Janela Publicitária    
 
  Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
 
A Fenêtre é a cobertura da Janela Publicitária em Cannes.
 

17 de junho de 2009, quarta-feira

SHOW DO BILHÃO.

Agnello DiasAgnello Dias (foto à direita) é um dos poucos criativos que pode dizer que criou uma campanha que mobilizou um país de mais de 1 bilhão de pessoas. E não vendeu mais sabonetes, nem mais carros, nem mais refrigerantes. Mas uma atitude.
A campanha Lead Índia, assinada por Agnello Dias e sua equipe
Ele é um dos criativos que criou o case Lead India, para o jornal Times of India. Grand Prix de Direct e Leão de Titanium em Cannes no ano passado (veja à esquerda), uma das ações mais inspiradores da década. Recentemente, Agnello se desligou da vice-presidência da JWT para abrir a sua própria agência, a Taproot India.
Pouco antes de embarcar para ser jurado da categoria Filmes em Cannes, ele conversou com a Fenêtre.

FABIO SEIDL: Antes de mais nada, o seu nome é bem brasileiro. Você é de Goa ou tem parentes por lá?

AGNELLO DIAS: Sou de Goa! Goa era uma região da Índia dominada pelos portugueses e não pelos britânicos. E a gente conseguiu nossa independência de Portugal uns bons 15 anos antes que os ingleses saíssem do resto da Índia.

FS: A Índia tem melhorado tanto em publicidade nos últimos anos. Pelo menos é o que a gente tem visto nos festivais internacionais. Primeiro com a Ogilvy Mumbai, liderada pelo Pyush Pandei. Depois com a JWT, onde você era o CCO, e outras agências, como a McCann, Leo e Contract. Qual tem sido o “efeito Cannes” no mercado indiano?

AD: Eu não sei exatamente o porquê, mas os festivais de publicidade, especialmente Cannes, têm chamado muita atenção na Índia e recebido uma grande cobertura da TV. E principalmente, agora temos um grande número de sites que cobrem o mercado: revistas, jornais, programas de TV e suplementos de grandes jornais. Isso tem crescido nos últimos anos, alcançando em impactando toda a comunidade publicitária e de marketing em todo o país

FS: E porque você acha que a Índia vive esse “boom” criativo?

AD: Bem, acho que aí são três razões:
1) Da virada do século até o ano passado, a publicidade tem andando na crista da onda do crescimento econômico indiano. Então as agências tem mais dinheiro para inscrever em prêmios. E mais inscrições nos levaram a entender melhor o quê e como inscrever.
2) A indústria aqui está vendo a sua primeira geração de criativos que cresceram na era de uma mídia mais aberta (após a chegada da TV a cabo e por satélite) e tem assistido a melhor publicidade do mundo quase que diariamente.
3) O mundo está mais aberto a novos visuais, sons, linguagens, gostos do oriente e isso aconteceu numa época em que a Índia está à frente das de uma novo momento da Ásia. O que antes era visto como exótico e curioso, agora é visto como algo atraente e maravilhoso.

Dois dos comerciais indianos mais famosos: Happydent, da McCann Índia E o de Fevicol, da Ogilvy Mumbai

FS: É verdade. Nossa novela das oito aqui que o diga…A Índia, assim como o Brasil é um país grande, com muita gente diferente, várias culturas e, também, pouco dinheiro. Como é que vocês trabalham com isso na hora de criar. Como é lidar com diferentes etnias, dialetos e pouca verba?

AD: Eu gostaria muito de ter uma resposta inteligente para esta pergunta, mas a a verdade é que a gente não faz nada de diferente do que eu imagino que vocês façam no Brasil: nós ralamos a nossa bunda. Nossos comerciais mais famosos como os de Happydent (acima, à esquerda), Fevicol (acima, à direita) ou até as campanhas de Nike foram produzidas com orçamentos que mal cobririam o cachê dos diretores em outros países. Então nós temos que ser os ingênuos e trabalhar muito bem essa ingenuidade porque não existe maneira de usar nossas cabeças para aumentar essas verbas. E as imperfeições que possam vir a aparecer acabam passando por baixo de um rolo compressor de paixão pela publicidade.

JWT - Gêmeas
Gêmeas, da JWT, Leão de Prata em 2008

FS: A Índia, assim como Brasil, tem um trabalho muito forte em mídia impressa, mas assim como o Brasil, mais uma vez, em filme, nem sempre a Índia tem apresentado um trabalho que encante os jurados dos festivais. E essa é justamente a categoria que você vai julgar. Como está a criatividade indiana nas peças para TV atualmente?

AD: Acho que as campanhas de mídia impressa dependem muito mais da criação das agências do que os filmes, que dependem da produtora, do diretor e vários outros profissionais que são terceirizados pela agência. Então a tendência é que, quando o trabalho é mais controlado, é mais fácil do resultado sair como a agência imaginou e de evoluir mais.

FS: Como é a relação do mercado publicitário indiano e a indústria cinematográfica de Bollywood, principalmente agora que uma produção feita na Índia (Quem Quer Ser Milionário) recebeu o Oscar de melhor filme?

AD: Ultimamente, muitos talentos começaram a migrar da publicidade para Bollywood e o contrário não tem mais acontecido, embora alguns diretores e produtoras de cinema continuem fazendo as duas coisas.

FS: Obrigado, Agnello. Até Cannes e boa sorte com a nova agência.

O redator Fabio Seidl é o enviado (com todo o respeito) especial da Janela em Cannes 2009.