O BALANCÊ DE CANNES

O ANO DO PRO BONO

Sweetie, GP

Cannes foi um pouco Cannes Health.
Muitos dos prêmios do Brasil e do exterior vieram, pelo segundo ano, de campanhas Pro Bono.
Nada a ver com o vocalista do U2 que esteve por aqui no festival falando de AIDS.
Estou falando de campanhas beneficentes: câncer, doação de órgãos, de sangue, doação de medula óssea fosforescente para filhotes de Pikusquack fujão.
Me incluo nesse rol dos leões. E por que isso?
O primeiro ponto é uma constatação: o próprio Cannes Health que fez com que agências investissem mais para competirem em 2 festivais.
Outro motivo é uma observação. os prêmios na área de saúde e serviços públicos não foram só para o Brasil, é só olhar para as peças multipremiadas das redes internacionais. Mais de 25% dos leões são pro bono, soube ontem através de uma ferramenta usada por uma agência. Mais do que isso, essas peças ganharam mais pesado esse ano.
O Enterro do Bentley ganhou 9 leões, sendo um de ouro. Além de um em Health. Os Carequinhas, da Ogilvy, saiu do festival com 8 leões, 2 de ouro. A ação holandesa Sweetie ganhou GP for Good e um caminhão de leões.
Outra terceiro é uma opinião: Cannes virou meio um jogo de números.
Quanto mais leões, melhor. Quanto mais ideias fortes que ganhem muito, melhor.
Mas eu acho que ano que vem o fenômeno não se repete.
Seja como for, é um sintoma: a coisa tá difícil.
Se são as agências que não estão pensando em ideias excelentes e relevantes para suas marcas (não me parece o caso) ou se os grandes clientes não estão aprovando o que é fora da curva, os dois estão errados: quem está vendendo e quem está comprando.
Agências e anunciantes vivem da mesma coisa: de inovação. Que diferença faz gastar zilhões para lançar um novo sabor de iogurte todo ano, uma nova fórmula de shampoo, um novo carro mais tchap-tchura, se a campanha continua com o mesmo papai e mamãe de sempre.
Escutar menos a pesquisa e abrir mais espaço para o que diz sua coragem seria um bom começo. De novo, dos dois lados do balcão.
E você, o que acha? Manda um alô pra gente no Facebook da Janela, em www.facebook.com/janelapublicitaria.

O Enterro do Bentley	Carequinhas

IMPRENSA O PRESS LIONS

Repararam que nem cheguei a comentar o short de Press, né? Pois é, meio que não tem muito pra comentar.

OS SEMINÁRIOS

Não dá para reclamar de um evento que teve o Bono, dois atores vencedores do Oscar, John Hegarty e David Droga trocando ideias.
Mas diluiu em um monte de palestras jabá.
Eu na sexta vi uma muito boa de um cliente. A P&G apresentou como 3 segmentos de produtos parecidos criaram reputações diferentes acreditando em atitudes distintas: Pantene, que está criando uma plataforma mais social; Covergirl, com vida de celebridades; e Old Spice que segundo eles, não é mais uma marca, é uma franchise de entretenimento, ótima visão, aliás.
Mas se Cannes continuar só com foco em fazer negócio e virar uma mídia paga, o público vai miar. Olha só quantos brasileiros foram ao SxSW esse ano e não vieram a Cannes. Alô, curadoria.

INNOVATION DAY: O MELHOR FICOU PARA O FIM

Para “guardar caixão” de um lugar bom para a palestra do Bono, cheguei com 5h de antecedência. E acompanhei do início ao fim todo o Innovation Day que foi disparada a melhor coisa que aconteceu aqui este ano. A palestra da Contagious juntou citações de publicitários que fizeram história com cases modernos de tecnologia. A Intel matou a pau e mostrou o making of do seu incrível Project Daniel que levou impressoras 3D para a África e ajudou as vítimas de minas a imprimirem suas próprias próteses.
	Projeto Daniel
Outro ponto alto  foi a apresentação de Neil Harbisson, que por não conseguir enxergar as cores, se apresentou como cobaia para um projeto que acoplou um chip, uma câmera e um sonar para que ele pudesse vê-las a partir do som. Sensacional.	Enquanto a palestra do Cannes Lions não vai ao ar, confira a do TED.

BONO

Entre ouvir o Bono e comer sardinhas em Portugal, olha o que o Accioly escolheu.

Bono barrou a Fenêtre: "Sorry, mate"!

A palestra do Bono era a mais esperada e correspondeu. O líder do U2 não só apresentou a ambição de sua marca (RED) que é erradicar a AIDS – e é possível e não é caro -  mas também rolou no chão, divertiu o público contando as manias do Steve Jobs (a Apple é uma das parceiras originais da (RED) e ainda deu tempo de passar um pito, numa boa, neste vosso missivista.
Acontece que como eu estava na primeira fila, estavam na minha frente todos os fotógrafos da imprensa séria (o que obviamente não inclui o Accioly, que a essa altura já estava comendo sardinha na casa de uns amigos em Portugal). Quando eles saíram, saquei a minha máquina e larguei o dedo para tirar uma foto para a coluna.
Só o que eu não sabia era que a galera só tinha os 5 primeiros minutos pra tirar foto.
E o Bono, na maior educação britânica, me avisou que o tempo estava esgotado. Sorry, mate.
Justamente na hora em que ele estava contando que a aproximação dele com políticos como George W. Bush para angariar fundos para a (RED) quase fez com que fosse expulso do U2. Mas ele não perdeu a piada.
O que eu acho na verdade, é que ele confundiu a minha nova careca com a do Accioly. E o cara não ralou por 30 anos no rockn’roll para sair na Fenêtre Publicitaire. Era só o que faltava.

OS PRÊMIOS

Para mim, e eu já tinha falado disso aqui, e o Gustavo Bastos, nosso comentarista convidado arrematou, a ideia do ano era desde segunda-feira a de Harvey Nichols. Estupidamente simples e divertida.
Das brasileiras, eu acho os últimos desejos da Kombi da Almap uma campanha incrível. E que aos 45 do segundo tempo, isto é, no último dia do festival, rendeu mais 4 leões que colocou a Almap no Top 3 das agências do ano (a FCB bateu na trave).

O Último Desejo da Kombi	E a ideia do satélite da Loducca para lançar o álbum do John Frusciante uma doideira das boas. SAT JF-14, da Loducca

AS FESTAS

Aujourd'hui c'est la fête, là à mon apê.

Ano de Copa é ano de festa boa. Foi animal. Várias festas mataram a pau: Google, McGarryBowen, Film Brazil, Lola, e Sonido+Visorama. Mas dessas aí, a gente só tira foto das pulseirinhas. Deixa a galera se divertir. E como foi divertido.

A ESTRUTURA

O Connect Bar, local para... hum... se conectar.

Excelente em vários pontos, precário em outros que não dá para entender.
O Cannes Connect Bar continua sendo incrível para o fim de tarde, tem sempre gente bacana. A Young Lions Zone, falei aqui na 2a feira, ótima. O Cannes Extra, com barraquinhas na praia para papos pra menos gente, genial
Algumas coisas poderiam ser melhores. A principal, o tratamento com as ideias.
Não dá para você gastar uma fortuna em inscrição e de viagem para ver um filme (o seu, às vezes) numa sala com luz acesa, som ruim, definição péssima e com uma telinha reduzida. Não chegou o HD aqui na França? No festival de cinema é assim?
Nem para ver a peça que você imprimiu com tanto carinho virar um board mal impresso pelo festival. Que aliás, é patrocinado por uma marca de impressoras.

A CIDADE

Há pedintes demais em Cannes.

O Festival de Cannes está grande demais para a cidade. As opções de hospedagem já  são poucas, caras e ruins. Não tem coisas básicas como carros para alugar.
As filas para ver uma palestra mais legalzinha no Palais estão durando 2h.
E o festival (na verdade o verão francês) está atraindo uma multidão de mendigos que toda noite está em cada esquina. Ontem contei uns 12 pedintes que vieram falar comigo.
A prefeitura poderia dar uma força e prestar uma assistência a essas pessoas.
Mas não tem jeito, ano que vem a gente tá aqui de novo, se não tentarem barrar a gente outra vez.

AGRADECIMENTOS

A gente queria agradecer de coração a toda a assessoria de imprensa do Festival que mais uma vez deu um voto de confiança ao nosso jornalismo-diversão.
A todos os jornalistas que estiveram ralando em Cannes: Propmark & Editora Referência, CCSP, M&M, Reclame, SBT, AdNews, Portal da Propaganda, Estadão e a Editora Abril que fez a gentileza de nos convidar para um cocktail na noite da última cerimônia.
Queria agradecer, como sempre faço, a Priscila Serra, da DM9Rio que foi a primeira a acreditar no meu taco escrevendo sobre o festival há 15 anos.
E a duas meninas muito especiais que me acompanharam e apoiaram aqui: Ritinha e Valentina Seidl. Amo vocês.
A você também, leitor que participou e zoou a gente pelo Facebook, um abração e a gente espera que todos seus familiares, em especial a sua mãezinha, estejam passando super bem.
Ah, sim, aos nossos queridos patrocinadores 11:21, Agência3, Aquarela, Beat, Jamute, Mr.Vox, Sonido e Visorama: sobre aquela combinação de devolver a grana se vocês não gostassem da cobertura, tarde demais. Os cheques já foram descontados.
Perderam, playboys.

CHEGA DE ACCIOLY!!!	Valentina vai escrever em 2015 a Fenêtre Enfant.

Fabio Seidl é o pai da Valentina.