Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
A Fenêtre é a cobertura da Janela Publicitária em Cannes.
13
de junho de 2007, quarta-feira
O
LADO B DA COBERTURA DE CANNES ESTÁ DE VOLTA.
Queridos amigos da Janela, da Fenêtre Publicitaire e da
finada Janela Internacional.
Como diria o cantor, compositor, lateral esquerdo e censor Roberto
Carlos: eu voltei, voltei para ficar, porque aqui, aqui é
o meu lugar.
Tá bom, vai, fico na Janela uma semaninha e olhe lá,
para a minha tradicional bocada em forma de cobertura chechelenta
do Festival de Cannes, pela quarta edição consecutiva.
Um festival que este ano promete.
Para começar, promete que o Marcio vai atualizar a Janela
todo dia, o que já é alguma coisa.
Promete também não deixar ninguém entrar nas
festas sem convite.
Promete ter a cerveja mais cara do mundo. E o preço da bebida
em Cannes é tão proibitivo que se aumentar mais um
pouco vira lei seca.
Promete ser aquele 0x0 com jogo duro. Namoradas e esposas de sujeitos
que chegam em casa com cheiro de perfume de mulher mas juram que
estavam em reunião, relaxem. Em Cannes, é mais fácil
o seu petuti pegar um leão do que uma gatinha (rapaziada,
vocês me devem essa).
Então vamos lá: todo mundo na porta das festas, duro,
sem beber, sem pegar ninguém, falando de trabalho o dia todo
ao lado da praia, tendo pago mais de R$ 5 mil para ficar vendo comerciais
que dias depois vão estar na internet, e, claro, reclamar
do critério do Festival. Afinal, o que nós, publicitários
brasileiros, vamos fazer em Cannes este ano? Também não
sei. Vou descobrir e escrevo para vocês.
CANNES PALPITIONS
Lá vou eu me enveredar na arte de perder amigos. Selecionei
aqui umas 10 peças brasileiras, 5 filmes e 5 mídias
impressas, que acho que podem se dar bem em Cannes. É importante
esclarecer os critérios: 1) A subjetividade absoluta. 2)
A equação: O que eu vi X Minha memória de lagosta.
Portanto, se aquela peça campeã da sua agência
não entrou, não me leve a sério. Além
da lista ser assumidamente desqualificada (faltaram coisas com grande
potencial) meus palpites nunca ganharam nem brincadeira de adivinha
na quermesse. É bem verdade que eu nunca fui a uma quermesse,
mas isso é outra história.
Por outro lado, se a sua peça está aqui, a boa notícia
é que ela tem 50% de chances de levar um Leão. Afinal,
as hipóteses são: ela pode ganhar (50%) pode não
ganhar (50%) ou pode não ganhar, nem perder (0%). Então
boa sorte para todo mundo.
FILME
"Se beber, não faça." da F/Nazca
para a Unimed.
O filme tem uma pegada que o destaca dos outros filmes que costumamos
ver nesta categoria. Você assiste e ele bate na hora. Ou melhor,
não bate, se você não beber: https://youtube.com/watch?v=WnyRbCyA4JA
"Burocracia", da F/Nazca para Fundação
SOS Mata Atlantica.
A campanha de mídia impressa é igualmente bonita,
conceitual e tem bons títulos. A campanha pode ir bem nas
duas frentes: https://youtube.com/watch?v=ok6NhTLL7xI
"Pontos", da McCann para Fundação
Dorina Nowill
A agência tem feito um dia-a-dia muito bom e diferenciado.
O sucesso da campanha do Chevrolet Prisma, "Sua Vida Trouxe
Você Até Aqui", com o Fofão e companhia
é um exemplo. Este filme para ajudar os cegos é outro:
https://youtube.com/watch?v=4mV-wqUWYhk
"Forrest Gump" da Almap para VW Golf.
A Almap este ano vai com quase 6x menos peças do que nos
últimos anos, mas tem entre outras coisas, este filme do
Golf que rodou o mundo e pode trazer um leão da viagem. https://youtube.com/watch?v=sJOCvLgnEs0
"Man's Life", da Santa Clara para Discovery Channel
Filme nacional mais diferente que vi este ano, inspirado no curta
"Na Vida de Um Homem...", vencedor do Festival do Minuto
em 2000. Com um ano de agência, a Santa Clara conseguiu, mesmo
quando não teve grandes orçamentos, oxigenar a criatividade
brasileira. Vão com peças competitivas e boas chances
de coroar o bom trabalho que têm feito. https://youtube.com/watch?v=izLbp8B-O7Y
MÍDIA IMPRESSA
"Balões" da Leo Burnett para a Skill Cursos de
Inglês.
Os cursos de inglês brasileiros tem chegado forte ao Palais
nas últimas edições. A campanha da Leo vai
brigar com uma idéia direta e original.
"Boas idéias dão trabalho" da Publicis Rio
para Gráfica DRQ.
A campanha carioca tem boa chance de pegar na veia com os criativos
que estão julgando. Tem uma virtude fundamental: pertinência.
"A Vida para Valer Não tem Açúcar"
da Almap para Pepsi Max.
A série de anúncios sobe um degrau no mundo das bebidas
light, fugindo do "Você vai ficar tão magro que...".
A categoria é dura, mas a peça traz um conceito novo.
"Campanha Silhuetas" da DM9 para Companhia Athletica.
A agência e o cliente sempre voltam de Cannes com um premiozinho.
Então acho que é boa a aposta na originalidade do
layout desta nova campanha.
"Nós Apoiamos" da Neogama para Playboy
Na verdade nem sei se a campanha foi inscrita em Cannes. Se não
foi, fica para os palpites pro ano que vem. Coloquei aqui porque
traz uma coisa que só a gente tem, mas que andou meio sumido
do que vai para os festivais: humor brasileiro.
ENTREVISTA: SUZANA APELBAUM, NOSSA JURADA EM CYBER.
Escolhi
a Suzana Apelbaum para abrir os trabalhos da Fenêtre por vários
motivos. Um deles: das três pessoas que sondei para entrevistar,
só ela me deu atenção. Outro: ela trabalha
a menos de 20 metros de mim.
Mas o principal, meus amigos, é que a Suzana, assim como
os grandes jurados que este país já teve como Wagner
Montes, Décio Piccinini, Serginho Mallandro, Pedro de Lara
e Araci de Almeida, é coisa nossa.
Essa carioca gente fina, com 10 anos de carreira, é um dos
destaques internacionais neste segmento que, como vamos ver a seguir,
já deixou de ser segmento faz tempo.
Dirigiu os times da Agência Click, JWT Digital e MLab. Tem
na bagagem prêmios internacionais como Cannes, One Show, Clio,
Londres. Já foi jurada dos Webby Awards, One Show e recentemente
presidente do Júri do FIAP.
Fui perturbar a moça pouco antes dela embarcar pedindo que
ela me respondesse 3 perguntinhas. Ela aceitou e ainda contou uma
novidade. Disse que para esta categoria, o festival disponibilizou
antes os links para já que alguns podem precisar de mais
tempo para ser avaliados.
FS: Você estava contando que antes do festival começar,
os jurados de Cyber já estavam trocando figurinhas, mostrando
coisas legais que tinham visto uns para os outros. Isso é
bem diferente do que acontece em Press ou Film. E parece que acaba
sendo saudável.
SA: É uma questão de cultura. A internet é
por natureza um ambiente de de colaboração, de convívio
com gente do mundo inteiro. Então os criativos que começaram
trabalhando com internet têm este comportamento. Sempre foi
natural pra eles trocar informações por email e pelo
Messenger; passar links, pedir dicas, tirar dúvidas. Todos
têm curiosidade de saber como funcionam as coisas em outros
países. Quando a gente vê um site incrível da
Suécia, por exemplo, em 2 minutos a gente descobre no Google
ou num blog quem e, se tiver vontade, já manda email e troca
uma idéia. Conversamos sobre a diferença de realidades,
custos, prazos, processos. Eles também têm interesse.
É uma troca. As conversas geralmente rendem bem e tornam
o dia-a-dia bem mais rico e intressante.
FS: Pelo que você já viu até agora
dessas figurinhas que trocou ou como jurada de festivais internacionais
anteriores, como está o Brasil? Temos chance de repetir o
bom desempenho dos anos anteriores?
SA: O buraco vai ser beeeem mais embaixo. Acho que temos menos
chances. Podemos até nos sair bem, mas o Cyber está
ficando cada vez mais difícil - especialmente para o Brasil.
Fora a questão da implicância que o mundo inteiro tem
hoje com a gente no Cyber - fazer sucesso incomoda- os EUA e Europa
tem investimentos e prazos infinitamente maiores. Mas não
precisamos ficar pessimistas. Temos grandes trabalhos concorrendo.
E Cannes tem sempre um fator supresa. É parte da graça
do Festival.
FS: Você concorda uma tese que existe sobre a criatividade,
nessa categoria, estar diretamente ligada à evolução
da tecnologia? Quanto mais os anos passam, mais coisas são
inventadas e mais o pessoal pode pirar?
SA: Discordo. As novas tecnologias são simplesmente novas
possibilidades criativas, mas não são determinantes
para a qualidade das idéias. É tanto que, todos os
anos, banners simples ganham Leão assim como grandes sites
e ferramentas interativas. E, justamente por causa do deslumbramento
que pode haver com as inúmeras novidades tecnológicas,
Cannes tem uma preocupação de valorizar a idéia
e não deixar que a tecnologia se sobreponha. Já vi
muita traquitana não chegar nem a finalista. É fato
que para criar para internet é importante estar atento às
novidades tecnológicas. Mas isso não tem a ver com
criatividade. Tem a ver com possibilidade criativa.
FS: Fora do Brasil, a mentalidade das agências está
mudando e os profissionais de criação já não
estão fazendo essa distinção entre online e
offline. Você acha que o Brasil, um país tão
premiado em Cannes com Cyber, está perto ou longe dessa realidade?
Cannes pode ajudar a mudar a visão tradicional dos criativos
brasileiros? Pelo que você tem sentido nas palestras que tem
feito e pelos portifolios que tem visto, temos profissionais preparados
para essa relaidade?
SA: Sobre não distinguir online do offline, acho que o Brasil
está a caminho dessa realidade, mas ainda está longe.
Também pela questão cultural do negócio das
agências e clientes. Sobre os profissionais, temos pouquíssimos
preparados para isso. Na Africa temos um esforço real de
fazer criativos de on e off trabalharem em todas as disciplinas.
Alguns reagem bem, mas a maioria ainda tem resistência. Mas,
mais do que tudo, para desenvolver essa nova geração
de criativos é preciso que haja um movimento grande das agências.
É preciso dar mais oportunidades para os criativos trabalharem
em todas as mídias - experimentarem, acertarem, errarem.
Muitas vezes. É só trabalhando de um jeito novo teremos
uma evolução dos criativos, e equipes mais preparadas
para atender a demanda multimídia dos clientes.
FS: Como você se sente poucas horas de embarcar,
cheia de coisas pra fazer, tendo sido ludibriada por este entrevistador
dizendo que eram só 3 perguntinhas e de repente manda várias
perguntas, umas dentro das outras? Muita sacanagem? Olha, superobrigado
e boa sorte!
SA: Que nada. Sempre se arruma um tempinho. Um beijo e boa sorte
para todos nós!
ATÉ
Olha, obrigado pela companhia e se quiser mandar sugestões,
dicas e opiniões, estamos às ordens. É só
escrever para fseidl@ig.com.br
Fabinho volta, se o apagão aéreo permitir, segunda-Feira,
diretamente de Cannes. Um abraço.
O redator Fabio
Seidl é o enviado (com todo o respeito) especial da Janela
em Cannes 2007.