Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
 
A Janela Internacional traz o que acontece na Europa, pelo redator Fabio Seidl.
Edição de Abril de 2005
 

Presidente de Cannes 2005 fala com a Janela

ENTREVISTA EXCLUSIVA
John Hunt"A vida é curta demais para sermos medíocres". Este era o lema da agência que John Hunt fundou em 1983 na pouco falada África do Sul.
De lá para cá, a Hunt\ Lascaris se tornou uma das agências mais criativas do grupo TBWA e fez de Hunt uma celebridade nacional: ganhou prêmios, fez a campanha presidencial de Nelson Mandela, escreveu para o teatro e para programas de TV.
O trabalho levou o criativo aos EUA e à direção de criação mundial da TBWA.
De Nova York, o próximo Presidente do Júri de Cannes conversou com vosso amigo Fabio Seidl sobre o festival, fantasmas e o Brasil. (special thanks to Mr. Jeremy Miller)

JANELA- No festival passado tivemos como Presidente do Júri Pyush Pandey, um indiano. Agora teremos um que nasceu na Zâmbia e fez carreira na África. Isto mostra que os mercados não-tradicionais estão ganhando mais importância na criatividade mundial?
HUNT - Não sei se estas escolhas representam um desenvolvimento da criatividade fora do eixo tradicional como um todo. Da mesma forma, não acho que tenham nos convidado por sermos ruins. Acho que isto mostra é que a criatividade está por toda parte. Países pequenos tem tido grandes idéias, por exemplo. Isto reforça que a publicidade é um negócio global.
J - Você vem de um mercado que tem em comum com o Brasil os pequenos orçamentos. Podemos esperar um festival que privilegie mais as idéias do que as grandes produções?
H - Há grandes produções que escondem a falta de idéia e acho elas não deveriam ser premiadas em festival algum. Mas eu esperaria até Junho, para ver o que o mercado produziu e responder para onde o festival vai apontar.
J - Qual será a principal orientação para o júri, se é que pretende dar alguma?
H - O Festival escolhe os jurados de uma maneira global, espero que eles representem o que o mundo todo pensa.
J - Vai fazer alguma observação especial sobre os fantasmas?
H - É preciso entender que os fantasmas só jogam contra a nossa indústria. Mas eu tenho a esperança de que eles não sejam muitos.
J - Tive oportunidade de assistir uma palestra sua no Rio em que você parecia bem à vontade com a cidade. O que você guarda desta viagem?
H - Eu adorei a minha viagem ao Brasil. Tanto o Rio como São Paulo. São lugares com uma juventude e uma energia impressionante.
J - Qual sua opinião sobre o trabalho que os brasileiros vêm fazendo?
H - O que eu simplesmente não entendo é como vocês conseguem trabalhar com tanta mulher bonita neste lugar!

UMA BANDA NA MÍDIA, QUE É MÍDIA.
The GiftUma das bandas mais em evidência em Portugal chama-se The Gift.
Tem um som baseado no eletrônico e na poderosa voz de Sónia Tavares, que canta em inglês. São cool, modernos e tem um planejamento de dar inveja não só a outras bandas, como a muita agência.
Parte da estratégia consiste em ter vendido "cotas" a patrocinadores do quilate da Vodafone, a Apple e a Hyundai.
A parceria com a primeira é mais extensa.
O primeiro single do novo CD da banda foi lançado em uma megacampanha da operadora. A banda cedeu a trilha, apareceu no comercial e ainda colocou a música em mobiliários urbanos interativos que vendiam celulares com MP3 (aliás, já comentado aqui na Janela).
A Vodafone ainda passou a oferecer ingressos aos seus clientes e a divulgar via SMS os shows da banda.
A Apple entrou na história como a "parceira tecnológica".
E o que a banda mostra no palco em termos de luz e som com os Macs é realmente o melhor merchandising que a marca poderia ter. A união acaba de render ainda um iPod especial The Gift. Só o U2 teve este privilégio antes.
Já a Hyundai, por enquanto, tem cedido carros devidamente decorados para o deslocamento da banda e sua trupe.
A banda ainda exibe comerciais das marcas antes dos seus shows e faz sessões de autógrafos nas lojas dos seus patrocinadores.
Enquanto a indústria fonográfica não troca o disco da reclamação das MP3 e da pirataria, o The Gift arranjou um bom jeito de faturar. E com uma bela estratégia para estarem na mídia e serem mídia, o tempo todo.
(Conheça mais sobre a banda em www.thegift.pt)

HOT SHOPS: NOVA ORDEM MUNDIAL?
São duas as notícias do momento, no fundo um só assunto, aqui e aí.
A primeira, eco de uma matéria do NY Times: grandes anunciantes vêm trocando suas agências por outras menores, as chamadas "boutiques" (não é meio pejorativo esse nome?) ou "hot shops".
A segunda: a cobiçada Diesel trocou a holandesa KesselsKramer, com quem ganhou zilhões de prêmios, pela pequena e novata francesa ER27.
No Rio, o tema gerou até um bem sacado anúncio de oportunidade da Doctor, que se posicionou como a hot shop do Brasil. E coincidiu com a louvável iniciativa da Ronson, que faz anúncios sobre o que deve se levar em conta na hora de trabalhar com uma agência.
Mas algumas coisas que estão por trás dessas notícias:
- Na Europa, diferente do Brasil, os anunciantes não compram mais mídia das agências e sim de bureaus. Por isso, os clientes dependem menos das ferramentas das suas agências e mais do poder de fogo da criação delas.
- A matéria do NY Times dá como exemplo a "pequena" 180, que pegou jobs da Motorola, conta da Ogilvy. A 180 vem a ser a agência mundial da Adidas.
- A Diesel disse ter optado por uma agência menor para ter um trabalho melhor. Só que, quatro anos antes, foi uma grande, a DDB quem levou a marca a ser o que é, com a famosa campanha do cowboy, GP em Cannes.
- Agora, a conta saiu logo após Johan Kramer, um dos cabeças das campanhas da Diesel, deixar a Kessels que, aliás, é independente.
- Quem não é independente é a ER27, que tem por trás o grupo Euro RSCG (por isso o nome, ER), um dos maiores -- senão o maior -- da Europa.
Parece mais uma "nova ordem", pós-bureaux de mídia.
Grandes anunciantes estão indo para "pequenas" agências, bem sucedidas e com grandes contas. Ou para novas marcas de agências tradicionais, que investiram em novos formatos, com criativos na linha de frente do negócio, para atender clientes descontentes.
Ou seja: o mundo dá voltas. Mas sempre passa de novo pelo mesmo lugar.

A MARCA DO MÊS
Bem, deixa eu falar de um assunto que eu entendo: nada.
Do NY Times ao popular 24 Horas, jornal aqui de Portugal.
Folheio este tablóide e é só alegria. Primeiro tem uma matéria que diz: "DRAMA! MULHER ENGOLE A PRÓPRIA DENTADURA." Quase uma página de história com o calvário da senhorinha descuidada que, por pouco, não mereceu uma cobertura maior do que o funeral do Papa.
Viro a página. Mais uma reportagem interessante:
"VAQUINHA LINDA, VÊ LÁ SE TENS PONTARIA!"
É sobre um bingo gigante com vacas, no norte do país. Você escolhe um número em um campo cheio de quadrados. Se as vacas fizerem um cocôzão três vezes no seu quadrado, você ganha mil euros e um touro. "É o concurso do ano." Diz a matéria. Mas é "do ano" ou...?
Logo após, encontro este anúncio que tem um slogan que já diz tudo:
"SENTADO OU DE PÉ, NO PINTO É QUE É."
É a marca do mês. Grande Pinto...

HERMANO DEL SUPER 15
Olha aí o irmão europeu do Super 15 brasileiro. O da Telefónica da Espanha é mais...fortinho.

A ÙLTIMA
É, a cidade é do aço, mas ainda vai ter gente levando ferro.

Fábio Seidl é redator da McCann-Erickson Portugal- Abril/2005)