Janela Publicitária    
 
  Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
 
A Fenêtre é a cobertura da Janela Publicitária em Cannes, com o apoio da Proview em 2010.


 

14 de junho de 2010, segunda-feira

CANNES, ANOS 2000 : Parte I

Está começando um novo decênio para o Festival de Cannes.
E para ficar enchendo linguiça até o começo do evento deste ano, perdi meu tempo recordando e analisando o que aconteceu nas categorias mais tradicionais do Festival.
E, como vocês vão ler, elas acabaram sendo dominadas pelas não-tradicionais ao longo dos anos.
Já que você não está fazendo nada, faça essa viagem no tempo com a Fenêtre. Veja o que mudou e o que não mudou nos últimos 10 anos.

2000:

Foi o meu primeiro ano em Cannes, já comentando o Festival a convite da querida Priscila Serra, na época, editora do Vox News.
E o primeiro a gente nunca esquece.
O Grand Prix de filme, colaborou pra isso. Foi o inesquecível Wassup, da DDB Chicago para a Budweiser, favorito desde a primeira exibição no Palais.
Na época, aliás, não existia Youtube (só surgiu em 2005) e ninguém conhecia os filmes que iam concorrer com antecedência.
Também por isso, todo mundo assistia o long list, ou seja as exibições das categorias de todos os filmes inscritos. As salas lotavam, tinha gente que ficava do lado de fora e eram colocadas TVs extras nos corredores.
Me lembro também do final da exibição do short list, quando no final, muita gente saiu do Palais ligando para os outros dos seus celulares (outra coisa pouco difundida na época) e gritando Wassuuuuuuuup?
É um filme com um humor simples e que usa um grupo que fazia a mesma piada num curta-metragem assistido por um dos caras da DDB.
Poderia ter sido criado no Brasil. Mas duvido que em português chegasse onde chegou.
Neste ano legal ver também uma agência brasileira, a Almap, receber o prêmio de agência do ano. A DM9 tinha sido bi em 1998 e 99 ou seja era o Brasil, mais do que nunca no topo.
Em Press, ganhou a campanha “Assumidade cara” da Stella Artois criada pela Lowe UK.
Bonita, mas não empolgou os delegados como os grandes filmes que a agência produzia para a mesma marca.
Veja Wassup, que 10 anos depois é campeão de audiência no YouTube

2001:

Outra agência brasileira seria a melhor do ano: a F/Nazca.
Entre os filmes, o grande vencedor foi a campanha de Fox Sports criada pela americana Cliff Freeman.
Me lembro que durante algum tempo o Jô Soares ficou apresentando esses comerciais como se os esportes fossem sérios.
Em Press&Poster (na época, a categoria tinha esse nome e era julgada junta), apesar dos vários leões brasileiros, o Grand Prix também não comoveu o público.
Foi para a campanha "africana" da Paradiset DDB para a Diesel, marca que tinha feito sucesso nas edições do Festival no final dos anos 1990. Foi um dos últimos suspiros da Diesel que só foi se reinventar com a Internet, já com outras agências, no fim da década.
Relembre um dos filmes da Fox Sports.

2002:

A lúdica campanha “Tag”, da Nike criada pela Wieden+Kennedy disputou cabeça a cabeça o Grand Prix com a surrealista “Odissey”, da BBH para a Levi’s
No final, os caras de tênis chegaram na frente da turma que atravessava paredes de calça jeans.
Na mídia impressa, a Saatchi londrina inaugurou um estilo novo (para a época) de direção de arte para o resort para adultos Club 18-30. Anúncios cheios de detalhes para pararmos e prestarmos a atenção.
Me lembro de muita gente questionou a relevância do cliente, sem verba e que poderia aprovar qualquer coisa.
Mas os anos que vieram trouxeram uma avalanche de prêmios para os anúncios criados para outros clientes nanicos.
Na categoria Cyber, que havia sido lançada um ano antes (e sem ninguém dar muita bola) um dos Grand Prix foi para a série de curtas-metragem “The Hire” criados pela Fallon de Minneapolis para a BMW.
Na época, o GP era dividido em “Brand Promotion” e “Other”. BMW levou em “other”. Na verdade, a campanha era tão inovadora que mereceu o lançamento de um prêmio a parte: um leão de titânio.
Reveja Tag

2003:

Seria o ano do bicampeonato em filmes da W+K que levou ao festival o favorito “Cog”, o filme das engrenagens para Honda, brilhantemente produzido pela Partizan. Seria, mas não foi.
Do nada, surgiu o filme “Lamp” da Crispin Porter para Ikea, que levou a platéia a nutrir sentimentos por uma porcaria de uma luminária, como diria o personagem do filme.
Grande virada no final do filme e no fim do Festival. Grand Prix pra eles.
Em mídia impressa, polêmica.
O GP seria dado, pela primeira vez, para uma agência portuguesa, a Leo Burnett. A campanha all type para a livraria Férin que, inclusive tinha sido criada por uma equipe brasileira em Lisboa.
Só que alguém no júri se incomodou com os all types lusitanos.
O Festival pediu o certificado de veiculação de todas as peças da campanha e antes mesmo que a agência reunisse os documentos, a direção global da Leo Burnett retirou a campanha da competição.
E olha a repercussão desse incidente.
O GP acabou indo para “Rebirth” da TBWA Paris para Playstation.
Com isso, os franceses, liderados pelo belga Erik Vervroegen, foram agência do ano. Foi o início de uma moral de 4 anos seguidos levando o prêmio de melhor agência do Festival.
Assista Lamp, dirigido pelo genial Spike Jonze que na época, já tinha feito os longas Quero Ser John Malkovich e Adaptação.

2004:

Este foi o ano da clássica campanha “Real Man of Genius” da DDB Chicago para Budweiser que foi ouro, mas nao chegou a Grand Prix.
Mas tudo bem, a mesma campanha, com variações da mesma piada, levou outros leões por mais 4 anos no festival em várias categorias.
Foi o épico “Mountain” da TBWA Londres para o aguardado lançamento do Playstation 2 levou a melhor.
Em Press, quem levou foi o simples, mas inteligente “Small but Tough” para o VW Polo, criado pela DDB UK.
Veja Mountain com produção da Gorgeous e rodado no Rio de Janeiro.

Amanhã a gente volta com a continuação desta saga.
Disfarça um poquinho e volta a trabalhar.

O redator Fabio Seidl é o enviado especial da Janela em Cannes 2010.