Cannes, 17
de junho de 2005, sexta-feira
ESQUENTANDO OS TAMBORINS
Aí, hein, se deram bem? Se livraram do Marcio Ehrlich na
cobertura de Cannes.
Melhor pra vocês, pior pra mim, que tenho que aturar.
Pô, o cara já começou dizendo que eu queria
saber onde as pessoas iam ficar em Cannes. Que eu fiquei mandando
foto de macho para a cobertura do ano passado. Colé, Marcião,
tá me estranhando?
Ah, se não fosse o mensalão que recebo da Window of
Advertising Corporation...
Mas parece que a boa notícia é que este ano vou à
Cannes como “Press A”.
“Parece” porque não faço a menor idéia
do que isso quer dizer. Acho que ao invés de ser barrado
em vários lugares, vou ser barrado em quase todos.
Quem me conhece já sabe: não sou jornalista. Não
vou investigar necas de pitibiriba. E não costumo lembrar
de bulhufas depois das festas.
Pelo menos vocês vão poder ter contato com expressões
como “necas de pitibiriba” e “bulhufas”
já tão raras no cotidiano da língua portuguesa
e que eu duvido que encontrem em outros veículos.
Mas vocês vão estar bem servidos de informação.
Tem o Propaganda & Marketing, por exemplo. Podem acreditar:
o festival nem começou e o Paulo Macedo já sabe quem
vai levar o Grand Prix.
Em outros festivais já vi várias vezes jornalistas
estrangeiros perguntando para o pessoal do Meio e Mensagem, do Blue
Bus, do CCSP e do Vox News quantos prêmios o país deles
tinha conseguido.
É sério. A cobertura dos veículos brasileiros
é, de longe, uma das mais competentes e bem informadas do
mundo. Ninguém envia tantos jornalistas e rala tanto na sala
de imprensa e nos bastidores quanto o Brasil.
Por isso mesmo, como já dizia a filósofa e poetisa
Luka: tô nem aí.
Espero que vocês façam como eu. Divirtam-se e desencanem.
De sério, nessa coluna, bastam os entrevistados.
JOÃO DANIEL E ÁTILA FRANCUCCI
NA JANELA
Antes de embarcarem, os jurados brasileiros em Filmes trocaram
uma idéia com a gente. Obrigado aos dois e a assessoria deles
na Jodaf e na JWT.
JOÃO
DANIEL TIKHOMIROFF, DIRETOR
FS: João, você já ganhou mais de 40
leões em Cannes. O que faz uma idéia ser mais do que
finalista?
JD: Acho que tem que ser rompedora. Ou então, permitir
uma realização surpreendente. Isto é, o filme
tem que bater na primeira vista, saltar. Mas, claro, também
depende dos concorrentes na categoria.
FS: Você acompanha o festival há muitos anos.
Eu estava conversando com uns amigos outro dia e surgiu uma discussão
interessante: que as idéias que vão para os festivais
estão cada vez mais universais e por isso estariam cada vez
mais longe do bom trabalho que é feito localmente. Existe
esta distorção?
JD: Sem dúvida, as peças que mais se destacam
no Festival são as que têm uma linguagem mais universal,
com exceção dos filmes americanos e ingleses, cuja
cultura já foi totalmente assimilada em todo o planeta. Afinal,
fomos bombardeados durantes décadas de cultura anglo-saxônica.
Ou alguém ainda duvida?
ÁTILA FRANCUCCI, CCO DA JWT
FS:
Átila, o Brasil tem diminuído a presença nos
prêmios em filmes. O que tem faltado? Algumas pessoas falam
em crise financeira, mas a Argentina, por exemplo, um mercado menor
e que esteve numa crise pior, tem se destacado nesta categoria...
AF: Não acredito que sejam os problemas financeiros.
O exemplo da Argentina, é perfeito para provar que grana
não é a questão.
Vários fatores explicam este declínio. Os clientes,
no geral, policiam mais o filme do que a mídia impressa.
Um roteiro é um monte de letrinhas até virar um comercial,
diferente de um lay-out que é apresentado quase pronto.
Ao não enxergar o filme, o cliente tenta se cercar de seguranças,
daí as pesquisas e os testes. O grande problema é
que esses instrumentos funcionam como "meritíssimos
juízes" e não como "testemunhas". E
nunca um animatic ou um story board serão iguais a um filme
pronto.
Quem pilota a pesquisa tem que ver até que ponto o que está
sendo dito ali é autêntico. Opiniões médias
geram resultados médios.
Outro fator que influencia nossos filmes passa pela qualidade de
produção. Temos bons diretores, mas a Argentina tem
muito mais.
Lá ousa-se. O filme é mais cinema que propaganda.
Os criativos são mais atuantes durante a filmagem, uma demanda
gerada pelos próprios diretores. Eles preferem ter o criativo
quase que co-dirigindo o comercial.
Outra coisa importante quando se compara Brasil e Argentina. Lá
não existe a armadura dos 30 segundos e as variáveis
de 15. O filme de 47
segundos vai para o ar com 47. Parece um pequeno detalhe mas faz
muita diferença. Diferença conceitual: a mídia
é comprada em funçao da idéia. O "já
tenho meus 30 segundos comprados na Globo, preciso do filme"
é substituído pelo "tenho um filme de 37 segundos,
favor comprar mídia". É o impacto mais relevante
que a frequência. E o orçamento do filme independente
da porcentagem de investimento de mídia.
N.R.: Fabio, já que o Átila levantou essa bola,
deixa eu fazer um registro histórico, para que a justiça
seja feita: no início da década de 80, na Bahia, quando
o jovem e ousado Duda Mendonça dirigia ele mesmo os comerciais
de sua recém-fundada agência DM9, os filmes eram montados
com o tempo que achava necessário para contar a história.
As TVs baianas aceitavam sem problema. Até que a Globo resolveu
botar ordem nos breaks nacionais e acabou com a farra. (Marcio Ehrlich)
Cannes, 19 de junho de 2005, domingo
AS
NOVAS AVENTURAS DE UM PUBLICITÁRIO EM CANNES
Cheguei à Cannes e me instalei no meu "hotel",
o Le Carandiru.
Na verdade, o nome é Chanteclair, Janete Clair, Jacques LeClair,
algo assim, mas é que meu quarto é uma cela. A janela
dá até para um pátio de concreto onde o pessoal
pega sol!
Não tem ar condicionado, nem ventilador, mas pelo menos tem
aquecimento a gás. Pode ser muito útil se a temperatura
baixar dos 40 para os 10 graus.
Não deixem nunca para marcar hotel de última hora
aqui. Se eu soubesse que ia ficar num presídio, tinha roubado
alguma coisa antes, pelo menos economizava as diárias.
Deixei as malas, assinei minha liberdade condicional e fui logo
ao Palais me credenciar.
PAPEL?
QUAL PAPEL?
Quem me conhece sabe que eu sou péssimo com papéis.
Se vocês um dia precisarem perder um papel, papel-moeda inclusive,
é só me entregar. Não era essa a idéia
do Marcio Ehrlich, mas eu perdi o papel que ele mandou com a minha
inscrição.
Então a recepcionista do festival teve que checar meus dados
com a chefe, que, quando chegou:
"Ei, eu lembro de você. É do Brasil. Esteve aqui
no ano passado, right?."
Eu nunca tinha visto a mulher mais gorda, mas nessas horas:
"Depende, isso é bom ou ruim?"
Silêncio. Ela começa a rir, o que me deixou mais na
dúvida ainda. Olhou rapidamente o meu documento e leu alguma
coisa na tela.
"Isso mesmo: Janela Publicitária... Fabio..."
Fui tirar a foto para a credencial e fiz uma careta.
"É isso, você é o que faz careta nas fotos!"
Sim, surreal, fiz isso ano passado e a mulher lembrou.
Estava indo embora mas, burro, fui fazer mais uma pergunta.
"Essa credencial Press A dá direito ao quê?"
Pobre é fogo, ganha um crachá e acha logo que ficou
importante.
"Você quer o quê?"
"Ah, sei lá, tirar fotos sem o segurança vir
atrás de mim."
"Hmmm, você é Press A? Me dá aqui a sua
credencial."
Quando a dona volta. "Ok, você vai ser Press C e pode
tirar umas fotos das cerimônias, mas só por um tempo.
Depois tem que ir embora."
"Pensando bem, acho melhor ficar com a 'A'."
Acho que ela se arrependeu de ter dado a tal "A". Mas
eu juro, tirando a careta, não fiz nada para ninguém
se lembrar assim de mim. Não que eu lembre. Pensando bem,
por que será que eu fui parar no Carandiru?
EXPOSIÇÃO
AO AR LIVRE
O banco de imagem Getty levou um pouco do festival para a rua.
A idéia, bem bacana, foi montar a exposição
New Photographers 2006 em frente a entrada do Palais. Muito turista
parou para ver os trabalhos. Entre os profissionais selecionados
para a mostra está um carioca, Daniel Klajmic, com um trabalho
para uma marca de cachaça.
ÁFRICA
DANDO SHOW
A revista da África, tão falada pela imprensa na
semana passada não é o que dizem. É muito mais.
Fotos lindíssimas, bons anúncios e textos. Tudo assinado
por nomes como JR Duran, Matinas Suzuki... Alto nível e bom
gosto.
A peça apresenta, conceitua e vende todos (todos mesmo) os
detalhes da agência e a lança para o mercado internacional
como um posicionamento novo e diferenciado.
Além da revista, a agência tem ainda um grande stand
aqui do lado da Sala de Imprensa e uma faixa que está exatamente
embaixo do painel principal da
fachada do Palais onde se lê: "Africa. The 3G Agency."
Provavelmente, faz menção a uma terceira geração
de agências.
Agora, só uma curiosidade. Dá uma olhada na foto do
Santo Antônio que está na revista e foi fotografado
no escritório do Nizan. Parece com quem?
O REGRESSO DO INVESTIMENTO
Cannes voltou a atrair investidores e o festival tem este ano stands
e uma estrutura como não tinha há muito tempo.
A tradicional bolsa distribuída pelos delegados veio tão
recheada que o pessoal nem aguenta o peso, se livra do conteúdo
dela já na área de credenciamento.
Foram 30 (me dei ao trabalho de contar) tipos diferentes de propaganda
e brindes.
O mais interessante é um convite para um seminário
da JWT sobre música na publicidade: vem num disco de vinil
de verdade (um diferente para cada delegado).
Também em clima retrô, o banco de imagem Corbis ofereceu
uma máquina de ver imagens em 3D para um concurso que vai
dar um automóvel Mini.
A MSN tem outro concurso que vai dar uma mesa de sinuca. Tem de
tudo.
FILMES
(E PRAIA) ATÉ A NOITE.
O dia que abre o festival e normalmente é meio morto, teve
uma programação hardcore. Foram exibidas 14 das 27
categorias de filme, das nove da manhã até às
oito. Mas não tinha "ninga" assistindo.
É que domingão nunca foi dia de ficar vendo comercial.
Nem no festival.
Sempre foi para o pessoal vir chegando, devagar, se instalando,
ver uma coisa ou outra. Mas como as inscrições aumentaram.
Nem os delegados que já estavam na Côte D' Azur se
animaram muito pra ficar o dia todo no Palais e foram aproveitar
o clima de alto verão com sol até quase nove.
Alguns brasileiros deram aquela esticadinha de fim-de-semana em
Paris, que ninguém é de ferro.
Do Rio, quem já está firme e forte por aqui é
Marcinho Juniot e Rodolfo Sampaio, da Publicis, e claro, o nosso
jurado de rádio, Lula Vieira, da VS.
A
CORRERIA DOS YOUNGS
Se o domingo foi devagar para o público, foi corrido para
os Young Creatives. Depois de terem recebido o briefing às
18h de sábado, já com o Palais fechado, foram para
o hotel pensar num anúncio e num banner para motivar analfabetos
a voltarem para a escola. No domingo, a sala de computadores abriu
às 8h, a peça tinha que estar pronta às 20h.
É mais ou menos como os clientes pedem trabalhos no Brasil.
Talvez pela experiência com a pressão, o clima dos
brasileiros era de tranquilidade. Na foto, o diretor de arte carioca
Diogo Mello (ex-Script, atual BBDO Portugal), representante de Portugal,
e o young e redator brasileiro Ícaro Dória (ex-FCB
Portugal, atual Giovanni SP).
TUDO
DE FORA
Duas novidades ruins para os Youngs. Eles foram colocados em cabines
abertas e próximas umas das outras, limitando a conversa
e forçando-os a esconder o trabalho dos concorrentes o tempo
todo.
Mais: as equipes dos 40 países estão numa espécie
de aquário na entrada do Palais. Muita gente passa por ali
e, imagino, deve quebrar a concentração.
Dava até para ver o monitor de alguns deles. Confira na foto
como ficaram expostos os computadores da Noruega e da Polônia.
TÁ NA MODA
Falando
em coisas de fora. Será que esta moda que rola aqui na França
pega aí no Brasil?
VALEU, GALERA!
Apesar das melhorias no festival, a sala de imprensa continua com
poucos computadores (cerca de uma dúzia).
Nos pontos de internet para quem traz o laptop, só dá
para entrar quando um jornalista brasileiro camarada dá a
vez. Por isso, fica difícil passar o tempo que eu gostaria
na internet mandando notícias e respondendo os emails do
pessoal que tem escrito.
Vou agradecendo por aqui então: valeu Fabio Marinho da OPM,
Caveira da Agência3, Shirlei da Capitão Musical, Fátima
Megale, a turma do "Enlarge Your Penis Now", "Hot
Teen Virgins XXX", "Better than Viagra" e tantos
outros.
Vocês são muito simpáticos. Obrigado pela força!
Cannes, 20 de junho de 2005, segunda-feira
MEXICOZINHO
PRA CIMA DOS BRASILEIROS
Uma chuvinha chata caiu ontem em Cannes, por volta das 19h acabando
com a praia de muita gente. Mas não esfriou o ânimo
da brasileirada para ver Brasil X México pela Copa das Confederações.
Infelizmente, tomamos de 1 x0.
Pior do que o futebol da seleção só a idéia
que eu tive de marcar com um pessoal de ver o jogo no Café
Roma, em frente ao Palais. Como dá pra ver na foto (em que
estou cercado!), só dava mexicano.
Quem me salvou foi o grande Accioly, da Academia de Filmes, que
tinha armado com outra galera no bar Cristal perto do Pelô
(a ladeira dos restaurantes em Cannes), onde fui ver o segundo tempo.
Lá o nível estava mais chique. Ao invés de
mexicanos, eram os franceses torcendo contra o Brasil.
Apesar
da derrota, valeu pro pessoal se encontrar, bater papo e tomar uma
cervejinha, que dizem que estava só geladíssima graças
a proximidade do pé-frio do Accioly (tô brincando,
Acci).
Na foto, a torcida brasileira de Norte a Sul: Accioly (Academia-RJ
/SP), Carlos Renato (Arcos-PE) e Flavio Waiteman (Master -PR)
MÃOS AO ALTO
O pessoal está reclamando, e com razão, dos preços
das coisas em Cannes. Até quem esteve nos últimos
festivais, sentiu o aumento. Como o país não tem inflação,
a conclusão é uma só, os franceses estão
metendo a faca.
Uma águinha na croissete chega a custar 3 Euros (quase R$
10). Um lanche no McDonald's, mais caro do que em boa parte da Europa,
6 Euros (cerca de 20 minguelos). Um almoço econômico,
uns 13 Euros (40 biro-biros). Um jantar para valer não queira
nem saber.
N.R.: Uma água, 3 Euros. Um lanche, 6 Euros. Inscrição
no Festival, 2093 Euros. Estar em Cannes como Press A, não
tem preço. (M.E.)
HOJE
A FESTA É DOS HOLANDESES
A afamada festa dos Dutch Young Dogs acontece hoje no seu bat-local
de sempre, o bar D'Okey, na praia do mesmo nome.
A turma dos Países Baixos, que todos os anos vem de lá
até aqui neste super ônibus (imagina a zueira que não
rola nesse busão) tem como tema este ano "Refresh".
O evento é conhecido por, além de abrir a série
de festas da semana, ser a mais informal de todas.
PRESS
& OUTDOOR: BRASIL PASSA OS 130 FINALISTAS
A expectativa não era muito otimista mas o Brasil chegou
a 133 peças selecionadas para o short list de Press&Outdoor,
com uma contribuição avassaladora da Almap BBDO.
Duas agências do Rio estão entre as finalistas: A Giovanni
e a Publicis.
A
Publicis, para alegria do redator Marcio Juniot (foto à esquerda),
colocou uma campanha (3 peças) para a Opção,
que faz um paralelo sobre quanto custaria a produção
de uma super foto e quanto ela realmente custa no banco de imagem
(foto à direita).
A Giovanni traz uma peça com título muito bacana para
o Club Med. Sobre uma bela foto de uma praia, diz: "Você
tira férias porque é filho de Deus. Aqui você
fica achando que é filho único." Perdoe o pessoal
da agência se a minha tradução não ajudou.
Há também uma peça para uma clínica
ortopédica carioca (Rio Orthopedic Center) em que um boneco
de Voodoo todo espetado está totalmente relaxado. Mas na
lista oficial, a idéia está creditada para a Giovanni
SP.
GP DE PRESS PODERIA IR PARA PORTUGAL
O nível do short list está excelente. Mesmo assim,
muita gente (e não só brasileiros e portugueses) está
comentando que o GP de mídia impressa poderia ir para "Bandeiras",
campanha da FCB Portugal para a revista Grande Reportagem.
Falei sobre ela na Janela
Internacional passada . Vem de premiações como
Grand Prix no Clube dos Criativos de Portugal, FIAP e Clio.
MAIS BRASIL
Três trabalhos portugueses no short list têm brasileiros
na ficha técnica: além de "Bandeiras" que
conta com o redator Ícaro Dória (atual Giovanni SP),
a campanha da Revista da Playstation, também da FCB tem na
ficha o paulista Daniel Prado (atual Y&R Brasil).
Um anúncio da Leo para Ketchup picante Heinz tem o diretor
de arte carioca Tico Moraes (atual Grey Lisboa) e a direção
criativa de Alexandre Okada (atual Leo Burnett Latin America).
DOWNLOADS
A Janela preparou os shortlists do Press & Outdor em formato
DOC, por ordem de país e agência. Faça aqui
o download: Press
Short List e Outdoor
Short List.
Cannes, 20 de junho de 2005, segunda-feira
(II)
FILMES: GP PODE ESTAR NAS SESSÕES DE HOJE
Comecei bem a análise de hoje: um titulo sensacionalista.
Saco, agora preciso embasar isso.
Desde 2000, quando a campanha "Wassup" da Budweiser chegou
aqui como favorita antes mesmo de ser exibida, deu para perceber
que o festival estava mudado.
Com
a internet e o fácil acesso às Archives. Shots e anuários
da vida, várias peças já chegam aqui em clima
de já ganhou. Nem sempre, claro, levam, mas.
Pelo que tenho ouvido, os delegados brasileiros apostam que o vencedor
está entre dois filmes de carros e um de tênis.
Logo, os mais fortes candidatos ao "caneco" (não
foi trocadilho, saiu sem querer) estão sendo exibidos hoje.
Que fique claro que esta minha opinião, como todas as minhas
outras, é completamente precipitada e irresponsável.
Eu nunca acerto palpites e nunca ganhei nem rifa de quermesse. O
fato de eu nunca ter ido a uma quermesse contribuiu um pouco para
esta situação, devo admitir.
Mas vamos lá.
Um dos favoritos é o filme "GRRRR" da Wieden+Kennedy
britânica para a nova linha de motores a diesel da Honda.
Tem uma animação lisérgica, uma música
assoviada que gruda nos ouvidos e um conceito interessante: "Odeie
alguma coisa, mude alguma coisa."
Só uma contextualização, na Europa, os carros
a diesel sofrem dos mesmos preconceitos dos carros a álcool,
no Brasil. Então essa é como uma campanha para vender
os carros com motor Flex aí. Ou não, sei lá.
É
a chance da W+K e a Honda tirarem a reca de quem era favorito a
levar o GP em 2003 com o famoso "Cog" (engrenagem) e perdeu
para o ótimo filme da luminária triste da Ikea.
O outro candidato é o "Singin in The Rain Remix"
da DDB Londres para o novo VW Golf. Parece o filme de Fred Astaire,
mas o ator (e às vezes um dublê computadorizado), começam
a mudar a coreografia de acordo com a música, que ganha um
ar techno. O conceito é algo como "o clássico
renovado".
Seria o bi de um Grand Prix para a DDB e para a Volks, em 2004 eles
levaram em mídia impressa.
MAIS DE CINCO HORAS DE FILMES DE CARROS
Também
está entre os carros a categoria mais longa do festival:
5h15 de comerciais. É quase tanto tempo, por exemplo, quanto
a sessão dos short lists.
O que chama atenção nos filmes que saem do feijão
com arroz tem sido principalmente a inovação nas técnicas
cinematográficas. Um filme inglês para o Citroen C4,
por exemplo, traz um carro que se transforma num robô, no
estilo do desenho animado Transformers. Assina "vivo e com
tecnologia".
Outro
para os conversíveis da Mercedes, da alemã Springer
& Jacoby mostra ondas sonoras formando cenários típicos
de verão num fundo branco. Diz para o espectador "escutar
o verão".
ALÉM DOS MOTORES
O terceiro "preferido antecipado" do festival é
"Hello Tomorrow", da Adidas. Um filme bem difícil
de explicar: é um "sonho filmado" assinado pelo
genial diretor Spike Jonze (Adaptação e Quero Ser
John Malkovich) para vender o primeiro tênis inteligente do
mundo e o lema "Impossible is Nothing". Foi criado pela
180 Amsterdam e causou muita estranheza quando começou a
ser exibido na Europa.
Aponta uma direção e uma liguagem diferente na publicidade,
sobretudo na categoria dele, viciada em atletas famosos fazendo
truques.
Mas ainda é cedo. Ainda vem aí os filmes da Playstation,
Ikea, Nike, Budweiser. até Rexona este ano tem uma mega produção
chamada "Stunt City".
E depende se o júri vai querer apontar uma tendência,
uma atitude ou simplesmente uma grande idéia. Vamos ver.
AUTO-CRÍTICA
Meus comentários estão me lembrando um episódio
que eu vi com o João Saldanha na TV. Eu era moleque, mas
era fã do Saldanha. Ele, assim como o Gerson Canhota hoje
em dia, não estava nem aí.
Era um campeonato qualquer e o jornal da Manchete (!!!!) anunciou
no primeiro bloco:
"Não perca nesta edição, a análise
dos finalistas do campeonato com ele que sabe tudo de bola, João
Saldanha."
E eu lá, esperando, o que será que o Saldanha vai
dizer, será que o Vasco tem chance?
Segundo bloco e antes do intervalo..."Não saia daí,
daqui a pouco, temos João Saldanha falando tudo sobre a fase
decisiva do futebol".
E eu, obediente, não saí. Mas ainda não foi
naquele bloco. Saco. Só no finalzinho do jornal entra o Saldanha.
O apresentador pergunta:
"Saldanha, semi-finais do campeonato, e agora?"
O Saldanha espalma as duas mãos, faz uns números com
os dedos e diz:
"Bem...eram oito..agora...ficaram quatro. Vamos ver no que
é que dá."
Cruzou os braços e não disse mais nada. Sensacional.
VEJA OS FILMES COMENTADOS DE HOJE NESTES LINKS:
Citroen C4, Transformers, Euro RSCG (GBR)
https://www.youtube.com/watch?v=4dilUbkP-PI
Mercedes Benz, Sound of Summer, Springer & Jacoby (ALE)
https://www.youtube.com/watch?v=3HG7jrvmSSw
VW Golf, Singin in the Rain, DDB London
https://www.youtube.com/watch?v=_hj86TnXpgE
Honda, GRRRR, W+K UK
https://www.youtube.com/watch?v=axlacvKWHhA
Adidas, Dream, 180 Amsterdam c/ Spike Jonze
https://george.proteinos.com/temp/adidas-1.mov
Cannes, 21 de junho de 2005, terça-feira
PRIMEIRO, O QUE NÃO INTERESSA.
A tal festa dos holandeses ontem foi bem "mazomeno".
Provavelmente porque o evento que antes oferecia o chopp mais barato
de Cannes subiu o preço do copinho de 2 para 4 Euros.
Então, com o pessoal menos empolgado, não rolou nada
demais. O máximo de emoção foram uns malucos
que pegaram umas arminhas de água para molhar o pessoal.
E aí o que aconteceu? Um figura que provavelmente teve acesso
a outros produtos provenientes da Holanda ficou chateado em levar
uma esguinchada nas costas (qualquer homem ficaria) e, num ataque
de farofeiro, começou a jogar areia em quem o atacou.
Os poucos brasileiros que estavam por lá ainda tentaram gritar
"É arrastão!!!" para a coisa ficar animada,
mas nem isso. Um segurança foi lá e resolveu.
No mais, nenhuma sueca mergulhando no mar de lingerie e nada de
danças ousadas de norueguesas libidinosas. Tudo muito comportado.
Aliás, um alento para as mulheres que tem seus cônjuges
em Cannes. Fiquem sossegadas. Isso aqui é o maior zero a
zero até para os solteiros e
guerreiros. Depois, 90% do público aqui é masculino.
E ainda por cima, convenhamos, os maridos de vocês são
feios pra caceta.
METE
BALA
Idéia muito legal a da produtora de som Massive Media,
da Holanda, que foi "veiculada" (com trocadilho) na porta
da festa dos Youngs Holandeses ontem, para divulgar a festa da empresa,
na próxima quarta.
Pegaram um BMW, encheram de furos de bala (tudo de verdade) e adesivaram
o título: "Nossos vizinhos reclamam sempre."
Acho que já vi algo parecido em frente a um buraco quente
aí no Rio. Mas tinha um cara morto de verdade dentro e não
tenho certeza se era para divulgar uma festa.
CADÊ OS CARIOCAS?
O festival está lotado, mas a delegação do
Rio está miudinha, miudinha.
Ontem fui ao bar do Martinez, o point antes e depois da noite, para
ver se encontrava o pessoal e.nada. Só encontrei o Luiz Nogueira,
da McCann, batendo um papo com o Fernando Campos, da Giovanni SP.
Eles também tinham visto pouca gente.
O Martinez estava fraco. Mas, também, cobram 9 Euros por
uma Heineken.
Imagina quanto não cobram por uma cerveja! Pronto, fiz amigos
na Heineken, que é "só" a cerveja mais vendida
da Europa.
O bar da frente, mais badalado, estava mais barato: "apenas"
7 Euros. Mas deixa eu voltar ao assunto, porque isso aqui tá
parecendo um canal Bloomberg
de bêbado.
Sei que está por aqui uma turma da CGCom, o Pedro Éboli
da Contemporânea,o Adilson e a Cristina, da Giovanni e o Accioly
da Academia.
Mas o Accioly está em todos os lugares. E agitando, o que
é bom. Acabou de passar aqui e convidar todo mundo para tomar
caipirinha no stad da Film
Brazil. E já está divulgando uma festa brasileira
amanhã.
Então, ô pessoal do dinheiro nas agências, vamos
dar uma força pro que vocês tem de mais importante.
Isso aqui é um investimento muito bacana no profissional.
Um intercâmbio e uma grande motivação.
Vamos apoiar os Young Creatives aí pra mandar mais gente.
Produtoras e parceiros, não rola reeditar aquela Promoção
Vai Pra Cannes?
Vou fazer propaganda aqui, porque merecem: ano passado, a Proview,
a Zuêra, o Mauro Risch e o Studio Alfa mandaram DEZ publicitários
para cá.
Senão vier mais ninguém, eu também perco a
minha boquinha de imprensa.
ISTO
É TREMENDO.
No ano passado, a Fênetre descobriu que na comitiva dos Youngs
brasileiros estava um ex-Big Brother, o Edu (acho que era isso),
vindo de Minas Gerais.
Agora, dizem por aí que um criativo argentino teria feito
parte do TREMENDO. Eu acho que é mentira.
O Tremendo, para quem não lembra (todo mundo) era um Menudo
falsificado, surgido no rastro do Dominó (companheiro, companheiro
veeeeem).
O único sucesso dos muchachos dançarinos foi "Isto
é Tremendo" (Todos batendo palmas..), cantado em portunhol.
O criativo em questão é redator e usava o nome artístico
de Marito. Mas é tudo que tenho para dizer até agora.
Isso e que, do jeito que vão as coisas, teremos em breve,
como presidente do júri de Cannes, o Juninho Bill. Não
seria nenhuma surpresa, já que como todos sabem, o Juninho
é Fera, Fera Neném.
FESTA OFICIAL É HOJE. A DA MÚSICA
TAMBÉM.
A noite desta terça deve ser a mais movimentada do Festival.
A gala oficial do evento, que normalmente era na quarta foi antecipada
para hoje, logo após a entrega dos Media Lions e do Direct
Lions.
Isso se até o final do dia a organização não
inventar mais nenhuma categoria para o festival: um Informe Publicitário
Lions, Filipeta Lions, sei lá. Toda hora tem uma categoria
nova aqui.
Vai coincidir com a Festa da Música, que acontece na França
toda para comemorar o primeiro dia do verão.
Além de shows promovidos pelas prefeituras locais, as pessoas
que tocam instrumentos costumam ir para as ruas e os bares colocam
músicos e DJs para animar a galera.
Depois eu conto aqui como foi.
GP PRESS: E AS PREVISÕES DA FÊNETRE,
HEIN?
O que era previsto aconteceu: as minhas previsões estavam
erradas. Embora o resultado oficial só saia amanhã,
a informação que chegou aqui na de imprensa aponta
a campanha contra pirataria da TBWA Paris para a EMI como a vencedora
do GP Press & Poster.
A portuguesa "Bandeiras", da FCB para revista Grande Reportagem,
apontada ontem aqui como melzinho na chupeta para levar o GP, ficou
com ouro e a poucos votos do prêmio máximo.
Os layouts da campanha francesa são legais, mas sei lá,
achei pouco para o GP de um ano com um short list tão forte.
Os anúncios mostram ilustrações que remetem
ao males que a pirataria pode fazer com alguns artistas. Veja as
fotos.
Se os amigos me permitem uma pequena opinião. A campanha
traz:
- Joe Cocker, que morreu e esqueceram de avisar.
- Keith Richards, dos megamilionários Rolling Stones.
- Sex Pistols e Iggy Pop, punks que só ficaram conhecidos
graças a muita fita e rádio pirata.
E o target? A molecada que compra pirata e faz download sabe quem
é Joe Cocker? Nem o Joe Cocker sabe mais quem ele é!
Só para causar mais polêmica, que senão ninguém
lê mais isso aqui: o Marcio Ehrlich, na base aí no
Brasil, informa que não consta no site da TBWA\Paris que
a EMI seja cliente da agência.
De qualquer maneira, é o bi da TBWA\Paris, que já
levou o GP de press para Playstation em 2003. E no ano passado,
outra TBWA, a de Londres levou o GP de filmes em 2004, o que reafirma
a força do grupo.
Justiça seja feita: a agência parisiense trouxe um
trabalho excelente que está impressionando sobretudo os diretores
de arte pela alta qualidade técnica.
ALGUÉM AÍ VIU O GP DE OUTDOOR?
Em Outdoor, se nada acontecer, quem vai levar é uma peça
da Ogilvy chilena para a Lego que, dizem, nem a mãe dos criativos
viu veiculada lá em Santiago.
Vocês também não vão ver: na hora que
eu ia tirar a foto, a bateria da câmera acabou. Mas são
umas peças de Lego no meio da fachada de um prédio.
Eu fiquei achando que tinha coisa mais inovadora.
Tem um de revista Time, por exemplo, que é fantástico
e eu tenho imagem. É um pêndulo com a famosa moldura
da revista balançando entre as fotos de Bush e Kerry para
vender a cobertura das eleições.
Se o Marcio Ehrlich não roubar a imagem chilena de outro
veículo, acessem um site qualquer aí para ver. Dica?
Quando eu quero saber alguma coisa aqui eu pergunto pra Laís
do CCSP ou pro pessoal do Prop&Mark.
N.R.:
Fabio, como praticamente tudo o que tem ganhado em Cannes é
fantasma e criado especialmente para o festival, está ficando
muito difícil fazer essas pesquisas em sites oficiais, como
os das agências que assinam as peças. Vê se anda
com pilha de reserva para essa máquina, cacete! Ou vou ter
que contratar o Marcelo Lobo como fotógrafo no ano que vem?
(ME)
NÚMEROS
Resumo da ópera do P&O: o Brasil deve ficar com 12 leões
em P&O e não deu pro Rio. Cerca de 10% do número
de peças finalistas (133), mais ou menos 20% se contarmos
as campanhas (66). É um bom número.
Se forem confirmadas as informações que rolam por
aqui, são estes os brasileiros premiados:
Ouro
|
|
- "Stuart/John/Morell",
da JWT para Kleenex (imagem à esquerda. |
- "Janela",
da Publicis Salles Norton para Vick. |
Prata
- "A Princesa/A Estrela/O violão", da AlmapBBDO
para Let's Talk.
- "Traves", da NeogamaBBH para Umbro.
- "Che/Caveira/Tio Sam", da Publicis Salles Norton para
Wickbold.
Bronze
- "Casais", da AlmapBBDO para Volkswagen.
- "Causa da Cegueira", da AlmapBBDO para a Fundação
Eye Care.
- "Lama", da AlmapBBDO para Touareg.
- "Pés/Futebol", da Duda para ESPN.
- "Macaco", da Fabra Quinteiro para o treinador Gilberto
Miranda.
- "Garota/Mulher/Bebê", da JWT para Alcoólicos
Anônimos.
- "Cargo", da Leo Burnett para Fiat Ducato.
OBRIGADO!
Ricardo Chester (DM9DDB), Ricardinho Weissman (VS), Marcelo Lobo
(Agência3, o Marcio Ehrlich estava com saudade de você),
Deko Schmidt (TGD filmes), Vasco Condessa (FCB Portugal) e todo
mundo que tem escrito e incentivado a coluna (na verdade, o Deko
só me xingou). Vocês são uns malucos.
Cannes, 21 de junho de 2005, sexta-feira
(II)
JULGAMENTO PODE ATRASAR POR PROBLEMAS TÉCNICOS.
Devido à baixa qualidade com que os filmes estão sendo
passados, já comentado aqui na Janela (Francucci acusa Antel...),
parece que há uma manobra nos bastidores para que vários
deles sejam apresentados de novo.
Seria um precedente histórico e que poderia atrasar todo
o julgamento, mas a proposta deve ser levada à organização.
Caberia ao júri decidir se é necessário e a
organização se é possível fazer isto
sem estourar o prazo final do festival. Acho difícil que
passe, a cerimônia de premiação é amanha.
Não são só os filmes brasileiros que estão
ruins. Nas salas de exibição, vários passam
com a imagem pixelizada e som desnivelado. Um descuido que não
poderia acontecer em um festival que cobra caríssimo pela
inscrição das pecas e pelo acesso dos delegados.
Se todo mundo começar a reclamar, não sei não.
Mas é justo.
Também já ouvi que os japoneses, da mesma forma, querem
passar seus filmes de novo, mas por outro motivo. Como parece que
ninguém entende os comerciais deles, querem explicar as piadas
uma por uma, com direito a um intérprete e a fazer desenhos
num quadro negro.
Cannes, 22 de junho de 2005, quarta-feira
CANNES
BOMBOU
O festival chegou ao ponto alto ontem com a noite que misturou
as duas festas oficiais do festival: gala de abertura e youngs,
e a festa nacional da música.
Esta última bombou. A polícia apareceu com bombas
de gás lacrimogênio em uma performance de DJs na rua
Commandant André, entre o Palais e o Hilton.
Segundo testemunhas, o som estava muito alto, as pessoas também
e quando um carro da polícia resolveu passar por ali ninguém
deu passagem. Os meliantes desrespeitaram verbalmente diversos parentes
das autoridades. Mas foi só uma bombinha, um chorinho e depois
o pé na jaca pôde voltar a transcorrer na maior normalidade.
ESTA QUARTA TEM MAIS FESTA DOS BRASILEIROS
Aliás, hoje à noite, logo depois da cerimônia
de entrega dos Leões de Press, Outdoor, Cyber e...eu devo
estar esquecendo alguma categoria, enfim, a Film Brazil vai oferecer
uma festa para os brasileiros e não só na base que
eles montaram em frente ao Palais.
O pool de produtoras divulga (e muito bem) as vantagens de se produzir
comerciais no Brasil. A idéia tem dados bons frutos. São
vários os filmes inscritos em Cannes rodados ou co-produzidos
no país.
A FESTA OFICIAL DE TERÇA-FEIRA
Voltando
o papo para a festa de Gala de Abertura: ela, que costuma ser bem
careta, surpreendeu.
Para vocês verem o que é a má fama: muita gente
do Brasil nem foi. Algumas pessoas preferiram ir até outras
cidades da Côte D' Azur e outras, como o Rodolfo Sampaio,
diretor de criação da Publicis (foto à direita),
preferiram dar uma volta e curtir os shows bacanas na rua.
E
eu achando que uma boca livre era o melhor lugar para encontrar
os brasileiros. Só achei o diretor de arte Tico Moraes (foto
à esquerda), que é do Rio, mas trabalha na Grey de
Lisboa.
A nova organização do festival parece disposta a mostrar
que as coisas mudaram mesmo. Se no Palais os filmes passam com péssima
resolução, na festa na praia do Carlton eles não
economizam mais na bebida. Deve ser para ter uma desculpa: "Não
senhor, o filme está bom, deve ser a sua ressaca."
Tinha comida de todos os tipos e numa quantidade que dava para alimentar
por um ano um pequeno país asiático, como a Índia,
a China ou a antiga União Soviética. Juntos.
O
DJ, com a difícil missão de agradar, gregos, troianos
e profissionais de mídia, foi bem. A festa terminou com os
gringos dançando em cima da mesa.
Uma zona.
A FESTA DOS YOUNGS
Finalmente
eu vi o que quer dizer ser o detentor de uma credencial de Press
A. Cheguei na festa dos Youngs, para a qual só podem entrar
os Youngs e mandei logo uma carteirada.
"Só com convite senhor."
"Ora, meu amigo, mas eu sou Press A."
"A? A...hahahahahahahah."
Nada feito, embora outras pessoas tenham entrado até com
carteirinhas do Clube do Mickey.
Encontrei os youngs brasileiros na saída. Não foi
difícil, bastou seguir as músicas que eles cantavam
sem parar. Isso e a pequena multidão que se juntou em volta
para vê-los encorajando turistas, no meio da rua, a dançarem
clássicos do folclore brasileiro como "A Dança
do Maxixe", "Na Boquinha da Garrafa" e o clássico
maior "E o Sílvio Santos Lá?"
Mais tarde, troquei uma idéia com o Rodrigo Burdman (F/Nazca
Rio) e o Rodrigo Tórtima (também carioca, mas hoje
na Loducca22 em SP). A delegação brasileira dos Youngs
formou uma turma boa. E a mais empolgada.
Para
quem foi ao Martinez o papo foi até o sol raiar. Ou melhor,
até o caminhão de limpeza passar varrendo e jogando
água em todo mundo.
Cannes acordou mais tarde. Pelo menos quem não estava no
Hotel Le Carandiru como eu. Do meu quarto/cubículo que parece
uma cela de solitária na cadeia (feio, escuro, sem ar condicionado,
ventilador e nem direito a visita íntima), fui acordado por
uma máquina bizarra. Acho que estavam torturando algum detento.
Pensando bem, melhor eu parar de reclamar.
Ê, RATA!
Como eu avisei desde o início, esta coluna não preza
pelo compromisso com a credibilidade.
Na coluna do dia 20 eu tropecei feio e ninguém falou nada.
Mas o leitor Mario Nascimento, da Grey Portugal, me pegou. Chamei
o Gene Kelly do filme da VW de Fred Astaire. Não é
nenhuma surpresa, depois de 6h vendo filmes, eu devia estar chamando
até urubu de meu louro. Se o Marcio Ehrlich não corrigiu,
continua lá.
"Urubu de meu louro", caro Mario, é uma expressão
brasileira. Mas "Ê, Rata!", o headline desta matéria
é um trocadilho português muito mal (no Brasil não
tem o mesmo sentido), em sua homenagem. Obrigado.
Não ficamos por aí: A parte 1 da coluna de ontem foi
cortada pela metade. Entrou no ar depois e está lá
(será que vocês leram)?
Também ontem, quando falamos sobre a decisão de passar
alguns filmes brasileiros de novo para o júri, devido a baixa
qualidade das cópias, a coluna disse que a cerimônia
de Filmes seria hoje. Quis dizer que a decisão sobre o assunto
sairia hoje. E saiu: tá rolando.
O pessoal no Brasil pode ficar tranquilo. Átila Francucci
e João Daniel, os jurados de filme, estão defendendo
bem o país. E o bom senso.
N.R.: Pôxa, Fábio, eu não consertei
você chamar o Gene Kelly de Fred Astaire porque achei que
era mais um de seus lances de humor! Então foi cagada, mesmo?
Mas tudo bem, a galera está gostando. A Fenêtre até
já foi parar no Orkut, citada e muito elogiada pela comunidade
Cannes, do Tadeu Vieira, em https://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=546056
(para entrar precisa estar cadastrado no Orkut, ok?)
Cannes, 22 de junho de 2005, quarta-feira
(II)
UMA VOLTA PELOS FINALISTAS DE PRESS&POSTER
Antes do resultado oficial dos Leões, fui andando pela mostra
das peças e tirando umas fotos. Não tive a menor preocupação
de selecionar os melhores, nada disso. Muita coisa boa deve ter
ficado de fora. Mas foi só para mostrar um pouco do que rolou
aqui para vocês. Dêem uma olhada:
|
|
McCann Singapura para Xbox. : "Humanos
são os melhores briquedos" diz a peça,
que traz pessoas articuladas como bonecos. |
Bates Singapura para o celular/game
Ngage: "Desafie qualquer um em qualquer lugar."
|
|
|
Ogilvy Chile contra a Violência
Doméstica. Cartazes clássicos de boxe anunciam
lutas do pai contra a filha, a mulher. Bronze em press e em
outdoor. |
Prata da Delcampo Nazca S&S Argentina
para Ariel. O velho antes e depois de uma forma inovadora
e bem humorada. A camisa do antes nunca foi marrom. |
|
|
DDB Londres para a rede de moda Harvey
Nichols: um calendário mostra que a pessoa comprou
algo que queria muito e que com isso deixou de dar comida
para o gato. A campanha ficou com ouro. |
Euro Bangkok para o canal 11 News. A
pessoa câmera. Levou Prata. |
|
|
JWT Bangkok para as toalhas de papel
Scottex. Remove a gordura das coisas. |
Faixa de avião criado para os
binóculos Zeiss: "Ei, você está com
uma meleca no nariz." |
|
Da DDB Londres, o Golf de
gelo de verdade, colocado na rua para vender o ar condicionado
de série.
Notícia em todos os jornais.
|
|
|
Para fechar, duas brasileiras que eu
gostei muito, mas não levaram leões: Jail/Asylum
da campanha da Veja sobre ver os dois lados da notícia
(neste caso, o julgamento de Michael Jackson)... |
e uma peça da campanha "um
assunto leva a outro" da Super Interessante. As duas,
da Almap. |
TBWA PARIS ESTÁ SOBRANDO NA TURMA
Comentei aqui ontem que embora tenha gente que não concorde
com o GP - o que é natural - é consenso a excelência
da TBWA\Paris, Boulagne-Billancourt em mídia impressa.
Só para não causar confusão: existe outra TBWA
em Paris, também chamada TBWA\ G1, que cuida só de
Nissan e fica no centro da cidade. Boulogne é mais afastada...
Me lembro que há uns 5 ou 6 anos, a publicidade francesa
era motivo de piada pela direção de arte muito exagerada
até em função da principal mídia de Paris serem os enormes cartazes de metrô.
De lá para cá, eles ganharam 2 GPs e vários
leões. Tirei algumas fotos do que estava exposto aqui. É
até sacanagem com um trabalho que foi tão bem cuidado ser visto através das minhas imagens toscas, mas
já dá uma pequena idéia.
Todas as fotos deles são muito bem feitas, os conceitos são
redondinhos e a agência ainda se vale de ter como carro chefe
um cliente como a Playstation.
Confira aí duas peças para PS2 que levaram Ouro, "Bela
Adormecida" e "Cabeças", o anúncio
"Mosh" para uma pomada contra queimaduras, "Meia"
para um produto contra chulé e a lata d´água
na cabeça substituída por uma esponja Spontex, que
levou Prata.
MAIS GENTE NA FENÊTRE
"Fabinho, tu é veado, mas é gente boa."
"Não li teus textos, mas as fotos estão uma merda."
(de um diretor de arte)
"E aqueles 50 mangos que você tá me devendo?"
São alguns dos emails simpáticos de gente que está
interagindo com a coluna. Outros, mais educados, mandaram um abraço
e uma força.
Caso dos redatores André Pedroso, Chiquinho Lucchini, Marcelo
Coli e os diretores de arte William Silva e José Christão.
Merci.
N.R.: O José Christão elogiou???? Não
reclamou de nadinha, nadinha, Fabio? Então a Fenêtre
deve estar ótima mesmo!!!!! (ME)
Cannes, 23 de junho de 2005, quinta-feira
(I)
ONDE
TEM LEÃO, TEM ZEBRA
A cerimônia de entrega dos Leões de Press, Outdoor
e Cyber, ontem, no Grand Auditorium do Palais trouxe algumas surpresas.
Muitos dos criativos reclamaram da premiação, argumentando
que muita coisa que ganhou não merecia ou que havia coisa
melhor que ficou de fora.
De fato, o critério pareceu que deu uma patinada, vendo assim
de primeira e comparando com o bom short list.
Mas, enfim, esta é uma música que toca há muito
tempo neste e em outros festivais.
N.R.: É uma velha máxima da publicidade:
os júris só são justos quando a gente é
jurado. (ME)
TEVE MICO TAMBÉM
O que não ficou de fora e também gerou reclamação
foi a entrega do prêmio de Profissional de Mídia do
Ano nesta cerimônia e não na dos Media Lions, anteontem.
Depois de um vídeo de apresentação bem sem
graça da News Corp (dona da Fox, Sky etc) o Sr. Lachlan Murdoch,
homenageado da noite, subiu ao palco e tirou do bolso um catálogo
telefônico. Quer dizer, parecia, mas era só um discurso.
O homem falou, falou, e foi assoviado. Parte do auditório
também aplaudia o "speech" antes do fim, igual
a gente fazia na escola quando queria que alguém parasse
de falar.
CYBER
A turma queria ver as idéias premiadas. E isso deu um pouco
de volta com a insistência do formato de apresentação
da categoria Cyber. Todos os vencedores são antecedidos por
um comentário.
O brasileiro PJ Pereira, presidente do júri deste segmento,
foi o mais informal e simpático possível.
Mas como estas comentários tem que ser muito curtos e as
peças estão cada vez mais elaboradas e interativas,
o público não consegue entender exatamente do que
se trata.
Na verdade, a categoria já cresceu tanto que poderia "morar
sozinha". Já merece uma cerimônia própria.
Um ótimo nível para isso ela já tem.
Que o diga o Brasil, e em especial a DM9DDB, que passou o rodo e
ganhou o prêmio de agência interativa do ano.
A equipe subiu ao palco com uma camisa com o número 9 e três
estrelas. É a terceira vez que a DM9 é agência
do ano, embora em categorias diferentes.
Não tinha visto as peças ainda e, de fato, o Brasil
está muito bem. O GP para Super Bonder é muito bacana
mesmo.
PRESS&OUTDOOR
Se em Cyber só deu Brasil, em mídia impressa os brasileiros
só subiram duas vezes ao palco. Três, contando o bronze
em Young Creatives.
O trio de Youngs brasileiros aliás, talvez por uma falha
de comunicação, não teve acesso ao palco. Só
quem subiu foi o redator Ícaro Dória, que estava perto
do palco para receber outro prêmio.
A peça dos brasileiros, para incentivar a volta ao estudo,
trazia um bilhete te Loteria e o título: "Se você
não é bom em escrever, tomara que seja bom com os
números." (tradução minha, livre e tosca).
Bem melhor do que o 1o. lugar sueco que trazia uma previsível
impressão digital e o texto: tinta é feita para escrever.
Sei lá, eu já usei tinta para pintar, desenhar...
O destaque da noite foi mesmo a TBWA Paris, comentada na Fenêtre
de ontem, que transformou em leão quase a totalidade dos
seus muitos short lists.
O ponto fraco foi o tratamento dado aos bronzes. Se no ano passado
já tinham deixado de mostrar as peças, este ano não
mostraram nem um título, nem uma referência ao que
se trata. Na tela aparece só o nome do produto, cliente e
agência e o apresentador só diz o país que levou.
É pouco.
A cerimônia está longa. Mas estão cortando a
parte errada.
Mesmo assim, a delegação brasileira foi quase uma
torcida de futebol no Palais. A cada peça premiada que aparecia
no telão, era uma festa.
Eu me senti no Maracanã quando foi anunciada uma peça
americana, da Fallon e a representante da agência era, como
direi, uma coisa de maluco.
Foi aplaudida de pé (primeiro no Palais e depois na saída)
por alguns gaiatos brasileiros. Gritos de "É Grand Prix!"
para a moça ecoaram pelo auditório. A comédia
foi tanta que o próprio presidente do Júri olhou para
a turma do Brasil e deu uma risada. O mestre de cerimônias
também acabou se perdendo. Só faltou a "ola"
na arquibancada. Foi por pouco.
O DEPOIS
Depois da premiação, a galera se reuniu na casa da
FilmBrazil (foto). Reparem no alto da foto, lado da camisa verde,
que realmente os fantasmas vieram a Cannes. E ainda foram tomar
uma cervejinha com a gente.
Depois, várias festas pela Croissete. Das que eu não
tinha convite (todas) a melhor que eu não entrei foi a das
produtoras holandesas Condor e Massive Music.
Transformaram a praia numa espécie de cadeia, com convites-algema,
telões gigantes com câmeras de segurança e muito
som. Literalmente cinematográfica, a produção.
FREE, FABIO SEIDL, FREE
Falando em cadeia, consegui meu alvará de soltura aqui no
Le Carandiru, apelido do Chanteclair, o hotel temático que
parece uma penitenciária de verdade.
Graças a grande força dos meus amigos da McCann Portugal,
que não poderão vir a Cannes (lá a gente rala,
tão pensando o quê), estou indo para o Sofitel Casino.
Obrigado não só a McCann mas também ao pessoal
do Movimento pelos Direitos Humanos e aos meus amigos que enviaram
bolos com limas para eu serrar as grades e fugir.
SIM,
EU TAMBEM VEJO OS FILMES
Eu não vou só às festas. Tenho visto várias
sessões do long list de filmes e as de ontem esavam especialmente
cheias, com gente sentada no chão dos auditórios.
A saída das bebidas alcóolicas (a categoria, não
os produtos de fato) virou point, por exemplo: Carlos Righi (TV
Zero), Fernando Campos e a galera da Giovanni SP, Adílson
Xavier e Cristina Amorim (Giovanni Rio) e Pedro Éboli da
Contemporânea.
Também estavam por lá a turma da CGCom (Fernando Conde,
Alessandro Monteiro e Marcos Pedrosa) e Mateus Pizão, da
Ogilvy Rio.
Foi
a oportunidade do pessoal se encontrar e trocar idéias sobre
o que já tinham visto.
Cannes, 23 de junho de 2005, quinta-feira
(II)
QUINTA
COM VAZAMENTO EM CANNES
Quinta-feira
e véspera de short list de filmes é que muita gente
deve estar saturada. Então, é hora de vazar e dar
uma volta outras cidades na Côte D'Azur. St. Tropez, Mônaco
e Antibes são os destinos mais procurados. Mas há
quem prefira lugares de duplo sentido como a "Rota da Mimosa"
ou a alegre "Agay".
Eu, que também sou filho de Deus, vou pegar uma praiazinha.
Por isso, o resto da coluna de hoje vai ser só encheção
de linguiça.
CID
MOREIRA NA FRANÇA
Ah, Mister M, este segredo nem você sabia. O Cid Moreira,
que sempre tentou manter a credibilidade de jornalista aí
no Brasil, se vendeu aqui na Europa. Vê se não é
ele neste anúncio de aparelho de surdez encontrado numa vitrine
por aqui.
AS FOTOS DOS JURADOS MAIS FIGURAS
Eu
achei que o jurado de Press tinha mandado de onda essa foto de um
rastafari fumando um cigarrinho. Mas não. É ele mesmo.
Se você fosse policial federal num aeroporto, acreditaria
que o homem é norueguês e se chama Torbjorn Kvien Madsen?
E o jurado de Marketing Direto da Índia, Kinjal Medh, lembra
quem?
PAÍS DE QUÊ?
Falando em escândalos políticos, é curiosa
esta marca que divulga o tal ano do Brasil na França em eventos
públicos. A foto é de um mobiliário urbano
sobre um simpósio de água.
O outro sentido que "País de Honra" pode ter nada
tem a ver, claro, com o atual contexto conturbado do país.
Aliás, sobre este ano do Brasil na França, conversei
com um compadre que mora em Paris e ele disse que isso é
o maior caô. Que tudo que anunciaram até agora são
umas exposiçõezinhas e uns shows do Gil, Lenine, Ivete
ou seja, a mesma turma que está por aqui todos os anos.
De repente, quando chegar o verão, o tal ano do Brasil começa.
Mas aí não seria o ano do Brasil, que só começa
depois do verão e do carnaval.
N.R.: Fabio, não provoca, porque do jeito que a coisa
está, vai ter quem queira criar uma CPI da França.
(ME)
PARA TERMINAR
Gostaria de dizer a coluna de hoje estava tão sarapa que
até uma conversa de compadre foi publicada aí em cima.
Amanhã, depois do short list, eu volto com - espero - menos
embromação.
NINGUÉM TEM JOB?
Prezados donos de agências,
Esta é a lista dos cidadãos que só podem estar
sem job na mesa porque ficam lendo a Fenêtre. Eu sei porque
me mandaram email contando que estão fazendo isso e se divertindo.
Pode se divertir no trabalho? Duvido que seja para isso vocês
paguem aqueles altos salários:
Pedro Prado (F/Nazca), Bruno Richter (OPM), Leo Pitanga (MG), Marco
Martins (Agência3), Walter Lencina (OMG), Andre Debevc (que
está na CGCOM supostamente fazendo o trabalho dos caras da
agência que estão aqui se divertindo), Alexandre Chrispim
(estudante, que deveria estar estudando), o grande Carlos Negreiros
(professor da PUC que, por sua vez, deveria estar dando aula), além
de outros reincidentes que já foram citados aqui em outras
edições.
Da parte que me toca, agradeço muitíssimo. A eles
e ao Tadeu Vieira, que elogiou a Fenêtre na comunidade do
Orkut. Tadeu, eu só ainda não entrei no seu Orkut,
com todo o respeito, porque não sou cadastrado. Mas farei
isso em breve.
24 de junho de 2005, sexta-feira
FÊNÊTRE
DANDO (OPA!) ERRADO
A coluna de hoje só saiu graças ao meu ex-dupla e
grande amigo Alessandro Monteiro.
Isso porque o short list, que começou às 9h, terminou
quase às 18h, hora de fechar a sala de imprensa.
Então tive que vir até o business center do Embassy,
hotel dele e de vários outros brasileiros, para escrever
e enviar estas parcas palavras.
Obrigado, cara. Eu ia colocar uma foto sua para te homenagear aqui,
mas como não tenho e acho você muito feio, vou colocar
uma que acabei de receber. São umas moças que estavam
ontem na praia em Corniche D'Or, por onde a gente também
passou.
A OPINIÃO DE CADA UM
Recebi emails e pedidos aqui para que eu dizer se achei que peças
brasileiras seriam parecidas com outras que já foram feitas
no passado, ou que teriam sido criadas só para o festival,
fantasmas etc.
Vocês estão me levando a sério demais. Não
vou fazer isso aqui. Faço isso num bar, batendo papo, com
meus amigos.
Sou redator, não jornalista. Nem tenho como ficar apurando
essas coisas. Mal consigo mandar um email aqui!
Depois, não usaria este espaço para ficar julgando
a ética dos meus colegas de profissão aí no
Brasil. Seria covarde, irresponsável e pouco profissional.
Mas tenho um ponto. Fazer peças para festival, com o consentimento
do cliente que seja e veicular numa mídia pouco conhecida,
concordem ou não, está dentro das regras do jogo.
Tem gente que acha que não tem problema nenhum em ter esta
postura, tem gente que acha que a nossa classe e os festivais ganhariam
com mais seriedade e rigor.
Eu acho é que existe um júri e uma organização
para analisar estes casos.
Mas posso propor o contrário. Vocês falam. Vamos entupir
a caixa postal do Marcio Ehrlich: janela@janela.com.br
Dêem a opinião de vocês que ele publica. Mas
nada de pseudônimos, ok?
N.R.: Fabio, nesse round eu
já joguei a toalha. Cannes é um festival de fantasmas
e ponto final. Tem que assumir. E quer ver como é engraçado?
Daqui pra baixo você vai contar como são todos os filmes
brasileiros finalistas, não é? Por que você
achou que precisava? :))
O LONGO SHORT LIST
Estou
com a bunda quadrada. Foram mais de 8 horas de filmes. A maioria
muito ruim. Não tive saco para o Titanium Lions, que seriam
mais algumas horas de powerpoints com cases. Na hora dos Radio Lions,
eu não estava mais entendendo nada.
Depois deste massacre fiquei com a sensação de que
o critério poderia ter sido mais rigoroso.
Se eu já fiquei cansado com o Short, imagino os jurados que
antes do short viram um "Medium List" com mais de 650
filmes.
Na palestra da JWT sobre música nos filmes, quarta-feira,
teve uma frase muito boa: "a primeira coisa que a gente tem
que se preocupar é se o filme está chato ou interessante
para quem está assistindo."
O short list de Cannes teve muito filme chato. Terminava e as pessoas
não riam, não se emocionavam, nada. Muito assovio
e poucas palmas.
O problema dos filmes com cópias pixelizadas continuou. Não
com os brasileiros que tomaram uma atitude, mas com os outros. Inclusive
agências grandes, americanas.
Mas acho também que ainda há salvação,
pode ser que na hora dos leões, o jogo vire.
Chega de ser negativo. Vou falar dos filmes brasileiros e do que
tinha de interessante e divertido nas principais categorias.
BEBIDAS ALCÓOLICAS
A DDB Chicago deve pegar, mais uma vez, leões com Budweiser.
Nada que supere as antigas campanhas "Real Men of Genius"
ou "Wassup", mas continuam com idéias novas e grandes
piadas.
NÃO ALCÓOLICAS
Os dois filmes do Brasil, da campanha Surf feita pela Almap para
a Pepsi, foram bem aplaudidos.
Tem como como concorrentes a Coca-Cola, com Rivais (Argentina) e
um espanhol chamado Parade, que usou como referência a cena
do funeral do filme Peixe Grande. Começa perguntando: "Quem
vai estar no seu funeral?" e mostra alguém que morreu
e fez amigos de todos os tipos pelo mundo. Termina com o carrinho
que levava o defunto sendo atirado ao mar e engolido por um peixe
gigante. Bonito e ousado para a Coca-Cola.
O refrigerante inglês Tango também continua a produzir
bons filmes com um humor surreal.
PRODUTOS PARA A CASA
A JWT Brasil tinha um concorrente, "Vento" para um lustra-móveis
da Reckitt. Um ventilador empurrava lentamente uma TV até
ela cair do móvel. Todo mundo ficou achando que era um filme
de ventilador. Surpreendeu.
A DDB sul-africana tinha um filme curioso. Um homem que precisou
fazer um transplante de mão, descobre que o novo órgão
tinha vindo de um japonês. A mão tirava fotos de tudo,
o tempo todo. Para piorar, a câmera estava com baterias Energizer,
que dura muito mais.
Pronto, agora já vão dizer que parece com o filme
para a Nokia feito pela Lew, Lara (da série do "Wilson
Anda para trás").
MÓVEIS E ELETRODOMÉSTICOS
Mais um filme do Brasil: DM9, para Ponto Frio. Mostrava uma pessoa
numa cadeira de balanço, que só balançava um
pouco e parava. Culpa de um ventilador daqueles que funciona girando
de um lado para o outro.
A categoria tinha poucos filmes, mas bons. Um deles, da DDB México,
falava bastante da reeleição de Bush. Fechava dizendo
que ia ficar mais difícil dormir. E vendia os colchões
Dormimundo.
Não entendi como alguém pode fazer um filme dizendo
para a gente dormir imundo. Tá, foi mal.
COSMÉTICOS
Tinha um dos meus filmes preferidos do festival: Stunt City, da
Lowe Londres para Rexona. Uma cidade inteira de dublês pegando
fogo, pulando de prédios, batendo de carro para depois dizer
que o produto protege mesmo, mas só debaixo dos braços.
Grande produção.
Dois filmes brasileiros: Um da DPZ que mostrava dois pães
sendo colocados numa torradeira, um com manteiga e outro com um
creme. Só a do creme não queimava, estava com protetor
solar Avon.
A Almap tinha um filme emocional para o Boticário, em que
um menino vai comprar um perfume para a suposta namorada. Bem aplaudido.
FARMACÊUTICOS
Tinha o filme mais bizarro do festival. A mulher reclama que acabou
o gás em casa e o marido, como direi, peida um bujão.
Era da Tailândia.
Dois filmes brasileiros. Um da campanha premiada em Press da JWT
para os lenços Kleenex, que conta a história do infeliz
Stuart Stucliff, primeiro baixista dos Beatles que largou a banda
para ser pintor.
Outro, da Y&R e filmado pela carioca Yes, mostrava um túnel
que fazia um barulho mas não saía nenhum carro. É
para o laxante da Novartis.
ROUPAS E ACESSÓRIOS
Supresa. Os principais filmes da Nike e da Adidas não estavam
nesta categoria. Foram inscritos em Imagem Corporativa, provavelmente
imaginando que ia ser mais fácil. Agora vão brigar
em outro quintal.
Espaço aberto para o ótimo corredor de cuecas da Rainha,
feito pela F/Nazca.
MISCELÂNEA
Só quatro filmes, entre eles um (novamente) da Almap. Um
homem chega para trabalhar com um arranhão no pescoço,
dando a impressão de que teve uma grande noite de sexo. Era
para Whiskas, a comida que os gatos preferem.
CARROS
Melhor categoria. Mas a briga deve ficar mesmo entre os filmes
que eu comentei na segunda: GRRR (Wieden para Honda) e Singing in
the Rain (COM GENE KELLY! Da DDB London para VW). Foram aplaudidos
desde o início da exibição.
2 filmes brasileiros receberam a espinhuda missão de superar
os dois e mais vários outros muito bons. "Segundo Lugar",
Almap para Audi e "Man Standing" da Neogama para Mitsubishi.
Achei injusto não entrar a campanha institucional da VW Brasileira,
também da Almap, que o pessoal aí ficou reclamando,
mandou tirar do ar etc.
OUTROS VEÍCULOS
Dobradinha Almap e Jodaf de novo com o filme Clones para peças
originais da VW, desafiando o espectador a descobrir qual dos produtos
na tela eram falsificados. Difícil. No final, um carro batido
e outro não, qual deles teria usado peças falsificadas?
Um filme da Ford feito pela JWT Tailândia, King Kong, tinha
cara de favorito.
ELETRÔNICOS
O filme do iPod, agora com o U2, estava de novo no festival. Tomou
vaia. Aliás, se alguém tiver saco, coloca no banco
de imagens da Gettyone com a palavra "dancing" na área
de filmes e vê onde estava a referência da campanha
multi-premiada.
VAREJO
Bons filmes. O nível está crescendo nesta categoria
como em nenhuma outra.
FAST FOOD
Tinha um filme da Ogilvy para o restaurante Fit Food. Uma roda
gigante que parava e depois despencava. Parava e despencava. Culpa
de uma gordinha.
Muitos filmes, quase nada bom.
N.R.: Cadeira que balança e pára, roda gigante
que desce e para? Aquele brilhante filme do McDonald's, de uns 3
anos atrás, criou filhotes. Lembra que um garotinho chora
e pára, chora e pára até a gente descobrir
que ele estava balançando e ora via o logo do McDonald's
e ora não? Ou teve algum outro antes? (ME)
ENTRETENIMENTO
Filme checo muito bacana. Cidadão sai do carro e deixa o
vidro aberto, o motor e o pisca alerta ligados. Entra no cinema.
Era para um festival de curtas.
BANCOS E SEGUROS
Categoriazinha dura em qualquer festival. Teve a vaia do ano, com
um filme australiano para Visa, feito com o Richard Gere na India.
Uma menina passa com uma gaiola. Um indiano explica pro Richard
que soltar um pássaro na Índia é sinal de sorte
(ou sei lá o quê). Richardão vai lá e
torra a grana dele para surpreender a menina: manda soltar um monte
de pombas brancas e outros passarinhos.
IMAGEM CORPORATIVA
Como eu falei, Nike e Adidas competindo com coisas como Tetra Pak
e até um filme em que os principais criativos americanos
aparecem vestidos de mulher, para dizer que o mercado precisa de
mais mulheres. Colé, mermão, lá no Brasil não
tem disso não.
A Nike chegou a inscrever o filme Brasil X Portugal como se o produto
fosse
a divulgação da EuroCopa 2004.
CATEGORIAS DE MAZELAS HUMANAS
Os filmes de mensagens doentes, coitadinhos e desesperados mudaram
muito. E estão bem legais. Três brasileiros competem:
- A JWT com uma campanha pelo desarmamento: duas crianças
futucam o armário do pai, acham uns cigarros e começam
a fumar. Por sorte não pegaram o trabuco que o pai escondia
ao lado.
- Lew, Lara para a Liga das Senhoras Católicas: uma mulher
descobre que a imagem de uma santa na sua igreja está chorando.
Reúne a comunidade, o padre, todo mundo. Na verdade, era
o telhado que estava quebrado. "Não esperamos milagres,
só a sua ajuda." Era a assinatura.
- DM9, trouxe um filme com uma abordagem diferente. Uma mulher está
na cozinha quando um copo começa a se mexer. Começa,
continua e a mulher fica meio assustada. Diz o seguinte: Doe seus
órgãos agora, porque podem não perdoar você
depois. Muito bacana.
E acho que é isso. Eu queria pedir desculpas se esqueci
alguém ou se contei mal os filmes aqui. Não é
fácil lembrar de tudo e nem ler as anotações
que fiz rapidinho, no escuro, com um olho na tela e outro no bloco.
RECORDE PARA O BRASIL
Conforme anunciaram os outros veículos especializados que
dispõe de alguma verba na cobertura de Cannes, hotel com
business center e vários profissionais especializados, o
Brasil deve bater o recorde de leões amanhã com a
divulgação dos premiados em filmes.
Segundo o copy/paste que eu fiz do Propaganda e Marketing: "São
seis da área de filmes, 12 em Press & Outdoor, 23 em
Cyber e dois em Rádio. Entre os 43 Leões está
o do Grand Prix da DM9DDB conquistado na competição
Cyber Lions.
O número de Leôes bate o recorde do ano passado quando
foram 41 Leões: cinco de filmes, 10 de Press & Outdoor,
um de Media, dois de Direct e 23 de Cyber."
O que eu ouvi é que eram 5 os premiados e houve um filme
que foi "puxado", como a gente diz, mas não consegui
saber qual. Os jurados também estavam na dúvida se
um dos leões iriam passar de bronze para prata. Parece que
um ouro vem com certeza.
ME ENGANA QUE EU GOSTO
Mais e mais pessoas estão descobrindo esta nova e improdutiva
maneira de enrolar no trabalho. Ao invés de ficarem de papo
no messenger ou vendo fotos de sacanagem, ficam lendo a Fenêtre
que pelo menos é um monte de letrinhas, de longe, dá
a impressão de que o leitor está ralando.
Gente como Monica Souza (Ydreams Portugal, beijão!!), Paulo
Bemfica (Bates_Red Cell Portugal), Albertino Pimenta (Multinational),
Suzana Prista (CGCom), Luis Rego (que não vale, é
meu colega na McCann Portugal), Priscila Serra (da MG, a primeira
pessoa que me convidou para ser "correspondente", na época,
para o VoxNews), Glaucio Binder (Binder FC+G), Lucas Duque (Sonido),
Milvio Piacesi (X Brasil) e até a responsável por
50% desta coluna, minha mãe.
Obrigado por tudo. Hoje foi difícil, mas amanhã eu
prometo que vai ter um balanço legal. Vou chamar a Gretchen
e a Rita Cadillac. Pena que vocês não vão ler
porque é sábado. Até.
25 de junho de 2005, sábado
- Final
SEGURA QUE É O BALANÇO
Polêmicas, problemas técnicos, surpresas e grandes
festas. Cannes teve de tudo este ano.
Ao mesmo tempo em que o festival vive uma nova fase de organização
em que deve parar para pensar o seu futuro, reafirmou a sua condição
de Disneylândia e Copa do Mundo da publicidade.
Acompanhe agora os últimos bedelhos da derradeira Fenêtre
deste ano.
ÚLTIMOS RESULTADOS, POUCAS SURPRESAS
Por mais que o filme "GRRR", da Wieden+Kennedy para a
Honda, fosse o favorito ao GP ninguém acreditou que esta
coluna iria acertar uma previsão, principalmente feita no
segundo dia de festival.
Dizem que o próprio Dan Wieden, quando leu a Janela ligou
para a sua equipe em Londres para dizer: "We're Fucked!"
(ou, em português: galera, não vai dar, aquele cara
da Fenêtre que não acerta uma disse que somos favoritos).
"GRRR" ganhou também um Leão de Titânio
pelo case da campanha.
Os outros filmes apontados aqui pela Fenêtre como favoritos
ao título levaram leões. Hello Tomorrow, da 180 (HOL)
para Adidas foi ouro e Singing in The Rain da DDB (GBR) para VW
ficou com bronze.
A TBWA\Paris foi a agência do ano, como também já
se esperava após o resultado do short list de Press&Outdoor.
O BRASIL
Na Fenêtre passada o Marcio Ehrlich comentou que o filme
do Ponto Frio lembrava um antigo do McDonalds, mas eu devo ter contado
mal, Marcião, porque os filmes não se parecem em nada.
O Brasil foi bem. Quebrou seu recorde de leões, embora graças
a força dos Cyber Lions e a quatro leões de uma nova
categoria, Rádio.
Em Filmes, foi o quinto país em número de leões
(6 troféus) e não o quarto como chegou a ser anunciado.
Na frente ficaram EUA (que levou "só" 27), Inglaterra,
França e Alemanha.
Veja quem levou:
Ouro
"Azarados" da JWT para Kleenex em mais um bom trabalho
da produtora AD Studio de Jarbas Agnelli, que marcou por mais um
ano a sua presença entre os leões.
Prata
"Vento"
da JWT e Jodaf para o lustra-móveis da Reckitt Benckiser;
E o divertido "Cozinha" da DM9 para Associação
de Transplante de Órgãos com produção
da CaradeCão
Bronze
"Cueca"
da F/Nazca para Rainha com produção da Cia de Cinema.
E dois para a Almap: "Clone" para peças originais
VW; e "Arranhões", para Whiskas Estes dois também
com produção da Jodaf.
Em Rádio, foram 4 bronzes: 3 de uma campanha da (adivinha)
Almap com produção da MCR para a Rádio Bandeirantes
e um da paranaense Master com a In Sonoris pelo spot "Ask Why"
para o Ministério da Saúde.
Se você quer ver e ouvir todas as peças é só
acessar https://www.canneslions.com/winners/
CANNES ESTÁ INCHADO
Este
tarugo que vocês estão vendo aí não é
a lista telefônica da Côte D'Azur. É o catálogo
de pecas inscritas este ano.
Cannes, assim como quem ficou até de manhã bebendo
no Martinez, está inchado.
Dá para entender que isto é um negócio e precisa
dar dinheiro. Mas está na hora da organização
do festival pensar em valorizar os leõezinhos, ou eles vão
começar a perder o sentido.
Tem categoria demais. O Titanium Lions parece que não pegou,
apesar do bom conceito. Ficou sem GP. E ainda tem Radio Lions, Media
Lions Direct Lions, Cyber Lions, Lions Club, Rotary Club. É
muita coisa.
E se existe Direct Lions, pela lógica, não deveria
existir um Design Lions? Querem apostar que vem por aí?
Cannes não vai acabar com as categorias. Vai fazer mais.
Neste caso, fazer o festival em duas partes, uma só para
TV e mídia impressa seria uma solução. Mas eu duvido.
GP DE DIRECT É UM FILME
Uma prova de que estas categorias estão muito confusas.
O GP de Direct Lions foi dado a um filme alemão para a Renault.
A idéia era interessante.
O filme foi rodado em duas versões, uma que mostrava um trajeto
de um homem por um cenário muito triste e outra, o mesmo
trajeto, com o mesmo personagem, mas com um clima mais animado.
O filme passou ao mesmo tempo em dois canais e sugeria que as pessoas
zapeassem os canais quando surgisse um comando na tela e vissem
as diferenças.
A campanha para que as pessoas assistissem deu um mega resultado.
Mas, cá entre nós, a idéia não estava
no filme? A agência, pelo menos, concorda: inscreveu a mesma
peça na categoria de Filmes. E não pegou nem o short
list.
FILMES ABREM PRECEDENTE
Uma pessoa normal, coisa já tão rara na propaganda
moderna, não consegue ver com atenção mais
do que um short list de Press & Outdoor e mais do que meia dúzia
de categorias de filmes antes do short.
E a tendência das categorias em filmes é aumentar.
Este ano houve uma novidade neste segmento, a categoria "Melhor
Uso de Música". Ou seja, um prêmio técnico,
que foi para o filme Hello Tomorrow, da Adidas. A trilha é
do irmão do diretor Spike Jonze. Merecido.
E se tem "Melhor Música", porquê não
"Melhor Fotografia" e "Melhores Efeitos Especiais"?
Vários festivais já fazem isso e acho que Cannes está
de olho, mas sei lá, o festival pode perder o foco.
ESBÓRNIA
Muita gente pensa, equivocadamente e contaminada pelos meus relatos
que Cannes é só festa. Não é verdade.
Tem também a manguaça, a chutação de
balde e uma zoação monstro seguida de perda de parte
da memória.
Eu, por exemplo, estou com o pé cheio de jaca até
agora.
Deve ter uma parte construtiva nisto tudo. Deixa eu pensar. Bem,
se Cannes voltou a ter grandes festas é um termômetro
de que o negócio da publicidade no mundo vai bem.
Só na última sexta rolou: uma da McCann em um iate
da família Onassis (que eu perdi para ficar escrevendo para
vocês e é a minha agência!); uma da DDB na praia
do Carlton e a melhor festa em que estive este ano, a da Leo Burnett
(obrigado, amigos da Leo) em Palm Beach.
Estava perfeita. Era para terminar às 2h mas até às
3h tinha gente dançando e bebendo à vontade em copos
verdes (cor da agência) fosforecentes.
Um
dia antes, no mesmo lugar, muitos brasileiros estiveram na festa
das
produtoras italianas a convite do pool FilmBrazil. Acho que imagem
da galera fala por si.
E o Martinez nos últimos dias parecia o dia de comemoração
da vitória do Brasil na Copa do Mundo. Faltou, como eu já
disse, a galera do Rio.
PRODUÇÃO E BEAM.TV
A empresa responsável pela transferência digital dos
filmes de Cannes não consegue transferir nem dinheiro da
conta. No ano que vem, quem vai confiar numa companhia que arruinou
o investimento de várias das principais agências no
festival?
Se eu fosse vocês, mandava uma Beta com os filmes.
O erro acaba sempre escondendo a competência. Neste caso,
ficou chato para a produção do festival que melhorou
depois da saída do menino maluquinho Roger Hatchuel. Estava
bem bacana.
Mesmo com uma obra no Palais, na área de convivência
da Lions Village, conseguiram montar um bom espaço e atrair
ótimos patrocinadores.
A única coisa que eu não entendo: das vezes que vim
a Cannes, sempre recebi uma bolsa com muita coisa: camisa, livros,
convites, brindes de todos os tipos e tamanhos. Este ano a bolsa
pesava quase 10Kg. E ninguém NUNCA se preocupou em dar como
brinde uma caneta e um bloquinho.
LEÃO
DE RELAÇÕES PÚBLICAS
Guardei a história para o final porque se eu só contasse
sem alguma fotos (que só recebi hoje) ninguém ia acreditar.
Na frente de um dos hotéis de Cannes havia um prédio
de apartamentos em que todos os dias, DOIS casais de meninas desfilavam
suas intimidades.
Trocavam de roupa, de posição, uma loucura. Isso é
que é uma fenêtre boa.
E pensar que o máximo que eu via da janela do meu quarto
(digo, masmorra) no Le Carandiru eram os detentos do bloco da frente
queimando colchões e gritando por direitos humanos.
Ah, nem adianta que o nome do hóspede "Garganta Profunda"
eu só entrego depois que ele morrer ou ficar velho e maluco
querendo se entregar. Falta pouco: maluco ele já está.
A MELHOR COISA
Depois
de muita publicidade, festas e uma viagenzinha bem bacana para Saint
Tropez, volto para casa com a sensação de que a melhor
coisa neste Festival todo foi a participação de vocês
aí no Brasil, em Portugal e até na África.
De coração, obrigado para caramba pelos emails, pela
força, pelas críticas, pelas dicas. E, Marcio, valeu
pra caramba. Obrigado também Laís Prado do CCSP, Paulo
Macedo e a turma do Propaganda e Marketing e a McCann Portugal,
que me ajudaram.
Vou continuar aqui na Janela uma vez por mês, ou quase isso,
com a "Janela Internacional ". A gente vai se falando.
Quem quiser continuar trocando idéia, já tem o meu
email.
Se Deus quiser e o dinheiro e a assessoria de imprensa de Cannes
permitirem, no ano que vem estamos aqui de novo.
Um abração,
Fabio
O redator Fabio
Seidl é o enviado (com todo o respeito) especial da Janela
em Cannes 2005.
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