Janela Publicitária    
 
  Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
 
A Fenêtre é a cobertura da Janela Publicitária em Cannes.
 

25 de junho de 2009, quinta-feira

NOITE DE OURO PARA O BRASIL

Cerimônia de entrega dos leões de ouro para Press, Design e Cyber ontem no Palais. E uma verdadeira festa brasileira, com os resultados positivos de DM9 e Almap, as duas agências que mais inscreveram.
Terry Savage, CEO do Festival, abriu seu discurso na cerimônia ontem dizendo que: “a criatividade está viva e passa muito bem.” E a sensação foi essa mesmo. Bons trabalhos premiados.

DESIGN

Os sete leões brasileiros confirmam o que o Brasil pode e deve assumir o papel de um dos líderes mundiais desse mercado e com certeza, tem muita coisa legal que nem foi inscrita pelo nosso país.
A categoria, em geral, amadureceu muito e trouxe soluções absolutamente geniais como o Skimmer da Fallon que organiza os sites e aplicativos que você mais usa: www.fallon.com/skimmer

Jung Von Matt Wines
A Kinetic Sculpture, da alemão Art+com para BMW, parece coisa de outro mundo E os rótulos que trazem “rostos” com as personalidades dos vinhos da Jung von Matt (foto).

CYBER

A cerimônia de Cyber continua um pouco confusa com os 3 GPs e coisas que deveriam ganhar numa categoria ganhando em outra.
Por exemplo: o GP de website para (novamente) The Best Job in The World, a campanha que o mundo inteiro ficou sabendo e comentou, sobre o emprego milionário de zelador de algumas ilhas paradisíacas na Austrália. A campanha é de um brilhantismo raríssimo, mas será que o site, em si, merecia o Grand Prix? Não sei.
Dois sites sensacionais, como o lançamento da nova TV da Philips tamanho 21:9 (www.philips.com/cinema) só chegou a prata.

O site Now, da Sprint (imagem acima à esquerda), que virou uma febre, mesma coisa. Só Prata.
A campanha do novo filme do Batman (à direita), foi prata em campanha (onde era mais forte) e GP em viral (onde achei que fosse mais fraco), outra surpresa.
E o terceiro, polêmico, para o aplicativo Fiat Eco Drive para mostrar como o motorista pode dirigir melhor. A polêmica ficou em torno da discussão se esse GP deveria ou não ter ido para o Whopper Sacrifice, da Crispin Porter, que estimulou pessoas a eliminarem amigos do Facebook em troca de hambúrgueres. Segundo a Janela ouviu de orelhada, parte do júri boicotou a peça por estimular um comportamento pouco bacana em relação às pessoas e à mídia. Que bonitinho.
Falta só falar de um dos meus preferidos, o genial Banner Band Concerts, ouro: www.axionweb.be/nl/bannerconcerts/

CONFUSÃO

O redator do roteiro da cerimônia (não fui eu, juro) tentou derrubar o apresentador do festival duas vezes ontem.
Uma na entrega do prêmio de Agência Digital do Ano quando ele anunciou a Boongdoodle da Bélgica, como a grande vencedora. Os belgas, que na verdade tiraram o terceiro lugar, comemoraram como loucos, se levantaram e se abraçaram mas logo veio um: “foi mal, na verdade ganhou a Goodby de San Francisco”.
Outra: o apresentador anunciou a dupla Australiana como a campeã do Young Lions de Press. Mas a Austrália não ficou nem entre os 3 primeiros.
Os portugueses, verdadeiros campeões, quase tiveram um piripaque, já que algumas horas antes tinham recebido os parabéns do próprio David Lubars, presidente do Júri.
Lubars, aliás, que estava no palco na hora, mandou um recado para o roteirista: “Não mexa com Portugal...” . Dias antes, a delegação portuguesa reclamou muito pela mexida que o americano fez no shortlist de Press, reduzindo as 19 peças portuguesas a... duas.
E Marcio, fica tranqüilo: dei uma ideia no pessoal do Festival para te colocar no lugar desse apresentador que não sabe nada. Pode até trazer aquele roitweiller que entrou contigo no Colunistas desse ano.

PRESS

David Lubars, antes da entrega dos Leões de Press, fez um discurso mantendo sua posição de que estava ali para levantar o nível e caçar fantasmas. Ainda propôs que o público tentasse encontrar trabalhos ruins no short list.
Mas infelizmente, o Grand Prix de Press, para Wrangler foi friamente recebido e é o comentário da vez entre os delegados: ninguém ama a campanha a ponto de ser considerada a melhor coisa que se fez no último ano em mídia impressa.
Almap e DM9, com bons resultados em Press e Print, só tinham o que comemorar.
Dá só uma olhada nas fotos.
AlmapBBDO DM9DDB - Latinstock
A galera da Almap, recebendo o ouro por Havaianas no palco gigantesco do Palais A DM9 subindo para receber o prêmio por Latinstock
Dulcídio Caldeira Fischer Portugal
Dulcídio Caldeira, da Almap, cercado pela imprensa. Os cariocas da Fischer Portugal: Prata com Honda.
André Godói e André Gola Gustavo Victorino e Otavio Schiavon
Os Andrés Godói e Gola, da Almap, Ouro por EPA Gustavo Victorino e Otavio Schiavon, da DM9, fizeram Terra virar Ouro.

VENDO-ME

Na entrada do Palais, desde ontem está um publicitário oferecendo seus serviços aos diretores de criação do mundo inteiro. É a ação de guerrilha de um homem só: cliente-criativo-produto.
Ontem ele estava com um cartaz oferecendo um “Green Card” para quem visse o portfólio dele (na verdade, dava um cartão de visitas verde) e hoje, já famoso, colocou a cabeça numa caixa de papelão onde se lê: “Agora que já tive meus 15 minutos de fama, quero trabalhar por um longo período para você.”
O figura se chama Alex Garbini, é brasileiro (morando em Paris) e, segundo ele, leitor da Janela (tinha que ser...).
Quem quiser conhecer o trabalho dele, está disponível online também: www.garbini.carbonmade.com

 

NO PARTY FOR SEIDL

A produtora holandesa Massive Media, que sempre promove uma das festas mais bacanas de Cannes, ontem mandou colocar um cartaz na praia da Croissette deixando claro : NO PARTY.
Só podia ser pra mim já que muita gente foi lá e entrou numa megafesta e só eu não tinha convite ou não tive a sagacidade que alguns colegas brasileiros tiveram de entrar pela areia mesmo, enquanto seus amigos se encarregavam de distrair os seguranças.

 

E O MARTINEZ?

Neste caso, a boa qual é? O bar em frente ao Hotel Martinez. Até que estava legal.
A brasileirada aproveitou para reencontrar seus amigos que trabalham em outros estados e até outros países. Tinha brasileiro que trabalha na Inglaterra, Espanha, Estados Unidos, Portugal e no mundo árabe.
Encontrei uma galera dos Young Lions, que como sempre estavam que nem pinto no lixo aqui em Cannes.
Um deles confessou que só não estava preparado para uma coisa:
“Nem tinha pensado que ia ter que dividir o banheiro com um cara que nem conheço. Às vezes eu fico um tempão lá dentro, abro a porta e o cara sente na hora o que eu estava fazendo, mas faz uma cara de que está vendo televisão.”
Outro colega concordou:
“Cheguei ontem no quarto e vi uma bunda branca encostada no vidro do Box!”
E o amigo se defendeu: “Esqueci a porta aberta e a água estava muito quente, acabei pulando pra trás! Vou adivinhar que ele ia chegar?”
E o Martinez tinha, claro, algumas figuras.
Não eram tantos, mas o número de indivíduos era inversamente proporcional à empolgação. Acabei sendo apresentado a truques novos como:
- O Truque do Marshmallow: Consiste em roubar marshmallows de um restaurante próximo ao Martinez e oferecer para as gringas emendando um papo nada profícuo. Não vi dar resultado.
- A Cantada do Sapinho: Funciona assim: o cidadão leva um sapinho no bolso. Pede pra menina dar um beijinho no sapo e em seguida surge...ele mesmo! Achei essa, pelo menos, engraçada.
- A Dança da Badalhoca: Tem algumas variações. Você pode convidar umas gringas para ficar dançando ridiculamente e cantando um refrão funkeiro cuja letra é: “Uh, Badalhocaaa!”. Outra possibilidade é juntar várias pessoas (brasileiros, estrangeiras etc) com nível etílico elevado e fazer uma rodinha em volta de um cidadão (digamos: eu) e ficar gritando “uh, badalhoca”. Pode ser acrescido de “Uh, Fabio Seidl! Uh, Badalhoca!”
- E finalmente, o Jamal: Para fazer um Jamal, você precisa de gringos bêbados que estejam passando dos limites. Aí é só você convencê-lo a beijar um boneco rastafári - que se chama Jamal - dizendo que aquilo é para dar sorte (no amor, no festival). O toque especial: o Jamal, na verdade, tem que ter sido encontrado com a cabeça enfiada no mictório do banheiro do bar.

NÃO VEIO NINGUÉM, MAS TÁ TODO MUNDO AÍ.

Essa frase, dita ontem no Martinez, diz tudo sobre a delegação brasileira. A impressão de que a turma estaria muito menor esse ano se desfaz quando você começa a dar uma volta. É impossível não encontrar alguém conhecido. É só ficar de olho na Fenêtre pra perceber.

Marcelo Conde
  Marcelo Conde, da W/, curtindo sua estréia no festival.
Marcelo Lourenço e Pedro Bexiga
O brazuca Marcelo Lourenço com o “tuga” Pedro Bexiga, diretores de criação da Fuel/Euro RSCG Portugal. Pedrinho Utzeri, da Neogama e Daniela Ribeiro, da Fischer.
Gabriel Sotero
Sergio Valente, presidente da DM9 fazendo um DDI. Gabriel Sotero, Young Lion que aceitou uma proposta de uma nova agência em Cannes (parabéns, depois ele conta) e Righi, da Fulano.
Marcelo Affini e Lais Prado
Antônio Carlos Accioly
Marcelo Affini e Lais Prado, do CCSP, trabalhando enquanto os outros se divertem E olha aí ele, que mandou uma foto lá do Rio, com sua coleção de 15 crachás do festival, Antônio Carlos Accioly, da Margarida Filmes. Tá aqui de coração.

O MUNDO ESTÁ EM CRISE. E SEM JOB.

Você sabe que o planeta passa por sérios problemas quando pessoas de várias partes do mundo não só leem a Fenêtre como ainda escrevem para dizer que o fazem. É o ócio de criativos como:
Ícaro Dória (Y&R NY), Marco Leal (Mediaway Portugal), Sergio Lobo (Leo Burnett Madrid), Alexandre “Vaguinho” Abrantes (Africa) e Alessandro Monteiro (CG Com).
Muito obrigado, galera.

TALKING ABOUT MY GENERATION

Roger Daltrey em CannesAcabo de sair de um dos grandes momentos que já passei até hoje aqui em Cannes. Roger Daltrey, vocalista do The Who, uma das maiores bandas da história, acaba de deixar o Palais após cantar, só no gogó e no violão: Who Are You e Ring of Fire (do mestre Johnny Cash).
O público ficou de pé no Auditório Debussy e a pedido de Daltrey, fez o backing vocal das músicas. O assédio após a apresentação foi tanto que depois de dois ou três sortudos terem descolado um autógrafo e a palheta, a segurança teve que retirar o cara de lá.
Antes do mini-show, Daltrey participou de um bate-papo sobre sua carreira, que está completando 40 anos.
Deixou claro que o The Who não era nada antes de terem aceitado criar uma ópera-rock, Tommy, que levou a banda a uma categoria completamente diferente de grupo artístico. A categoria “Integrated” diria eu, a primeira a envolver música, teatro e cinema.
Daltrey disse ainda que na opinião dele, a culpa da pirataria que afundou a indústria fonográfica não é do MP3, mas dos CDs.
“Nos anos 60 e 70, a música era só 60% de um disco, as pessoas compravam o disco pela capa, pelo encarte, pelas letras. Aí inventaram o CD, com umas capas pequenas, feitas de um plástico vagabundo deixaram as letras ilegíveis, acabaram com o ritual. Uma geração inteira cresceu sem se relacionar com isso. Então, porque não baixar as músicas?”
Antes de emendar Who Are You, perguntando sobre o que era música para ele, foi direto: “É um espelho, por isso que as pessoas se identificam.”
Como diria ele mesmo: “the Kid is Alright”.


HELLO, I’M A PC (OU: O HOMEM DE 70 BILHÕES DE DÓLARES)

Uma das palestras mais aguardadas do Festival ocorreu ontem e muita gente saiu com a sensação de que não era bem isso que estava esperando.
Steve Ballmer (à esquerda), co-fundador e CEO da Microsoft, deixou claro que não veio aqui fazer poesia. Veio promover sua empresa como líder da era digital, parceira ideal para o mundo do marketing e motivar sua força de vendas. E fez isso em 80% da sua conferência.
A Microsoft, curiosamente, solicitou que o público liberasse as 6 primeiras filas do auditório para os executivos da empresa, como se essa fosse uma grande convenção da MS.
A companhia, inclusive, montou um enorme espaço na praia aqui que é um verdadeiro restaurante de luxo onde, todos os dias, funcionários e potenciais clientes da empresa conversam e negociam sem parar.
Ballmer é um homem inteligentíssimo, fala muito bem (lembra um pastor), mas talvez tenha encontrado uma expectativa diferente no público.
Mas colocou um ponto interessante: para ele, não estamos mais vivendo a recessão, mas um “reset”.
Depois da palestra, uma jornalista da Fortune subiu para fazer uma rodada de perguntas e respostas. Algumas, infelizmente, ensaiadas e previsíveis.
Brincou perguntando se era verdade que ele tinha 30 bilhões de dólares (e ele tem, segundo a própria revista, quase 70) e ele desconversou dizendo que os acionistas da empresa estavam muito felizes.
E partiram para um dos momentos mais curiosos da palestra: a jornalista citou uma declaração de Ballmer e Bill Gates feita em 1993. Na época, os dois afirmaram numa palestra que em 10 anos aconteceria duas coisas:
1) As pessoas começariam a ler mais coisas em telas do que no papel.
2) O telefone, e não os PCs portáteis de mão, seria a mídia do futuro.
Veio uma pergunta na minha cabeça: se a Microsoft sabia disso, há 15 anos (e lembrem-se que eles investem US$ 10 bi por ano em pesquisa e desenvolvimento), porque nao inventaram o iPhone? :)


SAATCHI NEW DIRECTORS SHOWCASE

Eu também esperava mais da performance de abertura da tradicional mostra de Novos Diretores da Saatchi.
O evento é sempre muito disputado (costuma lotar dois auditórios, um deles só com um telão) e sempre tem um show que rouba a cena do festival. Já vieram para cá pocket shows do Cirque de Soleil, do Fuerzabruta, e até uma orquestra regida pelo diretor de cinema Tarseem.
Mas este ano, a Saatchi fez uma aposta difícil arriscada. Trouxe ao Palais o diretor Mark Price para falar sobre seu filme “Colin”. Trata-se de uma produção alternativa sobre Zumbis que esteve no Festival de Cinema de Cannes e segundo o diretor, custou só 45 libras.
Mas Markito, seu maroto, essa conversa pode até render matéria no jornal, mas ninguém produz nada com 45 libras. Não dá nem pra comprar o sangue falso. E essa gente de publicidade sabe disso. É uma estratégia de marketing que chamava atenção quando era caríssimo ter uma câmera.
Pra piorar, as cenas apresentadas eram chatinhas e...resultado: rolou uma assoviada daquelas.
A vergonha alheia terminou quando a Saatchi soltou sua seleção de trabalhos pescada entre alguns dos melhores diretores do mundo: quase todos excelentes. Dá uma olhada no site que a Saatchi criou no Youtube pra mostra:
www.youtube.com/nds
Destaque para alguns trabalhos incríveis como o de Dennis Liu (criou um clip inteiro usando só a própria tela do Mac) e para o encontro da galhofa com o detalhismo do coletivo francês Megaforce.
Note também: os poucos trabalhos publicitários selecionados.


DAVID PLOUFFE: YES, WE CANNES

Olha o trocadilho aí, gente. Outra palestra das mais badaladas do festival ocorreu na manhã desta 5a aqui em Cannes. David Plouffe, um dos articuladores da campanha de Barack Obama, falou sobre os bastidores da campanha para um auditório tão lotado que tinha gente em pé.
O ponto de partida: como criar uma campanha politica feita para “gente adulta”.
E Plouffe mostrou: quando Obama fala, não tem musiquinha no fundo, não tem computação gráfica, não tem metáfora. E quando ele se defende, não tem ironia, não tem rancorzinho. E ponto. Segundo Plouffe, isso aconteceu porque o próprio Obama é assim: simples e objetivo.
Destacou também sobre o uso (consciente) de conteúdo gerado pelo público, principal arma da campanha, e da estratégia de não citar nenhuma questão racial na campanha.
E foi sincero: “Ganhamos porque tivemos uma campanha coerente com um dos melhores candidatos que já existiram nos últimos tempos, num país que queria ouvir exatamente aquilo.”
Os tempos estão mudando minha gente. Os publicitários estão vindo a Cannes para ouvir palestras sobre marketing político.
Mas não se iludam, o que vai ter de gente, nas eleições brasileiras do ano que vem, tentando imitar de maneira bizarra a campanha de Obama vai ser uma grandeza.

 

O redator Fabio Seidl é o enviado (com todo o respeito) especial da Janela em Cannes 2009.