17
de junho de 2010, quinta-feira
OU SERIA VUVUZELA PUBLICITÁRIA?
A Fenêtre fez uma escala rapidinha na África do Sul
para acompanhar o inicio da Copa, antes de seguir para Cannes.
Fabio Seidl, correspondente, aventureiro e sobrevivente especial
usa seus parcos minutos na precária internet sulafricana
para contar como estão as coisas por lá.
Galera, vou ser rápido porque a internet aqui é ruim,
mas em compensação é bem cara.
Fiz minha seleção das 11 coisas que mais me chamaram
a atenção nesses meus primeiros dias de África
do Sul.
1.
Johanesburgo
Algumas pessoas chamam a cidade de Jo'Burg. Outras, de Jozy. Os
torcedores estão chamando de Caos. Eu tinha ido à
Copa da Alemanha que tinha sido considerada a melhor organização
de todos os tempos. Pois bem, conversei com algumas pessoas que
já foram a mais Copas e a opinião é uma só:
nunca viram nada tão despreparado como a principal cidade
da Copa. A cidade tem contrastes impressionantes. Em 1 minuto se
passa da miséria absoluta ao luxo burlesco. Vários
bares têm avisos dizendo: NO WEAPONS ALLOWED nas portas proibindo
a entrada de armas. O transito é terrível e os taxis,
extorsivos. O sistema de ônibus pros jogos não funciona.
Se você contratar um motorista ou ma van, eles não
aparecem. Olha que eu já fui a muito lugar tosco nesse mundo,
mas fazer dessa cidade a sede principal de uma Copa, foi uma ideia
de jerico.
2.
Ellis Park
O estádio do primeiro jogo do Brasil, inaugurado em 1927
e que aparece no filme Invictus é lindo na TV, mas de perto
é uma tristeza. No setor 1, onde fiquei, o mais caro do estádio,
não tinha bar, o banheiro não tinha sabão nem
papel para enxugar as mãos (e estava fazendo 5 graus abaixo
de zero), faltou luz nos camarotes e o placar eletrônico não
funcionou. Apesar do gelo que fazia lá dentro, a única
comida disponível era...SORVETE! EM outros setores a cerveja
acabou antes do primeiro tempo. Dizem que o Soccer City, palco do
segundo jogo. Estarei lá vendo o jogo, antes de embarcar
pra Cannes. Torcendo pelo Brasil e por mais conforto e segurança.
3. Mandela Square
O
point de todas as torcidas em Jo'burg, e onde o pessoal tem ido
assistir aos jogos. A Sony colocou uma arena coberta na praça
com um supertelão 3D. Enquanto isso a Fan Fest oficial da
Copa, a poucos Km dali tem ficado vazia. O motivo: é descoberta
e não tem nenhum atrativo (lojas, brinquedos, boa comida,
como tinha na Copa de 2006). Mas vazio mesmo, zero pessoas. A Mandela
Square é também uma praça comum a 3 ou 4 shoppings
e fica perto dos melhores hotéis da cidade. Mesmo assim,
comer qualquer coisa lá depois das 23h é uma aventura.
Fui parar no restaurante de um cassino com meus amigos aqui. Chega
a garçonete:
- Pois não.
- Dois frangos não sei das quantas e duas cervejas (aponto
no cardápio)
- Ok.
Meia hora depois, volta ela e outra mulher.
- Senhor, eu esqueci o que você pediu.
- Dois frangos...
- Tem certeza? Vai demorar um pouco.
- Ta, o que sai rápido?
- A promoção do cheeseburguer mais uma cerveja.
- Tudo bem.
5 minutos depois, chegam dois frangos...para a mesa da frente que
chegou bem depois e pediu a mesma coisa.
Mais 30 minutos depois, chegam as bebidas: dois...sucos de laranja!
O cheeseburguer só chegou 15 minutos mais tarde. Mas sem
queijo.
4. Vuvuzela
Se
enche o saco na TV, imagina no estádio. Os brancos preconceituosos
daqui (ainda andam pela África) dizem que é a vingança
dos negros contra as maldades do apartheid. Já dei meu jeito
aqui: peguei vários protetores de ouvido no avião.
5. Filma Eu, Galvão
11 em cada 10 pessoas com quem eu falei que vinha pra Copa ou souberam
que estou aqui me dizem assim: Aparece na TV!
As sugestões são divertidas: "coloca uma máscara,
uma peruca, um óculos engraçado". Só tem
dois problemas. Um é que todo mundo já faz isso. Outro
é que se eu colocar isso tudo, como as pessoas saberão
que sou eu?
6.
Ronaldino
"Ronaldino" é o assunto preferido dos sulafricanos.
Todos eles acham Dunga uma besta por não tê-lo trazido
e não conseguem entender o motivo.
Pra falar a verdade, nem eu.
7. Cidade do Cabo
A cidade, um oásis da Copa, tem sido disputada a tapa pelos
brasileiros que vieram a Jo'burg, viram e não curtiram. Muitos
estão mudando a programação para lá
ou para programas alternativos.
8. Safari
Eu mesmo já tinha programado vir para o Kruger Park, praticamente
um pais a parte dentro da África do Sul onde se realizam
vários safáris. A hospedagem, mesmo as mais simples
(e administradas pelo governo) são ótimas, têm
uma ótima estrutura e os passeios para procurar animais na
savana saem lotados de madrugada ou ao cair da tarde, horários
onde os bichos "dão expediente". Num dos episódios
mais pitorescos, o guia do meu tour parou o carro e os turistas
ficaram querendo saber que bicho estaria ali. Já que sempre
que ele para é porque alguém avistou algo. Ele sai
do carro, o que é incomum e extremamente perigoso. Ouvimos
um barulho familiar e ele responde: "It is the black mamba"
responde ele se referindo a uma cobra negra gigante...quando na
verdade tinha ido fazer seu xixi. Teve uma moca que jurou que era
mesmo uma cobra negra gigante.
9.
Babuínos
Esses bichos dominam varias reservas onde as pessoas se hospedam
para os safáris. E se você da mole um minutinho, eles
levam o que estiver em cima da mesa. Enquanto eu estava escrevendo
essa coluna, por exemplo, entraram no meu quarto e roubaram todo
o pão que o meu grupo tinha comprado pro lanche. Até
onde é seguro, temos que nos preocupar com a segurança...
10. A Mãe Natureza
Na
África você aprende que o mundo maravilhoso dos bichinhos
dos filmes da Disney é muito mais nojento do que você
pode imaginar. Você sabia que o rinoceronte usa o xixi como
meio de comunicação? E que o elefante faz 180 kg de
coco por dia? E que os passarinhos coloridos africanos se alimentam
do coco dele? Já aprendi essas porcarias todas.
11. O Povo e a Torcida
O
povo sulafricano é o ponto alto da festa por aqui e faz tudo
para ser simpático. Todos as pessoas estão indo trabalhar
de camisa de futebol e fazem questão de serem simpáticos
e prestativos. Os policiais são gente finíssima, torcem,
cantam, jogam bola com a galera. E os torcedores que estão
na África do Sul parecem fazer a diferença pra quem
esta por aqui curtir o clima de Copa. Não são muitos,
mas se ajudam, conversam muito e se unem. Me surpreendeu a quantidade
de gente de pais sem tradição em Copas: americanos,
hondurenhos (muitos), mexicanos, australianos e ate quem nem se
classificou como israelenses, turcos. É a galera e a beleza
natural africana que está fazendo a diferença. Será
que no Brasil vai ser assim?
Eu volto assim que encontrar ou já de Cannes, contando mais
sobre a Copa e o Festival.
Este ano a cobertura da Fenêtre é meio Jabulannes.
Ou seria Jabunela?
Um abração!
Em tempo: Agradecimentos Carlos "Ia" Murad (WMcCann),
Bruno Ribeiro (Ogilvy), Eduardo Guimarães (Banco Fator) e
Cesar Braga (Instituto João Havelange) companheiros que têm
me ajudado pra caramba aqui na África.
O redator Fabio
Seidl é o enviado especial da Janela em Cannes 2010.
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