23
de junho de 2009, terça-feira
O
FESTIVAL DE CANNES ESTÁ MORTO. VIVA O CONGRESSO DE CANNES.
No ano passado, escrevi aqui na Fenêtre que o Festival estava
se consolidando como um grande painel de seminários, devido
a mudança de posicionamento que os organizadores começaram
a fazer.
Ninguém deu bola.
Na abertura da nossa cobertura, há uma semana, escrevi aqui
que o Festival não tinha este ano grandes atrativos na disputa
pelos leões.
Ninguém nem falou nada.
Uma semana depois disso, o Bob Garfield, um dos jornalistas mais
respeitados do mundo escreveu na abertura dos seus trabalhos sobre
o festival: “Cannes não importa mais.” Todo mundo
comentou.
Isso só confirma duas coisas:
1- A absoluta falta de credibilidade e audiência desta minha
coluneta.
2- E confirma também o que eu disse.
Só que hoje, no terceiro dia de festival, deu pra perceber
que, ao contrário do que o Garfield diz, Cannes ainda importa,
mas de outra maneira.
Estive no Grand Auditorium, com lugar para milhares de pessoas,
para assistir a exibição das principais categorias
de filmes. No primeiro ano que vim cobrir Cannes, em 2000, tive
que ficar do lado de fora, vendo os filmes por uma TVzinha.
Pois bem, hoje pela manhã, contei 22 pessoas. Fiquei lá
por 1 hora. A categoria “Miscelânea” durou 5 minutos.
“Produtos de Higiene” durou 15.
Fui assistir a palestra da Naked. Tinha gente sentada no chão.
Mais tarde, na da agência holandesa 180, tinha gente no colinho.
A das agências independentes, cheiaça também.
Vou falar sobre as palestras na segunda parte do meu boletim de
hoje.
Então resolvi abrir a coluna de hoje com um título
sensacionalista, para mostrar que isso aqui mudou e ver se alguém
resolve ler essa chubanga.
FAZENDO
CERIMÔNIA
Segunda-feira, na falta de algo melhor para fazer, fui assistir
a premiação de Promo, PR e Direct, mas cheguei a conclusão
que elas três são mais ou menos como aquele namorado
da Madonna, o Jesus: é a premiação três-em-um:
pai, filho e espírito santo. Afinal, o que ganha em PR, também
ganha em Promo e Direct. O GP de PR é o mesmo de Promo. Ou
seria de Direct? E a Leo Burnett Portugal saiu de lá ontem
com 6 leões, com 3 cases. É a multiplicação
dos Leões.
Quem também está em todos os lugares ao mesmo tempo
é a minha amiga, a cachorrinha Tura. Subiu no palco ontem
três vezes - conforme antecipei aqui - e roubou todas as atenções.
Super comportada, a Tura, diga-se.
A crise é tanta que Cannes está aceitando a inscrição
dos bichinhos de estimação da galera.
ENGATANDO A SEGUNDA
Eu sempre imaginei como seria Cannes fora do perído do
Festival.
Ontem eu descobri. Caiu uma chuva ontem aqui, esfriou, não
tinha nenhuma festa na Croissette, ninguém na rua, poucas
pessoas jantando e para a minha surpresa, nem o Accioly, da Margarida
Filmes, está aqui!
Me disseram que ele teve que ficar por causa de trabalho. Mas eu
não acredito. Afinal todos nós sabemos que existem
vários Acciolys. Como assim Festival de Cannes sem o Accioly
saindo em todas as fotos? Precisamos fazer alguma coisa.
FÓRMULA
HMMM...
Chama a atenção na frente do Palais um carro da
Williams de Fórmula 1.
Todo mundo para ali pra tirar fotos, mas o que também é
curioso é que ele está ali anunciando o seminário
que o Canal de TV paga Eurosport ofereceu ontem no Palais justamente
falando sobre as oportunidades de comunicação e vantagens
da Fórmula 1 para o mercado. Isso justamente na semana que
as principais equipes do circuito mundial anunciaram que pretendem
se retirar da competição e criar uma outra. Deu preju
até para quem promoveu a palestra em Cannes.
ALALAÔ
Depois da chuva de ontem deu o maior praião hoje aqui em
Cannes. Não sei como está para vocês trabalharem
aí nas cidades de vocês, mas aqui está bacana.
Queria aproveitar e mandar um abraço para meus colegas de
trabalho lá na Vila Clementino, em São Paulo.
Vocês que pegam uma hora de engarrafamento na 23 de Maio aí
em São Paulo. Lembrei de vocês quando saí do
meu hotel e vi as moças indo seminuas para a praia. Cada
pechoca que vocês não acreditam.
LUGAR DE BRASILEIRO É NA PRAIA
Muito bacana o stand da Film Brazil na praia da Croissete. O pool
brasileiro de produtoras está recebendo seus potenciais clientes
e parceiros com caipirinha e num espaço caprichado.
AQUECIMENTO
GLOBAL DEIXA PREFEITURA DE CABEÇA QUENTE
Falando em calor, os cartazes da ACT, instituição
que discute a responsabilidade social na publicidade foram proibidos
pela Prefeitura de Cannes, que os considerou...irresponsáveis.
As peças de outdoor que estavam espalhadas pela cidade trazem
a imagem de uma menina na forca em cima de uma geleira derretendo.
Agora, a ACT só pode exibir o cartaz agora dentro do Palais.
Parece que no final, a forca virou um tiro no pé.
MARCIO
EHRLICH ARRUMA BOCADA PRO PRIMO EM CANNES
Os Ehrlich não são o Accioly, mas estão em
tudo que é canto também. Não é que o
Marcião arrumou uma bocada para seu primo alemão Matthias
Ehrlich falar na tradicional palestra do Hermann Vaske aqui no Palais?
Isso aqui já foi melhor frequentado. Os seminários
anteriores de Vaske já contaram com integrantes do Monty
Phyton, com o ator Dennis Hopper, o produtor Malcolm McLaren e agora...o
primo do editor da Janela Publicitária. Isso é que
é crise.
O tema da palestra é criatividade digital (Marcio, esse não
era assunto pro Leo, seu filho?), mas no final espera-se que Matthias
Ehrlich convide todo mundo a inscrever algumas peças no Premium
Collunisten de Munique.
N.R.: Fabio, eu repilo essas acusações
de nepotismo. Posso jurar, por São Luis do Maranhão,
que nem sabia que eles tinham sido contratados. Aliás, esta
crise não é minha, é do festival. Não
fui eleito editor da Janela para limpar as lixeiras do Palais. Eu
tenho uma história. Não posso ser julgado como uma
pessoa comum. (M.E.)
CARA-DE-PAU LIONS
A falta de dinheiro no mercado faz com que a galera invente mesmo.
Olha só o que neguinho da Brand New Telly fez: sabendo da
presença do diretor de marketing da Coca-Cola, Jonathan Mildenhall,
em Cannes (falou hoje no seminário da Naked, leia na segunda
parte da Coluna), colocaram um cartaz na frente do Palais pedindo
refri de graça pra sua festinha.
E ontem, ao lado do Carlton, um mendigo pedia dinheiro com o seguinte
cartazete: “É só para comprar goró e
drogas.” Estava faturando bem e já tinha vagabundo
querendo saber se podia ter uma participação no produto
final. A ideia é boa, mas é a primeira chupada de
um mendigo que aparece em Cannes. A piada já tinha sido feita
pelos brasileiros da TV Pirata nos anos 80, olha lá no Youtube.
MOMENTO
MÃE TÔ AQUI
Olha aí a galera capturada pelas lentes
míopes da câmera da Fenêtre aqui em Cannes.
N.R.: Vem cá, Fabio, tem 8
anos que você está nessa bocada, passando por
free-shop na ida e na volta, e ainda não meteu a mão
no bolso pra comprar uma câmera decente???? Por favor...
(M.E.) |
|
|
Diogo Mello, comemorando a Prata
em Press pela Fischer Portugal, com a colega Dani Ribeiro, da
Fischer Brasil. |
|
|
Marcelo Noronha, André Lima
e André Havt, da NBS, encontram Bernardo Romero e Ricardo
Lima, da Artplan. |
O carioca Paulo Junger, da Africa
e o paranaense Vítor Afonso (também conhecido
como Zeca), da Master. |
|
|
O casal Fernanda e André
Pedroso (DM9DDB). |
Design brasileiro reunido: Karen,
da Red Bandana encontra Bruno Bertani e Ricardo Saint-Clair,
da Dialogo/Indústria Nacional. |
|
|
Dan Zecchinelli, diretor de criação
da Filadélfia. |
Milton Mastrocessario, o Cebola,
da McCann. |
CORRESPONDÊNCIA
O camarada Rafael Simi, criativo da Heads, “comentou o comentário”,
do Marcio ontem sobre a falta da obrigatoriedade do diploma de jornalismo
para exercer a profissão.
Fala, Rafa:
“Passei cinco anos nessa área, dois deles escrevendo
para "Extra", "O Globo" e "O Globo Online"
e nunca tive diploma (...) E sua cobertura é muito mais engraçada
que o noticiário do Congresso Nacional, por exemplo. Parabéns
para a cobertura do Janela. O Marcio, do Brasil, também tá
trazendo boas notícias.”
Seidl Responde:
Obrigado pelas suas palavras e cascatas de incentivo, Rafael. Sobre
aquela grana que eu tô te devendo, olha, depois eu pago, deixa
só o Márcio depositar o meu cachê, fica tranquilo.
Sobre ser mais engraçado do que a cobertura do Congresso
Nacional, não vale. É como dizer que sou mais divertido
do que a página de obituários também.
E olha, não tenho a pretensão de ser jornalista. Jornalistas
de verdade são os caras que estão aqui virando noite
atrás de furos, contabilizando os leões, twittando,
filmando, ligando, falando com Deus e o mundo, escrevendo até
criar calo, para informar a quem está no Brasil algo realmente
relevante.
Mas, sim, tenho aprendido muito com o professor Marcio Ehrlich.
Por exemplo: ser cara-de-pau. Pedi pra assessoria de imprensa aqui
um convite pra Gala de Abertura do Festival usando o argumento:
“eu preciso muito escrever sobre isso”. E eles deram!
Aí fui lá e espalhei pros jornalistas que ganhei o
convite e eles foram lá pedir também.
Não sou jornalista, mas em compensação tumultuo
a vida da assessoria de imprensa dos eventos.
De Dan Zecchinelli:
"Grande Fábio, sua coluna está tão boa
quanto nos anos anteriores. Na verdade melhor ainda, porque você
consegui fazer com que minha foto ficasse satisfatória. Abraço."
CANNES
PENSA
Em vez de ficar lendo a Fenêtre que é um festival
de bobagens, este vosso amigo recomenda também que você
dê uma olhada nos seminários e entrevistas que estão
rolando no site oficial do evento: www.canneslions.com
A programação é tão intensa que o festival
criou até esse painel interativo com a programação
para você escolher o que quer ver e receber uma agenda personalizada
no seu email (o que é bom para quem baixa email para o celular).
Hoje assisti a 3 seminários, todos com um bom nível.
NAKED
A
agência americana convidou três responsáveis
por marcas de respeito: Nike, Coca-Cola e Google.
E basicamente, o que eles fizeram foi colocar um pouco de pé
no chão sobre as mídias sociais e conteúdo
público.
Eu, particularmente, sou um pouco cético quanto a algumas
febres de internet. Escrevi, na época da Janela Internacional,
que achava que o Second Life não duraria 2 anos. Não
durou. O Orkut está definhando. E agora todo mundo só
fala em Twitter.
Ontem, o fundador do Twitter veio aqui e para um auditório
lotado, apresentou sua empresa, falou que lá só trabalham
50 pessoas e que eles quando criaram a ferramenta não tinham
ideia do que estavam fazendo. Não apresentou outras coisas
criadas por ele, mas pelas padarias que anunciam seus pãezinhos
quentes e empresas que anunciam suas festas.
A platéia saiu decepcionada.
Pois bem. Hoje o Andy Barnes, do Google, vem aqui e já deixa
claro: “nós somos uma empresa de engenharia da informação
e estamos sempre procurando coisas diferentes para se construir
com ela.”
Entenderam onde mora a diferença?
Jonathan Hiddenhall, da Coca-Cola, também mostrou que sabe
onde pisa: “somos uma marca compreensiva (...) olhamos e entendemos
os comportamentos para saber o que criar a seguir.” Nem antes,
nem junto: a seguir. Foi além: “A criatividade sempre
foi algo orgânico e hoje, mais do que nunca, não pertence
a ninguém, cabe às marcas saber o que fazer com isso.”
A discussão gerou em torno de quanto tempo o público,
que hoje também é produtor de conteúdo, aguenta
suas próprias ideias e o que as marcas tem que fazer com
este comportamento. Não com essas ideias.
Ou,
aí já sou eu cruzando as palestras, voltando ao Twitter,
por quanto tempo vai haver interesse e tempo para postar e de ler?
Steve
Olander, da Nike, foi mais direto: “a nova mídia não
é mais chamada de nova (...) a nossa realidade é e
sempre foi entreter mais e surpreender mais.”
Ou seja, o que o consumidor espera das grandes marcas é
que elas sejam grandes e não somente que também saibam
o que é Twitter e Youtube. Ou como diria a própria
Nike na sua campanha do ano passado: Take it to the Next Level (Levem
para o Próximo Nível).
É hora de separar os brinquedos das máquinas de fazer
dinheiro.
180
A palestra da holandesa 180 foi basicamente uma apresentação
de cases fantásticos para clientes como a Adidas e várias
outras peças que ganharam Grand Prix e Leões por aqui.
Interessante pra cacete, mas não muito inspiradora.
NETWORK ONE: SANTA CLARA, SS+K, FORSMAN &
BODENFORS
A
palestra do grupo que reúne agências independentes
do mundo todo contou com o brasileiro Fernando Campos (foto à
esquerda), da Santa Clara que, assim como seus dois outros co-palestrantes,
apresentou como trabalham suas empresas.
Fernando tinha um ponto claro: “falar de comunicação
integrada é partir do princípio que ela está
desintegrada e nós nunca acreditamos nisso.” E mostrou
que a Santa Clara se integra naturalmente, inclusive na hora de
ter as ideias, não importando o departamento ou na hora de
escolher em que lugar da casa da Santa Clara, os profissionais se
sentam para trabalhar.
E apresentou cases premiados como FunkTube, da Som Livre e Fila.
Antes de Fernando, subiu ao palco Bradley Key, da novaiorquina
SS+K. E mostrou que a agência trabalha com um “Monitor
de Forças Sociais”, que analisa justamente hábitos
e comportamentos. Segundo Bradley, um dos momentos que passamos
atualmente é o que eles chamam de Reconsideração,
uma nova análise de tudo que fazemos: desde a decisão
do que vamos fazer com o lixo de casa (reciclar ou não e
como) até mesmo se vamos ou não a Cannes.
E mostrou como eles reconsideraram o mundo das notícias,
juntando eles com entretenimento e criando o NewsBreaker, um jogo
que informa as últimas notícias, para a MSNBC. (veja
abaixo, do lado esquerdo).
Ou como eles entenderam, através do tal monitor, que os
consumidores estavam vivendo um Período “Rebelde”
e um mobiliário urbano interativo para a Credo Mobile dava
voz ao público (abaixo, do lado direito).
No fim, Filip Nilsson da Forsman & Bodenfors. O sueco, figuraça,
contou, entre outras coisas, como chegaram a ser a terceira melhor
agência digital do mundo, segundo Cannes, sem nunca terem
sido uma agência digital.
Criticou o atual formato das agências, que privilegia a hierarquia
e é o mesmo desde a segunda guerra mundial. Na F&B, ele
contou, metade da agência é de criativos, 27 pessoas
são sócios e todos, tirando o presidente e o pessoal
do financeiro, tem compromisso em ter ideias para todas as mídias
que possam servir. Um formato, segundo ele, que já foi chamado
de comunista, mas que eles insistem em usar porque acham que é
um formato que só atrai quem gosta muito de comunicação.
Também alfinetou as mídias digitais que se dizem
tão modernas, mas o que mais produzem são sites caretas,
diagramações caóticas. Dá uma olhada
no site deles que dá pra sacar do que o Nilsson está
falando: www.fb.se
“Enquanto todo mundo se pergunta: Para onde vamos?”,
disse ele no final, “eu acho que já sei: vamos para
todos os lugares.”
Então vamos nessa que é para não perder o
bonde. Até amanhã.
O redator Fabio
Seidl é o enviado (com todo o respeito) especial da Janela
em Cannes 2009.
|