Durante esses dois anos e pouco que escrevi a Janela Internacional,
muita gente escreveu perguntando como é trabalhar no mercado
português. Respondi sempre que é bem diferente, principalmente
por causa da língua que parece que é a mesma, mas
não é.
Preparei
este pequeno dicionário para ajudar a aliviar o constrangimento
dos amigos que pensam em vir pra cá, a turismo ou a passeio.
1. DINHEIRO
Cuidado com as expressões usadas no Brasil para se referir
a dinheiro.
Por exemplo, meu amigo Fábio São Pedro, redator brasileiro
da DraftFCB outro dia explicou em voz alta num restaurante que não
ia viajar porque estava "sem gaita". O que em Portugal
quer dizer: "Estou sem pênis".
Outra expressão que confunde o povo aqui é dizer:
Me da aí 10 "pilas". Em Portugal, a tradução
seria: "Me dê aí 10 pênis".
2. VESTUÁRIO
Se um português disser a você: "Ai, ai, odeio essas
mulheres que andam aí de tangas" não estranhe,
é normal. Ele na verdade quer dizer: "Odeio essas mulheres
que ficam por aí contando mentiras".
Outra expressão que causa confusão é a palavra
broche.
"Adorei o broche da sua mulher", quer dizer, "Adorei
o boquete da sua mulher."
3. COMIDA
Muito cuidado ao comentar sobre a culinária brasileira com
os portugueses. Outro dia um amigo carioca convidou um grupo para
um jantar na casa dele aqui em Lisboa: "Vamos lá que
a minha mulher faz um bobó que é um espetáculo."
Só que Bobó aqui quer dizer...felatio, sexo oral...
Na feira também muita atenção. Perguntar ao
seu Manel da banca das verduras: "Como é que estão
estes tomates?" pode ser interpretado como: "Como é
que vai o seu saco?". Saco, sem ser no sentido poético
do termo.
Já se alguém te oferecer: "Chupa?", nada
de arregalar os olhos. Só vão te dar um pirulito.
4. COMPRAS
Fez comprinhas e quer levar tudo na caixa para a casa? Ok. Só
não diga, em hipótese alguma: "Eu gostaria de
levar no pacote." O interlocutor pode interpretar como "Quero
que você me possua por trás."
5. AMIGO
Expressão que aprendi recentemente e que não quer
dizer absolutamente nada é o tal do "meu amigo".
Exemplo: você pergunta qualquer coisa para uma pessoa.
"A Janela Internacional deste mês está boa?"
E o gajo: "A Janela Internacional? A Janela Internacional...meu
amigo!"
Em Portugal, a expressão "meu amigo" não
precede um comentário mais detalhado, como no Brasil. Ela
encerra-se nela mesma. Pode querer dizer "bom" ou "ruim",
independentemente da entonação. Você nunca vai
descobrir o que a pessoa quer dizer.
6. TEMPO
Se um português disser para você que aquilo vai ser
resolvido "logo", espere sentado. Não é
má vontade. É que "logo" quer dizer "depois,
mais tarde" e não como a gente diria no Brasil...logo.
7. FODA-SE
O Foda-se lusitano tem uma conotação muito diferente
do Foda-se brasileiro. Vejam o que aconteceu comigo por exemplo
quando recebi a proposta para trabalhar em Lisboa e fui contar a
alguns amigos portugueses.
"Olha, recebi uma proposta para trabalhar em Portugal."
"Fodaaaaaa-se!!!"
Fiquei meio chateado, achei os caras meio esquisitos, mas beleza.
Um deles que já conhecia melhor as diferenças foda-sesísticas
entre os dois países veio me salvar.
"Olha, não leve a mal, mas é que o Foda-se em
Portugal quer dizer: nossa, impressionante, incrível."
OS BUROCRATAS
Se alguém me perguntar o que eu gostei mais dessa experiência
em Portugal, vai ser difícil responder, teve muita coisa
bacana. Mas se perguntarem o que eu gostei menos, é mole:
a burocracia.
E como vou embora, lá vou eu encarar o monstrenga de novo.
Ligo para a Segurança Social e pergunto o que tenho que fazer
para parar de contribuir.
"Basta ir a qualquer posto e levar os documentos não
sei das quantas."
Vou ao posto mais perto. Três horas de fila.
"Olá. Eu vim me desligar da Segurança Social,
estou de mudança pro Brasil."
"O senhor tem funcionários?"
"Nenhum. Só eu mesmo."
"Então não é aqui. Aqui é só
para empresas, tem que ser em outro posto."
"Mas eu liguei e disseram que poderia ser em qualquer posto.."
"Qualquer posto...menos esse!"
Vou a outro posto. Entro em duas filas, uma para entregar os documentos
e outra para receber o carimbo de que entreguei os documentos (não
podia ser a mesma?). Mais 4 horas. Na hora do último formulário,
a dúvida. Estava lá:
"Assinale a opção desejada:
( ) Interromper as contribuições.
( ) Cessar as contribuições."
E eu achando que interromper e cessar eram a mesma coisa. Ainda
bem que não tinham mais opções como "parar",
"acabar", "terminar" e "suspender".
Marquei "cessar", parecia mais dramático. Ainda
faltava pagar mais não sei quê (acho que era a pegadinha
de despedida) e fui ao caixa eletrônico. Eis que encontro
este singelo botão amarelo.
Muito bom. Obrigado, botão do "CorrEgir" por tornar
o meu dia na Segurança Social um pouquinho menos miserável.
ENTROU AREIA NA PROMOÇÃO
Este
mês em Portugal só se falou no Rally Lisboa-Dakar (antigo
Paris-Dakar). O evento é badalado por aqui e os portugueses
gostam muito do piloto Carlos Sousa, um dos maiores nomes do automobilismo
neste tipo de provas.
E Sousa estava indo bem, em terceiro lugar, até que resolveu
dar um faniquito com o seu co-piloto, um alemão, e colocou
o sujeito para fora do carro...NO MEIO DO DESERTO.
Só tem um problema, o regulamento diz que nenhum piloto pode
terminar nenhuma etapa sozinho. O português teve que voltar
45 minutos depois pra resgatar o alemão. E terminou a etapa
em nono lugar.
A repercussão foi péssima.
Mas o mais engraçado é que a marca de celulares TMN,
patrocinadora oficial do piloto já estava no ar com uma promoção
que era: "Seja Co-Piloto do Carlos Sousa por um dia."
Com os antecedentes de "piti" do português, quem
é que vai se habilitar a ganhar essa promoção
e ser largado no fim do mundo?
X-MAN
PASSA PERRENGUE NO BRASIL
Já chegou às livrarias européias a história
em quadrinhos "Wolverine: Saudade". A aventura se passa
no Brasil e foi criado por uma dupla de franceses, Morvan &
Buchet. Faz parte de uma série chamada "Transatlantique"
em que heróis passam por diferentes partes do mundo. E essa
vai se chamar Saudade mesmo, em português, em todos os países
onde for lançada.
A história mostra o que acontece quando o X-Man Wolverine
resolve tirar umas férias no Brasil. Já na primeira
página, o mutante com garras leva um perdido pra um bando
de pivetes que malocam a moto dele.
Em seguida, o super-herói mais violento dos quadrinhos vê
o seu celular ser tomado na mão grande e, na sequência,
sucumbe a uma gangue de malacos que sai de uma favela, enchem o
gringo de pipoco e ainda arrastam a carcaça dele pendurada
numa pick-up pelas ruas.
As férias brasileiras de Wolverine são tão
toscas que ele chega a ligar para o seu chefe, Professor Xavier,
e confessar: "Esses caras por pouco não conseguiram
o que nenhum outro inimigo fez: quase me mataram."
E tudo isso, meus amigos, acontece no Ceará. O local do Brasil
onde Wolverine está não fica bem caracterizado, parece
o Brasil dos anos 50, com detalhes que lembram Cuba. Mas em um determinado
momento o vilão da história, um curandeiro com o hilário
nome de "Khura Desonest" faz uma menção
à estação de "Fortaleza" e à
"Praia de Iracema".
Se no Nordeste está assim, imagina quando os super-heróis
vierem encarar o PCC e os Comandos cariocas.
Mas o mais bacana é que depois disso tudo, a história
ainda se chama...Saudade.
A MARCA DO MÊS
E lá estou eu tendo que resolver um trabalho até
altas horas da noite e percebo que já está meio tarde
para conseguir jantar em algum lugar. As cozinhas aqui costumam
fechar às 23h.
Surge a sugestão: "Vamos ao Galeto, lá fica aberto
até às 4h!"
Até eu, que nem sou muito fã de galeto, começo
a fazer a imagem do galetinho no prato, aquela batatinha corada,
que beleza.
Chegamos
lá, restaurante enorme, cozinha exposta mostrando as labaredas
da churrasqueira. Coisa curiosa é que dentro do lugar tem
umas vitrines que são alugadas para terceiros. Ninguém
aluga, exceto uma tal de "Sapataria Bambi". Surreal. Mas
voltemos à vaca fria, ou melhor, ao galeto que eu tratei
logo de pedir, mesmo não achando no cardápio.
"Senhor, por favor, pra mim é um galeto!"
"Galeto? Não temos."
"Ah, já acabou? Também a essa hora..."
"Não, não...nós cá não servimos
galetos. Nossa especialidade são os bifes, mas se o senhor
fizer questão, nós colocamos um franguinho ali na
brasa."
Desisti e comi a carne. Na próxima vez que eu quiser comer
um galeto em Lisboa, já sei, vou a um restaurante chamado
"Os Bifes".
A ÚLTIMA (MESMO)
Galera que mandou email se despedindo da Janela Internacional e
desejando boa sorte, obrigadaço: Jomar Pereira da Silva Roscoe
- ALAP, Alexandre Chrispim, Rafael Simi, Gustavo Ramos Rosa - Redator
da PS10, Daniel Xavier - Cartoon Network USA, Eduardo Storino -
Hamlet Comunicação Lisboa, André Félix
- Jornal do Brasil, Erica Santos, Roberta Mancini. Priscila Oliveira,
Rodrigo Lopes, Deko Schmidt- Sanguebom Filmes, Leo Servolo - Yes
Filmes e toda a turma que mandou mensagem no Messenger. Um grande
abraço.
Obrigadão! Se tudo der certo, a coluna volta direto de Cannes.
A galera interessada em patrocinar a Fenêtre Publicitaire,
é só falar com o Marcio no janela@janela.com.br.
Fábio
Seidl foi redator da McCann-Erickson Portugal.-
Janeiro/2007)
|