25
de junho de 2005, domingo
RESSACANNES,
O BALANCÊ DO FESTIVAL.
☺
Acabei de chegar da festa de encerramento. Cannes terminou ao som
de Bob Marley e muitos fogos de artifício. Dizem que feijoada
boa no Brasil é aquela que tem ambulância na porta,
certo? Esta festa tinha.
Mas porque baixou a Carla Perez numa tia maluca, que bebaça,
catou um cavaco monstro. Saiu de lá numa cadeira de rodas,
carregada pelos paramédicos, toda enfaixada. E aplaudida.
☺ Tinha
ambulância, mas faltou o feijão e faltou o Brasil.
A festa foi chata pra caceta. Muitos criativos brasileiros, para
não dizer quase todos, já tinham ido embora de Cannes.
Quem eram os mais empolgados eram os argentinos, depois do bom resultado
na Copa (suado) e no festival. Até o leão de Ouro
português foi criado por um argentino, Fernando Belloti, da
Leo Burnett para o Instituto de Apoio à Criança, mas
justiça seja feita, produzido pela brasileira Republika e
dirigido pelo Manguinha).
☺
Outro filme com idéia argentina e produzido por brasileiros
foi o do Zoológico de Buenos Aires. A animação
foi feita pela ótima Lobo Filmes.
☺ Mais
calibrado que os argentinos estava Erik Vervroegen, diretor de criação
da TBWA\Paris que ontem parecia ter sido deslocado para o comando
da TBWA\Pra-lá-de-Marrakesh tamanha a empolgação.
O cara, normalmente reservado, estava nas alturas com, mais uma
vez, o prêmio de agência do ano. A TBWA não trouxe
tantas novidades dos anos anteriores, mas jogou bem dentro do regulamento.
Pontuou com muitos shortlists em diferentes categorias, ganhou alguns
leões para complementar e pronto, tomaram a boca.
☺
A festa de ontem não teve ninguém furunfando como
na festa de abertura. Mas foi um tal de gente tirando a roupa...Além
desse figura aí da foto, que parece ter fugido de um anúncio
da Harley Davidson, atrás do telão que ficava no píer
da praia do Carlton, na área vip, alguns indivíduos
estavam seminus, mergulhando.
Quer dizer, assim de longe, não dava para dizer se no caso
das mulheres elas estavam seminuas ou simplesmente sem se depilar.
☺ A cerimônia de premiação
de Film e Titanium foi a mais concorrida que já se teve notícia.
Além do Grand Auditorium (que na verdade é um Enorm
Audiorium) onde acontecia a festa, outro auditório igualmente
gigante e lotado transmitia a entrega dos prêmios. E soube
mais tarde que havia uma terceira sala, menor. O festival bombou.
☺ Vale
a pena conhecer o leão de Titanium, que não tem nada
a ver com comunicação integrada, como sugere o regulamento,
mas é revolucionário, como justificou o presidente
do júri. Trata-se do produto Design Barcode, que muda o design
dos código de barra de acordo com o cliente e os transforma
num meio de comunicação. Conheça a empresa
japonesa que faturou essa (e agora vai faturar muito mais, só
que grana) em www.d-barcode.com
☺ Só que o Titanium é
tão confuso que vai, finalmente, acabar. E conforme a Fenêtre
estava apostando, ano que vem vem aí a categoria Design Lions.
Vamos aguardar para ver se não vai ser um surubão,
daqueles em que ninguém mais sabe se aquilo é mesmo
daquela categoria.
☺ Vou cantar a pedra antes. Como Design
não tem "veiculação", o que vai pintar
de peças que nunca viram a luz do dia de verdade vai ser
uma grandeza. Mais: como vai ser o primeiro ano da categoria, vai
pintar muita coisa que já foi feita tem tempo e premiada,
fazendo de conta que é novinha.
☺ Em
todos estes anos de indústria vital, esta é a primeira
vez que me acontece: a Janela Internacional deu dois pitacos certo!
Além da aposta no Design, numa das primeiras colunas deste
ano em…(Marcião acha aí pra gente) chutei que
o filme Noitulove (Evolution), da Guiness era sério candidato
a Grand Prix. E tá lá.
☺ Eles
chegaram. O mercado internacional inteiro vem falando (quer dizer,
eu que sou mané estou falando, quem é malandro está
investindo) na China. E os caras ganharam o seu primeiro, histórico
e emblemático leão. Foi um bronze, da Lowe Shangai
para Electrolux. Agora é que o mercado de lá embala.
☺ O
filme inglês Bravo, para o refrigerante Tango, ganhou prata
com uma paródia ao filme da Bravia, da Sony, que foi ouro.
É aquele das bolinhas coloridas pulando pela cidade. No filme
da Tango, são frutas que aparecem pulando e depredando um
monte de coisas. Até aí, tudo bem. Só que a
trilha sonora é exatamente a mesma! Não sei se os
caras conseguiram os direitos da música no amor. Mas o que
é mais curioso é que deram um prêmio de "Melhor
uso de Música" para o Bravia. Não deveriam também
dar para o Tango?
☺ Aliás,
já pensou na dificuldade que deve ter sido "vender"
esse filme, da Sony? Primeiro convencer o diretor de criação
que o roteiro das bolinhas era muito bom, depois o cliente?...
☺ Descontando as campanhas, foram só
12 leões de ouro em Films. Na categoria Carro e Cerveja,
foram dois ouros. Foi injusto. Algumas boas campanhas que ficaram
com prata mereciam melhor sorte. Mas o júri tem que manter
a sua fama de mal. É mais cool assim.
☺ Depois de tantas confusões
nos últimos anos, todas as agências tomam o cuidado
de, para inscrever suas peça, informarem os clientes e veicularem
em algum lugar, ou seja, legalizam tudo. A discussão sobre
o que é ou não fantasma virou uma verdadeira conversa
de bêbado, não vai a lugar nenhum. E agora?
☺ As vaias voltaram ao Palais ontem
para uma ou outra campanhas chatíssimas que já tinham
tomado um vaião no short list. Assiste os filmes e vê
lá se não tem umas coisas de doer os testículos.
Se você não tem testículos, pelo menos imagina,
vai.
☺ A
boa campanha "Short but Fun" da DDB Dusseldorf para o
VW Fox foi tirada da internet. Os caras foram lá, pegaram
os curtas de animação da angryalien.com
e colaram o pack-shot. Pronto, prata. O que valeu ouro foi a atenção
dos criativos para adequação das referências.
Alguém lembra do "Wassup" da Budweiser? Também
era um curta de cinema...Se você curtiu a campanha, vai lá
no site: tem também o Brokeback Mountain, Rocky, Cães
de Aluguel...
☺ Virou tradição. A agência
ganha ouro num ano, no ano seguinte manda outras execuções
para a mesma idéia e, não raro, ganha pelo menos um
bronze. É só ver. Como diria o incontornável
Cid Moreira: "assim fica fácil, Mister M..."
☺ Foi um ano para esquecer para o Brasil.
E não estou falando só de quem bebeu demais... Mas
a sensação que dá é que 2007 vem aí
e o país tem talento de sobra para dar a volta por cima.
E com uma qualidade tão grande quanto a quantidade das nossas
peças. Só vale a pena ter em atenção
uma coisa, que o Luis Cláudio Salvestroni, da Agência3, disse nesse festival: "Ninguém marca os outros países
como marcam o Brasil."
☺ Abraço final para a galera
que deu força à Fenêtre por email ou pessoalmente,
aqui em Cannes: Fátima Megale, Leandro Euzébio, Rafael
Simi (mais uma vez) e aos superjornalistas Claudia Penteado e Paulinho
Macedo (Propaganda e Marketing). Obrigado pra caramba, Marcio Ehrlich
pela confiança, pela experiência que me passou e pelas
dicas. E claro, à Giovanni FCB, por apoiar a coluna mais
caótica (de caos, nunca de caô) do festival. A eles
e a você que acompanhou a gente aqui durante esta semana,
valeu mesmo.
Cannes acabou, mas os e-mails não.
A Fênetre volta para responder,
agradecer e alertar para um problemão. Aí vão
alguns dos e-mails que chegaram:
"Olá, Marcio.
Estou escrevendo para parabenizar a coluna pela excelente cobertura
do festival de Cannes deste ano. Não só perfeita na
cobertura jornalística, mas muito divertida com as notas
e comentários do Fabio Seidl. Realmente me diverti muito
e tive que entrar no site da Janela diariamente.
Parabéns Fabio e Marcio! Um abraço,"
Mario Nakamura, Cinerama Brasilis
"Com o perdão do trocadilho, vocês estão
com a bola toda. E parabéns pelo desempenho no torneio de
futebol de Cannes!
Abração!"
Walter Lencina, OMG Comunicação Total
"Fala Fábio!!!! Valeu pela cobertura do festival,
você mandou muito. Parabéns pelas sacadas e tiradas.
Abraços! "
André Felix, ESPM
"Foi sensacional a tua cobertura, ó pá!
Quem nao conseguiu embarcar, se deliciou com o texto. Parabéns
e abraços!"
Mauro Risch, Fotógrafo
"Fábio, você vai ganhar mais que o troféu,
pelo título no futebol. Vai chegar em Portugal uma camisa
original do Vasco, assinada pelo baixinho! Isso, sem falar no título
de melhor cobertura do festival, que já é seu desde
que a Janela resolveu te chamar.
Abraço,"
Fátima Megale, BH Minas Gerais
" Fábio,
Finalmente o Vasco ganha um jogo na Europa! Seguinte, a cobertura
(como diria o Bussunda, com bastante trocadilho ) do festival ficou
muito bacana. Valeu!"
Leandro Euzébio, Rio
Já Rafael Simi, do jornal Extra, mandou algumas colocações
e perguntas…
"Fábio, parabéns mais uma vez pela cobertura
(…)
Estava vendo os leões e me chamou a atenção
o trabalho de uma ótima agência e de fora do eixo Rio-São
Paulo: a JWT Curitiba. Principalmente pelo trabalho para um cliente
de um segmento tido como "careta", o HSBC. Em geral, publicitário
gosta de fazer comerciais para clientes mais leves, jovens, dinâmicos,
ao invés de bancos, que gostam de imagens austeras. Me surpreende
a quantidade de prêmios para esse cliente.
Outra peça muito boa é da Leo Burnett, ganhadora de
prata em outdoor, aquela da janela do avião formando um teto
solar. É muito boa e me pareceu merecer um prêmio para
uso de mídia, não?"
Fabio Seidl responde:
Rafael, nos dois casos acho que você tem razão. Um
dos filmes que mais me surpreenderam no festival também quebra
esse tabu, é para a Bangcoq Insurance, uma seguradora e usa
justamente o humor...nonsense! Já viu lá no site Canneslions.com?
O trabalho da JWT Curitiba para o HSBC é bom não é
de hoje. Os bancos, quando acreditam numa comunicação
menos formal, costumam acertar. A campanha de outdoors "Feito
para você", do Itaú, é outro exemplo, o
finado casal Unibanco também. Afinal, o consumidor de banco
é o mesmo que compra carro, revista de mulher pelada (ou
de homem, depende) e cerveja. Então, se usar o humor com
inteligência e bom gosto, não tem porque ele não
gostar.
Sobre a ótima peça da Leo para a Fiat, acho que poderia
ter TAMBÉM faturado um Media Lion. Embora essa categoria,
conforme eu disse na primeira coluna, é muito subjetiva e
os critérios não parecem bem definidos.
Um abraço e superobrigado a você e ao pessoal todo
que deu força à Fenêtre. Já, já,
eu volto com a Janela Internacional.
PS: Faltou dizer! Os filmes brasileiros exibidos no short
list VOLTARAM a apresentar o problema técnico do ano passado,
conhecido como "field" ou batimento. O motivo pode ter
sido a transcodificação, já que alguns filmes
americanos (que também usam o sistema NTSC) apresentaram
a mesma nhaca. Ou isso ou o já contestado sistema BeamTV,
que monopoliza a digitalização dos filmes para o festival.
Teve mais. Os filmes da NBS, por exemplo, passaram com um som muito
muxoxo, abaixo do nível dos demais. Em 2007, o Brasil tem
que abrir o olho para esse problema que prejudica bastante a avaliação
dos trabalhos.
O redator Fabio
Seidl é o enviado (com todo o respeito) especial da Janela
em Cannes 2006.
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