Janela Publicitária    
 
  Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
 

Janela Publicitária - Edição de 08/ABR/1988
Marcia Brito

 

Esta edição da Janela Publicitária foi publicada originalmente no jornal Monitor Mercantil.
O seu conteúdo foi escaneado e transcrito para ficar à disposição de consultas pela internet.

Despacho mal feito leva Tandem à Justiça

Eu não entendo nada de justiça, muito menos da dita brasileira. Justiça? Que é isso nesse nosso País? Como pode uma palavra tão grandiosa, tão magnânima ser tão desrespeitada, a ponto de virar chacota popular? Concordo com o advogado da Tandem, agência envolvida no episódio de falsificação de certidão de nada consta, quando afirmou que a agência estava sendo: "boi de piranha", de jogadas cujo interesse deve ser deste tamanho.
As acusações são verdadeiras. A Tandem, afinal de contas, estava com dificuldades e tinha alguns títulos protestados. Mas ela, querendo limpar sua barra e encaminhar seu cadastro para a Secretaria Municipal de Administração, a fim de passar a atender a Prefeitura, contratou um despachante - naturalmente um daqueles profissionais que geralmente são do próprio órgão --, que fez o serviço. A defesa, na minha vã ignorância criminal, é bastante contundente: Se a própria sociedade e governo permitem que existam os "despachantes", com direito a classificados nos principais jornais do país, do tipo "reabro crédito no INPC", "contas encerradas" etc, enfim, profissionais liberais que, nas horas vagas, fazem um bico faturando muitos milhões, mais grana até do que um alto executivo da propaganda carioca. E, do que eu estou falando, todos nós, brasileiros e brasileiras, conhecemos muito bem. E em todos os níveis. Existem os despachantes guardadores de carro, que são aqueles a quem você tem de pagar para que ele não quebre a sua antena, ou não arranhe o seu Escort zerinho. Existe o despachante policial, que é aquele a quem você tem de pagar para que ele, do alto de sua autoridade, não lhe dê uma multa por você estar parado num canto que não está atrapalhando nem incomodando ninguém, no maior sufoco, precisando estacionar para, afinal fazer alguma coisa necessária. Enfim, não dá pra ficar aqui enumerando a qualidade dos despachantes. Que eles existem em todos os níveis, ah, isso mais do que sabido e vivido por todos nós.
Mas, voltando à vaca fria nesta história de boi de piranha, acho que botaram um olhão na Tandem. A agência do Galletti e do Luís Carlos tem feito um trabalho sério para a Prefeitura. Eu mesma já publiquei em outras "Janelas" sobre o profissionalismo e competência e seriedade com que o pessoal da Tandem trabalha. Eu acho que o fato da agência ter tido um mau desempenho e por isso mesmo deixado de cumprir certos compromissos financeiros no passado, não a descredencia de sua capacidade de atender a conta da prefeitura e de qualquer outro cliente, seja ele governamental ou privado. Ora bolas, nessa doideira de situação econômica, quem hoje em dia está livre do vermelho? Atire a primeira pedra quem está num mar de tranquilidade. Ah, sim, os vereadores do Brizola. Estes estão fazendo os "despachos" deles. Saravá.

O indiscreto charme do comercial da C&A

Eu mal acabara de ligar a televisão e estava meio assim, curtindo minhas acontecências, quando entrou no ar um comercial que me tocou. Era da C&A e mostrava uma parábola do sensacional filme Janela Indiscreta. Eu estava diante de uma superprodução do mais fino trato. O comercial foi de dois minutos, tempo brilhantemente aproveitado para passar as mensagens da nova coleção outono-inverno do poderoso magazine. A trama do comercial obedeceu rigorosamente à trama do filme. Um rapaz de perna quebrada, portando binóculos, começa a observar o prédio da frente e a tirar suas conclusões sobre cada ação dos vizinhos. Com um texto muito inteligente, adaptando com humor a mensagem publicitária às atitudes dos personagens, este comercial tem o dom de prender a atenção do telespectador. Dizer que é um comercial criativo é muito pouco para um comercial que na verdade é genial.

Primeiros socorros da V.S aliviam tensões do mercado

VS: Primeiros Socorros para 1988A V.S Escala é uma agência que faz uns brindes maneiríssimos. O do ano passado foi um carimbo com um homenzinho correndo atrás de uma peteca com a mensagem da agência: Não deixe a peteca cair. E, segundo esta sábia e saudável filosofia, o pessoal da V.S., o Valdir Siqueira e o Lula, não só não deixaram a peteca cair como repetecaram este ano com outro brinde alto astral, como aliás tem sido a performance dos dois empresários. É claro que, algumas vezes, o astral desce um pouco das estrelas, e isso, meus amigos, nós sabemos que são interferências das trepidações políticas, sociais e de mercado, ora pois. Mas, o que é bom, bonito é brinde foi feito para ser falado e neste caso, merece até ser reproduzido pelo bom humor que a peça transmite. E bom humor hoje em dia é fundamental para se continuar tocando estas teclas olivetianas do mercado.
Ele é uma caixa de primeiros socorros para 1988. E já ataca na tampa, com a mensagem "uma gentileza da V.S. Escala para você ter um ano menos sofrido". Para todos aqueles que ainda não deixaram a peteca cair.
E, agora um pouco de "Colunismo Pirata", com a bula dos medicamentos ali contidos: esparadrapo, gaze, algodão, mercúrio, colírio e band-aid e seus geniais usos específicos.
EM CASO DE INFLAÇÃO
Você é do tipo que infla muito a sua boia de patinho quando vai à praia? Lembre-se que boia excessivamente inflada corre maiores riscos de furar, ainda mais agora com as nossas praias cheias de bagulho nas latas, ou melhor, bagulhos e latas. Por via das dúvidas, tenha sempre este esparadrapo à mão. Ele é ideal para tapar os possíveis furos que possam vir a ocorrer em sua boia.
EM CASO DE RADIOATIVIDADE.
Seu vizinho é radioamador e toda vez que ele está em comunicação dá interferência na sua TV? Você se irrita com aqueles chuviscos todos na tela e acaba perdendo a paciência bem na hora em que está assistindo o seu programa preferido, um comercial criado pela VS. Pegue esta gaze e com ela improvise uma venda para os olhos. Assim, você não vê nada. E não vendo, nada não há mais motivo para irritação.
EM CASO DE IR AO FUNDO
Seu fraco é uma piscina? Não pode ver um trampolim que tchibum? Muito cuidado. Água não é igual a conselho do vovô, que entra por um ouvido e sai pelo outro. Ela fica lá dentro e dá otite. Previna-se com dois chumacinhos deste algodão, colocados na entrada do canal auditivo. Mas não se esqueça de retirá-los após o mergulho. Senão, você não ouvirá as pessoas rindo da sua barrigada.
EM CASO DE 5 ANOS
Toda criança, quando vai completar esta idade, exige uma festa de aniversário com tudo que tem direito: palhaços, mágicos, chacretes, esquadrilha da fumaça etc. E só você e seu salário sabem a grana que custa esta brincadeira. Por isso, faça o seguinte: Saque o talão de cheques e pingue algumas gotas de mercúrio cromo nele. Facilmente, seu filho entenderá que o seu saldo no banco está no vermelho. E ainda lhe emprestará a mesada para você pagar a prestação atrasada do seu cartão de crédito.
EM CASO DE MARAJÁ
Segundo o dicionário, marajá é uma palmeira do gênero bactris. Quando marajá balança é sinal de que está ventando muito. E toda ventania traz ciscos que podem entrar nos seus olhos. Pegue o colírio e pingue uma gota na ponta do dedo indicador. Levante-o e gire-o. A ponta vai esfriar no momento em que receber uma rajada de vento. Aí você vira a cabeça na direção contrária da ponta do dedo e os seus olhos estarão protegidos.
EM CASO DE CENTRÃO
O jogo está empatado aos 44 minutos do segundo tempo. O ponta-direita avança rápido, passa por um, dribla outro, chega na linha de fundo e dá um centrão. Você, beque dos mais maneiros, sobe e dá um tapinha na bola, tirando o atacante da jogada. Confusão formada. O time adversário quer pênalti, o juiz não viu nada, o bandeirinha foi atender ao telefone. Cercam você aos gritos de "cortou com a mão, cortou com a mão!" Na moita, você aplica o band-aid na mão! Mostra o curativo e com a maior cara-de-pau possível diz: - Cortei a mão sim, mas não se preocupem. Já fui medicado.

A mágica do pool do gato

Tenho notado que o momento tem sido de mudanças estruturais nas empresas. Diariamente a Gazeta Mercantil tem publicado em sua página de administração e serviços uma série de reportagens sobre reestruturações das empresas em seus quadros de comunicação e marketing. Pode ser que sem estas mexidas alguma coisa efetivamente comece a acontecer no segundo semestre deste ano. O primeiro, já passou. Quem produziu pode se dar por privilegiado e feliz, pois, deste semestre, não sai mais coelho. Só sendo mágico.
Por falar em mágica, que grande efeito ilusório este episódio da campanha publicitária cujo tema é o "Pool de gato(a)". Na minha opinião, a Madia & Associados, agência de tudo, pois ela tem a capacidade prestar qualquer serviço ao mercado, fez o que muitas boas agências fazem, ou seja, não tendo dupla de criação, contrata os profissionais com quem quer trabalhar e paga o serviço deles como free-lancer, mesmo estes profissionais sendo da W/GGK. Qual o crime nisso? O questionamento maldoso, que andam fazendo é o seguinte: Não terá sido o oposto? Não terá a W/GGK passado a veiculação para a Madia por causa do seu outro cliente Staroup, teoricamente conflitante com a Pool? E, eu pergunto, qual o crime nisso?

Ginástica sem dor

Pro-LongEu dou a maior força para empresários inteligentes que sabem aproveitar oportunidades de mercado. Esta semana mesmo, recebi da empresa Ewaldo Cordeiro e Cia Ltda. um novo produto que tem tudo para atender uma faixa de mercado que a cada dia se expande, expande, expande. Todas as pessoas que gostam de fazer alongamentos e ginástica e, principalmente os empresários, publicitários, jornalistas e outros que por mais que se alonguem não conseguem se expandir a ponto de poder ter tempo para curtir um tênis, ou squash, ou qualquer outro esporte que puxe pela musculatura, têm, agora, um peso para ser usado como caneleira ou munhequeira que, a longo prazo, pode auxiliar na moldagem dos músculos das pernas e dos braços. O produto se chama Pro-long, que é uma espécie de pulseira fabricada com matéria prima importada, e que é representado em pesos de 500 gramas ou 1 quilo. Posso confirmar, pois estou fazendo o meu teste particular, que o produto é absolutamente interessante. O Pro-Long está à venda em todas as lojas de material esportivo e em algumas academias de ginástica do Rio, por Cz$ 3.000,00 o par. Mas, vejam só, a Ewaldo Cordeiro investiu 12 milhões de cruzados no prático peso para exercícios, já usado nos EUA e inicia sua produção fabricando mensalmente 20 mil quilos que, conforme informações da empresa, equivalem a 10 mil pares de um quilo e 20 mil peças de 500 gramas. É ou não é um segmento de peso?

Daqui pra frente tudo tem de ser diferente

O Anuário Brasileiro de Propaganda, além de adotar a famosa sigla ABP, que a meu ver deveria ser patenteada com exclusividade pela Associação Brasileira de Propaganda, resolveu fazer também sua premiação em homenagem aos seus 20 anos. Segundo os critérios do pessoal da editora e do seu conselho editorial, o nome de Washington Olivetto está entre os outros 20 profissionais que mais se destacaram nos últimos vinte anos. Olhando a listagem dos nomes, é claro que o menino de ouro da propaganda brasileira é, no mínimo, também 20 anos mais moço do que o mais moço da turma escolhida. Puxa, quanto tempo levou até emergir um talento novo na propaganda brasileira.
Certas coisas que acontecem neste e em muitos mercados me levam a matutar: Por que tem empresários que persistem em continuar no comando e no controle do negócio e das premiações publicitárias, em vez de irem cuidar do jardim e brincar com os netos, assim como fazem os Dons Corleones da vida? Imagine se esta quantidade enorme de cocorocas e tubarões do mercado fosse curtir sua idade madura na tranquilidade de suas mansões, com seus motoristas e criadagem e dólares na Suíça e sólidas amizades da sociedade local e do Planalto. Penso seriamente que, se isso acontecesse, a propaganda e o mercado publicitário e até o colunismo especializado poderiam ser muito mais atraentes.