17
de junho de 2009, quarta-feira
SHOW DO BILHÃO.
Agnello
Dias (foto à direita) é um dos poucos criativos que
pode dizer que criou uma campanha que mobilizou um país de
mais de 1 bilhão de pessoas. E não vendeu mais sabonetes,
nem mais carros, nem mais refrigerantes. Mas uma atitude.
Ele é um dos criativos que criou o case Lead India, para o
jornal Times of India. Grand Prix de Direct e Leão de Titanium
em Cannes no ano passado (veja à esquerda), uma das ações
mais inspiradores da década. Recentemente, Agnello se desligou
da vice-presidência da JWT para abrir a sua própria agência,
a Taproot India.
Pouco antes de embarcar para ser jurado da categoria Filmes em Cannes,
ele conversou com a Fenêtre.
FABIO SEIDL: Antes de mais nada, o seu nome é bem brasileiro.
Você é de Goa ou tem parentes por lá?
AGNELLO DIAS: Sou de Goa! Goa era uma região da
Índia dominada pelos portugueses e não pelos britânicos.
E a gente conseguiu nossa independência de Portugal uns bons
15 anos antes que os ingleses saíssem do resto da Índia.
FS: A Índia tem melhorado tanto em publicidade nos últimos
anos. Pelo menos é o que a gente tem visto nos festivais
internacionais. Primeiro com a Ogilvy Mumbai, liderada pelo Pyush
Pandei. Depois com a JWT, onde você era o CCO, e outras agências,
como a McCann, Leo e Contract. Qual tem sido o “efeito Cannes”
no mercado indiano?
AD: Eu não sei exatamente o porquê, mas os
festivais de publicidade, especialmente Cannes, têm chamado
muita atenção na Índia e recebido uma grande
cobertura da TV. E principalmente, agora temos um grande número
de sites que cobrem o mercado: revistas, jornais, programas de TV
e suplementos de grandes jornais. Isso tem crescido nos últimos
anos, alcançando em impactando toda a comunidade publicitária
e de marketing em todo o país
FS: E porque você acha que a Índia vive esse “boom”
criativo?
AD: Bem, acho que aí são três razões:
1) Da virada do século até o ano passado, a publicidade
tem andando na crista da onda do crescimento econômico indiano.
Então as agências tem mais dinheiro para inscrever
em prêmios. E mais inscrições nos levaram a
entender melhor o quê e como inscrever.
2) A indústria aqui está vendo a sua primeira geração
de criativos que cresceram na era de uma mídia mais aberta
(após a chegada da TV a cabo e por satélite) e tem
assistido a melhor publicidade do mundo quase que diariamente.
3) O mundo está mais aberto a novos visuais, sons, linguagens,
gostos do oriente e isso aconteceu numa época em que a Índia
está à frente das de uma novo momento da Ásia.
O que antes era visto como exótico e curioso, agora é
visto como algo atraente e maravilhoso.
FS: É verdade. Nossa novela das oito aqui que o diga…A
Índia, assim como o Brasil é um país grande,
com muita gente diferente, várias culturas e, também,
pouco dinheiro. Como é que vocês trabalham com isso
na hora de criar. Como é lidar com diferentes etnias, dialetos
e pouca verba?
AD: Eu gostaria muito de ter uma resposta inteligente para
esta pergunta, mas a a verdade é que a gente não faz
nada de diferente do que eu imagino que vocês façam
no Brasil: nós ralamos a nossa bunda. Nossos comerciais mais
famosos como os de Happydent (acima, à esquerda), Fevicol
(acima, à direita) ou até as campanhas de Nike foram
produzidas com orçamentos que mal cobririam o cachê
dos diretores em outros países. Então nós temos
que ser os ingênuos e trabalhar muito bem essa ingenuidade
porque não existe maneira de usar nossas cabeças para
aumentar essas verbas. E as imperfeições que possam
vir a aparecer acabam passando por baixo de um rolo compressor de
paixão pela publicidade.
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Gêmeas, da JWT, Leão de Prata em 2008
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FS: A Índia, assim como Brasil, tem um trabalho muito
forte em mídia impressa, mas assim como o Brasil, mais uma
vez, em filme, nem sempre a Índia tem apresentado um trabalho
que encante os jurados dos festivais. E essa é justamente
a categoria que você vai julgar. Como está a criatividade
indiana nas peças para TV atualmente?
AD: Acho que as campanhas de mídia impressa dependem
muito mais da criação das agências do que os
filmes, que dependem da produtora, do diretor e vários outros
profissionais que são terceirizados pela agência. Então
a tendência é que, quando o trabalho é mais
controlado, é mais fácil do resultado sair como a
agência imaginou e de evoluir mais.
FS: Como é a relação do mercado publicitário
indiano e a indústria cinematográfica de Bollywood,
principalmente agora que uma produção feita na Índia
(Quem Quer Ser Milionário) recebeu o Oscar de melhor filme?
AD: Ultimamente, muitos talentos começaram a migrar
da publicidade para Bollywood e o contrário não tem
mais acontecido, embora alguns diretores e produtoras de cinema
continuem fazendo as duas coisas.
FS: Obrigado, Agnello. Até Cannes e boa sorte com a nova
agência.
O redator Fabio
Seidl é o enviado (com todo o respeito) especial da Janela
em Cannes 2009.
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