Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
 
A Janela Internacional traz o que acontece na Europa, pelo redator Fabio Seidl.
Edição de Maio de 2005
 

Neil French acusa Almap de distorcer festivais

O FESTIVAL DOS CRIATIVOS EM PORTUGAL
O festival do Clube de Criação de Portugal concentra uma série de eventos que temos isolados no Brasil. Em uma semana, temos o equivalente à Semana Internacional de Criação (que não rola mais no Rio, lamentavelmente), os Young Creatives, o Prêmio do Clube, a festa, workshops para quem está começando e até um momento "Umbigo de Fora": uma exposição com o que os criativos fazem fora do expediente: pinturas, fotos, livros etc. Tudo isto na Estufa Fria, uma mini Jardim Botânico coberto, no centro de Lisboa.

PALESTRAS APIMENTADAS
O tema deste ano do festival do CCP foi o Oriente e o CCP trouxe convidados orientais que agradaram, ao ponto de muita gente não encontrar lugar e ter que assistir as palestras de pé.
Mas coube ao único não-oriental da série ser a "raiz-forte" do evento: o consultor Neil French, que mudou o grupo WPP na Ásia e quer fazer o mesmo no mundo todo, misturou humor, bons cases e... polêmica.
Sem papas na língua, disse que a publicidade vista nos festivais não é feita para pessoas reais e atribuiu a origem do problema a... Almap/BBDO.
"A Almap pára um mês por ano para criar anúncios para festivais com uma mesma fórmula: um quebra-cabeça sem texto - já que falam português - em que a marca é a resposta. E como ganham muitos prêmios, o mundo inteiro copia isso. Precisamos parar com esta praga, isso é uma mentira."
French, que é redator de formação, também criticou o formato dos festivais:
"Vamos supor que exista só meia dúzia de festivais no mundo. Cada um com uns 50 jurados de vários países. São 300 jurados diferentes nos 6 festivais. Em 3 anos, são 900. Existem 900 pessoas na publicidade mundial que mereçam o nosso respeito? Não. Eu não quero pagar 1000 dólares para o meu trabalho ser julgado pelo diretor de uma agência de Botswana! Aliás, não pagaria nem uma cerveja para este cara. Este ano um festival colocou um cliente mexicano num júri. É uma loucura!"
Pyush Pandei, da Ogilvy Índia e Presidente do Júri de Cannes em 2004, falou do mercado indiano, da mega-estrutura de Bollywood e das dificuldades de se criar por lá. Trouxe até um pouco de filosofia, dizendo que a publicidade "seria melhor se agências e clientes passassem a se tratar só como seres humanos."
O designer japonês Hideki Inaba mereceu o meu momento Sílvio Santos: eu não vi mas meus amigos viram e disseram que foi bom. Inaba deu o azar de cair no dia de uma histórica semi-final da Taça Uefa (Portugal está na final, com o Sporting).
Já bastava Jureporn Thaidumrong, diretora de criação da Saatchi, ser bonita, tailandesa e ter "porn" no nome, mas ela ainda manteve todo mundo ligado com uma boa mostra de filmes orientais.

OS RESULTADOS
A divulgação dos resultados foi o ponto negativo do festival: o short list só foi saiu dois dias depois da premiação, provavelmente por algum problema técnico (o site do festival parou).
Em publicidade, as agências que mais colocaram peças no anuário foram, respectivamente: BBDO (também agência do ano), JWT e McCann.
O Grand Prix ficou com a campanha Bandeiras (foto), da FCB para a revista Grande Reportagem e que havia levado, dias antes, o GP no FIAP. Traz bandeiras como gráficos que falam sobre a realidade dos países. A da China, por exemplo, diz que o amarelo é a são as crianças que vão à escola e o vermelho, as que trabalham. A do Brasil fala sobre a distribuição de renda.
Entre os criativos da campanha está o redator brasileiro Ícaro Dória que agora integra a equipe da Giovanni São Paulo.
Quem também apareceu entre os premiados também foi o estúdio carioca Platinum, que fez fotos para trabalhos que levaram um ouro, um prata, um bronze e um short list (os dois primeiros para o cliente Optimus da BBDO e os dois outros para a Cerveja Coral Preta, da McCann).

Mas chega de falar de coisas sérias e vamos às bobagens.

MARKETING DE ENTRETENIMENTO
Portugal tem também um festival de publicidade trash. Chama-se Festival de Cano (sim, até o nome é um trocadilho). Através do meu amigo Johnny Dornellas aqui da McCann, tive o prazer de conhecer um de seus vencedores, o HIPER CENTRO DO MÓVEL.
E olha que eles trabalham o moderno conceito “advertainment”, a publicidade que entretêm o público. Olha o que diz o folheto: “Não pense só em móveis, distraia-se a ler algumas anedotas. Nossa intenção é fazer você sorrir.”
Além das piadas (são só as piadas, a graça não foi incluída), colocam receitas como Salada de Bacalhau e Camarões à Setubalense, espalhadas entre os sofás de couro e o armário em cerejeira. Muito bom.

UM BRAZUCA NOS YOUNG CREATIVES
Ah, sim, ainda do Festival do CCP. O critério brasileiro de escolher os Young Creatives através do portifolio, diferente do que muita gente acha, não obedece uma regra internacional. Em alguns países, por exemplo, a escolha é feita através da simulação da competição em Cannes. Ou seja, os candidatos têm 24 horas para resolver um briefing e ficam isolados enquanto isso.
Em Portugal, não é nem uma coisa, nem outra. A partir de um briefing, as duplas tem uma semana para apresentar um trabalho. O vencedor já pode ter ido ao festival.
Os representantes escolhidos este ano são uma dupla de dois diretores de arte (outra novidade): Sara Ferreira e o carioca Diogo Melo. Os dois, da BBDO, já estiveram por lá na delegação dos youngs lusos.

N.R.: Ô Fábio, aí em Portugal não tem aquela história de só poder ser Young quem nunca foi à Cannes?? (M.E.)

MAIS UMA
O meu jornal favorito, 24 Horas, não pára. A notícia ao lado foi enviada pelo camarada Vasco Condessa, da FCB.
Notem a manchete. A cara de felicidade da moça na matéria. O subtítulo: É o segundo menino da casa e já provocou ciúmes no irmão.”

MARCA DO MÊS
Nomes esquisitos me perseguem. Saí de mini-férias em direção à Malta, pequeno pais no mediterrâneo. E o arquipélago tem como principal atração uma ilha de nome...GOZO. O lugar parece mesmo interessado em atrair turistas. Além de mergulhar em Gozo, o viajante pode dar uma volta com a Gozo Princess, cair de boca na linguiça de Gozo e comprar adesivos “I Love Gozo” para colar no carro alugado, como fizeram alguns publicitários brasileiros.

A ÚLTIMA
Escutei uma na porta de uma tasca (um boteco) outro dia que é para se pensar: “Para um gajo cair, não é preciso muito.” Até Cannes!

Fábio Seidl é redator da McCann-Erickson Portugal- Maio/2005)