PERFIL
Glaucio Binder, presidente da Binder e da Fenapro.
Por Renata Suter
| Glaucio Binder | Num segmento em que tantos empresários e profissionais costumam pensar apenas em seus próprios negócios, e não brigam pela própria classe, como acontece no mercado publicitário, Glaucio Binder é uma honrosa exceção. Sempre participou como diretor de pelo menos uma entidade do mercado. Encara qualquer assunto, sem meias palavras. E vem fazendo uma gestão elogiadíssima à frente da Federação Nacional das Agências de Propaganda (Fenapro) desde setembro de 2013, o que acaba de lhe valer o prêmio de Destaque do Ano no Colunistas Brasil 2015, por sua atuação.
"Acho que a Fenapro tinha a importância subestimada pelo pessoal de trade, que a via com preconceito. De uns tempos para cá, conseguimos mostrar sua real importância. A federação tem importância fundamental para discutir o novo modelo que está surgindo neste momento de transformações", defende Glaucio.
O modelo de administração que imprimiu à federação segue o de sua própria agência, a Binder, também premiadíssima nos últimos anos, assim como seus atuais sócios, Flávio Cordeiro e Marcos Apóstolo. "Quando decidi montar a Binder, minha ideia não era ser rico. Sempre enxerguei a minha vida como trabalho. Sou muito dedicado. Aliás, a diferença no final de tudo é sempre a 'quantidade' de dedicação", lembra Glaucio.
A Binder completa 15 anos neste 2016. Criada quatro dias após a queda das torres gêmeas norte-americanas, o momento também era de mudanças. No mesmo mês - setembro de 2001 - em que saiu da Fischer, onde trabalhou por dois anos, Glaucio criou sua própria empresa de propaganda, não perdeu tempo, nem deu chance para o pior: "A angústia do desemprego é muito ruim."
Apesar de ainda ficar em dúvida se tanta dedicação é motivo para arrependimento, ou não, em sua vida, Binder gosta menos de se sentir abandonando qualquer coisa que tenha começado. "A Fenapro toma dez vezes mais o meu tempo. Todos do Brasil nos procuram e todos nos solicitam. Por isso, acabo me cobrando demais."
E o que Glaucio chama de autocobrança, na verdade é a determinação de quem começou a vida superando obstáculos que, à primeira vista, poderiam parecer intransponíveis. O que ainda garoto sonhava era ser jornalista especializado em música - uma de suas paixões. Tanto que, no Marista São José, acompanhava a banda de rock formada dentro do grêmio estudantil que ele próprio presidia.
| Glaucio e o Leão de Cannes conquistado pela Binder em 2013 | Ainda estava estudando no São José quando, aos 17 anos, decidiu fazer, como um teste, o vestibular para Comunicação da Estácio de Sá. Passou! Apesar da idade e de não ter concluído o Segundo Grau antes de tentar o vestibular, garantiu seu direito de frequentar a faculdade através da iniciativa de sua mãe, advogada, que entrou com um mandado de segurança para isso e, em seguida, o matriculou.
A tentativa aliás, lhe valeu um ano corrido e para lá de cansativo. Binder estudava pela manhã no colégio, para concluir enfim o Segundo Grau e, à noite, cursava o primeiro semestre de Comunicação. "Não discuto com o destino", afirma.
Formou-se em Publicidade e RP aos 20 anos - onde estudou com um personagem assíduo desta Janela Publicitária, o indefectível Antonio Carlos Accioly -, e em Jornalismo e Editoração, aos 21.
E quem diria que, através da música, Glaucio acabaria no mercado publicitário? O pai de um dos integrantes daquela banda de rock convidou Binder para estagiar em sua agência, a Up Communication, nas férias mais longas do ano, em 1976. O excelente desempenho como estagiário lhe valeu mais um convite, para voltar como funcionário no ano seguinte, o que fez cursando o quinto mês da faculdade. Era assistente do dono, mas fazia de tudo: "Foi uma escola espetacular", conta Binder.
A Up não durou muito e um dos sócios, Vivone Italo, que fora trabalhar em Furnas, atendida pela Salles, indicou Glaucio para ocupar um cargo no tráfego da agência, em 1980. De lá, foi para a MPM em 1985, de onde saiu sete anos depois para a Young & Rubicam, para ser Diretor de Atendimento do grupo Mesbla. Em 1994, foi para a Denison na mesma função, saindo dois anos depois para a DPZ, de onde seguiu, em 1999, para a Fischer América.
A ARTE DE FAZER CONCESSÕES
De nome pomposo, Glaucio Luiz Sampaio Pereira da Silva Binder nasceu no dia 4 de junho de 1959 - segundo ele, a mesma "safra" de Nizan Guanaes -, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. É casado há 34 anos com Eliane Pinheiro, que conheceu no Marista São José. O casal teve três filhos: Igor, Yuri e Emerson, que morreu em 14 de dezembro de 2000, vítima de um acidente de carro, em Delton, no estado norte-americano de Michigan.
| Os Binder em selfie: Yuri, Glaucio, Eliane e Igor | Obviamente, a fatalidade abalou a família e Glaucio passou mais de um ano tentando reorganizar a vida. A preocupação com o futuro de um de seus três meninos - Emerson planejava ser piloto de avião - deu lugar às conversas de horas com dois amigos que lhe deram suporte naquele momento: Álvaro Gabriel, o Alvinho, e Marco Antônio Vieira Souto.
A dor uniu a família Binder e aproximou ainda mais Igor e Yuri de Eliane e Glaucio, que sempre tiveram um relacionamento de apoio mútuo bastante intenso. "Eliane me dá suporte em tudo. Jamais foi contra qualquer mudança profissional minha. Quando saí da Fischer brigado e decidi criar a Binder, ela também me apoiou."
Como toda regra tem a sua exceção, o único desacordo se deu pela mesma Binder, quando em 2002, Glaucio cogitou a possibilidade de vendê-la, mas a opinião de sua mulher, que achava a ideia precipitada, falou mais alto. Durante um bom tempo a própria Eliane cuidou da parte financeira e administrativa da agência do marido, mesmo sendo inexperiente nas funções. E saiu-se muito bem. Quando a situação exigiu, ambos chegaram à conclusão que deveriam contratar um profissional mais experiente para exercer as atividades.
"Casamento é a arte de fazer concessões. Isso nos trouxe a fase tranquila que eu e Eliane vivemos hoje", afirma Glaucio, explicando que os novos tempos, com os filhos morando em suas próprias casas, aproximou ainda mais o casal, que passa mais tempo sozinho na confortável casa do Recreio, onde moram.
Mas nem pense em marasmo na vida de Binder, de modo nenhum! Ele não para! E ainda por cima, neste 2016, vêm novidades por aí com o aniversário de 15 anos de sua agência. Para começar, site de cara nova. Quem está à frente desta empreitada é um de seus sócios, Marcos Apóstolo, que faz mistério até mesmo com as fotos novas de seus parceiros.
O outro sócio de Glaucio, juntos desde os tempos em que trabalharam lado a lado na Fischer - quando fizeram "estágio para se tornarem sócios" -, e há 13 na agência, é Flávio Cordeiro. "Ele foi a sorte que eu tirei na vida!", elogia Binder. Apesar da mulher, Eliane, ser inicialmente contra a ideia do marido ter sócios, hoje ela é a primeira a ressaltar o quanto essa parceria foi fundamental para o sucesso da empresa.
| Glaucio e seus sócios na Binder: Flavio Cordeiro e Marcos Apóstolo (Foto: propmark) | "Flavio e eu sempre fomos muito modestos em nossas retiradas financeiras. Eu mesmo trabalhei vários meses sem tirar um centavo. E trabalhei muito, o que produziu resultados. A Binder não deu um salto, nem teve um crescimento vertiginoso, mas jamais deixou de crescer", conta Glaucio.
A carreira de sucesso de Binder teve alguns "gurus". O publicitário Edeson Coelho, com quem trabalhou na Salles, na MPM e na DPZ, "meu segundo pai", entrega Glaucio, que ainda tem no marqueteiro eleitoral Elysio Pires, seu principal consultor, é com ele que se aconselha frequentemente.
"Trabalhamos juntos no período áureo da MPM. Acompanho a exemplar trajetória empresarial do Glaucio desde a salinha da Visconde de Pirajá, com a gerência financeira da Eliane. Um case de 15 anos de sucesso!", avalia Elysio Pires.
Outros dois nomes figuram na mesma lista: o lendário e já falecido diretor de arte Noguchi - "Mais do que um puta profissional, era um sábio! Sempre de bom humor e muito divertido", lembra Binder - e seu sócio Flávio Cordeiro, que confirma o bom relacionamento:
"Nossa sociedade tem uma receita infalível: admiração mútua! Toda relação bacana tem que ser assim. Tive a sorte de ter o Glaucio, que era um dos meus ídolos, como sócio. Ele esbanja empatia, jamais é passivo diante dos problemas dos clientes ou dos colaboradores. É intuitivo e um atendimento nato", elogia Flávio.
O outro sócio de Binder, Marcos Apóstolo, corrobora os elogios: "o Glaucio conhece tanto do negócio da propaganda quanto de música, do rock ao brega. Isso talvez explique como ele é capaz de falar tantos 'sotaques' como presidente da Fenapro e com a Binder, atendendo contas em vários estados. Se quiser saber alguma coisa, não pergunta no posto Ipiranga, pergunta pro Glaucio."
A música, como contou Apóstolo, fez e voltou a fazer parte da vida de Binder. Ele já participou do Bequadro, um quarteto vocal, e do Bacamarte, uma banda de rock progressivo. Seu gosto musical é para lá de eclético, ultimamente tem tocado piano e quer praticar mais.
Além disso, e como forma de relaxar, adora construir coisas. Tem se dedicado mais a isso agora, aproveitando a obra que seu filho Igor começou num terreno em Araras. Outra de suas paixões é o Botafogo, time pelo qual torce desde sempre.
Um de seus hobbies, que até bem pouco tempo foi também seu meio de transporte, de casa para o trabalho, era passear na scooter que ganhou de presente da mulher e dos dois filhos. Um acidente de trânsito em março deste ano, porém, o deixou na UTI por dois dias, mais outros 10 num quarto no mesmo hospital e duas semanas de molho em casa. Há apenas uma semana voltou a dar expediente normal. O "brinquedo" permanece estacionado na casa de Glaucio, até ele se decidir sobre uma possível volta aos passeios que adorava.
Mas o que Binder gosta mesmo é de se atualizar e de participar de discussões que o enriquecem como pessoa. Oportunidades que têm sido dadas a ele através da Fenapro, onde, teoricamente, seu mandato termina em setembro deste ano. Até agora Glaucio não decidiu se continuará á frente da federação; tem até julho para isso. Não será surpresa se optar por uma nova causa, segundo ele mesmo, algo mais abrangente, que vá além da propaganda.
Frutos que o grêmio estudantil plantou na vida de Binder e que ele agora colhe. O garoto que, antes da música e da comunicação, chegou a sonhar em ser engenheiro mecânico, soube mudar de rota e se tornar um sucesso.
A quem pertence a Árvore de Natal da Lagoa?
| A Árvore da Lagoa em sua inauguração | A informação publicada esta quinta-feira, 28/04, pela jornalista Cleo Guimarães, do O Globo, de que o Bradesco não está mais disposto a bancar sozinho a Árvore de Natal da Lagoa, depois de 21 anos, surpreendeu este colunista não apenas pela atitude da instituição como pela curiosidade de entender como ela ganhou o direito de comercializar parte do patrocínio.
Se há 21 anos a gente sabe que a Árvore é "do Bradesco" e nunca se ouviu falar em licitação da Prefeitura oferecendo o espaço, como o banco agora é quem toma a iniciativa de oferecer uma cota a alguma outra empresa? Ele tem o monopólio da ação?
A Árvore da Lagoa parecia ser um patrimônio imutável da cidade. A despeito do transtorno que causa aos moradores do entorno, é inegável o carinho que a população carioca -- vinda dos mais diversos pontos da cidade -- dedica ao empreendimento. Além disso, a ação movimenta muito dinheiro para o setor promocional. Não apenas diretamente para a Backstage e para a P&G, empresas responsáveis pela sua montagem, como para músicos, cenotécnicos, recepcionistas e técnicos de eventos, sem esquecer dos pipoqueiros e diversos outros camelôs atraídos pelos público do belo espetáculo de luz que a Árvore proporciona.
Enfim, o carioca nunca foi informado corretamente como era a negociação entre o Bradesco e a Prefeitura do Rio, dona, afinal, do espelho da Lagoa. Nos próprios releases oficiais do evento, sabe-se que "a Árvore conta com o patrocínio exclusivo do Grupo Bradesco Seguros e o apoio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro".
Em tempos que se cobra tanta transparência do poder público, não está na hora de se explicar como aquilo funciona? Há um contrato vitalício entre a Prefeitura e o Bradesco? Ou entre a Prefeitura e a Backstage?
Ou, se o banco não quer mais fazer, não seria o caso de a Prefeitura abrir uma licitação para o projeto de 2016?
História
A Árvore de Natal da Lagoa foi instalada pela primeira vez em 1996, numa iniciativa da Artplan, de Roberto Medina, para seu cliente Bradesco Seguros e Previdência. Como cita o site da agência, o briefing era "Falar de uma seguradora sem tocar no assunto do sinistro". Em 1997, o case "Um Natal Bem Brasileiro" levava Ouro do 16º Colunistas Promoção Brasil e Maria Fernanda Jorge, do Bradesco Seguros, era homenageada como a Profissional de Marketing Promocional do Ano do 3º Colunistas Rio.
Desde o início, a produção do evento foi entregue à Backstage, empresa de promoção de Nelson Drucker. O projeto e a montagem são de Abel Gomes, da P&G.
Em 2015, quando comemorava o seu 20º aniversário e se gabava de ter alcançado 85 metros de altura, o equivalente a um edifício de 28 andares, uma ventania derrubou a estrutura, que precisou ser remontada com menor tamanho. O evento de lançamento também foi redimensionado, mantida a queima de fogos mas sem o tradicional show musical.
Jornal do Commercio sai de cena depois de 189 anos
| Jornal do Commercio, desde o tempo do Império | O Rio de Janeiro perde mais um jornal. Deixa de circular, a partir desta sexta-feira, 29 de abril, o Jornal do Commercio, fundado pelo francês Pierre Plancher em 1º de outubro de 1827 e que passou a integrar o Grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand, em 1959. O veículo completaria em outubro, portanto, 190 anos de publicação ininterrupta, sendo o segundo mais antigo em circulação no Brasil, perdendo apenas para o Diário de Pernambuco, fundado em 1825.
O presidente atual da publicação, Maurício Dinepi -- que durante muitos anos dirigiu o Correio Braziliense --, declarou que a publicação não resistiu à crise econômica por que passa o país.
Descompasso comercial
Voltado para o segmento de negócios, o Jornal do Commercio por muitos anos baseou sua sobrevivência em matérias legais: editais, balanços etc., que já foram de publicação obrigatória para as empresas de capital aberto. Ao longo dos últimos anos, sua receita passou a depender mais das autorizações de governo. Tanto que Dinepi também declarou, em matéria publicada no site do jornal o Dia, que "Os governos em crise pararam de anunciar no jornal e outros não pagaram os anúncios já publicados".
As dificuldades de adaptação editorial e comercial -- e eventual acomodação -- do Jornal do Commercio para ampliar seu mercado não são de hoje, no entanto. Este colunista colaborou com o veículo escrevendo a página inteira semanal "Marketing & Publicidade" nos anos 1987 e 1988. Na época, a área comercial era comandada por Genilson Gonzaga, que foi convencido de que a indústria cigarreira, prestes a ser impedida de anunciar na televisão, passaria a anunciar em mídia impressa.
Para agradar a José Roberto Whitaker Penteado Filho, na época vice-presidente da Abifumo, a associação do setor cigarreiro, e atrair assim os anúncios da indústria, Genilson pediu uma matéria a José Roberto e, deselegantemente, a plantou dentro da coluna que assinávamos, sem nosso conhecimento. Na edição seguinte, nos demos o direito de responder e rebatemos os pontos em que Withaker defendia o cigarro. Resultado: Genilson e o gerente comercial Jairo Paraguassu nos demitiram da coluna, que passou a ser assinada... pelo próprio Penteado.
É obvio, aliás, que jamais a Souza Cruz ou qualquer outra cigarreira anunciou seus produtos no Jornal do Commercio ou em qualquer outro veículo impresso.
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