MAIOR DO MUNDO
Fui dar um rolezinho pelas exposições das peças.
Ainda não consegui ver Media nem PR, mas vi muita coisa boa,
o nível está altíssimo, apesar de algumas bem
repetidas.
O que mais se repete, e já há um tempo, são
cases que se chamam "O Primeiro..." ou "O maior do
Mundo" contei uns dez. Tem o primeiro hotel de lixo do mundo,
o primeiro travesseiro do mundo com data de validade, o maior tudo
do mundo.
Também saiu muito aqui os anúncios impressos que você
tinha que colocar um iPhone em cima e acessar um site, seja para
ver um carro andando sobre a peça, um personagem falando
e por aí vai.
FUTIBAS
A seleção publicitária Brasileira caiu no
grupo da morte no campeonato mundial de futebol de areia que começa
amanhã: Estônia (que eliminou a gente ano passado e
foi vice), Holanda (atual campeã) e Rússia/Bielorússia,
que bate tanto que faz juz ao grupo da morte. Vieram me dizer que
na zaga deles joga um urso.
De qualquer maneira, estarei lá, jogando e cobrindo, ou vice-versa.
MOMENTO AMAURY DE ASSIS FERREIRA JÚNIOR (VULGO
OTÁVIO MESQUITA)
Aquela velha seção dedica a pessoas
que passam pelo "flash" da Fenêtre.
O curitibano carioca Kike Borell, diretor da Heads, com Luis
Claudio Salvestroni, da Agência3.
Descobri que a dupla de Youngs da Inglaterra em Cyber é
brasileira. Trabalhei com o Diego e o Caio, da BBH Londres e
são talentosos e gente fina demais.
Estamos internacionais hoje. Hugo Veiga e Fred Saldanha, criativos
portugueses da Ogilvy Brasil, felizes com o resultado da agência.
Bruno Ribeiro, da Lowe Moscou e Paulo Areas, da Leo Espanha,
se reencontrando na França. Os dois trabalharam juntos
em Portugal. Mundo pequeno.
Olha o crachá do paizão Lucas Duque, da Sonido:
tem uma foto dele com a filhinha.
O diretor Maurício Guimarães, da Sentimental,
na área das exibições dos filmes.
A cúpula da Script, no Pelô: Lobo, Rodrigo, Real
e Carlinhos.
E para fechar com chave de ouro, ou melhor, de titânio,
o encontro do primeiro e múltiplo Antônio Carlos
Accioly, pouco antes de chegar a Cannes, flagrado em Portugal
com...sim, você está enxergando bem, o cantor ROBERTO
LEAL!
Meu caro editor chefe, depois de descolar essa foto, posso ir
embora?
Não vai ter nada mais surreal do que isso por aqui.
N.R.: Fabio, nada que se refira ao Accioly pode ser considerado
surreal. Portanto, se você tirar uma foto dele com Elvis Presley,
eu acredito.
É FRILA?
Ah, essa foi boa. Vieram me perguntar aqui.
- Mas você é redator e cobre Cannes para um site de
publicidade?
- É isso aí. Janela.com.br
- É frila?
- Não, é fria mesmo.
CURTI
Então vamos lá para aquela tradicional voltinha pelo
Palais com seu amigo de todas as horas. Selecionei algumas coisas
que me chamaram a atenção em Direct, Promo, Print
e Outdoor (não consegui ver Mídia nem PR, cansei antes).
Hunter Shoots a Bear,
da Buzzman para Tippex
Peça
mais fanfarrona do festival na minha opinião. Está
fazendo tanto sucesso que o Youtube montou um stand aqui para
os delegados se fantasiarem de caçador e urso e reinterpretarem
o filme.
A Redenção
de Cardeñosa, da DDB Espanha para o Terra
Que Mick Jagger, nada. Para os
espanhóis o maior pé frio da história
é um tal Cardeñosa, jogador que perdeu um gol
feito na Copa da Argentina e eliminou o seu país. O
portal Terra colocou o cara com a camisa dos favoritos à
Copa (como o Brasil) e dos adversários da seleção
espanhola na Copa. Cardeñosa foi até visitar
o Rio. E tido mundo achando que a culpa era da burrice do
Dunga. A campanha deu certo, a Espanha foi campeã do
mundo.
Take the City, da Bondoogle
para Nike
A agência criou circuitos em formas de várias
coisas pelas ruas da cidade: cachorro, coração,
caveira. E convidou as pessoas a fazerem esses circuitos correndo.
4th Amendment Wear
A peça não
foi inscrita oficialmente por uma agência, mas pelo
próprio fabricante. Para protestar contra os novos
scanners de corpo nos aeroportos americanos, os caras produziram
uma tinta de metal, que aparece no novo tipo de raio-x. E
usaram para imprimir em roupas, de cima ou de baixo, a 4a
emenda da constituição americana, que garante
o direito a privacidade.
Censura, da Memac Ogilvy
Dubai para Repórteres sem Fronteiras
A censura conta uma história errada. O Obama não
deu uma pegueta na Hillary, apesar da carinha dela de quem
tá gostando demais.
Sapo, da Euro Bangcoc,
para Reckitt
Ideia de
print bacana para um inseticida que não agride a natureza.
Peixe, da Z+ para Tenys
Pé Baruel
Bacana esse poster, com cadarço de verdade para o
anti-chulé. A Z+ foi a grande surpresa do shortlist
nessa manhã.
Uma Perspectiva mais
Profunda, da McCann Malásia para a Revista Straits Times.
É a explicação
visual do conceito, mas achei legal.
Taj Mahal, da Leo Burnett
Moscou para Lego
Sua imaginação pode fazer um palácio
virar uma nave.
Se beber, não
dirija. Vá tocar. da Loducca para a MTV
Elton John, Sex Pistols e Devo, em
fotos de Bob Gruen com um título igualmente rockn´roll.
Simples e bom.
Espinha,
da DDB Cingapura para a Fundação contra o Câncer
de Mama.
Você está obcecada com a coisa certa? A campanha
ainda traz exemplos como o cabelo das mulheres e a barriga.
Sempre pagando peitinho.
Provador Trampolim, da
Publicis Bruxelas para Wonderbra sem alça
Falando em pechugas, uma ideia sensacional. Para mostrar
que o novo Wonderbra sem alças segura o que promete,
um provador que é um trampolim. Como eu não
pensei nisso antes?
The Hotter the Day,
da DDB UK para Budweiser
E para fechar uma bela ideia de promo para Budweiser: quanto
mais quente o dia, menos você paga na cervejola. Como
que a Ambev, dona da marca, não pensou nisso antes
e ainda não levou isso pro Brasil?