Janela Publicitária    
 
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Na Web desde 12/07/1996.
 
A Fenêtre é a cobertura da Janela Publicitária em Cannes, com o apoio da GiovanniFCB em 2006.

 

25 de junho de 2005, domingo

RESSACANNES, O BALANCÊ DO FESTIVAL.

A festa de encerramento Acabei de chegar da festa de encerramento. Cannes terminou ao som de Bob Marley e muitos fogos de artifício. Dizem que feijoada boa no Brasil é aquela que tem ambulância na porta, certo? Esta festa tinha.
Ai, que vergonha... Mas porque baixou a Carla Perez numa tia maluca, que bebaça, catou um cavaco monstro. Saiu de lá numa cadeira de rodas, carregada pelos paramédicos, toda enfaixada. E aplaudida.

Alzheimer, de PortugalTinha ambulância, mas faltou o feijão e faltou o Brasil. A festa foi chata pra caceta. Muitos criativos brasileiros, para não dizer quase todos, já tinham ido embora de Cannes.
Quem eram os mais empolgados eram os argentinos, depois do bom resultado na Copa (suado) e no festival. Até o leão de Ouro português foi criado por um argentino, Fernando Belloti, da Leo Burnett para o Instituto de Apoio à Criança, mas justiça seja feita, produzido pela brasileira Republika e dirigido pelo Manguinha).

Zoo. Outro filme com idéia argentina e produzido por brasileiros foi o do Zoológico de Buenos Aires. A animação foi feita pela ótima Lobo Filmes.

Erik VervroegenMais calibrado que os argentinos estava Erik Vervroegen, diretor de criação da TBWA\Paris que ontem parecia ter sido deslocado para o comando da TBWA\Pra-lá-de-Marrakesh tamanha a empolgação. O cara, normalmente reservado, estava nas alturas com, mais uma vez, o prêmio de agência do ano. A TBWA não trouxe tantas novidades dos anos anteriores, mas jogou bem dentro do regulamento. Pontuou com muitos shortlists em diferentes categorias, ganhou alguns leões para complementar e pronto, tomaram a boca.

Peladão de Cannes A festa de ontem não teve ninguém furunfando como na festa de abertura. Mas foi um tal de gente tirando a roupa...Além desse figura aí da foto, que parece ter fugido de um anúncio da Harley Davidson, atrás do telão que ficava no píer da praia do Carlton, na área vip, alguns indivíduos estavam seminus, mergulhando.
Vai um goró? Quer dizer, assim de longe, não dava para dizer se no caso das mulheres elas estavam seminuas ou simplesmente sem se depilar.

A cerimônia de premiação de Film e Titanium foi a mais concorrida que já se teve notícia. Além do Grand Auditorium (que na verdade é um Enorm Audiorium) onde acontecia a festa, outro auditório igualmente gigante e lotado transmitia a entrega dos prêmios. E soube mais tarde que havia uma terceira sala, menor. O festival bombou.

Design BarcodeVale a pena conhecer o leão de Titanium, que não tem nada a ver com comunicação integrada, como sugere o regulamento, mas é revolucionário, como justificou o presidente do júri. Trata-se do produto Design Barcode, que muda o design dos código de barra de acordo com o cliente e os transforma num meio de comunicação. Conheça a empresa japonesa que faturou essa (e agora vai faturar muito mais, só que grana) em www.d-barcode.com

Só que o Titanium é tão confuso que vai, finalmente, acabar. E conforme a Fenêtre estava apostando, ano que vem vem aí a categoria Design Lions. Vamos aguardar para ver se não vai ser um surubão, daqueles em que ninguém mais sabe se aquilo é mesmo daquela categoria.

Vou cantar a pedra antes. Como Design não tem "veiculação", o que vai pintar de peças que nunca viram a luz do dia de verdade vai ser uma grandeza. Mais: como vai ser o primeiro ano da categoria, vai pintar muita coisa que já foi feita tem tempo e premiada, fazendo de conta que é novinha.

Noitulove, da GuinessEm todos estes anos de indústria vital, esta é a primeira vez que me acontece: a Janela Internacional deu dois pitacos certo! Além da aposta no Design, numa das primeiras colunas deste ano em…(Marcião acha aí pra gente) chutei que o filme Noitulove (Evolution), da Guiness era sério candidato a Grand Prix. E tá lá.

Suicida, da ElectroluxEles chegaram. O mercado internacional inteiro vem falando (quer dizer, eu que sou mané estou falando, quem é malandro está investindo) na China. E os caras ganharam o seu primeiro, histórico e emblemático leão. Foi um bronze, da Lowe Shangai para Electrolux. Agora é que o mercado de lá embala.

Bravo, de TangoO filme inglês Bravo, para o refrigerante Tango, ganhou prata com uma paródia ao filme da Bravia, da Sony, que foi ouro. É aquele das bolinhas coloridas pulando pela cidade. No filme da Tango, são frutas que aparecem pulando e depredando um monte de coisas. Até aí, tudo bem. Só que a trilha sonora é exatamente a mesma! Não sei se os caras conseguiram os direitos da música no amor. Mas o que é mais curioso é que deram um prêmio de "Melhor uso de Música" para o Bravia. Não deveriam também dar para o Tango?

Bravia, da SonyAliás, já pensou na dificuldade que deve ter sido "vender" esse filme, da Sony? Primeiro convencer o diretor de criação que o roteiro das bolinhas era muito bom, depois o cliente?...

Descontando as campanhas, foram só 12 leões de ouro em Films. Na categoria Carro e Cerveja, foram dois ouros. Foi injusto. Algumas boas campanhas que ficaram com prata mereciam melhor sorte. Mas o júri tem que manter a sua fama de mal. É mais cool assim.

Depois de tantas confusões nos últimos anos, todas as agências tomam o cuidado de, para inscrever suas peça, informarem os clientes e veicularem em algum lugar, ou seja, legalizam tudo. A discussão sobre o que é ou não fantasma virou uma verdadeira conversa de bêbado, não vai a lugar nenhum. E agora?

As vaias voltaram ao Palais ontem para uma ou outra campanhas chatíssimas que já tinham tomado um vaião no short list. Assiste os filmes e vê lá se não tem umas coisas de doer os testículos. Se você não tem testículos, pelo menos imagina, vai.

Short but Fun, da VWA boa campanha "Short but Fun" da DDB Dusseldorf para o VW Fox foi tirada da internet. Os caras foram lá, pegaram os curtas de animação da angryalien.com e colaram o pack-shot. Pronto, prata. O que valeu ouro foi a atenção dos criativos para adequação das referências. Alguém lembra do "Wassup" da Budweiser? Também era um curta de cinema...Se você curtiu a campanha, vai lá no site: tem também o Brokeback Mountain, Rocky, Cães de Aluguel...

Virou tradição. A agência ganha ouro num ano, no ano seguinte manda outras execuções para a mesma idéia e, não raro, ganha pelo menos um bronze. É só ver. Como diria o incontornável Cid Moreira: "assim fica fácil, Mister M..."

Foi um ano para esquecer para o Brasil. E não estou falando só de quem bebeu demais... Mas a sensação que dá é que 2007 vem aí e o país tem talento de sobra para dar a volta por cima. E com uma qualidade tão grande quanto a quantidade das nossas peças. Só vale a pena ter em atenção uma coisa, que o Luis Cláudio Salvestroni, da Agência3, disse nesse festival: "Ninguém marca os outros países como marcam o Brasil."

Abraço final para a galera que deu força à Fenêtre por email ou pessoalmente, aqui em Cannes: Fátima Megale, Leandro Euzébio, Rafael Simi (mais uma vez) e aos superjornalistas Claudia Penteado e Paulinho Macedo (Propaganda e Marketing). Obrigado pra caramba, Marcio Ehrlich pela confiança, pela experiência que me passou e pelas dicas. E claro, à Giovanni FCB, por apoiar a coluna mais caótica (de caos, nunca de caô) do festival. A eles e a você que acompanhou a gente aqui durante esta semana, valeu mesmo.

Cannes acabou, mas os e-mails não.

A Fênetre volta para responder, agradecer e alertar para um problemão. Aí vão alguns dos e-mails que chegaram:

"Olá, Marcio.
Estou escrevendo para parabenizar a coluna pela excelente cobertura do festival de Cannes deste ano. Não só perfeita na cobertura jornalística, mas muito divertida com as notas e comentários do Fabio Seidl. Realmente me diverti muito e tive que entrar no site da Janela diariamente.
Parabéns Fabio e Marcio! Um abraço,"
Mario Nakamura, Cinerama Brasilis

"Com o perdão do trocadilho, vocês estão com a bola toda. E parabéns pelo desempenho no torneio de futebol de Cannes!
Abração!"
Walter Lencina, OMG Comunicação Total

"Fala Fábio!!!! Valeu pela cobertura do festival, você mandou muito. Parabéns pelas sacadas e tiradas. Abraços! "
André Felix, ESPM

"Foi sensacional a tua cobertura, ó pá!
Quem nao conseguiu embarcar, se deliciou com o texto. Parabéns e abraços!"
Mauro Risch, Fotógrafo

"Fábio, você vai ganhar mais que o troféu, pelo título no futebol. Vai chegar em Portugal uma camisa original do Vasco, assinada pelo baixinho! Isso, sem falar no título de melhor cobertura do festival, que já é seu desde que a Janela resolveu te chamar.
Abraço,"
Fátima Megale, BH Minas Gerais

" Fábio,
Finalmente o Vasco ganha um jogo na Europa! Seguinte, a cobertura (como diria o Bussunda, com bastante trocadilho ) do festival ficou muito bacana. Valeu!"
Leandro Euzébio, Rio

Rafael Simi, do jornal Extra, mandou algumas colocações e perguntas…
"Fábio, parabéns mais uma vez pela cobertura (…)
Estava vendo os leões e me chamou a atenção o trabalho de uma ótima agência e de fora do eixo Rio-São Paulo: a JWT Curitiba. Principalmente pelo trabalho para um cliente de um segmento tido como "careta", o HSBC. Em geral, publicitário gosta de fazer comerciais para clientes mais leves, jovens, dinâmicos, ao invés de bancos, que gostam de imagens austeras. Me surpreende a quantidade de prêmios para esse cliente.
Outra peça muito boa é da Leo Burnett, ganhadora de prata em outdoor, aquela da janela do avião formando um teto solar. É muito boa e me pareceu merecer um prêmio para uso de mídia, não?"

Fabio Seidl responde:
Rafael, nos dois casos acho que você tem razão. Um dos filmes que mais me surpreenderam no festival também quebra esse tabu, é para a Bangcoq Insurance, uma seguradora e usa justamente o humor...nonsense! Já viu lá no site Canneslions.com?
O trabalho da JWT Curitiba para o HSBC é bom não é de hoje. Os bancos, quando acreditam numa comunicação menos formal, costumam acertar. A campanha de outdoors "Feito para você", do Itaú, é outro exemplo, o finado casal Unibanco também. Afinal, o consumidor de banco é o mesmo que compra carro, revista de mulher pelada (ou de homem, depende) e cerveja. Então, se usar o humor com inteligência e bom gosto, não tem porque ele não gostar.
Sobre a ótima peça da Leo para a Fiat, acho que poderia ter TAMBÉM faturado um Media Lion. Embora essa categoria, conforme eu disse na primeira coluna, é muito subjetiva e os critérios não parecem bem definidos.
Um abraço e superobrigado a você e ao pessoal todo que deu força à Fenêtre. Já, já, eu volto com a Janela Internacional.

PS: Faltou dizer! Os filmes brasileiros exibidos no short list VOLTARAM a apresentar o problema técnico do ano passado, conhecido como "field" ou batimento. O motivo pode ter sido a transcodificação, já que alguns filmes americanos (que também usam o sistema NTSC) apresentaram a mesma nhaca. Ou isso ou o já contestado sistema BeamTV, que monopoliza a digitalização dos filmes para o festival. Teve mais. Os filmes da NBS, por exemplo, passaram com um som muito muxoxo, abaixo do nível dos demais. Em 2007, o Brasil tem que abrir o olho para esse problema que prejudica bastante a avaliação dos trabalhos.

O redator Fabio Seidl é o enviado (com todo o respeito) especial da Janela em Cannes 2006.