Neil French
acusa Almap de distorcer festivais
O FESTIVAL DOS CRIATIVOS EM PORTUGAL
O festival do Clube de Criação de Portugal concentra
uma série de eventos que temos isolados no Brasil. Em uma
semana, temos o equivalente à Semana Internacional de Criação
(que não rola mais no Rio, lamentavelmente), os Young Creatives,
o Prêmio do Clube, a festa, workshops para quem está
começando e até um momento "Umbigo de Fora":
uma exposição com o que os criativos fazem fora do
expediente: pinturas, fotos, livros etc. Tudo isto na Estufa Fria,
uma mini Jardim Botânico coberto, no centro de Lisboa.
PALESTRAS APIMENTADAS
O tema deste ano do festival do CCP foi o Oriente e o CCP trouxe
convidados orientais que agradaram, ao ponto de muita gente não
encontrar lugar e ter que assistir as palestras de pé.
Mas coube ao único não-oriental da série ser
a "raiz-forte" do evento: o consultor Neil
French, que mudou o grupo WPP na Ásia e quer fazer o
mesmo no mundo todo, misturou humor, bons cases e... polêmica.
Sem papas na língua, disse que a publicidade vista nos festivais
não é feita para pessoas reais e atribuiu a origem
do problema a... Almap/BBDO.
"A Almap pára um mês por ano para criar anúncios
para festivais com uma mesma fórmula: um quebra-cabeça
sem texto - já que falam português - em que a marca
é a resposta. E como ganham muitos prêmios, o mundo
inteiro copia isso. Precisamos parar com esta praga, isso é
uma mentira."
French, que é redator de formação, também
criticou o formato dos festivais:
"Vamos supor que exista só meia dúzia de festivais
no mundo. Cada um com uns 50 jurados de vários países.
São 300 jurados diferentes nos 6 festivais. Em 3 anos, são
900. Existem 900 pessoas na publicidade mundial que mereçam
o nosso respeito? Não. Eu não quero pagar 1000 dólares
para o meu trabalho ser julgado pelo diretor de uma agência
de Botswana! Aliás, não pagaria nem uma cerveja para
este cara. Este ano um festival colocou um cliente mexicano num
júri. É uma loucura!"
Pyush Pandei, da Ogilvy Índia e Presidente do Júri
de Cannes em 2004, falou do mercado indiano, da mega-estrutura de
Bollywood e das dificuldades de se criar por lá. Trouxe até
um pouco de filosofia, dizendo que a publicidade "seria melhor
se agências e clientes passassem a se tratar só como
seres humanos."
O designer japonês Hideki Inaba mereceu o meu momento Sílvio
Santos: eu não vi mas meus amigos viram e disseram que foi
bom. Inaba deu o azar de cair no dia de uma histórica semi-final
da Taça Uefa (Portugal está na final, com o Sporting).
Já bastava Jureporn Thaidumrong, diretora de criação
da Saatchi, ser bonita, tailandesa e ter "porn" no nome,
mas ela ainda manteve todo mundo ligado com uma boa mostra de filmes
orientais.
OS RESULTADOS
A
divulgação dos resultados foi o ponto negativo do
festival: o short list só foi saiu dois dias depois da premiação,
provavelmente por algum problema técnico (o site do festival
parou).
Em publicidade, as agências que mais colocaram peças
no anuário foram, respectivamente: BBDO (também agência
do ano), JWT e McCann.
O Grand Prix ficou com a campanha Bandeiras (foto), da FCB para
a revista Grande Reportagem e que havia levado, dias antes, o GP
no FIAP. Traz bandeiras como gráficos que falam sobre a realidade
dos países. A da China, por exemplo, diz que o amarelo é
a são as crianças que vão à escola e
o vermelho, as que trabalham. A do Brasil fala sobre a distribuição
de renda.
Entre os criativos da campanha está o redator brasileiro
Ícaro Dória que agora integra a equipe da Giovanni
São Paulo.
Quem também apareceu entre os premiados também foi
o estúdio carioca Platinum, que fez fotos para trabalhos
que levaram um ouro, um prata, um bronze e um short list (os dois
primeiros para o cliente Optimus da BBDO e os dois outros para a
Cerveja Coral Preta, da McCann).
Mas chega de falar de coisas sérias e vamos às bobagens.
MARKETING DE ENTRETENIMENTO
Portugal
tem também um festival de publicidade trash. Chama-se Festival
de Cano (sim, até o nome é um trocadilho). Através
do meu amigo Johnny Dornellas aqui da McCann, tive o prazer de conhecer
um de seus vencedores, o HIPER CENTRO DO MÓVEL.
E olha que eles trabalham o moderno conceito “advertainment”,
a publicidade que entretêm o público. Olha o que diz
o folheto: “Não pense só em móveis, distraia-se
a ler algumas anedotas. Nossa intenção é fazer
você sorrir.”
Além das piadas (são só as piadas, a graça
não foi incluída), colocam receitas como Salada de
Bacalhau e Camarões à Setubalense, espalhadas entre
os sofás de couro e o armário em cerejeira. Muito
bom.
UM BRAZUCA NOS YOUNG CREATIVES
Ah, sim, ainda do Festival do CCP. O critério brasileiro
de escolher os Young Creatives através do portifolio, diferente
do que muita gente acha, não obedece uma regra internacional.
Em alguns países, por exemplo, a escolha é feita através
da simulação da competição em Cannes.
Ou seja, os candidatos têm 24 horas para resolver um briefing
e ficam isolados enquanto isso.
Em Portugal, não é nem uma coisa, nem outra. A partir
de um briefing, as duplas tem uma semana para apresentar um trabalho.
O vencedor já pode ter ido ao festival.
Os representantes escolhidos este ano são uma dupla de dois
diretores de arte (outra novidade): Sara Ferreira e o carioca Diogo
Melo. Os dois, da BBDO, já estiveram por lá na delegação
dos youngs lusos.
N.R.: Ô Fábio, aí em Portugal não
tem aquela história de só poder ser Young quem nunca
foi à Cannes?? (M.E.)
MAIS UMA
O meu jornal favorito, 24 Horas, não pára. A notícia
ao lado foi enviada pelo camarada Vasco Condessa, da FCB.
Notem a manchete. A cara de felicidade da moça na matéria.
O subtítulo: É o segundo menino da casa e já
provocou ciúmes no irmão.”
MARCA DO MÊS
Nomes esquisitos me perseguem. Saí de mini-férias
em direção à Malta, pequeno pais no mediterrâneo.
E o arquipélago tem como principal atração
uma ilha de nome...GOZO. O lugar parece mesmo interessado em atrair
turistas. Além de mergulhar em Gozo, o viajante pode dar
uma volta com a Gozo Princess, cair de boca na linguiça de
Gozo e comprar adesivos “I Love Gozo” para colar no
carro alugado, como fizeram alguns publicitários brasileiros.
A ÚLTIMA
Escutei uma na porta de uma tasca (um boteco) outro dia que é
para se pensar: “Para um gajo cair, não é preciso
muito.” Até Cannes!
Fábio
Seidl é redator da McCann-Erickson Portugal-
Maio/2005)
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