Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
A Fenêtre é a cobertura da Janela Publicitária em Cannes.
17 de junho de
2011, sexta-feira
O
VOO E O OVO
Enquanto você lê essas palavras, estou no voo mais
bizarro da minha trajetória como enfiado (com F mesmo) especial
(especial?) de Cannes.
Se liga no périplo: Campinas-Fortaleza-Lisboa-Paris-Nice.
Tudo porque a companhia aérea ameaçou uma greve na
semana passada e pediu que seus passageiros remanejassem seus voos.
Fui obediente.
No dia seguinte os matusquelos cancelaram a greve, e aíjá
não tinha mais lugar no meu voo original.
Corta para o escritório da TAP, onde Serginho Mallandro vestido
com quepe (virado pro lado) e farda com as cores da lusitânia,
gargalha, faz o seu clássico gestual “ié-ié”
e grita: “Rá! Pegadinha do Malandro!”
QUERO VER NA COPA
Não
acabou não. Como meu voo sai de Campinas, fui procurar um
jeito de chegar no aeroporto de lá (Viracopos).
Só que não tem ônibus que liga, por exemplo,
o aeroporto de Congonhas, aqui do ladinho da agência, ao de
Campinas. Mas tem táxi. E custa, na tabela, R$ 384,15.
Porém, existe um ônibus da companhia aérea lowbudget
Azul que leva seus passageiros, de várias partes de São
Paulo, até Viracopos. Note, só passageiros.
Ideia: se eu comprar uma passagem da Azul pra qualquer lugar por
R$ 139 (ou menos), e mesmo que eu não use, posso usufruir
deste busão da alegria.
Sim, senhoras e senhores. Pra chegar num aeroporto na maior megalópole
da América do Sul, sai três vezes mais barato comprar
uma passagem aérea do que pegar um reles táxi. Porque
ônibus, aerotrem, charrete pra chegar lá, não
tem.
Como diria aquele site, quero
ver na Copa.
ESTALAGEM
Já viraram folclore as minhas hospedarias na CôteD’Azur.
Depois de anos ficando no Le Favelê e no Le Carandiru, as
pessoas me perguntam: “e aí, qual o hotel que você
vai arrumar este ano?”
Preciso confessar que já conheci o outro lado. Em alguns
anos em que as agências onde trabalhei me levaram, fiquei
em hotéis ótimos.
E aí cheguei à seguinte conclusão: Cannes só
tem dois tipos de hotel.
Os chinfrins e os que não posso pagar.
O desse ano parece que é legal. Pelo menos é perto
do Palais.
PREDICTIONS
Rolou Cannes Predictions no início dessa semana.
Pra quem não liga o nome ao evento, trata-se de uma prévia
do Festival, promovida pela Leo Burnett no mundo todo.
São selecionados 50 filmes, locais e internacionais, que
podem ter chance de Leão. Os jurados são pessoas do
mercado local, incluindo alguns que irão julgar pra valer
em Cannes.
Fiquei feliz pelo evento ter voltado (ano passado não teve)
e por ter sido convidado para o júri do Predictions. Aliás,
agradeço aos organizadores, mesmo que eles não saibam
o que estão fazendo.
E o que eu vi por lá?
Bem, parece que todo mundo adora, demais, à beça,
o filme The Force, conhecido na miúda como “Mini Darth
Vader”, para o VW Jetta (em alguns países, Passat).
Para mim é uma surpresa, por ser um filme de uma categoria
afetuosa a superproduções: carros.
Fui um dos que deu nota máxima para ele, que ele além
de simples, tem o que os mais fru-frus chamam de“magia do
cinema”.
Explico: se qualquer um te contasse a sinopse, “O comercial
do novo Jetta traz um garoto vestido de Darth Vader que tenta usar
a força para fazer as coisas em casa se moverem...uma boneca,
uma torrada...”, será que você amaria a ideia?
Pois é.
Aí você vê o filme e tudo é divertido.
O moleque é ótimo, a história é divertida,
tudo funciona. Nem o apelo de ter um labrador fófis soa clichê.
É mais ou menos como o inesquecível Balls da Sony
ou o Gorila da Cadbury. A ideia, no papel, é meio estranha.Mas
é ótima na cabeça de quem criou, que vai lá,
corre atrás, produz como tem imaginou e fica excelente.
CRIANDO CASE
O que também deu pra sentir é que Cannes vai ser só
case.
Ao invés de filmes de 30 segundos, vem muito case de 3 minutos
por aí.
No Predictions, pra analisar 50 peças levamos mais de 2 horas.
Estava julgando ao lado de alguns badernistas, que não vou
entregar quem era pra não ficar mal pro Bob Kilciauskas da
Y&R, pro Felipe Luchi, da Talent, pro Carlos “Ia”
Murad aqui da WMcCann, nem pro Paulo Schmidt da Margarida, mas o
que a turma comentava é que ninguém inscreve mais
filme. Só case.
“Qualquer hora vão fazer case pra explicar os filmes”,
alguém falou.
“Já pensou? Começa com o locutor: a novela das
8 é o horário nobre da TV brasileira. São milhões
de espectadores. Criamos um filme para este horário.”
“Rárárárá. Melhor ainda: o futebol
é o esporte preferido do brasileiro. Por isso, fizemos um
comercial sobre o futebol...”
Foi só falarem isso que entrou o filme da Nike, Write The
Future, para a Copa.
E adivinha? Era isso mesmo: case.
Os caras explicam tintim por tintim o que é a Copa, a sua
importância e por aí vai.
Os planejamentos devem adorar. E para quem acha que é blábláblá,
esse case, criado pela Wieden+KennedyAmsterdam já levou tudo
que podia no One Show. E tal como um carrinho do Felipe Melo, deve
passar o rodo em Cannes.
Procurei o case na internet, mas não achei.. Mas o comercial
está aí.
E uma prova de que o comercial funciona é que o Flamengo
comprou o Ronaldinho achando que ele joga futebol de seleção
e tem essa malemolência toda do filme.
E O BRAZA?
A má notícia: no Predictions, sobressaiu a diferença
de qualidade de produção dos filmes brasileiros comparados
aos gringos.. Com mais investimento e mais prazo, não podia
ser diferente. Mas ideias simples e o humor do Brasil sempre podem
surpreender.
A boa notícia: o Brasil está levando um número
maiorde projetos parrudos ao festival do que nos anos anteriores.
Caso da campanha campanha do Papai NoelOgilvy Brasil para a Coca-Cola
americana e o gol 1284 do Pelé da Y&R para a Vivo, entre
outros que estavam lá.
Papai Noel da Ogilvy
O Pelé da Y&R:
FUTEBOL NO GELO
E
por falar em Pelé, este ano vai ter, de novo, o Campeonato
de Beach Soccer (que é a expressão homoafetiva criada
pela mídia para “futebol de praia”).
Antigamente, era só em ano de Copa, mas o pessoal de Cannes
percebeu que a turma quer saber mesmo é de uma fanfarra então
vamos nessa.
Compareci ao primeiro treino, pasmem, num campo de areia em São
Paulo (não me perguntem de onde trouxeram a areia).
Só que estava fazendo, sem sacanagem, uns 10 graus. A areia
parecia neve.
Se em 2010 fiquei fora das finais depois que um sulafricano quase
arrancou meu pé, neste ano já cheguei no treino fazendo
uma jogada à la craque da seleção do Mano Menezes.
Sabe aquela canelada que o Ronaldo deu na despedida dele e mandou
a bola na arquibancada? Pois é.
Isolei a primeira bola que veio no meu pé, interrompi o jogo
e precisamos de uns 5 seguranças com lanternas pra acharmos
a pelota.
JÁ QUE (OU, COMO SE DIZ EM FRANCÊS,
“JACQUES”)
Já
que a coluna de hoje é só enrolação
mesmo, aí vãomais algumas.
Sabia que Cannes este ano tem 28.828 peças inscritas?
O Brasil foi o 2o país que mais inscreveu com pouco menos
de 10% das inscrições totais: 2.647
Entre os países que menos inscreveram estão: Nauru,
Lesoto, Comores, Palau e Tuvalu, com zero inscrições
cada.
A Gagaúzia, região autônoma da República
da Moldávia, está completando 58 anos sem inscrições
no Festival, coincidentemente, o mesmo número de anos que
o festival existe.
Já a República de Kiribati -- cuja bandeira ilustra
esta nota -- segue seu jejum de leões desde 1979, provavelmente
porque antes este simpático país da Micronésia
ainda não havia sido fundado.
CAIXA POSTAL
E já estamos recebendo missivas com afagos dos nossos leitores.
É gente te todo o Brasil, olha aí.
Nossa caixa postal já recebeu a presença de Anita
Linetzky, de João Pessoa, do André Pedroso da DM9São
Paulo, Alexandre Level da ProBrasil de BH e aí doRio, o RTV
Mário Conceição, a madrinha da minha vida de
“calunista” Priscila Serra (Agência3) da e mamãe,
claro.
No meio da correspondência, separei uma carinhosa mensagem
do cineasta André Pellenz, que acabou de dirigir a elogiadíssima
série Natália pela 30 pés/Academia de Filmes. “Fabio, mais um ano em que me penitencio dos pecados cometidos
acompanhando Cannes por essa bobagem que é a sua coluna,
e mandando email pra um endereço do iG (que revela bem o
nível da coisa).
Mas este ano imagino que não teremos mais as divertidas notas
sobre hotéis capengas, já que eu soube que várias
empresas de porte fecharam patrocínios com o Marcio Ehrlich
(...) É tanto dinheiro que ano que vem a festa do Colunistas
vai ser de graça.
Fora que o Accioly prometeu pagar mil reais por cada foto em que
ele aparecer. Se continuar assim,você pode voltar de jatinho
fretado. Abraço, André”
Seidl Responde:
“Andrezoca,
Sobre a penitência dos seus pecados, eu te conheço
de outros carnavais. Não só eu, mas também
a Vandinha Boca de Caçapa e o Anão Tareco.
Tu não limpa a tua ficha com São Pedro nem com uma
ducha Lorenzetti de água benta no banheiro.
E justo agora que eu tinha falado de você pra turma do iG
e eles iam te passar uma megacampanha e você execra publicamente
este simpático provedor.
Sobre a grana, me admira você, rapaz vivido, não saber
das implacável mãozinha de neném (sempre fechadinha)
do Marcio Ehrlich.”
Falando nisso, aproveito para retribuir a gentileza de todos que
tem escrito, com uma dica de programão para levar a sogra.
Nosso grande editor Marcio Ehrlich está em cartaz no Teatro
Maria Clara Machado, no Planetário da Gávea, na próxima
quinta, 23 e na quarta, 29, às 21h, com a peça Coisas
de Teatro.
As críticas, sem zoeira, são ótimas.
Mas excelente mesmo é essa foto de divulgação
que eu achei do espetáculo em que ele aparece maquiando.
Apareçam lá! Mas como eu dizia, nem pensem em pedir
um descontinho pro Marcio. É perda de tempo.