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Na Web desde 12/07/1996.
A Fenêtre é a cobertura da Janela Publicitária em Cannes, com o apoio da Proview em 2010.
14
de junho de 2010, segunda-feira
CANNES, ANOS 2000 : Parte I
Está começando um novo decênio para o Festival
de Cannes.
E para ficar enchendo linguiça até o começo
do evento deste ano, perdi meu tempo recordando e analisando o que
aconteceu nas categorias mais tradicionais do Festival.
E, como vocês vão ler, elas acabaram sendo dominadas
pelas não-tradicionais ao longo dos anos.
Já que você não está fazendo nada, faça
essa viagem no tempo com a Fenêtre. Veja o que mudou e o que
não mudou nos últimos 10 anos.
2000:
Foi o meu primeiro
ano em Cannes, já comentando o Festival a convite da
querida Priscila Serra, na época, editora do Vox News.
E o primeiro a gente nunca esquece.
O Grand Prix de filme, colaborou pra isso. Foi o inesquecível
Wassup, da DDB Chicago para a Budweiser, favorito desde a primeira
exibição no Palais.
Na época, aliás, não existia Youtube (só
surgiu em 2005) e ninguém conhecia os filmes que iam
concorrer com antecedência.
Também por isso, todo mundo assistia o long list, ou
seja as exibições das categorias de todos os filmes
inscritos. As salas lotavam, tinha gente que ficava do lado
de fora e eram colocadas TVs extras nos corredores.
Me lembro também do final da exibição do
short list, quando no final, muita gente saiu do Palais ligando
para os outros dos seus celulares (outra coisa pouco difundida
na época) e gritando Wassuuuuuuuup? É um filme
com um humor simples e que usa um grupo que fazia a mesma piada
num curta-metragem assistido por um dos caras da DDB.
Poderia ter sido criado no Brasil. Mas duvido que em português
chegasse onde chegou.
Neste ano legal ver também uma agência brasileira,
a Almap, receber o prêmio de agência do ano. A DM9
tinha sido bi em 1998 e 99 ou seja era o Brasil, mais do que
nunca no topo.
Em Press, ganhou a campanha “Assumidade cara” da
Stella Artois criada pela Lowe UK.
Bonita, mas não empolgou os delegados como os grandes
filmes que a agência produzia para a mesma marca.
Veja Wassup, que 10 anos depois é campeão de audiência
no YouTube
2001:
Outra agência
brasileira seria a melhor do ano: a F/Nazca.
Entre os filmes, o grande vencedor foi a campanha de Fox Sports
criada pela americana Cliff Freeman.
Me lembro que durante algum tempo o Jô Soares ficou
apresentando esses comerciais como se os esportes fossem sérios.
Em Press&Poster (na época, a categoria tinha esse
nome e era julgada junta), apesar dos vários leões
brasileiros, o Grand Prix também não comoveu
o público.
Foi para a campanha "africana" da Paradiset DDB
para a Diesel, marca que tinha feito sucesso nas edições
do Festival no final dos anos 1990. Foi um dos últimos
suspiros da Diesel que só foi se reinventar com a Internet,
já com outras agências, no fim da década.
Relembre um dos filmes da Fox Sports.
2002:
A lúdica campanha
“Tag”, da Nike criada pela Wieden+Kennedy disputou
cabeça a cabeça o Grand Prix com a surrealista
“Odissey”, da BBH para a Levi’s
No final, os caras de tênis chegaram na frente da turma
que atravessava paredes de calça jeans.
Na mídia impressa, a Saatchi londrina inaugurou um estilo
novo (para a época) de direção de arte
para o resort para adultos Club 18-30. Anúncios cheios
de detalhes para pararmos e prestarmos a atenção.
Me lembro de muita gente questionou a relevância do cliente,
sem verba e que poderia aprovar qualquer coisa.
Mas os anos que vieram trouxeram uma avalanche de prêmios
para os anúncios criados para outros clientes nanicos.
Na categoria Cyber, que havia sido lançada um ano antes
(e sem ninguém dar muita bola) um dos Grand Prix foi
para a série de curtas-metragem “The Hire”
criados pela Fallon de Minneapolis para a BMW.
Na época, o GP era dividido em “Brand Promotion”
e “Other”. BMW levou em “other”. Na
verdade, a campanha era tão inovadora que mereceu o lançamento
de um prêmio a parte: um leão de titânio.
Reveja Tag
2003:
Seria o ano do bicampeonato
em filmes da W+K que levou ao festival o favorito “Cog”,
o filme das engrenagens para Honda, brilhantemente produzido
pela Partizan. Seria, mas não foi.
Do nada, surgiu o filme “Lamp” da Crispin Porter
para Ikea, que levou a platéia a nutrir sentimentos por
uma porcaria de uma luminária, como diria o personagem
do filme.
Grande virada no final do filme e no fim do Festival. Grand
Prix pra eles.
Em mídia impressa, polêmica.
O GP seria dado, pela primeira vez, para uma agência portuguesa,
a Leo Burnett. A campanha all type para a livraria Férin
que, inclusive tinha sido criada por uma equipe brasileira em
Lisboa.
Só que alguém no júri se incomodou com
os all types lusitanos.
O Festival pediu o certificado de veiculação de
todas as peças da campanha e antes mesmo que a agência
reunisse os documentos, a direção global da Leo
Burnett retirou a campanha da competição.
E olha a repercussão desse incidente.
O GP acabou indo para “Rebirth” da TBWA Paris para
Playstation.
Com isso, os franceses, liderados pelo belga Erik Vervroegen,
foram agência do ano. Foi o início de uma moral
de 4 anos seguidos levando o prêmio de melhor agência
do Festival.
Assista Lamp, dirigido pelo genial Spike Jonze que na época,
já tinha feito os longas Quero Ser John Malkovich e Adaptação.
2004:
Este foi o ano da clássica
campanha “Real Man of Genius” da DDB Chicago para
Budweiser que foi ouro, mas nao chegou a Grand Prix.
Mas tudo bem, a mesma campanha, com variações
da mesma piada, levou outros leões por mais 4 anos no
festival em várias categorias.
Foi o épico “Mountain” da TBWA Londres para
o aguardado lançamento do Playstation 2 levou a melhor.
Em Press, quem levou foi o simples, mas inteligente “Small
but Tough” para o VW Polo, criado pela DDB UK.
Veja Mountain com produção da Gorgeous e rodado
no Rio de Janeiro.
Amanhã a gente volta com a continuação desta
saga.
Disfarça um poquinho e volta a trabalhar.
O redator Fabio
Seidl é o enviado especial da Janela em Cannes 2010.