Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
A Fenêtre é a cobertura da Janela Publicitária em Cannes.
16
de junho de 2009, terça-feira
DAVID
LUBARS, O HOMEM COM A MISSÃO.
David Lubars (foto à direita) tem 50 anos. Chegou a Nova
Iorque para trabalhar como diretor de criação da BBDO
em 2004. Antes, fez parte do Dream Team da Fallon de Minneapolis.
Na época da troca, iniciou o que a CNN chamou de um “Extreme
Makeover” na BBDO, referência direta ao célebre
programa de televisão onde uma pessoa faz uma uma série
de cirurgias plásticas complicadas.
A BBDO era chamada de “A mais Americana das Agências”.
Talvez porque suas campanhas, com celebridades, garotos-propaganda
e jingles reconhecidos em qualquer esquina fossem sempre um sucesso
entre os americanos. Eram populares e davam recall. Então
para quê mudar?
“Porque o mundo mudou, pare pra pensar que daqui a 2 anos
todo mundo vai ter banda larga!”, dizia Lubars ao New York
Times, na ocasião.
Era preciso se adiantar. E isso adiantou.
No ano passado, a BBDO foi a rede de agências mais premiada
em Cannes e BBDO NY foi não só a agência mais
premiada deste festival como, pelo terceiro ano consecutivo, a agência
mais premiada do mundo segundo o Gunn Report.
Isso deu mais do que legitimidade ao convite para Lubars ser o presidente
do Júri este ano.
Com a palavra, o homem com a missão de conduzir o Festival
de Cannes, num ano com muito menos dinheiro e muito mais expectativa.
FABIO SEIDL: A gente já conhece o que faz David Lubars,
o criativo. Já sabemos o que você fez dentro da publicidade.
Mas e depois que você bate o ponto? O que você curte
fazer fora do trabalho?
DAVID LUBARS: Ultimamente o que mais tenho feito fora do
trabalho é compor músicas com meus dois filhos adolescentes.
A gente tem gravado muita coisa no programa Garage Band. É
incrivelmente divertido e como eles são ótimos compositores,
sempre tem material bom pra gente trabalhar.
Relembre alguns dos trabalhos
premiados da BBDO em Cannes. Este, o case HBO Voyeur.
FS: Falando em adolescentes, quando é que você
decidiu que queria ser publicitário? Como é que você
foi parar nessa vida?
DL: Meu pai era do mercado nos anos 60. Eu tinha sete ou
oito anos e ia com ele para o trabalho durante as férias.
Ele me deixava sentado no chão com um monte de canetinhas
coloridas e um bloco de papel. Aquilo começou a me parecer
uma boa maneira de ganhar a vida. As pessoas podiam fumar nos escritórios
naquela época e eu me lembro uma vez de ter ido ao banheiro
e passar pelo escritório de alguém e sentir um cheiro
de um cigarro diferente, uma fumaça que eu não reconhecia.
Era na DDB em 1968, eu acho. Quando eu virei adolescente, claro,
entendi o que era aquilo. Era uma indústria diferente naquela
época.
FS: Quais foram os melhores e piores momentos da sua carreira?
DL: Olha, eu não sou muito obcecado pelo sucesso
das coisas que eu faço. Minha maneira de trabalhar tem sido
simplesmente manter a consistência, sem muitos picos, nem
períodos de baixa. Meu lema para sobre criatividade é
o “Keep on Keepin’ On” (algo como “Continue
continuando”). Smokey Robinson, Bob Dylan, John Lennon e muitos
outros já escreveram músicas usando esse verso. E
tem muita sabedoria aí.
FS: Você está esperando o quê de Cannes este
ano? Dá para esperar alguma surpresa justamente por esse
estarmos vivendo um ano complicado?
Outro trabalho premiado da
BBDO em Cannes: O filme Cegonha, para o site Monster
DL: Nós já sabiamos que teríamos menos
inscrições este ano, mas que a qualidade do que o festival
vai mostrar não cairia. A verdade é: as pessoas vão
continuar inscrevendo o mesmo número de peças brilhantes
que eles sempre tiveram. Por outro lado, provavelmente teremos menos
trabalhos questionáveis e, francamente, menos material fraco
que as pessoas normalmente inscrevem. Quando tínhamos cerca
de 20 mil inscrições, normalmente umas 200 eram premiadas.
E essas 200 peças boas certamente foram inscritas em Cannes
este ano. Só para lembrar como Cannes ainda é importante:
no ano passado, clientes de todo o mundo tiveram que fazer cortes
e conseguir mais com menos. Seguindo a lógica, tudo que eles
criaram teve que aparecer muito mais. Dentro dessa ótica, Cannes
poderá ser visto como, prioritariamente, um jeito de se usar
a força da criatividade nesse caminho, acelerar e ver o que
o poder das ideias podem fazer nessa estrada cheia de buracos que
é a economia no momento.
FS: E o Brasil, David? Você já esteve por aqui
algumas vezes. Qual a sua impressão sobre o país e
a publicidade daqui?
DL: Se eu tivesse que escolher um país no mundo,
o Brasil seria um dos meus favoritos. Em publicidade e futebol,
o Brasil sempre mostra muito refinamento e inteligência. A
qualidade do melhor trabalho feito por aí faz com que eu
me sinta bem. É fácil reconhecer algumas coisas viscerais
que falam comigo, mesmo se é para um produto que nunca usei
antes. No ano passado, o Marcello Serpa recebeu um prêmio
pelo conjunto da sua obra (Lifetime Achievement Award) no Clio e
ele ainda não chegou nem na metade da vida dele. Isso mostra
que as pessoas no mundo todo estão prestando atenção:
o Brasil está fazendo um grande trabalho.
O filme Pré-Histórico,
para Fedex
O redator Fabio
Seidl é o enviado (com todo o respeito) especial da Janela
em Cannes 2009.