Seidl fala com
o presidente português
Acompanhei
de perto as eleições presidenciais lusitanas. Não
que eu quisesse. A politica aqui é muito sem graça:
não tem Caixa 2, Roberto Jefferson, nem Zé Dirceu...
Acompanhei de perto porque o candidato de direita, Cavaco Silva,
é meu vizinho de prédio. Então todo dia tinha
um quiprocó na minha rua.
Das campanhas mesmo, só vi dois bons momentos. Um com o eterno
Mário Soares, 81 anos, lançado como prafrentex. Criaram
para ele um "Movimento MP3", alusão a um 3º
mandato. Sacaram? Mário+Presidente+3ª vez = MP3. Agora
imaginem isso pro Ulisses Guimarães, antes da fase Bob Esponja.
O outro foi um grupo de gaiatos que criou o candidato "Presidente
Honesto", com uma marca que era um frondoso bigode português
e virou quase um símbolo do Zorro.
Colaram bigode nos bondes, nos muros, nos cachorros e, claro, nos
outdoors dos candidatos.
Mas como isso de presidente honesto não existe, ele não
ganhou. Ganhou o Presidente Vizinho, o que gerou um carnaval de
velhotas histéricas embaixo da minha casa. Um saco.
Na manhã seguinte ao resultado, cruzei com o Presidente.
Olhei para ele e ele para mim, não sei se me reconhecendo
da padaria que frequentamos ou achando que eu era o novo Lee Harvey
Oswald. Acabamos nos falando. Acompanhem em primeira mão,
na íntegra, o resultado da conversa.
"Bom dia." eu disse.
"Bom dia." ele respondeu.
"Parabéns!"
"Obrigado."
E foi o suficiente para a polícia cercar o homem. Político
vive cercado pela policia...será que o Presidente Honesto
precisaria disso?
CREATE
NOS STATES
Último capítulo da epopéia " Os criativos
brasileiros ao redor do mundo". Este que vos escreve da Europa
já conversou com brazucas na África, no mercado hispano
e agora, da América do Norte. Então, se não
aparecer nenhum publicitário brasileiro na Ásia, Oceania
ou 24 territórios a sua escolha, é o fim.
Ícaro Dória, redator, é um grande camarada.
Foi contratado pela Saatchi NY depois de receber GPs em quase todos
os grandes festivais do planeta com a campanha Bandeiras, pela FCB
Portugal. Antes, fez escala na Giovanni SP.
JI: Fala a verdade, cliente é tudo igual, só
muda de endereço?
ID: Sem a menor dúvida. Muda isso e o tamanho do budget.
Outro dia um diretor de criação disse que "hoje
em dia é impossível fazer um comercial decente por
menos de US$ 1 milhão." Tão malucos, acham que
isso é dinheiro de Banco Imobiliário. Então,
como é "impossível" fazer, os clientes querem
ter certeza que o filme vai vender e fazem uma batelada de pesquisas.
Tem campanha aqui que foi apresentada em março e ainda está
sendo testada. Uma punheta sem fim.
JI:
E como está sendo se virar em inglês?
ID: O primeiro mês foi bem difícil. Inglês
eu tenho, mas daí pra ser escrever um bom texto... Sempre
outro redator tinha que reescrever. Chato, mas depois desencanei.
O meu dupla também não é americano, é
holandês, então se a coisa empaca, a gente usa a linguagem
dos sinais! E tem as apresentações. Quando cheguei,
fui trabalhar numa concorrência de pneus. Linguagem técnica,
palavras impronunciáveis e eu tendo que ler os roteiros.
Todo mundo olhando, um puta medão de falar tudo errado. O
medo passou, mas continuo falando muita coisa errada. Mas como tô
aqui faz 3 meses, o pessoal já me conhece, a coisa está
mais descontraída.
JI: Tem muito brasileiro trabalhando nos EUA? Já tem
quem diga que o Brasil virou referência, exportador de criativos...
ID: Tem um monte de brasileiro trabalhando aqui, sim. Agora menos,
porque a Bertha Brazil Boutique fechou. Mas que eu conheça,
tem o Richard Velloso, na FCB, o Anselmo Ramos e a Fefa na Lowe,
a Laura Esteves, na DDB e vão chegar o Cesar Finamori e o
Dulcidio para a BBDO. Todos em NY. Em L.A. tá o Rodrigo Butori,
na Ground Zero e sei que tem mais pelo país, incluindo o
VP da Lapiz (agência da Leo para o mercado latino), Laurence
Klinger. Acho que como os postos de VPs de criação
estão sendo preenchidos por criativos que não são
americanos, eles trazem pessoas de outros países. Eventualmente,
brasileiros. Meu chefe, o Tony Granger é sul-africano e já
trouxe um australiano, um francês, um holandês...
JI:
O lado positivo de trabalhar nos EUA, o pessoal imagina. E o negativo?
ID: Os longos processos. Aqui não existe pegar o telefone
e pedir pro amigo fotógrafo produzir sua campanha. Nananinanão.
Você fala com o tráfego, que fala com o art buyer,
que fala com o representante do fotógrafo que fala com o
fotógrafo que responde pro representante...E como todo mundo
trabalha até às 18h, as agendas estão sempre
lotadas. No mais, NY é uma cidade como outra qualquer: com
coisas legais e chatas. E na média, estou feliz!
JI: Alguma dica para quem está começando e
pensa numa experiência fora?
ID: Meu dupla entrou aqui porque veio fazer um estágio
através da Miami Ad School, que é um curso que os
caras aqui levam a sério. Agora, se não rolar de fazer
um curso desses, o negócio é pegar os One Shows, ler
as fichas, tentar descobrir os emails das pessoas e mandar a pasta
na cara-de-pau!
JI: Brigadão, Ícaro! Depois a gente racha esse
cachê da Miami Ad School!
IPOD
E O MARKETING NÃO-CONVENCIONAL
Não existem melhor marketing do que o boca-a-boca, certo?
E se para vender um produto fossem usados boatos?
Nos EUA, o ótimo talk show do Conan O´Brien anda cheio
dessas histórias, quase sempre bizarras, sobre como todos
parecem querer um iPod.
A onda tem ganho espaço em diferentes jornais e na internet,
com historinhas como: "Mulher compra iPod no Havaí,
mas leva um pedaço de carne. Vendedor colocou o bife na caixa
para ficar com o aparelho."
Até o programa jovem português Curto Circuito, já
deu que uma "brasileira" que teria escondido 8 Nanos....na
vagina. A apresentadora deu até as medidas do Nano, insinuando
que "por ser tão pequenino, é possível."
Depois, fez piada sobre onde teriam ido parar os manuais.
Só que assim como o Conan, o Curto Circuito é patrocinado
pela Apple.
OS MELHORES DE 2005
Fala
sério, não perdi tempo fazendo uma lista dos melhores
de 2005. Só queria comentar o filme mais bacana que vi no
ano passado. Meu preferido para Cannes 2006, faltando mais de 5
meses pro festival.
Trata-se de noitulovE (Evolution, ao contrário), da BBDO
inglesa para a Guiness.
Como o Marcião não libera um dindin pra um servidor
poderoso que permita colocar uns filmes pesadões aqui, acessem
http://www.youtube.com/watch?v=poGDIA5J3g4 e confiram.
Atualização em 2013: Conforme previsto pelo Fabio, o filme ganhou o GP de Cannes! (M.E.)
COISAS
NUNCA VISTAS
No Brasil sempre ouvi que uma das coisas que nunca se viu é
cabeça de bacalhau.
Contei essa história em Portugal e todo mundo achou que eu
estava maluco. "Como assim? Todo mundo já viu cabeça
de bacalhau!"
Foi preciso o diretor de arte Fernando Freitas (que estava na McCann
daqui e voltou para a Quê aí) ir ao Oceanário
de Lisboa e constatar que lá tem a cabeça inclusive
presa no bacalhau, dentro d’água! Agora, graças
a Janela Internacional, você está tendo esta experiência
única, mágica.
Outra
coisa nunca vista foi enviada pelo Serginho Lobo (DA da Leo Burnett
Lisboa, ex-Giovanni Rio). O cara, passeando pela Alemanha, encontrou
um Audi velho, anos 80, estilo Passat!
Ficamos devendo um enterro de anão. É só marcar
um show do Nelson Ned perto da Linha Amarela que a gente resolve
o assunto.
A MARCA DO MÊS
Restaurantes
estão se transformando num clássico da coluna. Vou
tentar ser mais criativo. Mas a Adega Fumega mereceu.
Primeiro pelo slogan supimpa: "Adega Fumega, comer até
a barriga fazer uma prega." E depois por novo prato no menu:
"Miminhos de Lombo em Pau de Louro." Você encarava?
FELIZ RECALL NOVO
A
BBDO Portugal pegou carona numa tradição de virada
do ano aqui, que é comer 12 passas à meia-noite e
fazer um pedido para cada uma delas. É como no Brasil, que
o pessoal come umas uvas.
Lançaram uma campanha para a petroleira Galp, patrocinadora
da Seleção Portuguesa, lembrando que o ano novo era
ano de Copa e pedindo: "Guarda uma passa para a Taça!".
Rima, mas pegou.
Além do comercial, fizeram merchandising nos principais programas
de TV na semana do revéillon. E na noite de ano novo, fizeram
o país inteiro lembrar da campanha. Criação
de Marco Pacheco e Diogo Mello.
A ÚLTIMA
Eu
não guardei passa pra taça. Passei o réveillon
no Rio. E como bom turista, fui para Copacabana. O suficiente para
a coluna de Janeiro começar nos primeiros minutos do ano,
quando me deparei com esta bela faixa.
Pode até ser que tanto erro tenha sido proposital. Se for,
"grande marqueteiro", o dono da birosca. Ou você
comeria o "flango" dele?
Sei é que esses fogos de Copa eram melhores quando saíam
da areia. O pessoal se queimava, mas era mais bonito e sem fumacê.
O Prefeito do Rio podia pensar num jeito de devolver a grandeza
dessa festa que leva tanta gente pra cidade. Isso se ele tivesse
visto os fogos, mas estava em Nova Iorque. Agora só falta
passar o Carnaval em São Paulo.
Será que em NY o Prefeito acaba por decreto com a relação
com as agências de publicidade, pra pagar mais caro por um
serviço pior? Que tiro no pé...
Fábio
Seidl é redator da McCann-Erickson Portugal-
Janeiro/2006)
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